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BLOG

Quinta-feira, 9/6/2005
Blog
Redação
 
Sacumé?

Denéria, de Alex Costa, Oleo sobre tela, 1998

Fugaz, ainda que recorrente; mais recorrente que fugaz, na verdade: desejo. Perturbador desejo que acomete e quase descontrola (é preciso muito esforço para não dizer bobagens e controlar ferozmente o rumo dos olhos). Mas tudo se confunde e não sei o que é certo, lícito, válido, limpo, moral e o que é errado, lascivo, libido, à flor-da-pele, obsceno - tudo ao contrário e de novo, invertido e somado. Desejo justo a ser saciado - compartilhado, melhor dizendo - ou instinto primitivo (primordial?) a ser sufocado? Acima de tudo não sei se é correto, pensar, fantasiar, desejar tão súbita e recorrentemente. Não sei se é puro - pudico, pior dizendo - ou um tipo nocivo de traição a tanta confiança, há tantos anos. O que sei é que é sinistro, muito sinistro. É a mais pura, doce, selvagem e humana tentação... pura tentação. É muito sinistro... Enquanto isso, divago, divago...

* * *

Fazer uma resenha crítica do filme não é um desafio, é uma desventura. Digo isso por mim, claro, que sou fã declarado da saga de George Lucas e por conta disso sempre terei meu senso crítico absoluta e deliciosamente obliterado por esse fato. Assim, sigo adiante, previamente esclarecido junto a meu público de não-leitores, e digo de topete: o filme é passível de críticas - mas e daí? Muitas das críticas ranhetas que li estavam ligeiramente certas - mas e daí? Algumas diziam que George Lucas não dá atenção à interpretação e concordo - mas e daí? Outras falam outras coisas que também concordo - mas e daí? Que importância têm essas críticas diante da exuberância de um épico em seis episódios que arrebata gerações de fãs por quase 30 anos? Nenhuma.

* * *

Não costumo ir muito ao teatro por um motivo muito simples: é caro pra caralho. Não que eu não seja uma pessoa sempre disposta a pagar o preço "de mercado" para ter arte e cultura ao meu deleite, mas acontece que no momento não estou podendo com o preço do teatro em São Paulo. É claro que sempre restam as opções a "preços populares" ou gratuitas, mas estas dificilmente coincidem, em dias e horários, com minha "agenda difícil". Exceções existem, felizmente, e minha "liberdade de domingo" - que não sei por quanto tempo durará - me permitiu (...) o prazer de ver Avenida Dropsie.

Rogério de Moraes, no Obscenum, que linca pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
9/6/2005 às 16h43

 
Mutante vida internauta

Pegando agora uma carona na última coluna do Zuenir Ventura (...), sobre os dez anos da Internet, constato quanta coisa mudou nesse período. Ouso dizer que a Internet constitui a grande revolução nas comunicações neste início de século e de milênio - e não só nas comunicações físicas, mas nas relações humanas, na política, na economia, em tudo na vida. Posso falar por experiência própria, pois hoje passo boa parte do dia lendo e respondendo correspondências que recebo por e-mail, principalmente depois que comecei a escrever esta coluna.

De cara, há uma profunda mudança no jornalismo, na nossa relação com os leitores. Antes, o jornalismo era um monólogo: cada um de nós escrevia o que queria, o leitor gostando ou não, concordando ou não. Raros eram os leitores que escreviam para as redações e mais raros ainda os jornalistas que se dignavam a responder aos questionamentos feitos nas cartas. Hoje, não: é um diálogo permanente, em que você continua escrevendo o que quer, mas é obrigado a ler também o que não quer, o que os outros pensam. Do monólogo, passamos rapidamente para um diálogo permanente e, agora, tenho certeza, muitos de nós gastamos mais tempo respondendo aos leitores do que escrevendo artigos.

E não é só isso. Com a democratização das comunicações provocada pela Internet, aumentou muito também a participação de todo mundo na vida política do país. Acho que, já nas próximas eleições, haverá pela primeira vez uma grande influência desta movimentação na imensa rede de discussão que se espalha via Internet. Se, no início, eram manifestações isoladas e sem maiores conseqüências, percebe-se, de uns tempos para cá, uma clara organização de grupos de influência fazendo uma feroz oposição ao governo central e aos demais poderes constituídos como nunca se viu antes na mídia impressa.

