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Segunda-feira,
23/1/2006
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Redação
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St Lawrence of Google
Digestivo Cultural, 6/1/2006:
"I realized I wanted to invent things, but I also wanted to change the world" (citando Larry Page, na resenha sobre The Search, de John Battelle).
The Economist, 12/1/2006:
"Larry Page, the co-founder of Google, has always wanted to change the world..." (introduzindo uma matéria sobre a apresentação de Page no Consumer Eletronics Show).
Porque o Digestivo também fura a Economist.
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Julio Daio Borges
23/1/2006 às 14h07
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Simples
Marcelo Carneiro da Cunha tem uma proposta simples para um livro simples: escrever sobre relações amorosas (e sexuais, portanto!) nos dias atuais. Simples, o amor nos anos 00 (Editora Record, 2005, 281 páginas) é o resultado dessa tarefa. A partir de sua imaginação e entrevistas feitas com homens e mulheres que lhe contaram suas experiências pessoais, 18 contos procuram retratar as novas formas de concepção das relações amorosas nesses tempos de Internet, principalmente. E-mails, mensagens instantâneas, procura de parceiros sexuais pela Web, etc., está tudo ali. Embora seja um livro razoavelmente longo, pode ser lido em um único dia, tamanha dinâmica dado ao texto em muitos momentos (para aproximá-lo da internet, provavelmente) e também pela sua leitura interessante. Os solteiros que usam a internet, sobretudo, vão se identificar com o livro.
Entre os contos, há diferentes tipos de narrativas. Alguns bem que poderiam (e deveriam!) ter sido excluídos, pois de fato nada acrescentam ao livro. Já outros, se aproximam mais de uma literatura tradicional. E, claro, há aqueles que são praticamente conversas feitas por e-mail ou mensagens instantâneas. São boas histórias, mas, não mais que isso. Na verdade, todas esses contos poderiam estar em qualquer revista ou site da internet, ou em blogs principalmente. Embora interessante, bem escrito e uma leitura divertida, não há nada de diferente do que se vê por aí na internet. Tive um pouco aquela sensação de que a literatura feita na internet está ganhando os moldes de literatura impressa, como foi esse livro. Aliás, como toda literatura de internet, está recheado de palavrões e de muito sexo, explicitamente descrito, e, portanto, deve-se levar isso em consideração antes de presentear aquele seu sobrinho de 12 anos com este livro.
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Marcelo Maroldi
23/1/2006 às 11h09
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Web 2.0 no Brasil
Desde que surgiu a Internet volta e meia alguém diz que o futuro são as comunidades, daí surgem um monte de iniciativas ridículas como fóruns de discussão para "troca de receitas" no site de uma marca de molho de tomate famosa. A idéia do fórum não é ruim, o problema é o lugar onde ele está. Dificilmente uma pessoa será motivada a se transformar num super-usuário (aqueles caras que carregam a comunidade nas costas) se não pode brilhar mais do que a marca do molho. Poderiam ser oferecidos prêmios para compensar, mas será que um brinde vale mais do que ser a estrela de um fórum?
O que motiva as pessoas a participar ativamente de comunidades não é o sentimento altruísta de ajudar o próximo, mas sim o contrário. Numa comunidade virtual, as pessoas podem construir seu alter ego e vê-lo crescer pouco a pouco, seja em número de amigos, figurinhas de comunidades, fãs, posts, coraçõezinhos, gelinhos e etc. É como num RPG, onde você pode escolher todas as características do seu personagem e mostrar aos outros e dizer: "olha que legal que eu sou e os pontos que ganhei". Entretanto, para ganhar pontos numa comunidade é preciso ajudar outras pessoas, ou seja, para se ajudar é preciso ajudar o próximo!
Então o que está funcionando na Web 2.0 não são as comunidades, mas sim a ampliação de oportunidades para que ilustres desconhecidos brilhem como sempre desejaram.
O Fred, do Usabilidoido, numa entrevista para a Revista Webdesign de janeiro, sobre, sobre... (porque você tem uma chance pra advinhar)
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Julio Daio Borges
20/1/2006 às 18h30
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Existencialismo: uma definição
(...)A tese básica de Sartre é que a consciência humana consiste em sua percepção das coisas fora de si mesma: o ser do para-si [consciência humana] consiste em sua relação com o em-si [o mundo das coisas inanimadas], usando o jargão sartreano. Para introduzir um outro termo técnico (...), a consciência é essencialmente constituída por sua "intencionalidade".
