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Domingo,
24/7/2005
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Redação
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Padox + Pontedera
É, amigos, o fim se aproxima. Hoje termina o FIT. Vou esperar o término para fazer um balanço, mas a impressão geral até agora é muito boa. Valeu.
Ontem à tarde fomos conferir a apresentação do Padox le jeu dans le jeu, da Compagnie Dominique Houdart, pela segunda vez. No elenco, 40 reeducandos do Instituto Penal Agrícola, órgão de readaptação para a sociedade. A diferença desta foi o local: uma quadra no próprio IPA.
Os atores ficam fantasiados de extraterrestres, com máscaras enormes e roupas espalhafatosas. As imagens são engraçadas, inusitadas. O público reage bem. Eu já tinha me divertido com eles na terça, logo que cheguei, no SESC. Eles estavam por lá tirando um sarro, ajudando as pessoas a se sentarem.
A primeira, na manhã de sexta no calçadão do centro, funcionou melhor. Foi mais próxima do público, a interação era mais fácil. Já no IPA eles ficaram muito distantes, na quadra da institução. Não rolou muito bem. O clima muito europeu destoou, não animou. Aproveitei para conversar com público e atores; para eles foi uma experiência interessante, parecem ter gostado muito. Este talvez tenha sido o aspecto mais importante.
À noite, rumamos para o abarrotado Teatro Municipal ver o concorrido Il Raglio Dell'Asino, outra das grandes estrelas do FIT. É a Compagnia Laboratório di Pontedera, sob a batuta de Roberto Bacci. A idéia é interessante: baseado em O idiota, clássico de Dostoievsky, mostra uma festa em que levanta-se uma série de discussões em torno de uma questão: "É possível existir alguém absolutamente bom?"
Confesso que fiquei um tanto quanto frustrado. Embora não tenha sido expressamente esta a intenção, é difícil sintetizar uma obra deste porte. As questões são levantadas mas não vingam. A peça acaba e fica a sensação "Ok. E aí?".
Um ponto que incomodou em particular foi a fala. Os italianos, bons, se esforçaram e muito para falar em português. Mas, sem o domínio do idioma, o esforço empenhado na pronúncia limitou a capacidade de atuação. O texto soou preso, difícil. Por vezes incompreensível.
Visualmente, a montagem é linda. Algumas cenas, como a final, são antológicas - foram, talvez, os momentos mais belos por aqui, esteticamente. Não sei. É um grupo muito sério, a montagem é interessante, mas não agradou. Ficou devendo.
Em minha última noite, hoje assisto Muito barulho por quase nada, que os comentários classificam como uma das grandes surpresas, e A caminho de casa, do pessoal do Armazém, que dispensa apresentações. E aí acabou. Passou rápido.
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Guilherme Conte
24/7/2005 às 16h17
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O mesmo sol e a mesma lua
Um dos pontos mais altos do Festival de Jazz & Blues de Buzios é - e não estou sendo irônico - o cartaz. Ficou sensacional. Combina muito com o clima que marcou a cidade neste final de semana. Buzios está, na medida do possível, limpa, organizada. O programa aqui é - como dizem as meninas - uma delícia: alternando Ferradura e Geribá durante o dia com, à noite, boa comida, boa música e excelente ambiente.
O ideal aqui é estar de carro ou, se possível, de jipe. Gosto de pular de praia em praia, sem sentar muito tempo em nenhuma, e caminhar uma, duas vezes beirando o mar. É um exercício saudável, relaxante, com vista agradável para todos os lados. E um pesseio pela Orla Brigite, no final da tarde, completa o dia, antes do banho, do jantar no Don Juan, da caipirinha no Brigitta's e, enfim, a música.
Leo Gandelman poderia ter tocado horas, ontem, na praça Santos Dumont, o ritmo meio meloso, calmo, mas ao mesmo tempo dançante, com que começou o seu show. Poderia ter até contar mais uma ou outra história da Gávea, da janela do seu apartamento ou do seu abacateiro. Mas não poderia ter deixado seu guitarrista abusar no solo, quebrando todo o ritmo e o clima que o seu sax demorou para conquistar. É essa falta de sensibilidade - até de profissionalismo, eu diria - que entrega um músico médio mas pretensioso. Não precisava, definitivamente.