Ricardo Kotscho no No Mínimo (porque a ficha da internet vai caindo, mais e mais, na grande imprensa).

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Postado por Julio Daio Borges
9/6/2005 às 11h03

 
Reduto do Comodoro Ampliado

Retrospectiva do Carlão no CCBB (porque eu adorei a cara desses três na platéia).

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Postado por Julio Daio Borges
9/6/2005 às 10h54

 
Curious Pursuits

The most memorable pieces in this collection of essays and articles by Margaret Atwood are the ones about herself rather than the ones about literature. Why is this? It isn't as though Atwood isn't well-informed and intelligent when talking about books; she is. But what she is really good at is telling stories, and the explicatory ways of criticism don't quite allow that story-telling talent to breathe. When she looks back on her own life, however, she talks as though she is minting scenes from one of her acerbic early novels.

Natasha Walter, sobre o novo livro de Margaret Atwood, no Guardian.

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Postado por Julio Daio Borges
8/6/2005 às 12h01

 
Mahler, the Beatles and JFK

Smokin': a youthful Leonard Bernstein at the piano. Photograph: Corbis

Bernstein threw himself into so many different arenas, as a composer, conductor and pianist, but also as a lecturer, communicator, writer and all-round media pundit. He embraced "high" art as well as the most populist: he wrote some of the greatest Broadway musicals of all time, including West Side Story and On the Town; an award-winning film score to On the Waterfront; and symphonies, concerti and song cycles for the concert hall. Who else could reintroduce Mahler's music to the Vienna and Berlin Philharmonic Orchestras during the day and then spend evenings at the piano playing, from memory, every Beatles song ever written?

Marin Alsop, sobre Leonard Bernstein, no Guardian.

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Postado por Julio Daio Borges
8/6/2005 às 08h27

 
One-man show

[Como você avalia a crítica musical da atualidade?] A falta de uma publicação forte, de penetração nacional entre os mais diferentes fãs de estilos musicais, a extrema segmentação das publicações e a facilidade tecnológica com que qualquer um pode montar um blog ou um site ajudam a criar essa dispersão atual. A internet criou a ilusão de que todos podem ser críticos, graças ao MP3, que permite conhecimento rápido das novas tendências, e à praticidade com que se pode publicar uma opinião. E, por isso, talvez o último nome da crítica musical, como a conhecemos, seja Lúcio Ribeiro, que em sua coluna atualiza a função de garimpagens de bandas novas que começou nos anos 80. Lúcio é sincero e realmente gosta do que recomenda. Mas não deixa de incorporar e inspirar o jornalismo hiperlativo dos blogs. Se por um lado todos acreditam que têm direito a criticar e opinar, seja na imprensa como blogueiro ou num blog como jornalista, a crítica cultural se reduz a encontrar novidades ou tendências. Por outro lado, o efeito colateral dessa explosão de opiniões faz com que nenhuma opinião seja realmente relevante. Há consensos brutais que tornaram a função do crítico supérflua. Ele só tem que concordar com o que todos dizem. Lembrando que há o bloco dos contras, que devem discordar dos consensos porque é a única forma de se destacar da manada. Mas, na verdade, a crítica tinha que crescer. Deixar os blogs para os meninos e levar o jornalismo cultural para uma fase adulta, em que se torne jornalismo investigativo ou antropologia cultural.

