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Quinta-feira,
26/5/2005
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Redação
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Uma ferida iletrada
Se viesse,
se viesse um homem
se viesse um homem ao mundo, hoje, com
a barba brilhante dos
patriarcas; poderia somente,
se falasse deste
tempo, somente
poderia balbuciar, balbuciar
sempre sempre
somente sempre.
Paul Celan, no livro do Vila-Matas (da coleção "Notas que não Aproveitei no Texto Sobre").
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Julio Daio Borges
26/5/2005 às 16h19
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Meu Amor é Puro Sangue
Nasci em Belo Horizonte, na madrugada de 27 de agosto de 1975. Sou mineira convicta, mas também não tive muita opção. Todos os impostos absurdos que meu pai pagou foram convertidos em educação estadual, municipal e federal para os quatro filhos, inclusive eu, que me formei em Letras na UFMG, fiz mestrado em Lingüística e vou cursando, sacrificadamente, meu doutorado na mesma área. Mas a faculdade não me fez gostar de literatura mais do que eu já gostava, quando lia em média cem livros por ano durante a adolescência. E não eram infanto-juvenis paradidáticos. Eram aqueles nomes que a literatura conhece e dá aval. Chorei quando li Germinal e quando li Grande Sertão: Veredas, depois, nunca mais. Escrevo para mim desde que ganhei uma agenda do Garfield, em 1986. Em 1993, um namorado leitor me disse que o que eu escrevia não era muito ruim. Publiquei um poema, pela primeira vez, no maior jornal mineiro, em 1994. Gostei do sabor de ver minhas idéias devassadas. Publiquei um primeiro livro, o Poesinha, em 1997. O segundo livro veio pela Ciência do Acidente, Perversa, em 2002. Em 2003, produzi a obra-prima da minha vida, o Eduardo, em co-autoria com Jorge Rocha, escritor fluminense e sedutor de escritoras. Desde que o Edu nasceu, venho gestando uns contos, também sob influência da literatura irônica e fina da Ivana Arruda Leite. O próximo livro se chama Meu Amor é Puro Sangue, a sair pela editora Altana. Os poemas me fugiram, embora, às vezes, me dê uma sensação de formigamento nas mãos. Os minicontos têm sido mais parecidos com as convulsões que me acometem vez ou outra. No momento, estou lendo Ivana Arruda Leite, para refrescar minha memória de mulher.
Nossa Ana E, em entrevista a Marcelino Freire.
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Julio Daio Borges
25/5/2005 às 15h08
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Receita de Crônica
Joaquim Ferreira dos Santos, o melhor cronista de nosso tempo, dá aos leitores sua receita para escrever uma. Vejamos:
"Escrever crônica é atividade como outra qualquer(...) Não tem mistério. Faça a sua. Primeiro refoga-se um assunto em azeite de filosofia balsâmica. Se ele não crescer, tente outro, e depois outro e quantos outros forem necessários. É a alma do negócio, o coração da alcachofra. Na panela que leva ao cerebelo direito, você deixa os verbos cozinhando em banho-maria. Na outra, a que conecta com os fios do coração, reviram-se vírgulas e salsinhas com uma colher de nervos de aço inoxidável. Salpique de adjuntos adverbiais, pimenta branca, craseie sem medo, amasse com faca os vícios de linguagem, retire mesóclises, preposições adversativas e aposte tudo no perfume do tomilho em pó. Leve ao fogo alto, essa meia dúzia de bocas azuladas por debaixo da sua caixa cefálica, e espere. Não tem tempo exato de cozimento. Pode durar horas. Vareia. Nada de pânico se a crosta da massa não ganhar consistência. Acontece. Às vezes não vem. Nessas horas, lembre-se de Drummond e peça dois dentes de alho emprestados. Deixe dourar."
Leia mais aqui.
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Fabio Silvestre Cardoso
25/5/2005 às 15h06
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Parque de Diversões
A 1ª tragada num Hollywood, quando tinha lá seis anos, foi África no peito e garganta rindo do meu irmão menor, que também tossia, e chorava. Quase iniciação ao Tabaco, na festa das fumaças malentendidas. As primeiras florinhas sorriam me encabulavam só em sonho, o arranhão de uma gata, da vizinha, que gostava de mim. Já a 1ª mordida de um cão, foi jaguadarte na bundinha, e em raiva ri, atirei a 1ª pedra, no cachorro, e as outras numa flor que ria demais em cena. A priminha já me beijava de imitar novela, e com ela conheci o zôo, pouco antes daquela árvore doida varrida, que rindo aos ventos, presenciou a Queda Do Meu Terceiro Dente De Leite, na calçada. Chorava, mas ainda sabia ver o ar, que ria e me cumprimentava. Depois chuva, algodão, mercúrio, surra. Quedas. Quedas e quando, na primeira vez amor num fusca, já tinha pavor do dentista, e os policiais do Ibirapuera baixaram o cassetete no teto do carro, mas a jovem flor ria escandalosa de meus modos de segurar a mão dele, me dando bronca maior de idade, e injeção, a vingá-lo no motel da língua anestesiada. Depois flores, um navio, flores, um avião, flores, outros cigarros, flores, e a morte de meu pai, flores, alguns fantasmas, flores, uma união, flores, seis dentes já não nascem mais, flores, e o câncer no pulmão de minha mãe que não fumava, flores, um filho e uma filha, flores, briga de flores, canções, flores e flores, que nunca me deixam, e aqui se divertem, nos brinquedos mais radicais.
Mário Montaut, por e-mail, com imagem de Hélio Rola.
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Julio Daio Borges
25/5/2005 às 13h32
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Das boas notícias
Do departamento das boas notícias. Será um show imperdível por vários motivos: música boa, lugar legal, gente bacana. Com renda revertida para a Casa do Amparo. Estaremos lá.