Só que o público - que não deve ter entendido esse solo fora de hora - parecia também não estar entendendo muito antes. Porque fazia cara de que havia ali alguma coisa para entender. O sax de Leo Gandelman estava soprando com um certo gingado, um rebolado que pedia, que quase exigia que o público dançasse. Mas praticamente ninguém mexia os joelhos. Acho que ninguém sabia se aquilo era Kenny G, Bill Clinton ou Winton Marsalis, mas tinham todos na cabeça que jazz - e também não era exatamente jazz - deve-se ouvir parado. Beirou uma vergonha coletiva.
Mas o ambiente, mais uma vez: fico sempre encantado com esses lugares que reúnem todas as categorias de pessoas. Ontem, a praça Santos Dumont foi um lugar assim: estava lá o filho do pescador, de boné do Lakers pra trás; um grupo de meninas cariocas, que passam as férias em Búzios enquanto os pais estão em Tonga; vários casais, dos mais jovens aos mais velhos, de todas as classes e estilos; surfistas, jornalistas, executivos, cantores. Todos aqui, aproveitando o mesmo sol, a mesma lua e - surpreendentemente - a mesma música.
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Eduardo Carvalho
24/7/2005 às 16h07
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Jazz com casa cheia
Síntese. Assim aconteceu a última noite do 8º Visa Búzios Jazz & Blues. As atrações, cada qual com seu estilo, reproduziram neste sábado (23/7) um mosaico das noites anteriores em alta definição. Com isso, desde a última aparição da itinerante e animada Dixie Square na Rua das Pedras (com direito a entrada no restaurante Don Juan) até o derradeiro acorde do cover de "Bitter Sweet Symphony", executado por Vernon Reid e The Masque, tudo concordou para uma celebração musical no Balneário de Búzios, que parece ter se fixado como endereço certo do jazz e da música instrumental no litoral brasileiro nessa época do ano.
As principais atrações desse último dia eram, sem dúvida, o saxofonista Léo Gandelman e Vernon Reid, que, conforme disseram por aqui, "conquistou o mundo com a banda Living Colour". Além desses, houve ainda a presença do duo portenho Dall-Botafogo, desta vez tocando do Pátio Havana. Pela ordem, Léo Gandelman foi o primeiro a se apresentar na Praça Santos Dumont, que desde o início contou com um público muito receptivo para o lançamento do novo álbum do saxofonista, Lounjazz. A propósito, nota-se que não foi à toa que Gandelman foi escolhido como o Mestre de Cerimônias do Festival. Sua empatia com a audiência é de fazer inveja a artistas consagrados da música pop, que muitas vezes têm de se esmerar entre constrangimentos para ganhar uma simples atenção. De qualquer forma, não é o caso do saxofonista brasileiro, que tocou acompanhado pela banda Supernova.
E é com esse conjunto que o músico propõe uma interação singular, transcendendo as fronteiras do que se considera como um padrão dos concertos de jazz. Nesse contexto, cria-se espaço para a guitarra distorcida de João Gaspar, ou o contrabaixo arrojado de Alberto Continentino (o mesmo de Ed Motta), bem como os extensos solos do baterista Allen. Léo Gandelman arrisca, portanto, fazer uma música que acaba por mesclar estilos. Exemplo disso é a mudança não só no andamento das músicas, mas também no seu formato. Do repertório novo, entra nessa vertente "Bossa rara", na qual o saxofone abre espaço para um solo crescente de guitarra. Numa outra linha, surge "Love Total", também faixa do recém-lançado álbum Lounjazz e que foi tema do filme Garrincha (uma outra paixão de Léo Gandelman, o futebol). Mais intimista, o destaque dessa música fica por conta das longas frases do saxofone. Uma bela homenagem.
O auge do espetáculo, contudo, ainda estava para chegar. Quando todos esperavam uma última música comportada, com o "Tico-Tico no Fubá" (de Zequinha de Abreu), Léo Gandelman apresentou uma versão com altos e baixos, pontuado com solos de todos os instrumentos, e aqui vale destacar o talento de João Gaspar que ora estava no cavaquinho. No calor da interpretação, uma surpresa: enquanto o saxofonista descia do palco, dois jovens para lá subiam, dançando freneticamente, para delírio da platéia e desespero dos seguranças que os queriam fora de lá. No bis, houve uma canja com o guitarrista Pepeu Gomes. Nessa autêntica Jam Session, "Maracatu Atômico" foi executada com muito talento e entusiasmo por parte dos artistas.
