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Terça-feira,
26/4/2005
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Redação
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São Cristóvão
Eu sozinha nesse bar, um pires de azeitona à minha frente e uma cerveja quente pela metade. Largada nesse canto da vida é difícil acreditar que o Rodrigo Santoro vai passar por aqui e se apaixonar por mim. Mas vai.
Mais Ivana. (Porque o lançamento é amanhã...)
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Julio Daio Borges
26/4/2005 às 10h38
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A quinta carta
Certa vez uma cartomante me disse que eu não demoraria a encontrar o homem da minha vida. Eu o reconheceria de imediato. Nós nos casaríamos, moraríamos numa casa com gerânios na janela e teríamos um casal de filhos. O Grande Sacerdote, a quinta carta na casa sete, garantia isso. Dias depois, eu descia distraída a avenida Rebouças quando vi ao meu lado o Grande Sacerdote numa Belina branca. Sem dúvida, era aquele o homem por quem esperei a vida inteira. Podia advinhar-lhe o corpo, o cheiro da pele, a voz. Nós nos casaríamos, moraríamos numa casa com gerânios na janela e teríamos um casal de filhos. Avancei em ziguezague no meio dos carros tentando alcançá-lo, mas o Grande Sacerdote deu seta e entrou à direita na Capote Valente. Foi assim, por uma fração de segundos, que eu perdi o homem da minha vida. O destino sempre cumpre o que promete, mas o trânsito nem sempre ajuda.
Ivana Arruda Leite, em seu novo livro, Ao homem que não me quis (li ontem).
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Julio Daio Borges
26/4/2005 às 10h28
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Encantação
A última obra que reli foi Os Sertões, que é outra de minhas obsessões. Tenho uma enorme admiração por Euclides da Cunha. Reconheço seus defeitos, especialmente a influência funesta que recebeu do positivismo de Augusto Comte e do evolucionismo de Herbert Spencer, algo realmente racista. Ele até viveu um drama pessoal ao acreditar que a mestiçagem brasileira era um defeito. Mas, apesar disso, sua força como escritor é tão grande que todas essas influências já envelheceram e a força da linguagem e da própria história que ele conta ainda está muito viva. Leio Os Sertões como se lê a Ilíada. Leio não com os olhos de um sociólogo mas com os que buscam um épico. Meus críticos habituais até se admiram e dizem: Gilberto Freire não escreveu os mesmos erros que o Euclides da Cunha e, mesmo assim, você prefere o Euclides. Eu digo: é isso mesmo. Prefiro Euclides da Cunha com todos os seus defeitos. Como também prefiro Euclides da Cunha a Machado de Assis. Acho Machado um excelente escritor, mas ele não tem uma qualidade que me toca muito e que eu vejo no Euclides. É aquele galope épico - a literatura de Machado de Assis é muito cravada. Em suas histórias, por exemplo, os homens nem quintal têm em suas casas! Tudo se passa entre quatro paredes. Isso me faz lembrar de um compositor, que foi parceiro de Manuel Bandeira e se chamava Jardel Valle. Pois bem, ele fazia observações ótimas. Jardel reconhecia que Machado de Assis era um gênio, não havia como negar. Mas era um gênio míope. Faltava a ele aquela amplitude que, em Euclides, sobrava.
* * *
Houve um tempo em que era moda falar mal de mim por eu não escrever como Graciliano [Ramos] - até chegava gente em casa para ralhar comigo sobre isso. E não escrevo mesmo. Eu o conheci pessoalmente, admiro muito sua obra mas sou uma pessoa completamente diferente. Mesmo assim, diziam que, enquanto o Graciliano apresentava o sertão verdadeiro, eu descrevia o falsificado. Mas não se trata disso e sim do sertão de Graciliano Ramos e o sertão de Ariano Suassuna. A diferença é que ele só percebia no sertão os detalhes que correspondiam ao seu universo, um sertão solitário, quase sem esperança, e eu lhe apresento 30 pessoas do povo que são muito mais parecidas com o meu universo que com o dele. Mestre Salustiano, por exemplo, mestre de maracatu, um homem do povo. Assim, quando apresento um sertanejo risonho, aberto, falador, que toca rebeca muito bem, que representa, estou mostrando como o homem do povo se expressa como artista. Não estou falsificando uma imagem mas revelando uma face que Graciliano não apresentava, porque não se interessava por isso.
