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Quinta-feira,
12/5/2005
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Redação
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Eu não quero saber deles
Eu nunca quis saber do casamento de Ronaldinho e Daniela Cicarelli. Muito menos agora que acabou. Mas como fazer para realizar meu não-desejo? Estou trabalhando e todos os colegas comentam o assunto (quase todos). Coloco um fone de ouvido. Decido olhar sites de notícias para saber como anda o mundo. Em TODOS os principais, destaque quase máximo para o rompimento - junto às mais variadas e engraçadinhas manchetes (como se fim de casamento fosse caso para brincadeira). Aí vem o Jornal Nacional. Entre as chamadas iniciais, "chega ao fim o casamento de Ronaldo e Cicarelli", antes mesmo da vinheta de abertura. Aí eu desisto. Não antes sem uma última pergunta: a quem mais deveria interessar o assunto, que não sejam os próprios rompidos? De onde vem, pelo amor de Deus, esse interesse beirando o mórbido em conhecer detalhes da vida alheia de gente tão distante? E pior ainda: onde os veículos de comunicação de respeito estão com a cabeça em dar tamanha repercussão a isso? O público se interessa porque a mídia divulga ou a mídia divulga porque o público se interessa? Nunca a questão Tostines foi tão instigante - e irritante.
P.S. - Interessa menos ainda quando sabemos que Cicarelli faturou, com a tal separação, R$ 15 milhões (!!!), graças a um acordo pré-nupcial. Viram como estou bem informado sobre o assunto?
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Marcelo Miranda
12/5/2005 às 14h56
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Rufo, 80 VI
Descobri a literatura adulta na minha obscura adolescência. Aos quatorze anos, pelas mãos de Flaubert, fui conduzida ao século XIX e ali permaneci passeando entre brasileiros, portugueses e franceses, românticos, naturalistas e simbolistas. Em momento inaudito, Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos arrebataram-me desejando um Feliz Ano Novo com Lúcia McCartney e O Cobrador. Buffo & Spalanzani mostraram A Grande Arte - num mês de Agosto - para uma menina com seus quinze anos recém completados. Juntei-me a Os Prisioneiros na cruel revelação de um mundo corrompido e maculado. Pelo Buraco na Parede, enxerguei a crueza da existência humana e montei incontáveis filmes em minha ainda incipiente cabecinha inventiva.
Foi um caminho sem volta.
Renata Marinho, a Fina Endor, sobre o nosso amigo, Rufo.
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Julio Daio Borges
12/5/2005 às 08h19
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Rufo, 80 V
Lá pelo final dos anos 60, numa madrugada fria do Rio, me foi apresentado, no estudio do Ziraldo, um senhor magro e de olhar profundo. Foi o Miguel Paiva, que trabalhava com o Ziraldo, que me disse, depois, que esse senhor, elegante, vestido de terno, era o escritor Rubem Fonseca. Ele se apresentava, apenas, como diretor da Light do Rio. Naqueles dias, eu estava lendo Coleira do Cão, uma seleção de contos do Fonseca, cerca de 300 páginas, um dos seus primeiros livros publicados. Fiquei impresionado. Lembro do mesmo "Coleira do Cão" e de um chamado "250 Gramas", que se passa no IML do Rio. Uma idéia original nunca usada em cinema, profundamente dramática e de grande expressão para dois atores que topem o desafio. Até hoje passando despercebida pelos nossos cinestas... que não saem das favelas.
Nunca mais deixei de ler os livros de Rubem Fonseca. É um dos poucos autores a quem guardo fidelidade de leitura. A Grande Arte continua sendo a minha história preferida.
Longa vida para ele.
Rodolfo Felipe Neder, diretor do saite do Millôr (porque o aniversário foi ontem, mas homenagens continuam...).
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Julio Daio Borges
12/5/2005 às 08h04
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Rufo, 80 IV
Tal como Laranja Mecânica, que previu o inferno desumano da violência que explodiria pelo mundo, a literatura de Rubem Fonseca deu mostras proféticas do que viria a ser o modus vivendi da sociedade desigual e violenta que tornou-se o Brasil.
Jardel Dias Cavalcanti, sobre ele, o aniversariante...
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Julio Daio Borges
11/5/2005 às 16h57
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Rufo, 80 III
Uma vaca atropelada. Chamam a polícia. Correria. Os mortos de fome da rua e da favela perto dali carneavam o animal. Usavam facas e facões rudimentares. Não havia sobrado nada, nem os ossos.
José Rubem Fonseca poluiu minha mente com esta, que foi a primeira cena de horror de minha vida, em "Relato de ocorrência". E a alma, quando soube que havia sido real.
Não tem mais volta. Sinto uma mão de gelo em meu ombro com as histórias de Rubem. Exatamente por isso sou fã.
Andréa Trompczynski, também sobre o Rufo.
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Julio Daio Borges
11/5/2005 às 13h59
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Rufo, 80 II
Tenho duas memórias dos livros do Rubem Fonseca. Uma da alma, outra das lombadas. Uma delas permanece quente dentro do meu cérebro, memória de histórias secas, duras, violentas, que me golpearam a fundo. A outra, real, me olha da estante todos os dias, apertadinha entre outros escritores. Como se soubesse de tudo. O meu Rubem Fonseca não tem oitenta anos, não é um único homem e não se importa se machucar com suas palavras afiadas. São muitos homens, muitas mulheres, são putas, são Lúcias McCartneys, são milionárias, são criminosos, são homens comuns. No olhar furtivo que dou à prateleira, as duas memórias se embaralham. E o meu Rubem Fonseca mais uma vez me assusta, surgindo na minha lembrança num golpe rápido, para repetir mais uma vez que vida e morte vivem lado a lado, como a alma e a lombada. Parabéns por isso, Rubem. Por tudo e só isso: pela coragem de contar uma verdade tão dóida.
