Hannah Arendt e a tradição
"Oito exercícios de pensamento político" é o subtítulo em inglês de "Entre o passado e o futuro", de Hannah Arendt, publicado pela Editora Perspectiva (424 páginas, tradução de Mauro W. Barbosa). Exercício, dizem os dicionários, consiste, entre outras coisas, em um treino que precede a prática de alguma atividade - como, por exemplo, um esporte de competição. Da mesma forma, os exercícios de Hannah Arendt presentes neste livro têm, nas palavras da própria autora, como objetivo "adquirir experiência em como pensar; eles não contém prescrições sobre o quê pensar ou acerca de que verdade defender". São, em outras palavras, uma preparação e um estímulo para o desenvolvimento de ideias futuras.
Mas o que justifica a organização destes exercícios em um livro? Qual o seu denominador comum? Resposta: a relação do homem ocidental com a tradição e os desafios que surgem com a perda dessa ligação. Durante milênios, o homem se acostumou a viver e a mirar o futuro a partir das bases de um passado que ordena o presente. Nossa época, que tem início no século XIX, é a primeira, desde os gregos, a desvencilhar-se da tradição e a posicionar os homens no mundo em algum legado espiritual para ordená-los. Vivemos, os homens deste século, entre o futuro que ainda não é e o passado que já não ordena.
Que ninguém pense, contudo, que este homem sem tradição é um homem sem perspectiva. Pelo contrário: em vez do lamento resignado, Hannah Arendt entende - e nos faz entender - que o fim de uma tradição é uma crise, mas não o fim; exorta-nos a olhar o mundo sem precedentes, a pensar questões perenes com o frescor da primeira vez - e a reconhecer que, em um mundo onde o passado já não ordena, a melhor saída é olhar para o futuro a fim de construí-lo.
Onde encontrar:
https://editoraperspectiva.com.br/
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Postado por
Celso A. Uequed Pitol
1/9/2023 às 16h57
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