O conceito de intencionalidade não tem nada a ver em particular com a pretensão de realizar algo; é um termo técnico para a capacidade da mente de ter consciência de várias coisas. Se vejo um copo de água ou penso num copo de água ou desejo beber um copo de água, isso significa que a mente está apresentando intencionalidade em relação a copos de água: o copo de água é o "objeto intencional" dos meus diversos estados mentais, o objeto para o qual a minha mente está "direcionada".
Sartre sustenta a tese de que cada ato de consciência envolve intencionalidade, de modo que sua essência é estar voltada para o que ela não é - "ela é o que não é" -, como ele polemicamente expõe. Mas então, ele argumenta, a essência da consciência deve ser o nada, já que nada resta quando os objetos intencionais são suprimidos da consciência. A consciência é puramente direcionada a objetos, sem natureza interna própria, sem uma essência intrínseca. Então é isso o que fundamentalmente somos como centros de consciência - nada. E é esse nada que se encontra na raiz da nossa liberdade: sendo a consciência nada, não temos natureza; somos apenas o livre desempenho da consciência sobre o mundo - uma consciência espetada, por assim dizer.
Existe sempre uma distância entre consciência e aquilo de que ela está consciente, já que a consciência não se reduz inteiramente aos seus objetos, e nessa distância repousa a nossa liberdade. Daí o lema existencialista: "A existência precede a essência". Somos antes de tudo liberdade bruta e somente adquirimos uma natureza como resultado das nossas escolhas. A personalidade é escolhida.(...)
Colin McGinn, na melhor definição que já li do existencialismo (porque eu não li Sartre...).
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Julio Daio Borges
19/1/2006 às 13h55
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O Senhor Brecht
Entra ano, sai ano, e sempre nos deparamos com algum escritor africano. Gonçalo M. Tavares, angolano (vive hoje em Portugal), ainda um jovem de 35 anos, impressiona por ter publicado 14 livros em apenas 3 anos, a partir de 2001. O Senhor Brecht (Casa da Palavra, 2005, 69 páginas) é um destes livros. Ele faz parte de uma série chamada "O Bairro" onde "residem" outros senhores além do Brecht, como o Sr. Valery (que dá nome a seu livro mais premiado) e o Sr. Henri, também merecedor de um livro.
Infelizmente, o livro é muito curto e quando sua leitura começa a se aproximar do fim você vai sentindo aquela sensação de "ah, já está acabando". Como os contos são todos muito breves, em média 1 página, ou meia, ou menos, é possível finalizá-lo em 1 hora, ou próximo a isso. Não é uma leitura pesada, pelo contrário, é possível ler sem sentir aquele peso da literatura mais densa, sem exigir aquela concentração absurda, aquela tensão. Assim, é ideal para ler entre uma tarefa e outra do dia-a-dia, por exemplo, ou quando se pega um livro apenas para relaxar.
Quase todos os contos são bastante agradáveis de ler. Geralmente, são histórias absurdas, irreais, com algum ensinamento ou alguma "lição" a ser aprendida que o Sr. Brecht está contando. Todas as histórias são bastante interessantes. Algumas ocultam algum ditado popular, às vezes parecem um conto de fadas, com um propósito bem definido de transmitir uma mensagem específica, mesmo que através de fatos absurdos. Vale a pena dar uma conferida e ficar de olho no autor e na coleção.
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Marcelo Maroldi
18/1/2006 às 10h56
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Macworld San Francisco 2006
Assista ao "pronunciamento" de Steve Jobs, o homem da Apple, do iPod, do iTunes... (porque eu acabei de postar sobre Bill Gates...)
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Julio Daio Borges
18/1/2006 às 10h21
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Cinema em Atibaia (V)
Pernambuco dominou a premiação do Festival de Atibaia Internacional do Audiovisual. Na cerimônia de encerramento do evento, no último domingo, o estado nordestino ficou com quatro dos oito prêmios distribuídos por um júri formado pelo diretor Hermano Penna, pelas produtoras Eliane Bandeira e Ruth Albuquerque, pelo crítico Luiz Zanin Oricchio e pelo técnico Pedro Pablo Lazzarini. Outros dois foram para São Paulo, um para o Rio Grande do Sul e outro para Minas Gerais.
