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Terça-feira,
9/5/2006
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Redação
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É a cabeça, irmão
(...) enquanto vocês estiverem lendo este texto, uma máquina terá perfurado o meu crânio em busca do "Outro". Uma junta militar de médicos, sob a minha orientação civil, foi encarregada de restabelecer a ordem no caos e a "vontade augusta de ordenar a criatura ao menos". Eu sempre cito Mário Faustino em tudo o que faço. "Tanta violência, mas tanta ternura."
O subversivo que vai ser banido não me fez guardador de rebanhos, não me saudou com uma nova metafísica, não me deu nada. Acenei com um Bandeira na mão: "Olá, iniludível". Mas devo passar (Lucas) pela "porta estreita". É o que diz uma máquina chamada PET Scan, que indica as regiões com maior metabolismo de glicose, que caracteriza tumores malignos. Nada de mal, só de mau. Então lá vou eu no tobogã.
Escrevo num quarto de hospital, onde pedi para instalarem um laptop. Nada tenho a fazer com doenças. Creio ser razoavelmente comum que as pessoas sintam alguma pena de si mesmas a partir do momento em que se olham no espelho sem procurar, a exemplo dos macacos, quem é aquele cara atrás do vidro. A imagem me foi soprada por Contardo Calligaris. "Aquilo é você" é a chave para entender o mundo. O resto é quase só perfumaria.(...)
Reinaldo Azevedo, em Primeira Leitura.
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Julio Daio Borges
9/5/2006 às 11h26
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um romance arriscado
Vivemos em um país do Terceiro Mundo, e assim a informação circula de maneira torta, e mesmo quando chega por aqui, chega como eco de alguma coisa que foi dita de modo mais claro antes e em outro lugar. Há problemas de emissão e recepção. Logo, há uma preferência em sempre comentar e traduzir os mesmos autores (porque assim se evita o risco do desconhecido), e quando há novidades elas chegam pela via do mercado, pelo fato de um grande número de exemplares terem sido vendidos nos países de origem. Não há Arno Schmidt, não há B.S. Johnson, não há Antoine Volodine, Tanguy Viel ou Stefan Themerson. Não há centenas.
Além disso, há o fato de que grande parte dos resenhistas e críticos da imprensa só lêem tradução dos livros. Logo, o julgamento se estabelece a partir de um universo restrito, feito pelas escolhas (nem sempre "literárias") das editoras. Assim, não se comenta nem se pensa os rumos da produção literária hoje, e se vive como se nada estivesse acontecendo ou acontecido nos últimos 70 anos. O que termina gerando uma avaliação empobrecida da produção literária brasileira feita hoje. O diálogo não é apenas com o passado, é sempre com um mesmo passado. Mas há Roberto Bolano, Thomas Pynchon e W.G. Sebald traduzidos. Nem tudo está perdido.
Marcelo Rezende, ex-Gazeta, ex-Cult, atual Bravo!, em entrevista a Elisa Andrade Buzzo, no Paralelos de Augusto Sales.
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Julio Daio Borges
8/5/2006 às 16h48
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Osesp, 22.04
De volta à sala de concerto pouco mais de um mês após o retorno da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo ao palco da Sala Julio Prestes. Parece pouco, mas não é. Soa corriqueiro, mas, mesmo assim, é preciso prestar atenção: a programação nunca esteve tão variada; os espetáculos continuam tão ou mais concorridos do que no ano passado, e o público, pelo menos os que freqüentam os concertos, parece saber disso. Como em poucas áreas, a música erudita está bem representada na cidade, com um número interessantíssimo de espetáculos. E, para o bem ou para o mal, a constatação chega até a imprensa. A edição de São Paulo da Veja já dedicou pelo menos duas edições a tratar do assunto. Nada mal, se se considerar que só agora é que entramos em maio...
No concerto do dia 22 de abril (há duas semanas, portanto), o público pôde comprovar a variedade e a qualidade da Osesp em obras não necessariamente conhecidas por parte dos ouvintes. Os nomes, apesar de tudo, possuem sonoridade. Leif Segerstam; Jean Sibelius; Einojuhani Rautavaara. Origem? Finlândia, país da aurora boreal, dos celulares e, para o espanto de muita gente, de boa música erudita.
A peça de abertura, Tapiola, foi de Jean Sibelius, compositor do início do século XX. Seu flerte com a música modernista é patente. Isso fica claro pela variação de estilos, ora um toque suave, ora em trechos fortes, com a participação todos os naipes e instrumentos. Desses, aliás, cabe destacar os violinos que ajudaram a formar um contraponto mais tradicional. Até aqui, nenhuma surpresa, a não ser pela figura falstafiana do maestro Leif Segerstam, cujos gestos e cumprimentos traziam à memória de alguns comentários irônicos.
