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Quinta-feira, 19/5/2005
Blog
Redação
 
Notícias sobre o Brasil

Pedro Doria, no Nomínimo, disse o que todos sabiam, mas ninguém queria admitir: "os principais veículos estrangeiros estão prestando menos atenção no Brasil".

E ele prossegue: "o Brasil é cada vez menos relevante e mesmo os arroubos de política externa do atual governo terminam sendo reportados por correspondentes na ONU, na OMC, em Washington - não carecem de alguém in loco. 'Mas em que isso é importante?' Quem faz a pergunta é o ex-correspondente do Guardian. 'Na Inglaterra nunca escrevemos sobre o que os repórteres estrangeiros falam. No Brasil, dá sempre notícia de primeira página.'"

Leia mais aqui.

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Postado por Fabio Silvestre Cardoso
19/5/2005 às 15h13

 
Cruzados

Fui assistir a nova obra-prima de Ridley Scott. Digamos assim que é uma obra-prima, prima bem pobre de seus filmes anteriores. Até agora não entendi qual é a graça de colocar na telona escatologia sanguinária. Para que mostrar em detalhes e em close flechas cravando no pescoço de um cara completamente irrelevante para a trama?

Sim, é a tal plástica da cena. O choque de ver algo assim. Tudo uma grande besteira, pois para que traumatizar ainda mais o homem urbano? Fora isso, o filme sofre de ter uma escalação péssima para o papel principal. Orlando "Elfo" Bloom como um torturado filho guerreiro está tão mal quanto o tal bichinho verde novo.

Quanto a apresentar as cruzadas num ponto de vista neutro, o filme até consegue. Mal e porcamente. Sim, porque angariar simpatia para os muçulmanos hoje em dia parece ser crime. Mas uma coisa que precisa ficar clara é que história é história, e hoje é hoje. Um não pode justificar o outro. De qualquer maneira, o filme é ficção.

E o que faltou na ficção foram cenas de batalha mais bem planejadas, e um enredo melhor. Sem enredo, e com cenas de batalha tão enroladas que não se sabe nada do que passou, exceto que um monte morreu de um lado e de outro, deixam o filme chato. Entendo que o diretor queira mostrar como seria estar no meio da batalha. A tal confusão. Mas repetir isso muitas vezes vira chato. Faça uma vez ou outra. Não 50, num filme de 2h40, a meu ver completamente desnecessário para o enredo exibido.

Só sei que vai gerar um monte de gritaria o tal filme. Afinal, ninguém gosta quando o seu "lado" é "mostrado" de maneira menos lisonjeira. Para falar a verdade, este tipo de pessoas são muito chatas... Merecem ver este filme.

Ram Rajagopal, nosso Comentador mais dedicado (desta vez, no seu blog, o Cataplum, já anteriormente indicado - porque eu também detestei o filme; vocês vão saber depois...).

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Postado por Julio Daio Borges
19/5/2005 às 07h00

 
Como se faz um best-seller

[Quantos livros você já vendeu desde que começou a escrever?] Não sei dizer exatamente, mas quando lancei 100 Quilos de Ouro, um site de literatura fez as contas e calculou que eu havia vendido mais ou menos 2,5 milhões. A Ilha vendeu uns 600 mil exemplares no Brasil e mais alguma coisa no exterior; Olga vendeu 1,2 milhão; Chatô vendeu 250 mil; Corações Sujos vendeu 170 mil. 100 Quilos de Ouro vendeu 30 mil. A Ilha voltou a vender agora e também acaba de sair uma edição de Olga na Itália, pela editora Il Saggiatore.

* * *
Olha, eu me considero uma pessoa mediana. Acho que aquilo que me interessa, me chama atenção e seduz, também seduz a maioria das pessoas. Claro, assim como eu, esse leitor se interessa por coisas desconhecidas, como a história do Shindo-Remei.

Se o assunto não me seduz, não me tira o fôlego, também não vai tirar o do leitor. E eu escrevo para ser lido, não para uma auto-realização privada, nem para os meus amigos lerem. Escrevo para ser lido pelo maior número de pessoas possível. O fato disso se traduzir em vendas é bom, é saudável.

