BLOG
Quarta-feira,
22/2/2006
Blog
Redação
|
|
|
|
|
Confissões de um resenhista
Num apartamento conjugado frio, mas abafado, cheio de pontas de cigarro e xícaras de chá pela metade, um homem de roupão surrado está sentado a uma mesa bamba, tentando achar espaço para a máquina de escrever entre pilhas de papéis empoeirados que a rodeiam. Não pode jogar os papéis fora porque a cesta de lixo já está transbordando, e, além disso, em algum lugar entre as cartas não respondidas e as contas não pagas, é possível que haja um cheque no valor de dois guinéis que ele quase com certeza esqueceu de depositar no banco. Há ainda cartas com endereços que ele tem de passar para a agenda. Perdeu a agenda, e pensar em procurá-la, ou mesmo em procurar qualquer coisa, aflige-o com impulsos suicidas agudos.
É um homem de trinta e cinco anos, mas aparenta cinqüenta. É calvo, tem varizes e usa óculos, ou os usaria se o único par não estivesse perdido o tempo todo. Se as coisas estiverem normais com ele, ele está sofrendo de subnutrição, mas se recentemente teve um período de sorte, está sofrendo de ressaca. No momento são onze e meia da manhã, e de acordo com os planos ele deveria ter começado a trabalhar duas horas atrás; mas mesmo que tivesse feito algum esforço sério para começar, teria se frustrado com os quase contínuos toques do telefone, os berros do bebê, o estrépito de uma perfuradora elétrica na rua e o ressoar dos sapatos pesados de seus credores subindo e descendo a escada. A interrupção mais recente foi a segunda entrega de correspondência, que lhe trouxe duas circulares e uma cobrança do imposto de renda impressa em vermelho.
Desnecessário dizer que essa pessoa é um escritor.(...)
George Orwell, em "Dentro da Baleia e outros ensaios" (porque eu lembrei tanto dos nossos blogueiros-escritores...).
[Comente este Post]
Postado por
Julio Daio Borges
22/2/2006 às 08h47
|
|
Newspaper history & future
"If newspapers, magazines, and broadcasters don't produce spectacular news coverage no blogger can match, they have no right to survive."
Jack Shafer, editor da Slate, atacando o "problema" - desta vez - pelo lado do dinheiro...
[Comente este Post]
Postado por
Julio Daio Borges
21/2/2006 às 10h36
|
|
Jobs vs. Gates
Until recently, Bill Gates has been viewed as the villain of the tech world, while his archrival, Steve Jobs, enjoys an almost saintly reputation.(...) In fact, the reality is reversed.
Leander Kahney, na Wired, tentando enxergar outro ângulo... (enquanto isso, os leitores respondem...)
[Comente este Post]
Postado por
Julio Daio Borges
20/2/2006 às 13h20
|
|
Perfil (& Entrevista)
Fantástico este editorial! Suas respostas, ao repórter, fazem de você um visionário... No cenário jornalístico, é impressionante como você tem o poder de enxergar aquilo que a maioria ainda não captou. Como as dúvidas ficaram menores na minha vida agora! Você não tem idéia de como suas respostas preencheram diversas lacunas na minha visão de mundo... Parabéns! O único lado ruim desse editorial é que ele aponta para um "beco" econômico-financeiro... Mas a saída é uma questão de tempo! Muito obrigado por apostar na Web e disponibilizar seus pensamentos para pessoas como eu.
Ceila Santos, por e-mail (porque... é por mensagens assim que o trabalho continua valendo a pena).
[1 Comentário(s)]
Postado por
Julio Daio Borges
20/2/2006 às 12h48
|
|
Being a private detective
"That is one reason why I wanted to write about Matisse, to illuminate the century in which I lived much of my life. If you take a life, it's a marvellous instrument for looking through the whole period."
Hilary Spurling, em entrevista ao Guardian, como vencedora do Whitbread prize, pela sua biografia de... Matisse.
[Comente este Post]
Postado por
Julio Daio Borges
17/2/2006 às 13h07
|
|
Transparency at the Post
"In my experience, open forums in 'visible' places without moderation simply don't work."