* * *

[Você foi um dos primeiros jornalistas a lançar uma revista solo de música, a Vírus, que circulou a partir da segunda metade da década de 90. Ela durou algum tempo e acabou. O que aconteceu? Qual foi a lição tirada dessa experiência?] A Vírus tentou ser uma alternativa à Bizz/Showbizz, apresentando com destaque artistas que não tinham espaço na imprensa mainstream. Era uma aposta ousada, típica de críticos de rock. Foi uma aventura passional, que rendeu muitas brigas e custou dinheiro. Era para ser bimestral, mas com sorte saía a cada três meses. Mesmo assim virou cult. Tinha lá mil indivíduos que compravam a revista sempre que ela saía. Como laboratório de experiências, foi privilegiada. Até distribuição banca-a-banca foi tentada, num esquema de carro e perna mesmo. Deu uma bela canseira, mas provou um ponto: que a distribuição nacional não funciona para pequenas editoras. A revista em que tentamos o corpo-a-corpo foi a que mais vendeu. Quando falo "nós", refiro-me também a Jeferson de Sousa, meu sócio na Vírus. Outro problema é que a Vírus era realizada como projeto paralelo. De dia, tínhamos as nossas carreiras de jornalistas, que pagava as contas, e virávamos a madrugada trabalhando na revista. Isso provocou diversos atrasos. Esta foi outra lição: é preciso dedicação total num projeto impresso. A Vírus nunca deu lucro, nem empatou suas contas. O único dinheiro que entrava mesmo era os das grandes gravadoras. Nenhuma gravadora independente investiu um centavo na Vírus, mesmo concentrando o espaço no alternativo. Foi quando tentamos colocar na capa um artista nacional que estava em alta na época, os Virgulóides, para tentar viabilizar o projeto. Os leitores fiéis ficaram revoltados, apesar do tratamento crítico dado à reportagem - Ricardo Alexandre, que depois criou a Frente, escreveu, a nosso pedido, um texto desancando a banda. Isto, claro, não ajudou a conquistar os fãs dos Virgulóides. Fizemos uma última tentativa: uma revista com capa dupla - de um lado, Planet Hemp, na época da prisão em Brasília, com aposta na reportagem investigativa, e do outro o Blur, no que pode ter sido sua única capa no Brasil. Dobramos a tiragem e prendemos a respiração para ver no que ia dar. Deu em mais de U$ 4 mil de dívidas que inviabilizaram a continuação do projeto.

* * *

[Fale um pouco mais da (sua) revista (atual) Pipoca Moderna.] Pipoca Moderna combina o velho idealismo com uma visão mais amadurecida do mercado. Tem uma tiragem de 30 mil exemplares. É gratuita, portanto tirou do leitor a função de sustentá-la. Quem a sustenta são anúncios - de distribuidoras de DVD, sim, de gravadoras, pizzarias, livrarias, de quem anunciar. Sua ambição não é a de informar um grupo seleto de pessoas, mas de chegar ao maior número possível de leitores. O alcance deve ser amplo porque o público de DVD é amplo. Nem por isso é um produto pobre. Creio que tem ótima qualidade editorial, artística e gráfica. O fato de não tratar diretamente de cinema, mas de DVD, permite que fale aos fãs, e não aos demais críticos. A idéia associada à imagem da Pipoca é essa: diversão. Por esse conceito, Indiana Jones é a coleção mais aguardada do ano, e não a caixa de, digamos, Fellini. É possível fazer uma crítica de cinema com estilo pop, embora não se veja isso sendo feito cotidianamente. Talvez porque, do mesmo modo que na música pop, os consensos da crítica de cinema também são brutais. É pior ainda, pois o cinema tem o status de arte que o rock não tem, e sua seleção de especialistas oficiais não muda na grande imprensa há várias décadas. Assim, seus consensos atravessam gerações.

Marcel Plasse, da Pipoca Moderna, em entrevista perdida a Rodney Brocanelli, no Observatorio da Imprensa (aqui e aqui).

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Postado por Julio Daio Borges
8/6/2005 às 08h04

 
Alumbramento

Quando eu estava pra terminar a faculdade, ou antes, costumava cabular aulas na Poli e fugir pra outras unidades da USP. Na dúvida entre prestar um novo vestibular (depois da formatura) para Letras, Filosofia, Psicologia ou História, fui assistir aula nas quatro.

Lá na Letras, pelos idos de 1994-1995, ou antes, topei com o professor Hansen. Ele era hipnotizante. Acho que eu paquerava uma menina nas Letras Germânicas (?), não sei, mas fui cair lá. Quando ele começou a falar, esqueci do resto. Lembro de sua análise do Macunaíma, como se, através dele, eu o tivesse lido pela primeira vez. Começou ali minha admiração por Mário de Andrade.