Agora, não faço concessão, não escrevo livro "para vender", do tipo "faz tal coisa que vai vender muito". Não, não faço isso. Acho que uma das poucas vantagens de se fazer uma carreira solo é a sua independência. Poder dizer, faço isso e não faço aquilo. É um privilégio que você não tem na redação de um jornal, numa revista, em lugar nenhum.

* * *
(...) o jornalismo investigativo já não cabe mais nos jornais. Acabou. Olha a Veja. Uma revista da importância que tem, e dois terços das suas capas são temas de comportamento. Temas como menstruação, depressão, sei lá! Ou então pense numa publicação como a Revista da Folha. Podia ser a grande revista de reportagens de São Paulo. Há personagens maravilhosos nessa cidade, como o delegado Giudice, da Divisão Especial Anti-seqüestro, que eu apresento no livro sobre a W/Brasil. Mas não... a revista fica naquelas coisas...

Nos países da Europa, as revistas dominicais dos jornais estão abalando as demais revistas justamente pela força das suas reportagens. Estão colocando em cheque a imprensa semanal. A revista de El País é excelente! Se você pensar bem, tudo dá matéria.

Fernando Morais, em entrevista ao mesmo site, o Trópico.

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Postado por Julio Daio Borges
18/5/2005 às 17h03

 
Estante

É difícil transmitir a experiência da leitura. Um livro que foi importante para uma pessoa não será para outra. Toda lista de livros recomendados, além de incerta, é sempre arbitrária. Mesmo assim, ela precisa seguir algum critério.

Esta lista é composta de livros que eu gostaria de ter lido quando tinha 17 anos, época em que é comum estar numa encruzilhada. Claro que podem ser lidos em qualquer época, em outras encruzilhadas. Pessoas que nunca tiveram tempo de ler fora de sua especialidade técnica e agora desejam fazê-lo talvez queiram experimentar alguns destes livros.

Todos os sete (na verdade, quatro romances, uma tragédia, uma novela e um ensaio) são considerados excelentes em seu gênero. Quase todos falam de dilemas aos quais somos mais sensíveis quando jovens, quase todos têm um protagonista jovem. A maioria foi escrita no século XX. São livros para iniciantes: na vida ou na leitura adultas.

Sendo esta lista de ordem pessoal, acrescento dois comentários. Nela deveria constar algum livro de Nietzsche, mas prevaleceu a ponderação de que é um escritor pernicioso para jovens, que não deveriam se desfazer tão cedo de suas fantasias idealistas. O outro é que fiz minha própria lista quando tinha 17 anos, mas evidentemente nunca a segui.

Otavio Frias Filho, continua aqui (tem também: Daniel Piza, Milton Hatoum, Carlos Eduardo Lins da Silva e Manuel da Costa Pinto, com quem almocei ontem, entre outros).

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Postado por Julio Daio Borges
18/5/2005 às 16h57

 
Não gaste o seu latim

Um pedinte nos fez parar numa esquina escura e começou a conversar conosco, insistindo na idéia de que ele era um homem de boa família e boa educação. Bill, que gostava muito das ruas de Roma, trocou idéias com ele. Quando o pedinte ficou sabendo que Bill dava aulas de literatura grega e latina, ficou extasiado e apertou as duas mãos contra o peito.

- Escute só isso - disse ele. Como uma gaivota, ele mergulhou num mar de latim e, quando voltou à tona, virou a cabeça para o rosto de Bill, ergueu os olhos e perguntou: - Quem eu estava citando?

- Suetônio? - Bill tentou advinhar.

- Suetônio! - repetiu o pedinte, cheio de desprezo. - Você não sabe distinguir Tácito de Suetônio? Agora escute isso aqui. - Falou gesticulando, e nós o ofendemos quando rimos. - Uma segunda chance para você. Quem escreveu essas palavras?

- Plínio - respondeu Bill.

- Cícero - gritou o pedinte. - É assim que são os professores na América? Eles não têm educação nenhuma. É uma desgraça.

Rimos de novo e lhe demos dinheiro.

- O latim dele era bom? - perguntei.

- Contei vinte erros. Esses textos não são nem de Suetônio, nem de Tácito, nem de Cícero, nem de Plínio. Na certa algumas palavras que as crianças memorizam no colégio. Bem, com isso nós dois já fomos bastante humilhados por hoje, não é?