Jay Rosen, do PressThink, entrevistando Jim Brady, depois da confusão do Washingtonpost.com (porque, às vezes, eu ainda penso em reabrir o Fórum do Digestivo Cultural...)
[Comente este Post]
Postado por
Julio Daio Borges
16/2/2006 às 12h56
|
|
Direita, volver!
Apenas para registrar que li (atrasado) a matéria da Folha sobre a "nova direita" e que exijo, imediatamente, o crédito pela expressão por mim cunhada quase um ano e meio atrás(!).
[Comente este Post]
Postado por
Julio Daio Borges
16/2/2006 às 12h20
|
|
The Flickrization of Yahoo!
"I look at Flickr with envy (...). It feels like where the Web is going."
Jerry "Yahoo!" Yang, falando sobre a nova aquisição de sua empresa, na CNN (porque eu também estou no Flickr...)
[Comente este Post]
Postado por
Julio Daio Borges
15/2/2006 às 12h41
|
|
The Bayosphere Community
A little over a year ago, I left the San Jose Mercury News to pursue my passion for what we've come to call "citizen media" - the idea that anyone with something to say could use increasingly powerful and decreasingly expensive tools to say it, potentially for a global audience. (...)
Dan "We the Media" Gillmor faz um balanço de sua experiência de um ano à frente do(a) Bayosphere.
[Comente este Post]
Postado por
Julio Daio Borges
14/2/2006 às 12h28
|
|
Desordem
Na poesia eu não posso fazer como numa crônica que tenho data para entregar. Na poesia eu não decido quando. Porque o motor gerador da poesia está fora de mim, fora do meu controle. De repente a poesia vem. É uma coisa que Manuel Bandeira dizia: o poema escolhe o momento de nascer. É verdade, escolhe. Acho que fazer poesia é aprender a fazer poesia, permanentemente. E quando você sabe demais tem que desaprender. Porque a poesia é o erro e a superação do erro. Não se pode estar seguro. Atualmente escrevo com mais dificuldade do que eu escrevia antes. Por exemplo, eu escrevi um poema chamado "Desordem". Depois eu fui reler este poema, na forma que parecia final. Quando o estava relendo, começaram a surgir na minha cabeça idéias que não estavam expressas nele, mas que diziam respeito a ele. Aí eu escrevi uma espécie de adendo ao poema. Isto nasceu de modo imprevisível, da leitura do próprio poema. Certa noite, saía da casa da Claudia [Ahimsa, companheira do poeta]. E quando atravesso o jardim havia ali um jasmineiro lançando perfume no ar. Fiquei louco. Arranquei umas flores do jasmineiro e saí cheirando aquilo, aspirando aquilo que senti como um veneno. É que o cheiro do jasmim parece suave de longe. Quando você aspira ele se torna selvagem. Aquilo me envenenou. Entrei no meu carro doidão porque havia tomado um porre de jasmim e vim embora para casa. Aí, quando cheguei em casa, dormi e no dia seguinte escrevi um poema sobre aquele barato. E aquele jasmineiro está lá há anos e nunca me provocara tal sensação e de repente naquela noite provocou. Ou seja, é uma coisa que não tem controle. Eu jamais escreverei um poema pela simples idéia de que faz tempo que não escrevo um poema. E acho que ninguém escreve assim. Se escrever, não dá certo. Não estou falando de inspiração, mas é um acontecimento de caráter psicológico ou existencial que provoca um relâmpago, um curto-circuito. Na verdade, eu vou te dizer uma coisa: você não escreve a verdade do jasmim. Você inventa uma verdade para o jasmim. Porque a vida é uma invenção. O homem inventa a si mesmo permanentemente. E inventa a vida dele. Então o poema não é o registro da experiência do poeta. Não. A experiência da vida provoca uma invenção. E você cria um artefato que passa a ser a expressão verbal da experiência mas que não é ela.
Ferreira Gullar, em bela entrevista a Paulo Polzonoff Jr.
[Comente este Post]
Postado por
Julio Daio Borges
13/2/2006 às 15h47
|
Mais Posts >>>
Julio Daio Borges
Editor
|
|