As duas atrações seguintes, Dall Botafogo e Vernon Reid, fizeram apresentações em que também foram ovacionados pelo público. O duo argentino teve o privilégio de tocar para uma platéia majoritariamente portenha, o que provocou uma mudança de comportamento do recatado Pátio Havana. Já com Vernon Reid, direto do Chez Michou, a reação dos presentes corroborou o sucesso e a popularidade do Festival. Do ponto de vista musical, de mais a mais, o desempenho do grupo justifica o grande interesse das publicações especializadas em música pela entrevista dos componentes.
Final de Transmissão
O sol forte de Búzios não esconde o clima de ressaca no ar. Fim de festival após cinco dias de Jazz, Blues e música instrumental numa região cercada por praias e belezas naturais. Parece improvável que seja no Brasil, país onde a musicalidade se confunde, erroneamente, com a agitação dos trios elétricos, ou pela presença de um DJ aos olhos da multidão, como disse Ed Motta em entrevista aos repórteres do festival. É, portanto, notável que essa iniciativa prevaleça quando seria muito mais fácil se render às garras do populismo e encher a cidade de turistas com o pop das rádios FM. Que iniciativas como essa se multipliquem. A boa música e seus amantes agradecem.
* fotos de Sylvana Graça.
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Fabio Silvestre Cardoso
24/7/2005 às 13h02
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Um modelo para Porto Velho
O melhor momento para ir à praia é definitivamente o inverno. E isso é verdade especialmente no Brasil, onde o sol resiste o ano inteiro, e - mais verdade ainda - em cidades como Búzios, que estão mais tranquilas e melhor frequentadas nesta época do ano. Nem precisava do Festival de Jazz & Blues. Só que esse movimento musical na cidade, combinado com a temperatura e a geografia daqui, transformam Búzios num destino bacana nesta época do ano - bacana e, desconfio, menos aproveitado e divulgado do que deveria.
O que, na verdade, é até bom. Búzios nasceu para ser tranqüila. Não tem estrutura nem vontade de receber multidões, que estragam e enfeiam os melhores lugares. Mas Búzios não é - nem deveria ser - uma espécie de Barra Grande carioca. Seu espírito é bem mais internacional - e eu não diria nem cosmopolita. E os melhores lugares do litoral brasileiro são - como Barra Grande, Mandacaru, Jericoacara - brasileiros até a medula; e talvez muito cosmopolitas. Búzios é uma exceção no litoral do Brasil.
Cheguei aqui ontem à noite, mais tarde do que pretendia, depois de uma viagem maravilhosa de São Paulo - com exceção de duas batidas policias, que não encontraram o que queriam. Ainda conseguimos, de qualquer forma, assistir Kurt Brunus e Cynthia Bland, no bom e velho Chez Michou, que - por ignorância musical - eu não consigo descrever mais precisamente do que uma música boa, animada.
Búzios está recebendo o tratamento musical que merece. Este é o tipo de evento que deveria se espalhar pelo Brasil inteiro, de Palmas a Passo Fundo, para ver se eliminamos para sempre esse ritmo que costuma tocar nos quiosques nacionais. Não precisa ser Jazz nem Blues, não precisa ser em cidade nem ter gente bonita. Um festival de country em Porto Velho, por exemplo, acho que já faz falta. Que Búzios sirva, então, como modelo. E que a noite de hoje - que começa agora na praia de João Fernandes - seja pelo menos tão divertida quanto a de ontem. Mando notícias.
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Eduardo Carvalho
23/7/2005 às 17h54
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Ed Motta: Jazz na Praça
Quem passasse pela Praça Santos Dumont ontem (sexta-feira, 22), por volta das 20h, jamais diria que ali, alguns minutos depois, o local abrigaria o show de estréia do novo álbum de Ed Motta, Aystelum. O coreto estava vazio, e o local parecia fadado a ser contaminado pelos fortes ventos que cortavam a noite de Búzios. Para o bem e para o mal, as aparências enganam. É bem verdade que o cantor atrasou mais que o esperado; é bem verdade também que, no início, sua persona pareceu um tanto distante do público presente, chegando a demorar 20 minutos para saudar os presentes; nada disso, no entanto, foi capaz de ofuscar sua brilhante aparição no 8º Visa Búzios Jazz & Blues.