O professor Hansen contava histórias dos modernistas. Outra que contava, e que também me fascinava, era a Nádia, biógrafa da Clarice Lispector. Hansen dizia que Oswald defendia pontos de vista estapafúrdios em discussões e, depois, quando ia perdendo a razão, confessava: "Mas não foi eu quem disse... Foi o Mário!".

O professor Hansen também gostava de repetir o seguinte, sobre suas posições ateístas: "Meu pai me mostrou que Deus, por definição, não existe e que pecado é comer palha". Eu observava que ele insistia em expressões e citações incomuns que eu jamais esqueci: "muita vez", "é claro?" (como um efeito retórico)... "A língua é uma man-da-ri-na".

Ontem à noite, na Casa do Saber, encontrei de novo o professor Hansen, falando sobre Poesia Moderna Brasileira, e principalmente Manuel Bandeira, e soprei no ouvido dele: "Professor, a língua é uma mandarina!". Ele permaneceu com aquele seu olhar insistentemente saltitante, aparentemente curioso, e completou: "Ah, então serviu pra alguma coisa?"

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Postado por Julio Daio Borges
8/6/2005 às 07h35

 
Build a Fort, Set That on Fire

Richard Leslie Schulman, 1984

I can't think of an artist more difficult to judge than Jean-Michel Basquiat. Basquiat's death from a heroin overdose at the age of 27 in 1988, and his beginnings as a graffiti artist on the streets of Brooklyn, give his life the typology of the doomed poet. He grew wealthy and became a celebrity-a close friend and protégé of Andy Warhol, Madonna's boyfriend (briefly), the subject of a 1996 film by Julian Schnabel. Most problematic of all, Basquiat was black. He had to honestly reckon with his race, yet the white art world encouraged that self-exploration and paid him handsomely for it. Thus the question is: How much of that reckoning was directed, and how much of it was real? In other words, how much of Basquiat's outsized reputation has to do with his art, and how much of it either with the cynical exploitation of the racial and social facts of his life, or with his resentful reaction to the perception that he was less an artist than a commercial fabrication?

Lee Siegel, na Slate, num ensaio sobre Jean-Michel Basquiat (que olhando assim, meio de lado, lembra um pouco o Arthur Bispo do Rosario).

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Postado por Julio Daio Borges
7/6/2005 às 15h25

 
Eles dançam

Anteontem eu assistia a novela América, quando apareceu a Mariana Ximenes dançando. (O senhor ali do fundo, o intelectual de gola rulê, por favor, não me atire tomates. Muito menos esse volume de Guerra e Paz aí. Vai, vai, resigna-se, homem! Todo mundo assiste novela.) Onde eu estava mesmo? Ah, sim a Mariana Ximenes dançava. Era a coisa mais linda que já vi. Não, não sou homossexual (apesar de ter desejado muito o ser, ao conhecer certos homens. O que, não adiantaria em nada, dizem-me serem os problemas idênticos). Mas, não é preciso ser homossexual para reconhecer a beleza de Mariana Ximenes. E o que quase me matou de inveja: ela dança. Com o corpo todo, sabe? Tem uma graça imensa na maneira como ela dança.

Sou uma mulher que não dança. Uma meia-mulher. Porque, não dançar é um atestado de feminilidade baixa nos dias de hoje. Não concordo, mas é assim, para os outros. Todas as vezes em que tentei dançar, senti como nunca antes, o peso da gravidade. Meus joelhos emperravam. Meus braços pareciam ter bolas de ferro nas pontas. Meu pescoço endurecia, na sensação de pesadelo que é a de todos estarem olhando pra mim. Se fechava os olhos, eu me olhava. Tinha a consciência de como cada pedacinho do meu corpo era atrapalhado e sem graça. E, o pior, eu não sabia que cara fazer. Que cara se deve fazer quando dançamos? De felicidade, de sedução, de relaxamento, de distração? Eu não conseguia definir, em todas as minhas tentativas de dança, que cara eu tinha que ter. Olhava as outras pessoas, e, pareciam estar à vontade com as caras que escolheram fazer.

