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Quinta-feira,
28/4/2005
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Redação
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Tragedy Of Manners
Literary reputation and popular taste usually have nothing in common beyond mutual contempt, but in the matter of John O'Hara they are in firm agreement: Once respected by critics for his tart short stories and early novels, beloved by the mass readership for his blockbuster novels of the 1950s and 1960s, O'Hara is now scorned by the literary establishment and pretty much forgotten by readers, except older ones who remember his heyday.
Jonathan Yardley, coincidentemente sobre John O'Hara, que outro dia, aqui, eu citei.
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Julio Daio Borges
28/4/2005 às 17h41
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The Deaths of the 20th Century
These are heady days to be an obituary writer. Ever since America's best-known critic, Susan Sontag, died in late December, there's been a startling slew of Important Deaths. The greatest talk-show host, Johnny Carson. The most famous playwright, Arthur Miller. The most gonzo journalist, Hunter S. Thompson. The most legendary diplomat, George F. Kennan. The most lavishly celebrated novelist, Saul Bellow. The most career-savvy (and politically reprehensible) architect, Philip Johnson. The most irrelevant monarch, Prince Rainier. Not to mention the most infallible pope - at least until the next one. So many big names have passed away so quickly that people have taken to joking about it. When The Daily Show flashed an image of Fidel Castro honoring John Paul II, Jon Stewart's comment was, "He's next."
If the new century began for most of us on September 11, 2001, the 20th century may well finally have ended with all these high-profile funerals. One by one, the individuals who defined the last sixty years of American culture have been vanishing from the landscape. And this sudden sense of an ending has been reinforced by the equally abrupt disappearance of the men who once read us the headlines about our national life: Brokaw is retired, Rather was chased from his chair, Jennings has lung cancer and Koppel is calling it quits at ABC. Small wonder that you now hear yearning for the supposedly good old days when the anchorman was a colossus. George Clooney is even directing a movie about Edward R. Murrow.
Predictably, the loss of so many celebrated touchstones has set off an epidemic of Cultural Declinism. You know the drill. None of today's diplomats is as worldly as the mandarin Kennan. None of today's late-night hosts boasts Johnny's immaculate poise. None of today's playwrights equals the towering Miller (he even married Marilyn Monroe, for crying out loud). None of today's journalists matches the gleeful fear and loathing of Thompson. And naturally, none of today's novelists can match Bellow's exuberant blend of high and low, the references to Heraclitus and the streetwise similes born in Chicago, that somber city. Ah, back then there were giants!
John Powers, no LA Weekly, via Arts & Letters Daily (sempre).
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Julio Daio Borges
28/4/2005 às 17h35
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As influências imorais
Já pensei muitas vezes em desistir de escrever. Não porque eu não goste ou não tenha tempo. Amo escrever e tenho tempo. Pensei em desistir porque sou má. Tenho umas opiniões más e, não gostaria de ser responsável por corromper algum jovem bom.
Ontem, assistindo na tevê um protesto de índios, pensei que não deveriam proteger qualquer tipo de primitivismo. Não há mais espaço para primitivismos. Não existem mais índios puros. Que escolhessem as coisas mais importantes da cultura indígena para preservar e, índios, à civilização. Minhas raízes são polonesas e nem por isso fico dançando polcas o dia todo, preparando pratos poloneses e vestindo roupas típicas. Serão extintos mais cedo do que pensam se assim continuarem, se negando à mistura e ao, se bom ou mal, não sei, "progresso". Um deles, de calça jeans, dizia que não queria a escola "branca" dentro de sua aldeia. As crianças e mulheres, por certo, venderão cestas de palha na beira da estrada.
Por pensamentos assim, tenho muitas vezes a vontade de parar de escrever. Quando penso que um índio jovem e idealista, estando na cidade para fazer compras, terá o rosto triste quando em algum cyber cafe, ler estas minhas más palavras. E desistirá de lutar pela pureza da sua tribo.
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Andréa Trompczynski
28/4/2005 às 14h08
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A Escolha de Willian Styron
Nem de longe Perto das Trevas é um livro de auto-ajuda. Pode-se ficar até mais depressivo, por saber da possibilidade de ir, um dia, tão fundo quanto foi Willian Styron, autor de A Escolha de Sofia, Deitada na Escuridão e As confissões de Nat Turner. Um depoimento sincero, com descrições detalhadas de cada pensamento, atos e paranóias possíveis na mente de um depressivo grave. Um doente que, diferentemente daqueles de moléstias aparentes, facilmente compreendido pelos que estão ao redor, precisa falar, caminhar, trabalhar, e, o pior, o mais difícil de todos esses sacrifícios, sorrir. O depressivo é uma pessoa com uma dor inexplicável, obrigado a frequentar a vida social. Alguns dizem: "há tantas belezas no mundo, anime-se". Nada melhor para explicar a incapacidade de ver as belezas do mundo do que Willian Styron em Paris, na primavera, enxergando um fog inexistente.
