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Terça-feira,
24/5/2005
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Redação
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PPP
O Julio Daio Borges fez no Digestivo Cultural uma lista de "Melhores Blogs" e gentilmente incluiu este modesto Por um Punhado de Pixels. Thanks!
Nemo Nox, no PPP ('brigado eu).
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Julio Daio Borges
24/5/2005 às 10h07
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A Demissão da Crítica
Para quem acompanha o mundo literário brasileiro, não é difícil identificar o acordo. Ele é mais ou menos generalizado, e se ergue em torno de um preceito que tem passado por regra de ética e polidez, embora seja mais propriamente o esteio do compadrio. Trata-se do princípio de que uma reação crítica deve ser publicada quando for, de modo geral, favorável à obra analisada, ou quando nela predominar o caráter de apresentação mais ou menos neutra. Caso contrário, o melhor procedimento é o silêncio público, que não será contraditório com a maledicência privada.
* * *
O crítico que escreve em jornal de grande circulação, hoje, no Brasil, ou é aluno, ou é professor, ou é aspirante a professor das universidades de primeira linha. Assim, ou como origem, ou como destino almejado, a universidade e o seu modus operandi, bem como as suas facções, acabam por reger também o ralo meio literário que sobrevive à sua margem ou à sua sombra.
Por isso é tão recorrente na imprensa a ânsia de glosar os lugares estabelecidos pelos discursos acadêmicos mais prestigiosos, ainda que disso resultem textos contraditórios ou incongruentes. E também por isso a imagem de respeitabilidade crítica se faz por meio de uma curiosa mistura: do olhar desdenhoso que a universidade ainda lança sobre o campo do presente com o esforço historizante, que busca substituir o debate sobre objetos pela proposição de linhas de filiação nas fontes canônicas eleitas e celebradas pelas versões hegemônicas do desenvolvimento da literatura nacional.
Não espanta, assim, nesse quadro de rarefação do embate crítico, no qual a regra é evitar o confronto, que a forma privilegiada do texto dedicado à produção literária moderna e contemporânea seja a glosa, tanto nos artigos elaborados para jornais, suplementos e revistas de grande circulação, quanto nos textos produzidos para circulação no meio universitário: monografias, dissertações, teses e relatórios de pesquisa.
O procedimento comum é a paráfrase ou a transcrição, em mosaico, das formulações metalingüísticas da própria obra ou do discurso do autor sobre si mesmo, presente em entrevistas, artigos e depoimentos. O que resulta, de regra, num discurso plano, levemente acadêmico e tedioso, cujo atrativo principal é servir de resumo ao que está presente na própria obra e nos seus paratextos; ou então de apanhado dos lugares-comuns da historiografia dominante, de modo a "explicar" o objeto pela filiação a um deles, como decorrência ou contraposição.
O resultado imediato é a anemia e o desinteresse que caracterizam a maior parte da produção brasileira que enfoca os textos literários do presente, incapaz de real enfrentamento com os objetos e problemas imediatos da cultura contemporânea e, principalmente, com a questão do valor.
* * *
O estado atual da crítica não é, portanto, resultado de algum fator subjetivo ou contingencial, como a ausência de bons talentos críticos depois do que teria sido o grande momento dos anos 50 e 60. É certo que a universidade, subordinando as questões intelectuais ao aparelhamento ideológico e fugindo ao embate crítico em nome dos interesses pequenos e imediatos da luta pelo poder local, contribui decisivamente para a eliminação da tensão crítica. Mas a persistente falta de tônus intelectual e a ausência ou omissão dos agentes conseqüentes, que, juntas, promovem a demissão da crítica da vida literária brasileira, não encontram explicação na vaidade dos criadores, na pouca inteligência ou na falta de coragem do articulista de jornal ou redator de ensaio universitário. Esses são apenas os epifenômenos. O movimento completo tem um desenho mais complexo, pois, embora todos os fatores já enunciados concorram para o caráter anódino da crítica literária brasileira contemporânea, o mais importante deles, em minha opinião, tem tido pouca visibilidade: o fortalecimento e a internacionalização da indústria do livro e do entretenimento literário no Brasil, e a conseqüente valorização do campo da literatura, que, pela primeira vez, se constitui em mercado importante do ponto de vista dos resultados de vendas.
Paulo Franchetti, em "A Demissão da Crítica", hoje na Germina Literatura, amanhã na Sibila.
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Julio Daio Borges
23/5/2005 às 11h39
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N.Y.
Minha cidade, minha amada, minha branca!
Ah, esbelta,
Ouça! Ouça-me, vou soprar uma alma dentro de ti.
