Neste "Metamorfoses da dialética nos diálogos de Platão" (Editora Paulus, 346 páginas, tradução de Janaína Mafra), a professora Monique Dixsaut, da Universidade de Paris I, se debruça sobre um tema fundamental para o pensamento platônico: a dialética.
É, na verdade, algo mais do que apenas um "tema fundamental": em Platão, a dialética é a maneira mais elevada do homem conhecer o mundo. Fundada no confronto entre diferentes pontos de vista (doxa), ela nos leva do mundo das aparências ao mundo das ideias, onde podemos apreender os primeiros princípios. A dialética é, assim, a ciência do ser verdadeiro , apreendido não pelos sentidos imediatos, mas pela razão (logos).
Por esse motivo, a professora Dixsaut nos alerta que, nesta obra, ela não está estudando a dialética em Platão, pois isto equivaleria a estudar Platão em si. Sua proposta , aqui, é percorrer todos os diálogos platônicos onde o tema da dialética é abordado, examinando como e de que forma ele se modifica - daí a metamorfose de que fala o título do trabalho - diante dos problemas filosóficos colocados. Assim, põe-se à mostra a potência da dialética em libertar o homem da dúvida e das impressões passageiras, exigindo, para tanto, a liberdade de pensamento e raciocínio - e não é por outra razão que um personagem do diálogo "O Sofista" denominou-a ciência dos homens livres.
A filósofa espanhola María Zambrano, uma das mais destacadas figuras da chamada "Escuela de Madrid" de filosofia, dizia que iniciou sua trajetória intelectual oscilando entre dois polos: a claridade de Ortega y Gasset e a obscuridade de Xavier Zubiri. O primeiro nome ressoará no ouvido de muitos: trata-se, afinal, do grande José Ortega y Gasset, autor de obras fundamentais como "Rebelião das Massas" e "Espanha invertebrada", o homem da frase "eu sou eu e minha circunstância", jornalista destacado e estilista maior da prosa espanhola. O mesmo não se pode dizer de Xavier Zubiri: à exceção de alguns especialistas aqui ou acolá, seu nome é recebido com silêncio. Seria fruto de um pensamento - para usar a expressão de Zambrano - "obscuro"? Difícil responder.
Trazer a obra de Zubiri ao conhecimento do público é o objetivo de Matheus da Silva Bernardes em "Introdução a Xavier Zubiri - Pensar a realidade", recém-lançado pela editora Paulus (112 páginas, R$ 21). O subtítulo da obra indica o caminho o projeto intelectual zubiriano: pensar a realidade radicalmente. Zubiri busca afastar-se do idealismo moderno, por um lado, e do realismo "ingênuo" escolástico e da filosofia clássica, por outro, propondo um realismo crítico, que enfoca a realidade tal como se apresenta durante a intelecção. O leitor de Edmund Husserl e Martin Heidegger identificará os aportes destes autores nessas formulações, mas o cabedal de influências do filósofo basco vai além: incorpora muito da ciência do século XX, em particular da Mecânica Quântica e da Relatividade de Albert Einsten, e retoma uma atitude filosófica da aurora da filosofia grega, deixada de lado ao longo da história do pensamento ocidental: pensar as coisas.
Nesta "Introdução", Matheus da Silva Bernardes inicia com uma breve biografia, segue com uma apresentação sintética do pensamento do filósofo e finaliza com um apanhado das leituras contemporâneas de Zubiri, em particular na América Latina. Trata-se de um livro de convite - e é um convite muito bem apresentado, com a claridade - orteguiana? - necessária para dar a conhecer um pensamento original.