Styron não ensina fórmulas mágicas para sair da depressão. Não alimenta falsas esperanças. Mas, tem um mérito grandioso: alguém que nunca sofreu da doença do século, poderá entender definitivamente o que sente um depressivo. O que faz alguém se matar. Ou desejar fazê-lo. E, compreenderá que a chave para o despertar das trevas mentais nunca virá de fora, de conselhos bem-intencionados ou da visão das belezas do mundo.
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Andréa Trompczynski
28/4/2005 às 14h05
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Gender Bias Test
As feministas queixam-se de que só as mulheres são tratadas como objetos sexuais. A publicidade, por exemplo, tenta vender produtos através da exploração do corpo feminino. Se fosse o contrário, ou seja, se apenas o corpo masculino fosse utilizado para vender produtos, elas veriam na prática uma tentativa, por parte dos homens, de atribuir mais valor ao corpo masculino do que ao corpo feminino, ou de considerar o corpo masculino mais atraente do que o feminino.
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As feministas reclamam que a prática masculina de ceder o lugar às mulheres apenas reflete o estereótipo machista de considerá-las seres frágeis e delicados. Se fosse o contrário, ou seja, se as mulheres tivessem de ceder o lugar aos homens, as feministas condenariam a prática por ver nela indícios de subserviência feminina.
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A maioria das separações são iniciativa feminina. As feministas justificam essa iniciativa como uma maneira de se livrar de maridos insatisfatórios e opressores. Se fosse o contrário, ou seja, se a maioria das separações fosse iniciativa masculina, elas diriam que os homens têm medo de assumir compromisso, além de fugir da responsabilidade, ao abandonar a família.
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As feministas se queixam de que a iniciativa masculina de iniciar um namoro é apenas um reflexo da dominação do homem sobre a mulher. Se fosse o contrário, ou seja, se os namoros fossem sempre iniciativa das mulheres, elas diriam que os homens se recusam a compartilhar o trabalho de construir um relacionamento sólido ou então diriam que o ego masculino é fraco demais para lidar com rejeições.
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Quem mais consulta o psicólogo são as mulheres. Um dos motivos, segundo as feministas, é que a maior discriminação que as mulheres sofrem inevitavelmente as leva a ter mais problemas psicológicos. Se fosse o contrário, ou seja, se os homens fossem os maiores fregueses dos psicólogos, elas diriam que o gênero masculino é intrinsicamente mais sujeito a distúrbios psicológicos ou então reclamariam que os cuidados com a saúde mental eram voltados apenas para os homens.
Giovanni Duarte de Carvalho, em "Afinal, Qual é a das Feministas?", um post do seu blog, o Pomo da Discórdia, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
27/4/2005 às 15h05
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Happy 15th Birthday, Hubble
Como a vida fica pequena, diante disto:
In honor of the 15th anniversary of Hubble's delivery into space, NASA and the European Space Agency have released new photos of two of the telescope's most popular targets: the M51 Whirlpool Galaxy and the Eagle Nebula. The photos are among the largest and sharpest Hubble has ever taken and could be enlarged to the size of a billboard without losing clarity, according to the ESA.
Amit Asaravala, na Wired.
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Julio Daio Borges
27/4/2005 às 12h52
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Da difícil vida das rêmoras
À esquerda, um débil mental; à direita, uma doutora. Olho pra um, pro outro e percebo que eles falam coisas muito parecidas. Principalmente quando xingam os políticos que aparecem na TV.
Outra vez, Ivana. (Porque eu vou. Você vai?)
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Julio Daio Borges
26/4/2005 às 10h45
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São Cristóvão
Eu sozinha nesse bar, um pires de azeitona à minha frente e uma cerveja quente pela metade. Largada nesse canto da vida é difícil acreditar que o Rodrigo Santoro vai passar por aqui e se apaixonar por mim. Mas vai.
Mais Ivana. (Porque o lançamento é amanhã...)
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Julio Daio Borges
26/4/2005 às 10h38
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A quinta carta
Certa vez uma cartomante me disse que eu não demoraria a encontrar o homem da minha vida. Eu o reconheceria de imediato. Nós nos casaríamos, moraríamos numa casa com gerânios na janela e teríamos um casal de filhos. O Grande Sacerdote, a quinta carta na casa sete, garantia isso. Dias depois, eu descia distraída a avenida Rebouças quando vi ao meu lado o Grande Sacerdote numa Belina branca. Sem dúvida, era aquele o homem por quem esperei a vida inteira. Podia advinhar-lhe o corpo, o cheiro da pele, a voz. Nós nos casaríamos, moraríamos numa casa com gerânios na janela e teríamos um casal de filhos. Avancei em ziguezague no meio dos carros tentando alcançá-lo, mas o Grande Sacerdote deu seta e entrou à direita na Capote Valente. Foi assim, por uma fração de segundos, que eu perdi o homem da minha vida. O destino sempre cumpre o que promete, mas o trânsito nem sempre ajuda.