Lúcia Carvalho, em sua homenagem ao Rubem.
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Julio Daio Borges
11/5/2005 às 13h57
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Rufo, 80
Muito mais do que literatura policial, o que Rubem Fonseca escreve são verdadeiros tratados, recheados de ironia e sarcasmo, sobre o "baixo clero" da sociedade brasileira. São policiais, criminosos, gente comum. Sempre num cenário urbano assustadoramente real, ao mesmo tempo em que parece existir num plano separado do nosso tamanho a peculiaridade dos personagens e situações. Rubem Fonseca escreve do real sem que seus escritos pareçam ser do real. Com categoria, conhecimento, inteligência, charme. Palavrões, tesão, sexo, mortes, nas letras dele, não são grosseiros. São parte de um universo muito mais amplo. Que venham outros 80 anos!
Marcelo Miranda, em homenagem aos 80 do Rufo. Hoje.
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Julio Daio Borges
11/5/2005 às 12h25
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Livros felizes
Em minha cidade há somente um escritor. Ele já publicou um livro, alguns anos atrás. Um escritor de cidade pequena, comum, foi até eleito vereador. Um escritor bom. Não, não que escreva bem. Ele é péssimo, fala sobre a mãe como a rainha do lar, essas coisas de escritor de cidade pequena. É bondoso, anda pelas ruas sorrindo, publica poesias no jornalzinho local e escreve crônicas bondosas em datas comemorativas. Não parece se atormentar com cruéis dúvidas sobre quem ele é, perder o sono tentando encontrar modos menos doloridos de escoar os malditos pensamentos.
O escritor bondoso foi homenageado na festa de fim-de-ano da escola de meu filho. Falou da importância de ler. Disse aquela frase do Lobato, construir um país com homens e livros. Eu não sabia o que sentir, era raiva, depois piedade. Foi aplaudido quando doou seus livros felizes para a escola. Então uma putrefata inveja veio de minha metade Mr. Hide. Os bons são aplaudidos nas cidades do interior, eu nunca seria aplaudida, merda. Minha mãe pegou em meu braço e sussurou: "olha, um dia será você ali. Eu sempre falo para todos que você escreve, filha". Agradeci em pensamento a um deus qualquer por ela nunca ter lido. Era melhor que pensasse que eu falava sobre brilho da lua e coisas assim, como o escritor bondoso, que pensasse que um dia eu estaria ali.
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Andréa Trompczynski
11/5/2005 às 09h46
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Casa da Ignorança
Desde que soube da criação e dos bons frutos da Casa do Saber, centro de estudos chiques de São Paulo, já devidamente alcunhado de Daslusp, meu amigo Pereira, tosco no último, cotovelos gastos nos balcões de botequim, inimigo declarado do neo-iluminismo, danou-se, avalovarou-se, oxe. Quer porque quer abrir a sua Casa da Ignorança. Está na praça a colher subscrições de apoio ao seu projeto. Entornou a aguardente do destemor e da coragem, e agora não há mais como removê-lo de tal engenho e arte. É líquido e certo como tudo aquilo que ingere.
"Mais encanadores e menos Sartres", brada o entrevado, retomando uma antiga peleja desta Pátria de extremos,sempre entre o 8 ou 80. "Chega de Beauvoirs de butique", provoca, bandeira das ignorâncias desfraldada. "Abaixo as peruas nietszcheanas, que gastam seus aforismos até com as oiças de vendedoras de shoppings", abestalha-se, combatendo o que julga ser o seu bom combate. E mesmo que os amigos todos, esclarecidos, tentem ignorá-lo, ele segue, avante, montado no burro do desconhecimento, às quedas, embriaguês de teimosia e de cachaça, triste figura, lá vai o nosso bom e risível cavaleiro.
"Fora os mauricinhos kantianos", prega ainda o destemido Quixote de boteco, cujos moinhos são os ventiladores de teto. De todos os cursos da Casa do Saber, sempre na mira da sua espada chauvinista, um, em especial, o chamou para a briga: "Drama Grego - Formas Trágicas de Eliminar uma Mulher". "Pera lá, comequié?", soluçou, na sua crítica da pinga mineira de alambique pura. "Isso mesmo que ouviste!", aquiesceu a moderninha civilizada, discípula do professor daquele curso, sr. Antonio Medina Rodrigues. "Ele analisa a maneira como os gregos encaravam a mulher e o feminino na antiguidade e como esses modelos trágicos deixaram marcas recorrentes na subjetividade do ocidente", completou, lendo o catálogo do combatido estabelecimento. O cavaleiro da Casa da Ignorança perdeu de vez a paciência e, do alto do lombo do mal-entendido, esporou: "Comigo não tem essa viadagem de subjetividade recorrente, uma mulher é uma mulher é uma mulher, e nela não se bate nem com uma flor!"
Xico Sá, em o carapuceiro (que assina a mais anárquica página da Bravo!, a última - aliás, acho que foi uma indicação de alguém de lá...).
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Julio Daio Borges
11/5/2005 às 09h22
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Escola da Vida
Dica(s) da Andréa para a Viviane: aqui, aqui e aqui (fonte: malvados.com.br).
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Julio Daio Borges
11/5/2005 às 08h22
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