Ao som dos aplausos, Ed Motta subiu ao palco e a cena que se seguiu foi, no mínimo, curiosa. Junto com o Septeto Euphonico Moderno, o cantor caminhou tranqüilamente até seu piano elétrico. Silêncio. Uma vez acomodado, o público assistiu uma eletrizante polifonia instrumental, como se os instrumentos partissem cada qual de seu universo particular para adentrar um outro, em conjunto. A partir desse momento, o sax, tocado por Idriss Boudriua, e a bateria de Renato Calmon tomaram controle da situação e o jazz finalmente se sobrepôs àquela espécie de introdução dodecafônica (ou, como disse uma jornalista ao meu lado, "música para músico").
Além dessa música, digamos, incidental, havia outro detalhe dissonante na formação de Ed Motta e de seu septeto. No palco, os músicos se organizavam em formato oval, sendo que a bateria ficava do lado esquerdo e a guitarra, tocada por Paulinho Guitarra, ficava ao fundo. Ed Motta, que revelou ter adotado esse formato com base nos conjuntos de Jazz dos anos 50, ficou ao centro, como que no controle das vibrações e das ondas sonoras. Assim, e não por acaso, notava-se uma unidade musical no grupo que poucos conjuntos possuem, até mesmo os mais ensaiados. Cada instrumento fazia sua parte em prol do conjunto, muito embora tenha havido espaço para os solos e para as improvisações de cada um.
No que se refere à música, entretanto, ao mesmo tempo em que se mostrava impressionado, até aquele momento não existia uma conexão muito forte entre artista e público. Essa "relação" começou a virar quando, ao expor alguns elementos do novo disco, Ed Motta seguiu nos vocais e entoou "The Rose that came from blue", numa quebra de ritmo e de estilo, utilizando as singulares nuances de sua voz, do grave para o agudo, como se as cordas vocais fossem o teclado de piano a ser usado aleatoriamente. Em seguida, agora embalando os namorados da Praça, cantou um dos poucos "hits" clássicos de seu repertório (todo voltado para o novo CD): "Fora da lei". Decididamente, as pessoas já estavam mais à vontade.
E foi graças a isso, quase numa ironia, que ele ficou mais livre para interpretar, e como ele mesmo disse depois na entrevista, adaptar ao vivo o repertório exaustivamente ensaiado em estúdio. A platéia, mais animada, já interagia com sinceridade às apostas jazzísticas do excelente Septeto, que, além dos já citados, é formado por Rafael Vernet (teclado), Jessé Sadoc (trompete) e Alberto Continentino (baixo acústico).
Na última parte da apresentação, o que mais surpreendeu não foi a esperada reação da audiência durante a execução de "Colombina", mas, sim, a participação geral quando Ed Motta incitou a platéia a repetir sua vocalize. Em coro, a Praça consentiu. A recíproca foi tão verdadeira que o cantor ficou impressionado no público e no privado, e na entrevista subseqüente se disse surpreendido pelo fato de ninguém ter pedido para ele tocar "Manuel". Perguntado por este repórter qual seria sua reação se isso tivesse ocorrido, a resposta foi categórica: "Não faria. O artista não está onde o povo está; o artista está na cabeça dele". Uma consideração para lá de sincera, da mesma forma que a atitude do público ao longo do espetáculo.
* fotos de Sylvana Graça.
Ingleses e americanos nos palcos de Búzios
A noite ainda não havia acabado. De volta ao Pátio Havana, no mesmo momento em que um bem-humorado Ed Motta jantava e concedia uma animada coletiva aos jornalistas, o percussionista James Harris e o saxofonista Trevor Watts, da Inglaterra, iniciavam a apresentação mais virtuose desse festival. Assim, de um lado, ficou evidente que a dupla possui um talento e uma técnica instrumental muito peculiar. Por outro lado, é também notória a distância de sua arte para com o público médio (em que pese o fato de estarmos num gênero, o jazz, cuja educação musical funciona como uma espécie de pré-requisito). Prova disso foi a temperada resposta dos presentes no Bistrô durante a apresentação. Alguns beliscavam seus pedidos; outros conversavam; e poucos prestavam verdadeira atenção na dupla.
