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Quarta-feira,
25/5/2005
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Redação
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Receita de Crônica
Joaquim Ferreira dos Santos, o melhor cronista de nosso tempo, dá aos leitores sua receita para escrever uma. Vejamos:
"Escrever crônica é atividade como outra qualquer(...) Não tem mistério. Faça a sua. Primeiro refoga-se um assunto em azeite de filosofia balsâmica. Se ele não crescer, tente outro, e depois outro e quantos outros forem necessários. É a alma do negócio, o coração da alcachofra. Na panela que leva ao cerebelo direito, você deixa os verbos cozinhando em banho-maria. Na outra, a que conecta com os fios do coração, reviram-se vírgulas e salsinhas com uma colher de nervos de aço inoxidável. Salpique de adjuntos adverbiais, pimenta branca, craseie sem medo, amasse com faca os vícios de linguagem, retire mesóclises, preposições adversativas e aposte tudo no perfume do tomilho em pó. Leve ao fogo alto, essa meia dúzia de bocas azuladas por debaixo da sua caixa cefálica, e espere. Não tem tempo exato de cozimento. Pode durar horas. Vareia. Nada de pânico se a crosta da massa não ganhar consistência. Acontece. Às vezes não vem. Nessas horas, lembre-se de Drummond e peça dois dentes de alho emprestados. Deixe dourar."
Leia mais aqui.
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Fabio Silvestre Cardoso
25/5/2005 às 15h06
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Parque de Diversões
A 1ª tragada num Hollywood, quando tinha lá seis anos, foi África no peito e garganta rindo do meu irmão menor, que também tossia, e chorava. Quase iniciação ao Tabaco, na festa das fumaças malentendidas. As primeiras florinhas sorriam me encabulavam só em sonho, o arranhão de uma gata, da vizinha, que gostava de mim. Já a 1ª mordida de um cão, foi jaguadarte na bundinha, e em raiva ri, atirei a 1ª pedra, no cachorro, e as outras numa flor que ria demais em cena. A priminha já me beijava de imitar novela, e com ela conheci o zôo, pouco antes daquela árvore doida varrida, que rindo aos ventos, presenciou a Queda Do Meu Terceiro Dente De Leite, na calçada. Chorava, mas ainda sabia ver o ar, que ria e me cumprimentava. Depois chuva, algodão, mercúrio, surra. Quedas. Quedas e quando, na primeira vez amor num fusca, já tinha pavor do dentista, e os policiais do Ibirapuera baixaram o cassetete no teto do carro, mas a jovem flor ria escandalosa de meus modos de segurar a mão dele, me dando bronca maior de idade, e injeção, a vingá-lo no motel da língua anestesiada. Depois flores, um navio, flores, um avião, flores, outros cigarros, flores, e a morte de meu pai, flores, alguns fantasmas, flores, uma união, flores, seis dentes já não nascem mais, flores, e o câncer no pulmão de minha mãe que não fumava, flores, um filho e uma filha, flores, briga de flores, canções, flores e flores, que nunca me deixam, e aqui se divertem, nos brinquedos mais radicais.
Mário Montaut, por e-mail, com imagem de Hélio Rola.
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Julio Daio Borges
25/5/2005 às 13h32
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Das boas notícias
Do departamento das boas notícias. Será um show imperdível por vários motivos: música boa, lugar legal, gente bacana. Com renda revertida para a Casa do Amparo. Estaremos lá.
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Eduardo Carvalho
24/5/2005 às 17h49
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del.icio.us
del.icio.us is a social bookmarks manager. It allows you to easily add web pages you like to your personal collection of links, to categorize those sites with keywords, and to share your collection not only among your own browsers and machines, but also with others.
Lá, a Dani Fazzio linca pra nós.
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Julio Daio Borges
24/5/2005 às 10h19
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BF
Muito lúcidas observações de Julio Daio Borges sobre alguns dos melhores blogs do Brasil.
Idelber, no O Biscoito Fino e a Massa.
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Julio Daio Borges
24/5/2005 às 10h15
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PPP
O Julio Daio Borges fez no Digestivo Cultural uma lista de "Melhores Blogs" e gentilmente incluiu este modesto Por um Punhado de Pixels. Thanks!
Nemo Nox, no PPP ('brigado eu).
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Julio Daio Borges
24/5/2005 às 10h07
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A Demissão da Crítica
Para quem acompanha o mundo literário brasileiro, não é difícil identificar o acordo. Ele é mais ou menos generalizado, e se ergue em torno de um preceito que tem passado por regra de ética e polidez, embora seja mais propriamente o esteio do compadrio. Trata-se do princípio de que uma reação crítica deve ser publicada quando for, de modo geral, favorável à obra analisada, ou quando nela predominar o caráter de apresentação mais ou menos neutra. Caso contrário, o melhor procedimento é o silêncio público, que não será contraditório com a maledicência privada.