* * *
É curioso, tenho lido muitas apreciações sobre O Triste Fim de Policarpo Quaresma e todas o apresentam como uma sátira arrasadora. Mas considero um livro profundamente triste, em que Lima Barreto alternou o humor, o cômico, com o doloroso, o trágico. Escritor humorista é algo raro. Machado de Assis era humorista: ao ler um de seus livros, a gente ri muito, mas, quando termina, a vontade é de chorar. Cervantes também era humorista, não há livro mais triste que Dom Quixote. E a lição que fica é a de um personagem ridículo e grotesco exatamente por ser bom e generoso muito acima da média. Quixote é um sujeito profundamente modesto, leal, corajoso, e apresenta todas as características do homem bom. Eis a maior denúncia contra a humanidade: por ser um homem bom, Quixote é ridículo, grotesco, cômico e acima da maioria. Com Policarpo, a situação é a mesma. É um livro profundamente triste. Há momentos em que parece que Lima Barreto está zombando de si próprio. Ou seja, ele se aproxima da maior tristeza do mundo, que é a mesma constatação feita por Cervantes, de que defender o seu país e amar o seu povo o torna grotesco. Por isso considero um livro triste. E nisso vejo alguma semelhança comigo.
Ariano Suassuna, lógico, ontem no Estadão.
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Julio Daio Borges
25/4/2005 às 15h30
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Pensata
Amei! Gosto de ler coisas assim... Que fazem a gente pensar. Rs...
De Cleusa Maria Viana Sanches, por e-mail, sobre o post "Sou melhor do que Shakespeare".
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Julio Daio Borges
25/4/2005 às 15h25
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Como no céu & Livro de visitas
Em primeira mão, o novo do Carpinejar. No blog da Bertrand Brasil, o primeiro de editora que eu conheço. Uma iniciativa da minha xará, Julia Marinho.
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Julio Daio Borges
22/4/2005 às 18h18
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O enigma do leitor jovem
A preocupação da grande mídia norte-americana com os leitores jovens está se transformando numa verdadeira obsessão. Nada menos que três estudos foram divulgados nas duas últimas semanas envolvendo pesquisas sobre hábitos de leitura e informação de jovens entre 18 e 34 anos.
O alarme tem sua razão de ser. A queda dos índices de leitura de jornais entre os jovens é três vezes maior do que entre os demais leitores e os executivos da mídia sabem que o seu emprego futuro, bem como a sobreviência dos grandes impérios jornalisticos, dependem dos novos consumidores de notícias.
A Fundação Cornegie publicou o documento Abandoning the News, um alentado estudo onde o foco principal é a a atração que a Internet exerce sobre os jovens e os novos comportamentos que estão surgindo em matéria de busca de informações jornalísticas no público com menos de 25 anos.
A American Society of Newspaper Editors (ASNE) divulgou no seu congresso anual realizado na primeira quinzena de abril um trabalho desenvolvido pelo Readership Institute mostrando a intensidade da evasão de leitores jovens entre os grandes jornais.
Finalmente, no Simpósio Internacional de Jornalismo Online, organizado na Universidade do Texas, pelo professor brasileiro Rosental Calmon Alves, foi apresentada uma pesquisa que tenta encontrar explicações sobre porque os jovens se informam mais pela Internet, inclusive em sites que não tem nada a ver com jornalismo.
Carlos Castilho, no Observatório, que agora também tem blog. Este e outro. (É o Digestivo lançando moda...)
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Julio Daio Borges
22/4/2005 às 18h06
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Habemus Blog
digestivo cultural, agora também em blog. mas daio do que nunca.
Esse é o Celso Muniz, outro Leitor, em "pílulas de vida do dr.ross". (Talvez uma dica enviesada de que preciso, aqui, maneirar. OK, Celsius, está anotado.)