Comportamento absolutamente diferente para com o duo norte-americano formado pelo multi-instrumentista Kurt Brunus e pela versátil cantora Cynthia Bland. O repertório, que verdadeiramente incendiou a platéia do Chez Michou, teve de tudo um pouco: reggae, rap, hip hop, soul e muito rythm & blues, talvez a principal assinatura do conjunto. No auge do show, após terem tocado clássicos como "No Woman, no Cry" e "I shot the sheriff", houve espaço até para uma de Jorge Ben: "Mas que nada", num português espantosamente bem pronunciado. Sem dúvida, o espetáculo em que o público mais interagiu.
Última noite
Hoje, o festival se encerra com a apresentação do Mestre de Cerimônias Léo Gandelman na Praça Santos Dumont (20h) e de Vernon Reid e The Masque no Chez Michou (24h), entre outros.
Confira a programação completa aqui.
E amanhã tem mais.
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Fabio Silvestre Cardoso
23/7/2005 às 14h31
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Soco no estômago
Ontem foi o dia de peças-porrada. Maravilhosa surpresa foi o Navalha na Carne, clássico do Plínio Marcos, com a Bate Nessa Face Que Eu Te Viro a Outra, daqui de Rio Preto. Era uma apresentação extra, só para a imprensa; lotou todos os dias.
A Casa de Cultura Dinorath do Vale se transforma em espaço da peça. Começa no saguão, com o ótimo Veludo - a grande atuação - tomando conta do espetáculo. Subimos e entramos no quarto de Neusa Sueli. A ação toda se passa ali, naquele quarto claustrofóbico, sufocante. O ar é pesado, carregado de cigarro. Plínio pede esse hiper-realismo. Funciona muito bem, mergulhamos naquele mundo de cabeça.
Todo o elenco está bem. Três Neusas se sucedem, fragmentando a narrativa. Há Neusas e Neusas. A direção de Bhá Bocchi Prince arranca emoções exaltadas lá do íntimo. As porradas de Vado na porta tremem o quarto. O espetáculo é intenso. O público sai meio atônito.
Junto com Foi Carmem Miranda, foi o que de melhor assisti por aqui.
De lá para o SESC, assistir a 121.023 J, da Cia Auto-Mecânica de Teatro, de SP. Um rapaz sai para comprar pão, é preso e vai parar em um campo de concentração. As soluções cênicas são criativas e obtêm resultados curiosos. Num tom tragicômico, impera um clima tenso que tira risos nervosos da platéia. Um texto inteligente (assinado por Renata Jesion, a protagonista), sob uma direção compentente de Ariela Goldman. É curta, com pouco menos de 50 minutos. Interessante, mas não encanta.
Por fim, rumei mais uma vez ao "Olho", conferir O Samba do Crioulo Doido, de Luiz de Abreu. Uma crítica reflexiva à figura do corpo na sociedade. Luiz, nu (à excecção de um par de botas prateadas), dança, samba e explora inúmeras possibilidades de seu corpo: estala músculos, mostra-se de todos os ângulos possíveis. Todos. Saímos divididos. Eu não gostei. Ok, as estratégias e as críticas estavam evidentes, mas não me pegou. Interessante como as opiniões se dividiram. Ouvi as opiniões mais discrepantes, extremas.
O posto de gasolina próximo do hotel, tradicional ponto de encontro e discussões do pessoal, está voltando a firmar-se (rolou uma entressafra nesses últimos dias). Bom para saber das coisas...
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Guilherme Conte
23/7/2005 às 14h21
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Apuro técnico: Suíte 1
E o FIT segue à toda. Decidi tirar a manhã e parte da tarde para ver até que ponto a cidade está mexida com o Festival. Logo que cheguei, na terça, uma simpática assessora me garantiu que "a cidade está respirando teatro". Mas ela é suspeita. Então dei uma rodada pelo centro e por aí para ver qual é a real.
Não posso dizer que ela estava errada. Rola uma expectativa geral, as pessoas estão acompanhando as peças, principalmente as de rua. Vem gente de cidades próximas também. Encontrei algumas pessoas que compraram ingressos para várias peças e estão acompanhando bastante coisa. Não diria que a cidade está "respirando teatro", mas o impacto é considerável.
No início da tarde fui conferir a palestra do Armazém Companhia de Teatro, do Rio (originalmente de Londrina). É o grupo mais representado por aqui, com três peças (Pessoas invisíveis, Alice através do espelho e A caminho de casa), no Módulo de Ocupação (nos anos anteriores, foram o Cemitério de Automóveis e Os Sátyros). Descreveram o processo de trabalho, as criações coletivas, a busca por uma dramaturgia própria. Muito interessante, fiquei bem curioso. Falo mais deles depois. Já tinha perdido o Pessoas invisíveis, mas veria Alice, a montagem mais concorrida, lotada, a menina dos olhos do FIT.