Mais Saul Bellow, no mesmo livro, em ensaio sobre William Arrowsmith.

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Postado por Julio Daio Borges
17/5/2005 às 16h08

 
Eu mereço um lugar ao sol

Então domingo foi dia de acordar carente. Claro que isso não é novidade, visto que ultimamente tem acontecido com bastante freqüência. Mas foi demais. A carência dessa vez veio sem nome, sem telefone, sem identidade nenhuma. Depois de tantos amores mal-sucedidos (odeio chamar de "amores", mas...), a carência bateu nua e crua. O frio, o domingo, o excesso de trabalho, a soma de tantas vontades e desejos me fez aninhar entre as cobertas depois de uma longa noite bem dormida e não manifestar vontade alguma de levantar e me entregar à tarde que se iniciava.

Nani Escosteguy, no libélulas, que linca pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
17/5/2005 às 14h31

 
Como vai o nosso romancier?

Em 1939, quando eu estava escrevendo um livro, encontrei na rua um professor que me fez uma pergunta difícil. Ele, Dr. L., era um erudito europeu, com uma cultura imensa. Diante da calvície crescente, ele resolvera raspar a cabeça; conhecia o mundo da cultura elevada; era severo, e em princípio sorria apenas porque era o momento de sorrir, não porque estivesse achando alguma graça. Lia livros enquanto andava ligeiro pela rua, no meio do tráfego, tomando notas em latim taquigráfico, empregando um sistema que ele mesmo criara. Por trás de seus óculos redondos, de aros dourados, ergueu rugas de inquisitiva polidez na testa e indagou: "Ah? Como vai o nosso romancier?" O romancier não ia lá muito bem. As sensações mal-educadas do romancier se apaixonavam pelo mundo, mas ele se via apegado à tolice e à estreiteza de espírito quanto à grandeza. Sua singularidade não era bem-vinda e isto fazia seu coração doer. Que ele soubesse, era o único romancier em regime de dedicação exclusiva em Chicago (afora Nelson Algren), e sentia a estranheza (às vezes lhe vinha a idéia de amputação) da sua situação. Vivia zangado, era obstinado. Com suas idéias de beleza, harmonia, amor, bondade, amizade, liberdade etc., ele se encontrava inteiramente isolado dos outros. Detestava o professor L. pelo seu sarcasmo e por ter razão. O romancier estava dans la lune. E o professor L.? O professor possuía um título excelente de uma universidade européia. Tinha posição, um escritório e alunos; tinha um apartamento - tinha status. Em seu escritório havia uma cama dobrável, onde se deitava e fazia anotações em seus muitos volumes de Toynbee e Freud, e recortava artigos de jornais de todo o mundo. Em cinco ou seis línguas, ele estudava história, psicologia e política. O que causava mais inveja era a sua capacidade de apreender o mundo real, sua completa compreensão de Hegel, Marx, Lênin, seu minucioso conhecimento da sociedade e da história da civilização. A minha relação com a sociedade era enevoada, dúbia. Eu também supunha compreender, mas segundo as minhas condições peculiares. Solitário, eu estava misticamente ligado a tudo isso em termos unilaterais. No geral, eu parecia caminhar pelas ruas meditando nos meus próprios assuntos. De certa forma, eu me achava em uma missão esotérica. Em missão especial, como dizem no exército, mas arrebatado por aspirações e simpatias poderosas e vívidas, ávido de união, de amplitude, convencido pelas entranhas, pelo coração, pelos órgãos sexuais e, em certas ocasiões, pela idéia muito clara de que eu tinha algo importante a dizer, expressar, transmitir.

Saul Bellow, em 1977, em Tudo faz sentido (que o FDR - meu vizinho de blog lá no Lisandro - me deu em 2002, mas que li só agora).