* * *
O crítico que escreve em jornal de grande circulação, hoje, no Brasil, ou é aluno, ou é professor, ou é aspirante a professor das universidades de primeira linha. Assim, ou como origem, ou como destino almejado, a universidade e o seu modus operandi, bem como as suas facções, acabam por reger também o ralo meio literário que sobrevive à sua margem ou à sua sombra.
Por isso é tão recorrente na imprensa a ânsia de glosar os lugares estabelecidos pelos discursos acadêmicos mais prestigiosos, ainda que disso resultem textos contraditórios ou incongruentes. E também por isso a imagem de respeitabilidade crítica se faz por meio de uma curiosa mistura: do olhar desdenhoso que a universidade ainda lança sobre o campo do presente com o esforço historizante, que busca substituir o debate sobre objetos pela proposição de linhas de filiação nas fontes canônicas eleitas e celebradas pelas versões hegemônicas do desenvolvimento da literatura nacional.
Não espanta, assim, nesse quadro de rarefação do embate crítico, no qual a regra é evitar o confronto, que a forma privilegiada do texto dedicado à produção literária moderna e contemporânea seja a glosa, tanto nos artigos elaborados para jornais, suplementos e revistas de grande circulação, quanto nos textos produzidos para circulação no meio universitário: monografias, dissertações, teses e relatórios de pesquisa.
O procedimento comum é a paráfrase ou a transcrição, em mosaico, das formulações metalingüísticas da própria obra ou do discurso do autor sobre si mesmo, presente em entrevistas, artigos e depoimentos. O que resulta, de regra, num discurso plano, levemente acadêmico e tedioso, cujo atrativo principal é servir de resumo ao que está presente na própria obra e nos seus paratextos; ou então de apanhado dos lugares-comuns da historiografia dominante, de modo a "explicar" o objeto pela filiação a um deles, como decorrência ou contraposição.
O resultado imediato é a anemia e o desinteresse que caracterizam a maior parte da produção brasileira que enfoca os textos literários do presente, incapaz de real enfrentamento com os objetos e problemas imediatos da cultura contemporânea e, principalmente, com a questão do valor.
* * *
O estado atual da crítica não é, portanto, resultado de algum fator subjetivo ou contingencial, como a ausência de bons talentos críticos depois do que teria sido o grande momento dos anos 50 e 60. É certo que a universidade, subordinando as questões intelectuais ao aparelhamento ideológico e fugindo ao embate crítico em nome dos interesses pequenos e imediatos da luta pelo poder local, contribui decisivamente para a eliminação da tensão crítica. Mas a persistente falta de tônus intelectual e a ausência ou omissão dos agentes conseqüentes, que, juntas, promovem a demissão da crítica da vida literária brasileira, não encontram explicação na vaidade dos criadores, na pouca inteligência ou na falta de coragem do articulista de jornal ou redator de ensaio universitário. Esses são apenas os epifenômenos. O movimento completo tem um desenho mais complexo, pois, embora todos os fatores já enunciados concorram para o caráter anódino da crítica literária brasileira contemporânea, o mais importante deles, em minha opinião, tem tido pouca visibilidade: o fortalecimento e a internacionalização da indústria do livro e do entretenimento literário no Brasil, e a conseqüente valorização do campo da literatura, que, pela primeira vez, se constitui em mercado importante do ponto de vista dos resultados de vendas.
Paulo Franchetti, em "A Demissão da Crítica", hoje na Germina Literatura, amanhã na Sibila.
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Julio Daio Borges
23/5/2005 às 11h39
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N.Y.
Minha cidade, minha amada, minha branca!
Ah, esbelta,
Ouça! Ouça-me, vou soprar uma alma dentro de ti.
Delicadamente pela flauta, atenta-me!
Agora sei que sou louco,
Porque há aqui um milhão de pessoas na fúria do tráfego;
Isso não é donzela.
Nem eu poderia tocar uma flauta se a tivesse.
Minha cidade, minha amada,
És uma donzela sem seios,
És esbelta como uma flauta de prata.
Ouça, atenta-me!
E eu soprarei uma alma dentro de ti,
E viverás para sempre.
Erza Pound, também, na Máquina do Mundo.
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Julio Daio Borges
23/5/2005 às 07h33
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Noite de Inverno
Caiu neve. Depois da meia-noite, bêbado de vinho purpúreo, deixas a zona sombria dos homens, a chama vermelha do seu lume. Ah, a escuridão!