Não consegui entrar no Alice. Só 65 lugares, fiquei de fora. Odiei-me enquanto ser humano.
Primeira peça da noite: Suíte 1, dos simpaticíssimos curitibanos da Companhia Brasileira de Teatro. Cinco mulheres e um homem conversando, abastecidos por prosaicas caixinhas do China in Box e latas de Coca-Cola. Ótima.
O texto do francês Philippe Minyana, inédito por estas bandas, é rápido, áspero, duro. A partir de conversas banais, sobre assuntos banais, entre pessoas comuns, cresce uma tensão. Uma casa, um episódio traumático, "uma carnificina". A tentativa de construção de uma memória comum esbarra na rispidez e nos traumas.
O clima é claustrofóbico. O ótimo Ranieri Gonzalez passa a maior parte da peça sentado, de frente para a platéia, sendo questionado e provocado pelas mulheres (Christiane de Macedo é a que mais chama a atenção, com uma voz única). Seu rosto transparece angústia, um turbilhão entalado na garganta.
"Tudo me parece irreal", diz uma das mulheres.
"Nós estamos comendo. Tudo está perfeitamente real", responde outra.
Agradou e convenceu, arrancando aplausos firmes.
Como não pude atravessar o espelho, nem tampouco meu crachá de imprensa me permitia ir até o País das Maravilhas, tomei o caminho do SESC para rever Foi Carmem Miranda. Além de ser a peça que tinha mais gostado, queria ver as reações de outra leva de público. Neste ponto, na mesma. Não é uma peça para grandes platéias. Mas é necessária. Gostei mais ainda da segunda vez. O elenco estava mais afinado, preciso. Outros detalhes me prenderam. No início, três viúvas e uma menina sentam-se de frente para a platéia, olhando um microfone e uma Carmem que não está lá. O domínio técnico das quatro atrizes é impressionante, nas mínimas expressões faciais. Brilhante.
Hoje tenho pela frente Navalha na carne, outra das peças mais concorridas por aqui. É da Bate Nessa Face Que Eu Te Viro a Outra, daqui de Rio Preto. Depois, 121.023 J, da Cia Auto-Mecânica de Teatro, de São Paulo. Promete. Amanhã eu conto.
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Guilherme Conte
22/7/2005 às 15h12
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Búzios em Jazz & Blues
Na noite de quinta-feira, 21 de Julho, a Rua das Pedras, o principal eixo de Búzios, já aguardava as principais atrações do 8º Visa Búzios Jazz & Blues, que acontece na cidade. Um pouco antes, é verdade, a Dixie Square Jazz Band já havia feito sua participação, chamando a atenção de quem estava nas ruas com sua performance atravessando alguns endereços do Balneário. A noite, contudo, ficaria marcada para o público pela presença de Carlos Malta e do grupo argentino Dall-Botafogo, que, cada um à sua maneira, não decepcionaram quem esperou para vê-los.
Carlos Malta e o Jazz à Brasileira
Às 22h36, chamados por Léo Gandelman ("vamos aplaudi-los, por favor"), o multi-intrumentista Carlos Malta e seu conjunto subiram ao palco do Pátio Havana e ministraram um concerto de Jazz sem reparos. Pelo contrário. O apuro técnico e a inventividade nas músicas foram as características elementares. Sem mencionar a homenagem à musica brasileira. Sim, porque no repertório do show, versões de músicas imortalizadas na voz de Elis Regina. Abrindo o espetáculo, logo depois dos acordes de "Aquarela do Brasil", ouvia-se, nitidamente, a levada e a batida de "Nada Será Como Antes" (Milton Nascimentos). No Sax Alto, Carlos Malta alcançava as notas agudas, num contraponto à guitarra, ao contrabaixo acústico e à bateria, executados, nessa ordem, pelos músicos Daniel Santiago, Augusto Matoso e Keusso Fernandes.