Delicadamente pela flauta, atenta-me!
Agora sei que sou louco,
Porque há aqui um milhão de pessoas na fúria do tráfego;
Isso não é donzela.
Nem eu poderia tocar uma flauta se a tivesse.
Minha cidade, minha amada,
És uma donzela sem seios,
És esbelta como uma flauta de prata.
Ouça, atenta-me!
E eu soprarei uma alma dentro de ti,
E viverás para sempre.
Erza Pound, também, na Máquina do Mundo.
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Julio Daio Borges
23/5/2005 às 07h33
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Noite de Inverno
Caiu neve. Depois da meia-noite, bêbado de vinho purpúreo, deixas a zona sombria dos homens, a chama vermelha do seu lume. Ah, a escuridão!
Geada negra. A terra está dura, o ar tem um sabor amargo. As tuas estrelas juntam-se e formam sinais malignos.
Com passos duros caminhas ao longo da linha férrea, de olhos redondos, como um soldado que ataca uma trincheira negra. Avante!
Neve amarga e lua!
Um lobo vermelho a ser estrangulado por um anjo. As tuas pernas tilintam, a andar, como gelo azul, e um sorriso cheio de tristeza e arrogância cobriu-te o rosto, e a fronte empalidece com a volúpia da geada;
ou inclina-se em silencio sobre o sono de um guarda que se deixou cair na sua cabana de madeira.
Geada e fumo. Uma camisa branca de estrelas queima os ombros que a vestem e os abutres de Deus dilaceram o teu coração metálico.
Oh, a colina de pedra! O silêncio derrete, e esquecido jaz na neve prateada o frio corpo.
Negro é o sono. O ouvido segue longamente os atalhos das estrelas no gelo.
Ao despertar tocavam os sinos na aldeia. Da porta do levante nascia, prateado, o dia rosado.
Georg Trakl, amigo do Wittgenstein, em tradução de Roberto Schmitt-Prym, na revista Máquina do Mundo, que ganha sua segunda edição e que tem intervenção do Bro Fa.
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Julio Daio Borges
20/5/2005 às 07h24
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Novo Saia Justa
Prepara o pretinho básico, porque vai ter morte certa. Enquanto Mônica Waldvogel tenta amenizar o clima com seu carisma abaixo de zero e Betty Lago faz uma Rita Lee pra lá de caricata, uma belíssima - e grossa - Luana Piovani faz de tudo para que Marcia Tiburi - ? - se sinta um lixo. É, enfim, um programinha de merda. Nunca imaginei ter de escrever isso, mas deu saudade da Fernanda Young. Tanto que hoje, no supermercado, comprei o Aritmética. Bosta por bosta, ao menos fico com a que escreve.
* * *
Cheguei às 4. Elas apareceram às 5. Bebemos até as 10. Consegui dormir às duas da tarde, e, às sete, era a morta-viva detentora de uma Senhora Ressaca Moral. Sabe, a época de reclusão acabou. E não sei o que fazer com essa, de agora. Não sei se é realmente melhor deixar de passar todos os finais de semana enfurnada no mato. Ali, ao menos não há o risco de ser mal interpretada, e minha vida não anda lá muito legível. A idade pesa. As escolhas pesam. Esse modo ridículo de empurrar tudo com a barriga pesa. Mas não sou assim. Não desisti das coisas, nem apelei para o comodismo puro. Quero voltar a ter um dia-a-dia menos instável. Ok, eu leio bastante. E escrevo, também. Saio com as pessoas, interajo e blablablá. Mas não é só isso. Fosse só isso, minha vida seria perfeita. O problema é que sempre resta uma insatisfação, uma certeza de que os outros vêem em mim uma inutilidade que nunca pretendi alimentar. Não é cabeça vazia. Também não é essa a questão. Posso não ter lá uma rotina das mais salutares, mas isso não me impede de exercitar - um mínimo que seja, reconheço - essa minha necessidade de entender as coisas pelas quais me interesso. Sim, ainda me interesso. Ainda quero encontrar um trabalho bacana, um reconhecimento. Mas não saio, não ando, não mexo a bunda. E isso me atordoa porque sei que, por mais que eu tente explicar, os outros sempre verão um ranço de futilidade pura. Enfim...