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Julio Daio Borges
21/4/2005 às 17h48
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Viagem ao Âmago da Palavra
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação
Como vocês sabem (ou deveriam saber), Manuel Bandeira. Porque vale a pena ler de novo. No blog do nosso Leitor, Alessandro de Paula.
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Julio Daio Borges
21/4/2005 às 16h37
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O Xangô de Parati
Jô Soares? Ninguém merece, só se for pra malhar o cara em praça pública!!!
Lucas Rodrigues Pires, por e-mail, sobre o post "FLIP 2005".
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Julio Daio Borges
21/4/2005 às 12h11
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Metamorfose, mortemesafo
Nos seus últimos anos de vida, Bertolt Brecht escreveu ao lado de uma janela que dava para o pequeno cemitério onde logo seria enterrado. Era uma sala grande, essa onde ele escrevia, e estavam espalhadas nela nada menos do que oito mesas. Destaco duas. A que estava ao lado da janela que dava para o cemitério, e onde Brecht tinha sua máquina Royal DeLuxe. E outra, alta, encostada na parede, em que gostava de fazer correções, em pé. Nas outras seis devia atirar papéis, deixar textos inacabados, algum material de consulta, enfim, fico aqui inventando para completar o cenário. Brecht não gostava de ficar muito tempo sentado diante de uma mesa só, trabalhava andando, mudando de mesa, numa outra tinha uma Lettera 22, essa que todos os maiores de 50 anos um dia tivemos. Mas a mesa principal, se posso chamar assim, era a que ficava perto da janela e que dava para o seu túmulo. Bom, sendo mais preciso, seu futuro túmulo, pois mesmo com o interesse de Brecht por literatura fantástica, bom leitor de Poe, não quero que vejam nisso um enredo tenebroso, e menos ainda uma história mal-assombrada. Quando Brecht olhava pela janela não era ainda uma pedra com seu nome o que ele via, não era ainda sua última morada, como isso costuma ser chamado. Via, isso sim, o túmulo de Hegel, que já estava lá havia um bom tempo, de quem em breve ia ser colega de condomínio. Estou falando do Dorotheen-Städtischen Friedhof, o pequeno cemitério onde restam os ossos dos dois, onde ambos viram pó.
Enfim, descrevo essa sala, com essa janela e a mesa ao lado dela, para chamar a atenção para a morte de Brecht, anunciada por essa vizinhança. Bertolt Brecht escolheu para morar uma casa, um apartamento, no número 125 da Chausseestrasse, provavelmente porque era perto do seu local de trabalho, o Berliner Ensemble, a poucas quadras dali, umas cinco ou seis, a distância justa para uma breve caminhada arrumando as idéias a caminho dos ensaios. Não creio que tenha procurado uma casa do lado de um cemitério porque sim, não era essa viagem que ele queria encurtar, afinal sempre teria o barco do velho barbudo Caronte para levá-lo, não ia se preocupar com a distância. O cemitério foi o acaso que lhe colocou nas mãos, melhor, diante da vista. Mas quando arrumou seus móveis, seus livros, suas máscaras, seus teréns, escolheu para ser seu canto na casa, para ser o centro do seu equilíbrio, a janela que dava para o cemitério, a visão da morte. O poeta do homem novo e da nova sociedade não costuma ser visto através das lentes dessas metafísicas (...).
Brecht veio, enfim, passar os dois ou três últimos anos de vida ao lado do seu túmulo e o sentido oculto dessa escolha (dele ou do destino) é o enigma que nunca decifraremos completamente, mas em torno do qual circularemos cheios de hipóteses, visões, revelações, ahs e ohs.
Aderbal Freire-Filho, em introdução a Estudos sobre Teatro, de Bertolt Brecht (que, aliás, pronuncia-se "Bré-i-hhh-t", com "h" aspirado, o mesmo de hotel, em inglês; e não "Brés-te", como grande parte da nossa "intelequitualidade").
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Julio Daio Borges
20/4/2005 às 17h24
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