Em seguida, uma ponte (medley) para as "Águas de Março" (Tom Jobim). Apesar do andamento ser diferente, Carlos Malta consegue passar de uma música para outra numa quebra de ritmo muito bem compassada, o que é espantoso, se se considerar que foi a primeira vez que o conjunto executou o show com essa formação. "Já havíamos tocado juntos anteriormente, mas essa apresentação em homenagem à Elis foi a primeira vez aqui em Búzios", revelou o maestro Malta logo após o espetáculo. Cabe mencionar ainda, como destaque, a guitarra de estilo e ao mesmo tempo discreta do já citado Daniel Santiago, que domina com propriedade o espaço que lhe é concedido no palco. Outros highlights na apresentação (que durou pouco mais de uma hora, embora ninguém tenha se dado conta) foram as inserções de frases de "Brasileirinho"e de "Trenzinho Caipira" nos improvisos bem como a versão, em particular, de "O Bêbado e o Equilibrista", onde Carlos Malta fez uso de suas variáveis (Flauta, Flautim, além do Sax Barítono). Nessa música e ao final, ele fez questão de frisar a importância da homenageada da noite em sua formação como músico. E o público, agora com aplausos espontâneos, aprovou.
O Blues rock n'roll de Dall-Botafogo
Meia hora depois, mais precisamente às 0h45, o duo formado pela tecladista Cristina Dall e pelo guitarrista Miguel Botafogo subiram ao palco do Chez Michou, em frente ao Pátio Havana. O grupo, que ainda conta com a presença do contra-baixista Pablo Memi e pelo baterista Juan Pillado, foi literalmente ovacionado pelo público, mesmo antes de tocarem os primeiros acordes. A presença de muitos argentinos no local explica boa parte dessa animação prévia. De sua parte, os brasileiros não deixaram por menos e também entraram na mesma vibração, oriunda, obviamente, da presença de palco do grupo.
Aqui, cabe destacar a dupla Dall-Botafogo. A primeira, além dos acordes próprios do blues, emanava uma luz própria, talvez proveniente de sua sensibilidade à flor da pele também como intérprete. Por isso, as versões de "Honky Tonk Woman" (Rolling Stones) e "My Mojo Working" (Muddy Waters), nesse sentido, soaram irrepreensíveis em sua voz. Já Miguel Botafogo comportou-se como um guitar-hero ao longo da apresentação. Desde a entrada, onde deixou seu copo de whisky com alguém na pista, até os maneirismos ao fazer os solos lembravam os heróis lendários da guitarra (numa época em que ser roqueiro era ter, sobretudo, atitude). Eis, então, o "segredo do sucesso" dos argentinos: mais do que a música, executada corretamente, a fórmula foi a performance.
Hoje, a música promete começar mais cedo, às 18h, com uma Jam Session na praia. Depois, às 20h, na Praça Santos Dumont, tem Ed Motta (lançando o CD Aystelum)
Veja a programação completa do Festival aqui.
Até amanhã!
* fotos de Sylvana Graça.
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Fabio Silvestre Cardoso
22/7/2005 às 14h53
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Búzios, 21 de Julho
A poucas horas do início do segundo fim-de-semana (prolongado) do 8º Visa Búzios Jazz & Blues, a cidade amanhece tranqüila e ensolarada, bem diferente, portanto, de quarta-feira, quando o dia nublado estava mais convidativo para ficar em casa, como bem observou um dos moradores da cidade. Mesmo assim, à noite, a animação tomava conta do eixo principal da cidade, entre o Pátio Havana (bistrô de onde escrevo agora) e o Chez Michou, o ponto de encontro de Búzios (pelo menos nesses dias de Festival). A expectativa, com isso, é que no momento das apresentações o clima esteja ideal, unindo uma temperatura mais quente ao "calor" provocado pelos shows das atrações nacionais e internacionais.
Ainda ontem, num outro restaurante, o Don Juan, tinha-se uma mostra do provável público do Festival: turistas, sobretudo estrangeiros, embora tenha muita gente do Rio e de São Paulo. Para o recepcionista de uma tradicional pousada de Búzios, o balneário conta com uma visitação bastante diferenciada de Cabo Frio e Arraial do Cabo, este último um point da moda. Ele afirma que, aqui, é comum a presença de alemães, ingleses e franceses de um nível econômico acima da média; portanto, as atrações também são diferenciadas. Afinal de contas, Jazz fora do eixo urbano de Rio-São Paulo é fora do comum.