O grande vencedor do Troféu Sapuari foi Entre Paredes (PE), de Eric Laurence, premiado nas categorias de melhor filme em 35mm e melhor ator (Servílio de Holanda). Já na direção se sobressaiu o gaúcho Gustavo Spolidoro, com Início do Fim. Em 16mm, O Homem da Mata (PE), de Antônio de Souza Leão, ficou na frente, assim como a animação Bequadro, do mineiro Simon Pedro Brethé, na categoria de vídeo. Nany di Lima foi a melhor atriz pelo papel da senhora de meia-idade em Eu Te Darei o Céu (SP), e Curupira (SP) teve reconhecida a fotografia de Marcelo Durst. Houve ainda o Prêmio Especial do Júri para o documentário Mais um Domingo (PE), de Daniel de Barros.
Início do Fim: melhor direção para Gustavo Spolidoro
No geral, o júri acertou mais do que errou. A disputa no formato 35mm estava entre A Hora do Galo, Da Janela do Meu Quarto, O Mundo é Uma Cabeça, Vinil Verde e o que acabou levando, Entre Paredes. É um filme excelente, que capta com categoria o crescente enlouquecimento de um homem rural tomado pelo ciúme e pela vontade louca de não "entregar" a mulher ao mundo. Há ressalvas sobre o exagero da montagem, que insiste em cortes rápidos para tentar transmitir o estado mental do protagonista (quando às vezes uma cena mais parada pode soar intensamente mais eficiente), mas ainda assim o diretor Laurence consegue resultado notável. O mesmo vale para Servílio de Holanda, prêmio de ator, perfeito na encarnação do bruto que, acima de qualquer outra coisa, apenas quer conservar perto dele aquilo que mais ama.
Gritante no resultado final em 35mm foi a não premiação do já mítico Vinil Verde, de Kleber Mendonça Filho. Seria algo perdoável para o júri, não fosse o troféu meio que inexplicável para Spolidoro pela direção de Início do Fim. Pode até ser que os jurados quiseram reconhecer o experimento de Spolidoro em colocar um homem parado às voltas com algo parecido com o fim do mundo, mas é difícil achar a produção melhor do que a ironia, o humor negro e o estilo todo particular e autoral do filme de Kleber Mendonça, fábula infantil de horror que assusta e diverte platéias por onde é exibida. Se Entre Paredes iria ficar com o prêmio principal, que a melhor direção fosse para Vinil Verde, fazendo justiça a dois dos trabalhos mais indispensáveis exibidos nesta categoria em Atibaia.
Ao menos em vídeo e 16mm, não havia muito para onde correr. No primeiro caso, Bequadros só disputava para valer com o incrível documentário Bitola Cabeça Super 8 - talvez ainda sobrasse "espaço" na briga para Entretecidas e Mais um Domingo, este que acabou pegando prêmio especial. Já no 16mm, era barbada disparada: não havia concorrente de peso para o delicioso O Homem da Mata, ode assumida à cultura popular e a uma figura do povo (o canavieiro José Borba) fundamental para o sucesso do projeto.
Eu te Darei o Céu: melhor atriz para Nany di Lima
Em quatro dias de exibições de curtas, longas e vídeos, o Festival de Atibaia teve público estimado em seis mil espectadores, com todas as sessões lotadas no Centro de Convenções (capacidade para 450 pessoas) e na Praça da Matriz (público passando de 300). Os ganhadores nas três categorias da Mostra Competitiva levaram, além do troféu, prêmios em dinheiro, aluguel de equipamentos e a oportunidade de exibirem seus trabalhos no Festival de Contis (França), parceiro do evento em Atibaia.
A pequena cidade de 120 mil habitantes e próxima a São Paulo termina seu primeiro festival de cinema com fôlego para uma nova edição em 2007, visto o interesse da população de dentro e fora do município e de vários veículos de comunicação. Se bem trabalhada, a proposta de ser vitrine para "o melhor dos melhores" curtas exibidos no Brasil no ano anterior tem potencial para ir longe.
Mais sobre o assunto, numa coluna em breve, aqui mesmo no Digestivo.