* * *
Ok, sou viciada naquilo [O orkut e seu simplismo], mas valha-me Deus. Eles deveriam deixar alguns espaços em branco, para que pudéssemos preenchê-los como bem quiséssemos. Por exemplo, o tipo físico. O meu não está ali. E me recuso a colocar "um pouco acima do peso", porque essa, sim, é uma atitude perdedora. Pudesse escolher, e eu escreveria muito-nada-magra. Altura? Lá é em polegadas. Mas tenho 1m61, o que faz com que eu minta pra baixo (5 pés e 3 polegadas, que correspondem a 1m60) ou pra cima (5 e 4, que correspondem a 1m62). O quesito arte no corpo, por sua vez, já foi descartado. Para mim, tatuagem em posição estratégica é o mesmo que "quero dar", e isso não pega nada bem. Já em "o que mais atrai", a vontade que sinto é de cuspir na tela. Tudo bem, estou em plena tpm, mas aquilo é muito triste. Muito. Dá até vontade de clicar no item "riqueza material", só para protestar.
Ju Biscardi, em seu blog, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
20/5/2005 às 07h11
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Notícias sobre o Brasil
Pedro Doria, no Nomínimo, disse o que todos sabiam, mas ninguém queria admitir: "os principais veículos estrangeiros estão prestando menos atenção no Brasil".
E ele prossegue: "o Brasil é cada vez menos relevante e mesmo os arroubos de política externa do atual governo terminam sendo reportados por correspondentes na ONU, na OMC, em Washington - não carecem de alguém in loco. 'Mas em que isso é importante?' Quem faz a pergunta é o ex-correspondente do Guardian. 'Na Inglaterra nunca escrevemos sobre o que os repórteres estrangeiros falam. No Brasil, dá sempre notícia de primeira página.'"
Leia mais aqui.
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Fabio Silvestre Cardoso
19/5/2005 às 15h13
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Cruzados
Fui assistir a nova obra-prima de Ridley Scott. Digamos assim que é uma obra-prima, prima bem pobre de seus filmes anteriores. Até agora não entendi qual é a graça de colocar na telona escatologia sanguinária. Para que mostrar em detalhes e em close flechas cravando no pescoço de um cara completamente irrelevante para a trama?
Sim, é a tal plástica da cena. O choque de ver algo assim. Tudo uma grande besteira, pois para que traumatizar ainda mais o homem urbano? Fora isso, o filme sofre de ter uma escalação péssima para o papel principal. Orlando "Elfo" Bloom como um torturado filho guerreiro está tão mal quanto o tal bichinho verde novo.
Quanto a apresentar as cruzadas num ponto de vista neutro, o filme até consegue. Mal e porcamente. Sim, porque angariar simpatia para os muçulmanos hoje em dia parece ser crime. Mas uma coisa que precisa ficar clara é que história é história, e hoje é hoje. Um não pode justificar o outro. De qualquer maneira, o filme é ficção.
E o que faltou na ficção foram cenas de batalha mais bem planejadas, e um enredo melhor. Sem enredo, e com cenas de batalha tão enroladas que não se sabe nada do que passou, exceto que um monte morreu de um lado e de outro, deixam o filme chato. Entendo que o diretor queira mostrar como seria estar no meio da batalha. A tal confusão. Mas repetir isso muitas vezes vira chato. Faça uma vez ou outra. Não 50, num filme de 2h40, a meu ver completamente desnecessário para o enredo exibido.
Só sei que vai gerar um monte de gritaria o tal filme. Afinal, ninguém gosta quando o seu "lado" é "mostrado" de maneira menos lisonjeira. Para falar a verdade, este tipo de pessoas são muito chatas... Merecem ver este filme.
Ram Rajagopal, nosso Comentador mais dedicado (desta vez, no seu blog, o Cataplum, já anteriormente indicado - porque eu também detestei o filme; vocês vão saber depois...).
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Julio Daio Borges
19/5/2005 às 07h00
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Como se faz um best-seller
[Quantos livros você já vendeu desde que começou a escrever?] Não sei dizer exatamente, mas quando lancei 100 Quilos de Ouro, um site de literatura fez as contas e calculou que eu havia vendido mais ou menos 2,5 milhões. A Ilha vendeu uns 600 mil exemplares no Brasil e mais alguma coisa no exterior; Olga vendeu 1,2 milhão; Chatô vendeu 250 mil; Corações Sujos vendeu 170 mil. 100 Quilos de Ouro vendeu 30 mil. A Ilha voltou a vender agora e também acaba de sair uma edição de Olga na Itália, pela editora Il Saggiatore.
* * *
Olha, eu me considero uma pessoa mediana. Acho que aquilo que me interessa, me chama atenção e seduz, também seduz a maioria das pessoas. Claro, assim como eu, esse leitor se interessa por coisas desconhecidas, como a história do Shindo-Remei.
Se o assunto não me seduz, não me tira o fôlego, também não vai tirar o do leitor. E eu escrevo para ser lido, não para uma auto-realização privada, nem para os meus amigos lerem. Escrevo para ser lido pelo maior número de pessoas possível. O fato disso se traduzir em vendas é bom, é saudável.