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Postado por Julio Daio Borges
17/5/2005 às 12h08

 
O sorriso do lagarto

(...)O Brasil não tem importância para a maioria das pessoas. Ninguém sabe nada sobre o Brasil. Se você perguntar a um americano bem informado, ele vai responder que a capital é Rio de Janeiro ou coisa assim, talvez os mais cultos saibam que é Brasília. Ou eles pensam que as mulheres daqui andam nuas, que nós vivemos como índios. Na Alemanha ninguém se conformava quando eu dizia que nunca tinha visto um índio. Tem gente que ficava hostil a mim na platéia, achando que eu estava mentindo. Quando eu dizia que nunca estive na Amazônia, eles concluíam que era porque a Amazônia está destruída. Não adianta dizer a eles que o Brasil é um país de dimensão continental e que a Amazônia é muito distante.(...) Tem gente que se interessa particularmente pelo Brasil. E os departamentos literários ou são departamentos de literatura latino-americana, que jogam no mesmo bolo gente que não tem nada a ver entre si, uma espécie de gueto literário, ou são departamentos de português, dirigidos tradicionalmente por portugueses que, naturalmente, puxam a brasa para a sardinha deles: querem ensinar português de Portugal, não o do Brasil; ficam indignados quando os estudantes querem falar a língua brasileira; estudam autores portugueses e dão uma atenção quase que pró-forma para os escritores brasileiros.(...) As pessoas falam da imagem do Brasil lá fora. O Brasil não tem imagem nenhuma. A maioria das pessoas é incapaz de falar quinze segundos do Brasil fora daqui. O cidadão normal nas ruas de Berlim ou outro lugar, se você disser Brasil, ele vai falar "café", "Pelé", "paraíso tropical", "Amazônia". É só o que eles perguntam em aparições públicas: é o problema da Amazônia, da infância abandonada, acham que aqui a gente morre de tiro o tempo todo.

* * *

Acabo de voltar da Bienal de Salvador, perdi dois dias. Quando cheguei tinha mais de 100 e-mails acumulados. Para eu dar vencimento a eles, para resolver outras coisas que ficaram pendentes, já perdi uma semana. Ainda recusei a Bienal de Natal; ficaram chateados comigo. Tinha encontro em São Paulo, não posso ir. Ontem veio um apelo de Duque de Caxias, da população marginalizada, excluída, fica chato não atender. E lá vou eu para Duque de Caxias. Voltei de Salvador na segunda-feira de noite. Acordei na terça para escrever minha crônica. À noite, eu já tinha um programa de tevê para participar, porque o Alberto Dines é meu amigo, era chato eu não ir. Era uma homenagem ao Moacyr Scliar, que também é meu amigo. Não podia recusar.(...) Ontem mesmo eu estava conversando com a minha mulher e falei: pronto, agora não aceito mais; dou a entrevista de amanhã e não aceito mais nada, não vou mais a lugar nenhum.(...) Estou um feixe de nervos.(...) Até recusar convite dá trabalho, porque tenho que escrever uma carta. Aí insistem e eu tenho que resistir; fazem chantagem, arrumam um amigo meu que está em dificuldade e se eu não for ele terá problema. Ninguém sabe que escritor trabalha. Acham que escritor não trabalha, não vai ao banheiro, não briga com a mulher, é uma figura que não tem necessidades. Pensam que a gente senta e escreve, ganha uma fortuna e pronto. Eu tenho compromisso, tenho família, mulher, filhos, como qualquer sujeito de classe média.