Geada negra. A terra está dura, o ar tem um sabor amargo. As tuas estrelas juntam-se e formam sinais malignos.
Com passos duros caminhas ao longo da linha férrea, de olhos redondos, como um soldado que ataca uma trincheira negra. Avante!
Neve amarga e lua!
Um lobo vermelho a ser estrangulado por um anjo. As tuas pernas tilintam, a andar, como gelo azul, e um sorriso cheio de tristeza e arrogância cobriu-te o rosto, e a fronte empalidece com a volúpia da geada;
ou inclina-se em silencio sobre o sono de um guarda que se deixou cair na sua cabana de madeira.
Geada e fumo. Uma camisa branca de estrelas queima os ombros que a vestem e os abutres de Deus dilaceram o teu coração metálico.
Oh, a colina de pedra! O silêncio derrete, e esquecido jaz na neve prateada o frio corpo.
Negro é o sono. O ouvido segue longamente os atalhos das estrelas no gelo.
Ao despertar tocavam os sinos na aldeia. Da porta do levante nascia, prateado, o dia rosado.
Georg Trakl, amigo do Wittgenstein, em tradução de Roberto Schmitt-Prym, na revista Máquina do Mundo, que ganha sua segunda edição e que tem intervenção do Bro Fa.
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Julio Daio Borges
20/5/2005 às 07h24
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Novo Saia Justa
Prepara o pretinho básico, porque vai ter morte certa. Enquanto Mônica Waldvogel tenta amenizar o clima com seu carisma abaixo de zero e Betty Lago faz uma Rita Lee pra lá de caricata, uma belíssima - e grossa - Luana Piovani faz de tudo para que Marcia Tiburi - ? - se sinta um lixo. É, enfim, um programinha de merda. Nunca imaginei ter de escrever isso, mas deu saudade da Fernanda Young. Tanto que hoje, no supermercado, comprei o Aritmética. Bosta por bosta, ao menos fico com a que escreve.
* * *
Cheguei às 4. Elas apareceram às 5. Bebemos até as 10. Consegui dormir às duas da tarde, e, às sete, era a morta-viva detentora de uma Senhora Ressaca Moral. Sabe, a época de reclusão acabou. E não sei o que fazer com essa, de agora. Não sei se é realmente melhor deixar de passar todos os finais de semana enfurnada no mato. Ali, ao menos não há o risco de ser mal interpretada, e minha vida não anda lá muito legível. A idade pesa. As escolhas pesam. Esse modo ridículo de empurrar tudo com a barriga pesa. Mas não sou assim. Não desisti das coisas, nem apelei para o comodismo puro. Quero voltar a ter um dia-a-dia menos instável. Ok, eu leio bastante. E escrevo, também. Saio com as pessoas, interajo e blablablá. Mas não é só isso. Fosse só isso, minha vida seria perfeita. O problema é que sempre resta uma insatisfação, uma certeza de que os outros vêem em mim uma inutilidade que nunca pretendi alimentar. Não é cabeça vazia. Também não é essa a questão. Posso não ter lá uma rotina das mais salutares, mas isso não me impede de exercitar - um mínimo que seja, reconheço - essa minha necessidade de entender as coisas pelas quais me interesso. Sim, ainda me interesso. Ainda quero encontrar um trabalho bacana, um reconhecimento. Mas não saio, não ando, não mexo a bunda. E isso me atordoa porque sei que, por mais que eu tente explicar, os outros sempre verão um ranço de futilidade pura. Enfim...
* * *
Ok, sou viciada naquilo [O orkut e seu simplismo], mas valha-me Deus. Eles deveriam deixar alguns espaços em branco, para que pudéssemos preenchê-los como bem quiséssemos. Por exemplo, o tipo físico. O meu não está ali. E me recuso a colocar "um pouco acima do peso", porque essa, sim, é uma atitude perdedora. Pudesse escolher, e eu escreveria muito-nada-magra. Altura? Lá é em polegadas. Mas tenho 1m61, o que faz com que eu minta pra baixo (5 pés e 3 polegadas, que correspondem a 1m60) ou pra cima (5 e 4, que correspondem a 1m62). O quesito arte no corpo, por sua vez, já foi descartado. Para mim, tatuagem em posição estratégica é o mesmo que "quero dar", e isso não pega nada bem. Já em "o que mais atrai", a vontade que sinto é de cuspir na tela. Tudo bem, estou em plena tpm, mas aquilo é muito triste. Muito. Dá até vontade de clicar no item "riqueza material", só para protestar.
Ju Biscardi, em seu blog, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
20/5/2005 às 07h11
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