Para ir além
Parte I
Parte II
Parte III
Parte IV
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Marcelo Miranda
17/1/2006 às 10h10
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Microsoft Computer Security
What can you do to protect yourself? Besides avoiding Microsoft products, one way would be to use substitutes whenever possible. If you run Windows or the upcoming Vista, use a different e-mail program, browser, and/or media player than the ones that come in the box. Stay up to date on patches and anti-virus software. And the next time Bill G. promises to make software that is so fundamentally secure that customers never have to worry about it, ask him what decade he plans to release it.
Adam L. Penenberg, na Slate (porque até a conceituada revista eletrônica desaconselha a usar produtos by Bill Gates...)
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Julio Daio Borges
17/1/2006 às 10h03
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A fragilidade da literatura
[Você não acha que, em geral, a vida dos poetas está separada dos seus poemas?] Sem dúvida alguma. A crise - a modernidade como projeto era integral nesse sentido - separou as ações: uma coisa é escrever poesia, outra coisa é a vida que você leva. A vida vai por um lado, a criação por outro. Uma das razões é o privilégio da realização - que deve tender a ser ótima - sobre a atitude. Ser poeta era assumir um modo de vida. Agora é assumir uma profissão - não uma vocação -, uma profissão paralela. Mesmo que você morra de fome. Para não morrer de fome, você é executivo de uma empresa ou professor universitário. Mas a poesia não é considerada uma força de trabalho que lhe permitiria assumir posições reivindicadoras. Escrever poesia continua no limbo do singular ou do inexistente, quando não do ridículo.
Eduardo Mílan, respondendo a Régis Bonvicino, na última Sibila, que linca pra nós cita o Digestivo.
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Julio Daio Borges
16/1/2006 às 09h51
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Cinema em Atibaia (IV)
O terceiro dia da Mostra Competitiva de Curtas Brasileiros do Festival de Atibaia Internacional do Audiovisual - a última leva de filmes exibidos antes do encerramento hoje - foi menos impactante e memorável que a do dia anterior, mas manteve bom nível. Se na sexta-feira havia a temática predominante da exclusão, no sábado a seleção privilegiou trabalhos voltados ao humor e ao deboche. Interessante que, dentro de um tipo de cinema razoavelmente complicado de ser bem sucedido (as imposições vão desde o timing para a graça até a reação do público, termômetro mais fundamental do sucesso de algo nessa linha), a mostra contou com os dois extremos - produções muito engraçadas e inteligentes contra outras detestáveis.
A ovação (merecida) da noite foi da animação Bequadro, do mineiro Simon Pedro Brethé. Numa simples brincadeira com notas musicais, o diretor realiza projeto de grande criatividade e, claro, muito, mas muito engraçado. Se já era sensacional até o desfecho, torna-se genial com os "erros de gravação". Promissor saber que Simon Pedro pretende fazer duas "continuações" do vídeo, formando uma trilogia das notas musicais. A ser aguardado ansiosamente.
Por outro lado, os outros dois vídeos ficaram para trás. Curupira, de Fábio Mendonça e Guilherme Ramalho, é pequena bomba de mau gosto, com uma criatura feita em digital (que tem rosto idêntico ao de George W. Bush, acredite se quiser...) e cenas de vísceras animais num projeto teoricamente voltado para crianças. A cena de abertura, apesar de visualmente confusa, até instiga, mas fica apenas nisso. Uma Homenagem a Aluísio Netto, de André Novais Oliveira, tem premissa animadora: brinca com a ficção de que o personagem-título era um cineasta mineiro cujos filmes foram modificados pela ditadura stalinista (!) e nos apresenta duas versões de um curta-metragem do tal Aluísio - um original, outro "revolucionário". Se o primeiro brinca brilhantemente com o melodrama mais exacerbado, o segundo cai num simplismo e previsibilidade que colocam a perder toda a idéia. O vídeo simplesmente perde a graça, já que André Novais não consegue arrancar humor das tais falas stalinistas, como se já estivesse suficientemente satisfeito com a mera idéia inicial. Uma pena.