* * *

Publicar autor novo no Brasil é até fácil, em relação à maioria dos países. Por exemplo, nos Estados Unidos você não consegue acesso a uma grande editora sem ser através de um agente. Se o original não for enviado por um agente bom, a editora não leva em conta. E um agente bom não aceita você se você não tiver sido publicado. Até que se quebre isso, muita gente despenca pelo meio do caminho. Aqui, a pessoa imagina que eu posso pegar o livro dela, largar tudo o que estou fazendo, ler os originais, reconhecer o seu talento, me entusiasmar pelo livro, fazer o prefácio e editar, como seu eu fosse editor ou agente literário. E, imediatamente, ela fica rica. As pessoas me vêem em um mundo glamuroso, como se eu não tivesse problema. Tenho problema, me aborreço, tenho dor de cabeça, coisas do dia-a-dia. Acham que eu tenho obrigação de ler os originais, de fazer prefácio, uma porção de obrigações que eu não tenho. Eu recebo uma montanha tão grande de cartas e originais que não respondo mais. Antigamente, dedicava meu final de semana inteiro para responder algumas linhazinhas a quem me escreve. Hoje, não há tempo e como eu me recuso a fazer uma carta com resposta padrão a todos, acho pior a pessoa receber isso do que não receber nada, então não respondo. Me mandam originais inteiros pela Internet. Não fico com raiva, compreendo que as pessoas querem uma opinião. Mas ninguém acha que escreve merda. As pessoas escrevem porque acham que têm talento. Não querem a opinião sincera. Elas querem a confirmação do talento delas. Além disso, mantêm a idéia de que os autores estouram de uma hora para outra, quando na realidade aquele estouro é precedido de não sei quantos anos de ralação. Como no dizer antigo: "O único lugar que sucesso vem antes de trabalho é no dicionário". Outra coisa que me pedem muito é para fazer uma frase. Em primeiro lugar, não sou um bom frasista. Em segundo lugar, uma frase dá um trabalho às vezes pior que escrever um texto de duas laudas. Mas aí é uma amiga que vai posar para a Playboy e a revista quer nomes; sabe que ela tem amigos entre intelectuais e escritores e pedem a frase. Você não vai negar isso para um amiga. E ainda dizem: "Fazer uma frase para você é num instante". E você trabalha de graça para a revista. Já brigaram comigo porque eu disse que não tinha frase. Por exemplo, não sei inventar frases de efeito como Nelson Rodrigues, que era especialista nisso, como Otto Lara Resende. Às vezes eu levo a semana inteira pensando o que eu digo, o que faço.

João Ubaldo Ribeiro, também, na mesma Idéia.

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Postado por Julio Daio Borges
16/5/2005 às 17h09

 
Palavras, muitas palavras

A história será sempre a mesma: a história da vida, da morte, do amor, das carências, ilusões e desilusões, o medo da proximidade da morte, a esperança da felicidade e, principalmente atualmente, a esperança do sucesso profissional. Esta é uma questão do século XXI: a angústia de ganhar dinheiro, uma neurose, uma necessidade de vencer, ser maior que os outros e mostrar que é capaz. Nossas alternativas todas se resolvem com dinheiro. Isso pode ser tema para muita literatura daqui para frente.

* * *

As ideologias estão um pouco doentes. Tivemos uma decepção, no século XX, do tamanho da União Soviética. A Revolução de 1917 cometeu muita injustiça, mas também criou muita coisa, um ideal de vida mais justa, como a Revolução Francesa. De repente, vimos que não era nada do que queríamos, porque ditadura não dá certo em lugar nenhum, não importa o lado do muro em que você esteja. Ditadura dá poder demais para uma pessoa só e isso é corrosivo, leva à corrupção, à falta de objetividade. Essa desilusão tem reflexos na literatura, para o bem e para o mal, porque o que instrumentaliza a literatura é a realidade, a gente sempre trabalha a partir da realidade. Há um filtro, escrevemos como somos, mas é a realidade que dá o peso ao que escrevemos.

* * *

A maior parte deles [dos programas infantis na televisão] trata a criança como idiota, é uma porcaria. Acho muito prejudicial. Programas que fantasiam a criança como adultos são medíocres, não têm bom gosto, arte ou inteligência.(...) Quando se pensa em um programa infantil, tem que se considerar que a criança é a coisa mais importante do país e que é um ser que recebe influência muito fortemente. Mas há muito programa que quer apenas ganhar dinheiro. A culpa desses programas serem ruins é de quem patrocina, porque mantém a porcaria no ar. O que querem é que tenha um monte de gente comprando porcaria. São programas ligados apenas a produtos.

Ruth Rocha na exburante revista Idéia.

[1 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
16/5/2005 às 16h33

 
Oco

Você lamenta que nada tenha dado certo entre nós, diz que nunca amou ninguém igual, que ainda sente muito minha falta e me imagina ao seu lado até hoje, dividindo o pouco que a vida dá (um filhote de cachorro, um copo de vinho, um cd novo). Besteira lamentar: amor também é buraco, e o nosso nasceu com essa vocação. E buraco é bonito também. E vai ficando mais bonito à medida que envelhece, mais bonito e mais fundo. Vista o seu que eu visto o meu.

Ivana Arruda Leite, que, mais uma vez, linca pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
16/5/2005 às 14h02

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