Ivana Arruda Leite, em seu novo livro, Ao homem que não me quis (li ontem).
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Julio Daio Borges
26/4/2005 às 10h28
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Encantação
A última obra que reli foi Os Sertões, que é outra de minhas obsessões. Tenho uma enorme admiração por Euclides da Cunha. Reconheço seus defeitos, especialmente a influência funesta que recebeu do positivismo de Augusto Comte e do evolucionismo de Herbert Spencer, algo realmente racista. Ele até viveu um drama pessoal ao acreditar que a mestiçagem brasileira era um defeito. Mas, apesar disso, sua força como escritor é tão grande que todas essas influências já envelheceram e a força da linguagem e da própria história que ele conta ainda está muito viva. Leio Os Sertões como se lê a Ilíada. Leio não com os olhos de um sociólogo mas com os que buscam um épico. Meus críticos habituais até se admiram e dizem: Gilberto Freire não escreveu os mesmos erros que o Euclides da Cunha e, mesmo assim, você prefere o Euclides. Eu digo: é isso mesmo. Prefiro Euclides da Cunha com todos os seus defeitos. Como também prefiro Euclides da Cunha a Machado de Assis. Acho Machado um excelente escritor, mas ele não tem uma qualidade que me toca muito e que eu vejo no Euclides. É aquele galope épico - a literatura de Machado de Assis é muito cravada. Em suas histórias, por exemplo, os homens nem quintal têm em suas casas! Tudo se passa entre quatro paredes. Isso me faz lembrar de um compositor, que foi parceiro de Manuel Bandeira e se chamava Jardel Valle. Pois bem, ele fazia observações ótimas. Jardel reconhecia que Machado de Assis era um gênio, não havia como negar. Mas era um gênio míope. Faltava a ele aquela amplitude que, em Euclides, sobrava.
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Houve um tempo em que era moda falar mal de mim por eu não escrever como Graciliano [Ramos] - até chegava gente em casa para ralhar comigo sobre isso. E não escrevo mesmo. Eu o conheci pessoalmente, admiro muito sua obra mas sou uma pessoa completamente diferente. Mesmo assim, diziam que, enquanto o Graciliano apresentava o sertão verdadeiro, eu descrevia o falsificado. Mas não se trata disso e sim do sertão de Graciliano Ramos e o sertão de Ariano Suassuna. A diferença é que ele só percebia no sertão os detalhes que correspondiam ao seu universo, um sertão solitário, quase sem esperança, e eu lhe apresento 30 pessoas do povo que são muito mais parecidas com o meu universo que com o dele. Mestre Salustiano, por exemplo, mestre de maracatu, um homem do povo. Assim, quando apresento um sertanejo risonho, aberto, falador, que toca rebeca muito bem, que representa, estou mostrando como o homem do povo se expressa como artista. Não estou falsificando uma imagem mas revelando uma face que Graciliano não apresentava, porque não se interessava por isso.
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É curioso, tenho lido muitas apreciações sobre O Triste Fim de Policarpo Quaresma e todas o apresentam como uma sátira arrasadora. Mas considero um livro profundamente triste, em que Lima Barreto alternou o humor, o cômico, com o doloroso, o trágico. Escritor humorista é algo raro. Machado de Assis era humorista: ao ler um de seus livros, a gente ri muito, mas, quando termina, a vontade é de chorar. Cervantes também era humorista, não há livro mais triste que Dom Quixote. E a lição que fica é a de um personagem ridículo e grotesco exatamente por ser bom e generoso muito acima da média. Quixote é um sujeito profundamente modesto, leal, corajoso, e apresenta todas as características do homem bom. Eis a maior denúncia contra a humanidade: por ser um homem bom, Quixote é ridículo, grotesco, cômico e acima da maioria. Com Policarpo, a situação é a mesma. É um livro profundamente triste. Há momentos em que parece que Lima Barreto está zombando de si próprio. Ou seja, ele se aproxima da maior tristeza do mundo, que é a mesma constatação feita por Cervantes, de que defender o seu país e amar o seu povo o torna grotesco. Por isso considero um livro triste. E nisso vejo alguma semelhança comigo.
Ariano Suassuna, lógico, ontem no Estadão.
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Julio Daio Borges
25/4/2005 às 15h30
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