Na noite de hoje, quinta-feira, serão três as apresentações. Pela ordem: Dixie Square (Brasil), Carlos Malta (Brasil) e Dall-Botafogo (Argentina). Direto da Praia dos Ossos, a Dixie Square apresentará um repertório marcado pela tradição dos grupos de New Orleans. Não devem faltar clássicos do Jazz, como "Sweet Georgia Brown" e "Limehouse Blues" - músicas que Woody Allen sempre usa como referência em seus filmes. Na seqüência, às 22h, Carlos Malta promete uma performance inovadora, agregando instrumentos étnicos (da China, Japão e do Brasil) ao virtuosismo. Única atração internacional da noite, Dall-Botafogo traz uma mistura que remete à versatilidade brasileira: funk, soul, gospel... Um pouco antes, tem a passagem de som.
A conferir.
Veja a programação completa do Festival aqui.
Logo mais, tem mais!
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Fabio Silvestre Cardoso
21/7/2005 às 13h23
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Maturidade cênica
O sol apareceu. E com ele, o calor. Inshallah! Esse é o São José do Rio Preto que conheço. E lá vou eu, agora bem mais animado.
Às 14h me mandei para o Centro Cultural, para assistir à palestra Mostra do processo de trabalho do ACT (Ateliê de Criação Teatral de Curitiba). Era uma boa maneira de conhecer o trabalho do grupo e ir para a peça com um pouco mais de repertório, e de sentir um pouco o clima do festival entre atores, diretores e professores - a tal "classe teatral".
Foi bacana. Depois de passar um vídeo, atores, diretor e produtora falaram sobre a proposta do Ateliê, o processo de concepção e de ensaio de Daqui a duzentos anos (a peça deles aqui no FIT), a relação deles com o teatro etc. Abriu-se um debate entre a platéia e a mesa, que rendeu algumas discussões interessantes. Valeu. E deu para sacar um pouco do clima de "formação" do FIT: a sala estava cheia.
De volta ao hotel, aproveitei para ler e descansar um pouco. Mais à noite, conheci o Tiago Velasco, da outracoisa, que iria rachar comigo a carona para o Teatro Municipal, para assistir o Daqui a duzentos anos. Ele está aqui num esquema meio gonzo, no melhor estilo "um roqueiro que caiu num festival de teatro". Curioso, a matéria promete. Chegamos em cima da hora. Lotado. Fundos do Municipal, numa arena. À entrada, recebemos singelas almofadas para colocar sobre os bancos. No palco, quatro cadeiras, uma em cada vértice (? - anos que não uso essa palavra). Música tranqüila, ao fundo. Atmosfera de curiosidade.
Cessa a música. Silêncio sepulcral. Dos fundos, entram Luís Melo, Janja e André Coelho - os atores - e Edith de Camargo - música/atriz. Edith toca um suave acordeão. Eles tomam seus lugares. E começam a contar histórias.
A peça é isso - contar histórias. E, assim, sem inventar, sem sobras, é excelente. Reúne diversos contos de Anton Tchekhov, monstro sagrado da literatura russa, contados e dialogados pelos atores. O cenário limpo, quase minimalista, deixa claro que o texto é o astro da noite. O texto, ok, e Luís Melo. Sua atuação é impressionante; parece que ele está em casa, contando as histórias para um amigo. Convence, esbanja maturidade. Não quero cometer injustiças: Janja e André estão ótimos. Mas Melo é o dono do palco, indiscutivelmente.
Do que ouvi na palestra: fruto de seis meses de leituras, ensaios e estudo, Daqui a duzentos anos nasceu no Núcleo de Produção Teatral do ACT de uma necessidade muito clara: o trabalho com a palavra. E, nesse ponto, a escolha de Tchekhov não poderia ser mais acertada. O diretor convidado Marcio Abreu enfrentou então outro grande problema: como botar os contos no palco? Dissecando as estruturas narrativas, arrancou dali uma "tradução cênica". Mas - e aqui está a grande jogada - deixando o conto, o texto, em primeiro plano. A limpeza da montagem visou não limitar a possibilidade de criação de imagens pelo público. E funcionou muito, muito bem. É impecável.
Ouvi dizer, por aí, que ela vai para o SESC Belenzinho em algum momento do segundo semestre. Torçamos para que sim.
Melo, na palestra: "Como ator, o que importa é a verdade. Um ator está bem quando o público acredita nele. Se não acredita, é porque algo está errado". Poderia ser mais simples do que isso?
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Postado por
Guilherme Conte
21/7/2005 às 13h14
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