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Eduardo Carvalho
24/5/2005 às 17h49
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del.icio.us
del.icio.us is a social bookmarks manager. It allows you to easily add web pages you like to your personal collection of links, to categorize those sites with keywords, and to share your collection not only among your own browsers and machines, but also with others.
Lá, a Dani Fazzio linca pra nós.
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Julio Daio Borges
24/5/2005 às 10h19
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BF
Muito lúcidas observações de Julio Daio Borges sobre alguns dos melhores blogs do Brasil.
Idelber, no O Biscoito Fino e a Massa.
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Julio Daio Borges
24/5/2005 às 10h15
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PPP
O Julio Daio Borges fez no Digestivo Cultural uma lista de "Melhores Blogs" e gentilmente incluiu este modesto Por um Punhado de Pixels. Thanks!
Nemo Nox, no PPP ('brigado eu).
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Julio Daio Borges
24/5/2005 às 10h07
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A Demissão da Crítica
Para quem acompanha o mundo literário brasileiro, não é difícil identificar o acordo. Ele é mais ou menos generalizado, e se ergue em torno de um preceito que tem passado por regra de ética e polidez, embora seja mais propriamente o esteio do compadrio. Trata-se do princípio de que uma reação crítica deve ser publicada quando for, de modo geral, favorável à obra analisada, ou quando nela predominar o caráter de apresentação mais ou menos neutra. Caso contrário, o melhor procedimento é o silêncio público, que não será contraditório com a maledicência privada.
* * *
O crítico que escreve em jornal de grande circulação, hoje, no Brasil, ou é aluno, ou é professor, ou é aspirante a professor das universidades de primeira linha. Assim, ou como origem, ou como destino almejado, a universidade e o seu modus operandi, bem como as suas facções, acabam por reger também o ralo meio literário que sobrevive à sua margem ou à sua sombra.
Por isso é tão recorrente na imprensa a ânsia de glosar os lugares estabelecidos pelos discursos acadêmicos mais prestigiosos, ainda que disso resultem textos contraditórios ou incongruentes. E também por isso a imagem de respeitabilidade crítica se faz por meio de uma curiosa mistura: do olhar desdenhoso que a universidade ainda lança sobre o campo do presente com o esforço historizante, que busca substituir o debate sobre objetos pela proposição de linhas de filiação nas fontes canônicas eleitas e celebradas pelas versões hegemônicas do desenvolvimento da literatura nacional.
Não espanta, assim, nesse quadro de rarefação do embate crítico, no qual a regra é evitar o confronto, que a forma privilegiada do texto dedicado à produção literária moderna e contemporânea seja a glosa, tanto nos artigos elaborados para jornais, suplementos e revistas de grande circulação, quanto nos textos produzidos para circulação no meio universitário: monografias, dissertações, teses e relatórios de pesquisa.
O procedimento comum é a paráfrase ou a transcrição, em mosaico, das formulações metalingüísticas da própria obra ou do discurso do autor sobre si mesmo, presente em entrevistas, artigos e depoimentos. O que resulta, de regra, num discurso plano, levemente acadêmico e tedioso, cujo atrativo principal é servir de resumo ao que está presente na própria obra e nos seus paratextos; ou então de apanhado dos lugares-comuns da historiografia dominante, de modo a "explicar" o objeto pela filiação a um deles, como decorrência ou contraposição.
O resultado imediato é a anemia e o desinteresse que caracterizam a maior parte da produção brasileira que enfoca os textos literários do presente, incapaz de real enfrentamento com os objetos e problemas imediatos da cultura contemporânea e, principalmente, com a questão do valor.
* * *
O estado atual da crítica não é, portanto, resultado de algum fator subjetivo ou contingencial, como a ausência de bons talentos críticos depois do que teria sido o grande momento dos anos 50 e 60. É certo que a universidade, subordinando as questões intelectuais ao aparelhamento ideológico e fugindo ao embate crítico em nome dos interesses pequenos e imediatos da luta pelo poder local, contribui decisivamente para a eliminação da tensão crítica. Mas a persistente falta de tônus intelectual e a ausência ou omissão dos agentes conseqüentes, que, juntas, promovem a demissão da crítica da vida literária brasileira, não encontram explicação na vaidade dos criadores, na pouca inteligência ou na falta de coragem do articulista de jornal ou redator de ensaio universitário. Esses são apenas os epifenômenos. O movimento completo tem um desenho mais complexo, pois, embora todos os fatores já enunciados concorram para o caráter anódino da crítica literária brasileira contemporânea, o mais importante deles, em minha opinião, tem tido pouca visibilidade: o fortalecimento e a internacionalização da indústria do livro e do entretenimento literário no Brasil, e a conseqüente valorização do campo da literatura, que, pela primeira vez, se constitui em mercado importante do ponto de vista dos resultados de vendas.
Paulo Franchetti, em "A Demissão da Crítica", hoje na Germina Literatura, amanhã na Sibila.
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Julio Daio Borges
23/5/2005 às 11h39
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N.Y.
Minha cidade, minha amada, minha branca!
Ah, esbelta,
Ouça! Ouça-me, vou soprar uma alma dentro de ti.
Delicadamente pela flauta, atenta-me!
Agora sei que sou louco,
Porque há aqui um milhão de pessoas na fúria do tráfego;
Isso não é donzela.
Nem eu poderia tocar uma flauta se a tivesse.
Minha cidade, minha amada,
És uma donzela sem seios,
És esbelta como uma flauta de prata.
Ouça, atenta-me!
E eu soprarei uma alma dentro de ti,
E viverás para sempre.
Erza Pound, também, na Máquina do Mundo.
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Julio Daio Borges
23/5/2005 às 07h33
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