Agora, não faço concessão, não escrevo livro "para vender", do tipo "faz tal coisa que vai vender muito". Não, não faço isso. Acho que uma das poucas vantagens de se fazer uma carreira solo é a sua independência. Poder dizer, faço isso e não faço aquilo. É um privilégio que você não tem na redação de um jornal, numa revista, em lugar nenhum.
* * *
(...) o jornalismo investigativo já não cabe mais nos jornais. Acabou. Olha a Veja. Uma revista da importância que tem, e dois terços das suas capas são temas de comportamento. Temas como menstruação, depressão, sei lá! Ou então pense numa publicação como a Revista da Folha. Podia ser a grande revista de reportagens de São Paulo. Há personagens maravilhosos nessa cidade, como o delegado Giudice, da Divisão Especial Anti-seqüestro, que eu apresento no livro sobre a W/Brasil. Mas não... a revista fica naquelas coisas...
Nos países da Europa, as revistas dominicais dos jornais estão abalando as demais revistas justamente pela força das suas reportagens. Estão colocando em cheque a imprensa semanal. A revista de El País é excelente! Se você pensar bem, tudo dá matéria.
Fernando Morais, em entrevista ao mesmo site, o Trópico.
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Julio Daio Borges
18/5/2005 às 17h03
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Estante
É difícil transmitir a experiência da leitura. Um livro que foi importante para uma pessoa não será para outra. Toda lista de livros recomendados, além de incerta, é sempre arbitrária. Mesmo assim, ela precisa seguir algum critério.
Esta lista é composta de livros que eu gostaria de ter lido quando tinha 17 anos, época em que é comum estar numa encruzilhada. Claro que podem ser lidos em qualquer época, em outras encruzilhadas. Pessoas que nunca tiveram tempo de ler fora de sua especialidade técnica e agora desejam fazê-lo talvez queiram experimentar alguns destes livros.
Todos os sete (na verdade, quatro romances, uma tragédia, uma novela e um ensaio) são considerados excelentes em seu gênero. Quase todos falam de dilemas aos quais somos mais sensíveis quando jovens, quase todos têm um protagonista jovem. A maioria foi escrita no século XX. São livros para iniciantes: na vida ou na leitura adultas.
Sendo esta lista de ordem pessoal, acrescento dois comentários. Nela deveria constar algum livro de Nietzsche, mas prevaleceu a ponderação de que é um escritor pernicioso para jovens, que não deveriam se desfazer tão cedo de suas fantasias idealistas. O outro é que fiz minha própria lista quando tinha 17 anos, mas evidentemente nunca a segui.
Otavio Frias Filho, continua aqui (tem também: Daniel Piza, Milton Hatoum, Carlos Eduardo Lins da Silva e Manuel da Costa Pinto, com quem almocei ontem, entre outros).
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Julio Daio Borges
18/5/2005 às 16h57
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Não gaste o seu latim
Um pedinte nos fez parar numa esquina escura e começou a conversar conosco, insistindo na idéia de que ele era um homem de boa família e boa educação. Bill, que gostava muito das ruas de Roma, trocou idéias com ele. Quando o pedinte ficou sabendo que Bill dava aulas de literatura grega e latina, ficou extasiado e apertou as duas mãos contra o peito.
- Escute só isso - disse ele. Como uma gaivota, ele mergulhou num mar de latim e, quando voltou à tona, virou a cabeça para o rosto de Bill, ergueu os olhos e perguntou: - Quem eu estava citando?
- Suetônio? - Bill tentou advinhar.
- Suetônio! - repetiu o pedinte, cheio de desprezo. - Você não sabe distinguir Tácito de Suetônio? Agora escute isso aqui. - Falou gesticulando, e nós o ofendemos quando rimos. - Uma segunda chance para você. Quem escreveu essas palavras?
- Plínio - respondeu Bill.
- Cícero - gritou o pedinte. - É assim que são os professores na América? Eles não têm educação nenhuma. É uma desgraça.
Rimos de novo e lhe demos dinheiro.
- O latim dele era bom? - perguntei.
- Contei vinte erros. Esses textos não são nem de Suetônio, nem de Tácito, nem de Cícero, nem de Plínio. Na certa algumas palavras que as crianças memorizam no colégio. Bem, com isso nós dois já fomos bastante humilhados por hoje, não é?
Mais Saul Bellow, no mesmo livro, em ensaio sobre William Arrowsmith.
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Julio Daio Borges
17/5/2005 às 16h08
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