Uma amiga disse-me que tenho, certamente, couraças emocionais que me impedem de dançar. Nos ombros, porque carrego o mundo nas costas. No pescoço, pelo peso de raciocinar. Nos quadris, por medo de uma paixão avassaladora. Nas pernas, por comodismo, preguiça de ir. Nos braços, que cruzo no tórax, ela disse ser um movimento de protecão e medo de revelar os sentimentos no meu peito. Também explicou-me que, posso livrar-me delas com auto-conhecimento e meditação transcendental. Mas, eu penso que não deve haver um problema sério em continuar com as minhas couraças. Gosto delas. São quentinhas e me protegem. E tão, tão pesadas como uma armadura medieval, impedem que meus pés andem nas nuvens.

Mas, uma vez, dancei. E foi bom. Só havia uma pessoa olhando. Descobri naquele dia, um zíper escondido que deixava cair as couracas, como as roupas. Ufa, nem foi preciso fazer meditação transcendental. Usei minha própria cara, como ele usou a dele.

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Postado por Andréa Trompczynski
7/6/2005 às 14h17

 
escrivinhadora mecânica

Acabo de comprar uma máquina de escrever. Pois é, eu sou meio anacrônico. Mas juro que há um porquê de eu ter feito isso. Não é pelo charme nem por nostalgia adquirida (do estilo "ah, como eu queria ter vivido nos anos 60"), e sim pelo exercício. Explico-me.

A melhor coisa de um computador, pra quem gosta de escrever, é a facilidade. Você pode corrigir o texto ad aeternum, recortar um trecho e mudá-lo de lugar, apagar parágrafos inteiros com uma tecla, inserir uma frase no meio, trocar palavras repetidas, enfim, mudar tudo o que você quiser com o menor esforço. Mas, ao mesmo tempo em que isso é genial, na minha opinião também atrapalha no desenvolvimento de um possível escritor. Afinal, é tudo muito fácil. Você não tem a menor obrigação de escrever algo decente, porque pode reler, mudar tudo, reescrever ali mesmo, no original, sem deixar vestígios. E isso é ruim? Pra mim, é.

Quando eu decidi escrever a sério numa máquina de escrever pela primeira vez foi uma desgraça. Não conseguia articular as orações direito, repetia a mesma palavra quinze vezes numa frase, recomeçava a escrever a cada duas linhas. Ou seja: estava viciado em ctrl+c e ctrl+v. Não conseguia escrever ali, no papel; meu pensamento precisava ser mediado por todos os recursos tecnológicos de um computador para tornarem-se texto. Eu estava limitado.

Mas aí decidi insistir. E continuei escrevendo na máquina lá de casa, uma velha Olivetti da minha mãe (ela sempre conta que comprou o primeiro carro dela com aquela máquina). E qual não foi a minha surpresa quando percebi que meu texto estava melhorando a olhos vistos. Eu sentia as palavras fluírem com mais naturalidade. Desenvolvi a capacidade de construir as frases mentalmente antes de escrevê-las, e fazia isso naturalmente, automaticamente. Com isso, a própira qualidade do que eu escrevia melhorou; tornei-me mais articulado. Afinal, eu não podia voltar atrás; quando se escreve numa máquina de escrever, o texto já está ali, no papel, e não dá pra corrigir. Ou melhor, até dá, mas fica a marca, não é limpo e fácil como na tela. Além disso, corrigir no papel envolve parar de datilografar, tirar a mão do teclado, pegar uma caneta... É todo um trabalho que atravanca o processo da escrita. Então você se força a escrever decentemente logo de primeira, começa a se policiar e a usar a cabeça. Claro, reescrever é um processo vital, essencial, mas trata-se de coisas diferentes. Uma coisa é só conseguir escrever com a ajuda de um computador. Outra é desenvolver e melhorar um texto através da reescritura.

E é por isso que agora há uma Olivetti Lettera 32 na minha mochila (saindo um pouco pra fora porque não cabe inteira): porque nada como uma máquina de escrever para aprender a escrever.

(E, além disso, é muito mais charmoso. Eu sei que disse no começo do post que não tinha comprado a máquina pelo charme, e é verdade. Mas que ele é um bônus muito bem-vindo, isso é.)

Cássio Koshikumo, no carta.fechada, que linca pra nós (porque ele pensa, mais ou menos, como eu - que escrevo a mão).

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Postado por Julio Daio Borges
7/6/2005 às 11h50

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