Nos curtas em 16mm, houve ao menos um equívoco absoluto e outro que é um dos melhores filmes de todo o festival. O equívoco é Macacos me Mordam, de Érico Cassaré, tentativa terrível de brincar com uma "estética Trapalhões" (termo usado pela colega crítica Liciane Mamede, que escreve na Cinequanon) junto a referências ao próprio cinema, em especial a Stanley Kubrick. Heresia total, já que o filme não consegue criar um único momento genuíno de humor, os atores tentam entrar no espírito da proposta, mas apenas se perdem na falta de talento, e a pretensa metalinguagem cai no vazio. Verdadeiro mico - o que é oportuno de ser dito, já que um dos personagens principais é um macaquinho em forma de animação.
Por sua vez, O Homem da Mata, de Antonio de Souza Leão, é mistura sensacional de documentário e ficção, partindo da história do canavieiro José Borba, transformado em super-herói e assumindo a identidade de Jack, o vingador. Essa figura sai pelo nordeste defendendo os trabalhadores rurais das maldades e vilanias, em seqüências antológicas - destaque para a "selvagem" batalha de Borba contra Simião Martiniano, mítico cineasta pernambucano famoso por realizar seus filmes com recursos ínfimos e vendê-los em camelô. O Homem da Mata, como explicitado no final, é uma grande ode à cultura popular e à espontaneidade do fazer cinema - o filme inicialmente seria apenas o registro da vida do canavieiro, mas ele próprio sugeriu que se colocasse "mais ação", e o diretor apostou no feeling do trabalhador. Se deu muito bem.
O Homem da Mata, de Antônio de Souza Leão
Outro destaque em 16mm, Curta-Metragem Metalingüístico de Baixo Orçamento ou Aceita Mais Café, de Byron O'Neall, prima pela proposta criativa de brincar com a metalinguagem num roteiro cheio de bons momentos e com sacadas muito bem colocadas - como o instante em que a enfermeira pede ao público que vote no filme caso ele esteja sendo exibido num festival com júri popular. Já Dalva, de Caroline Leone, Quando Jorge foi à Guerra, de Tadão Miaqui, e o expressionista Noturno, de Daniel Salaroli, apenas pontuaram a noite, com vantagem para este último, exercício rápido e visual com a presença sinistra de um palhaço meio sonâmbulo.
Na mostra de 35mm, que fechou as exibições, Entre Paredes, de Eric Laurence, se mostrou belo filme sobre a crescente angústia de um homem suspeitando de traição por parte da esposa, o que o torna cada vez mais angustiado, enlouquecido e enfurecido. Se por um lado a direção e o encaminhamento da narrativa explicitam os sentimentos de exacerbação e extremismo do protagonista, através da câmera nervosa, dos impressionantes efeitos sonoros e da interpretação de Servílio de Holanda, o filme pode ser questionado por certo virtuosismo na forma de captar imagens e pela estética videocliptíca de "superprodução". Outro que divide opiniões é Início do Fim, de Gustavo Spolidoro: numa única cena, senhor de idade fica parado enquanto tudo à sua volta desaba. Pode ser uma grande metáfora da entrega do homem aos anseios do mundo e à natureza cruel do universo ou simplesmente um curta completamente inócuo e sem razão de existir - com leve tendência para a segunda opção...
Entre Paredes, de Eric Laurence
Rap, o Canto da Ceilândia, de Adirley Queiroz, é documentário sobre moradores de Ceilândia (cidade-satélite de Brasília) que, relegados à periferia, se expressam através de um ritmo musical que lhes permite pôr às claras sentimentos de revolta e ressentimento com o preconceito da elite. Historietas Assombradas (para crianças malcriadas), de Victor Hugo Borges, encantou o público, na animação que mistura stop-motion com desenho tradicional e brinca com o imaginário infantil regado a monstros, lendas e medos. Há, aqui, um paralelo meio distante, porém insistentemente presente, com Vinil Verde, de Kleber Mendonça Filho, filme apresentado anteontem e sempre transformado numa sensação por onde é exibido.
Ainda hoje, às 20h, acontece a premiação do Festival de Atibaia. Será a definição de quais filmes, dentre todos os exibidos e já devidamente reconhecidos em outros eventos de cinema ao longo de 2005, serão agraciados como sendo "os melhores dos melhores". Enquanto isso, estará sendo apresentado na Praça da Matriz a ótima comédia Bendito Fruto, de Sérgio Goldenberg, às 21h.
Depois eu volto com os vencedores do festival. Até lá.
Para ir além
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Postado por
Marcelo Miranda
15/1/2006 às 11h23
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