Foi do maestro, a propósito, a peça seguinte: Sinfonia nº 149 . Definitivamente, a mais (pós) modernista de todas. Até mesmo o mais incauto dos ouvintes conseguiu notar os elementos que destacavam essa obra dos standards. A começar pela natureza da música. Concerto para tímpanos e piano. A percussão foi, então, o principal naipe desta peça, com direito a um martelo que mais lembrava o toque de um sino. Outro destaque? A peça não foi regida pelo maestro e compositor, apesar de sua presença. Ao final, no entanto, ele foi saudado com aplausos. Discretamente, é verdade, mas foi.
Após o intervalo, novamente Jean Sibelius, com a Sinfonia nº 7 em Dó maior, Op.105. Mesmo para os mais puristas e conservadores, as peças de Sibelius têm um atrativo. Pelo que se ouviu na Sala São Paulo, Sibelius prefere o encantamento e a leveza harmônica, características que são obtidas a partir dos violinos, das trompas e da introdução com flauta. Pode-se dizer que foi a peça mais rica e harmoniosa daquela tarde, e por extensão a mais original.
O experimentalismo esteve de volta na última peça do dia. Os presentes ouviram ao Cantus Articus, de Einojuhani Rautavaara, um concerto para pássaros e Orquestra. Talvez a experiência mais próxima que este repórter havia participado até então era a fase ecológica de Tom Jobim. No caso de Rautavaara, o que se ouviu foram os pássaros como contraponto às frases dos naipes de cordas e de metais. Se não foi marcante do ponto de vista sonoro, a peça tampouco chegou a "provocar" o público presente, que até mostrou simpatia e entusiasmo nos efusivos aplausos ao final do Concerto.
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Fabio Silvestre Cardoso
6/5/2006 às 15h00
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Carta ao pai de ninguém
Quando se colocar à mesa com os seus, veja que estou ainda por ali, entre os sorrisos dos pequenos. Eu desdobrei os guardanapos todos, eu cerrei as cortinas por causa do sol que tanto te ofuscava, eu preparei tua comida, mais uma vez. Quando for essa hora de dividir as sobras do dia, veja que ainda tenho os cabelos caindo pelos ombros, que ainda não fui ao médico como prometi, meus olhos gastos sem poder me ligar ao teu fio condutor, teu sorriso que parece pender para o lado dos barcos que nunca chegaram, da vida que nunca tivemos, dos peixes que nunca comemos, de adiarmos tanto o dia de ser simples, o dia de sentir o perfume sujo da ferrugem comendo nossos pelos. Todas as coisas me guardam, eu imperecível; passe seus dedos pelas coisas espalhadas ao teu gosto, sala, quarto, fotos de cor e sem cor, teias, cacos, pregos, cordas, contas a pagar, os gatos, o tapete; passe seus dedos por todas as coisas aborrecidas, passe os dedos e guarde-os bem nos bolsos das calças muito compridas, que não tive tempo de fazer sua bainha como havia dito, eu sempre prometendo, você sempre aguardando, mas veja agora eu bem aqui, diante da tua porta, eu não entro, eu não posso. Eu bem aqui, diante da tua porta, não sei mais como colocar pé diante de outro pé e continuar, olhando teu sorriso que pende para um lado, o lado dos barcos, dos peixes, dos sais, dos corações desfeitos imperfeitos para sempre, desencorajados.
Carol Custodio, em As Cartas de Arena, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
5/5/2006 às 09h45
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A une passante
Una passante, de Sibilla Baudelaire
La rue assourdissante autour de moi hurlait.
Longue, mince, en grand deuil, douleur majestueuse,
Une femme passa, d'une main fastueuse
Soulevant, balançant le feston et l'ourlet;
Agile et noble, avec sa jambe de statue.
Moi, je buvais, crispé comme un extravagant,
Dans son oeil, ciel livide où germe l'ouragan,
La douceur qui fascine et le plaisir qui tue.
Un éclair... puis la nuit! - Fugitive beauté
Dont le regard m'a fait soudainement renaître,
Ne te verrai-je plus que dans l'éternité?
Ailleurs, bien loin d'ici! trop tard! jamais peut-être!
Car j'ignore où tu fuis, tu ne sais où je vais,
Ô toi que j'eusse aimée, ô toi qui le savais!
Charles Baudelaire, em "A uma passante" (porque começou, ontem, meu novo curso de poesia moderna, com o professor Hansen, na Casa do Saber...)
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Julio Daio Borges
4/5/2006 às 08h50
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O novo Observatório
Desde os tempos de faculdade de jornalismo foquei minhas ações pessoais e profissionais naquilo que os meios digitais e interativos poderiam oferecer ao jornalismo. Por esse motivo, sempre nutri o desejo de ver o Observatório da Imprensa com uma cara nova que impulsionasse a já reconhecida qualidade de seu conteúdo.
Passados quase seis anos, em uma conversa com a colega e jornalista Maria Ercília, esta me conta que foi procurada pela equipe do Observatório para conduzir a reforma gráfica do site. Ela não teria condições de assumir esta missão, pois estava comprometida com outros projetos, e sugeriu meu nome para coordenar o processo. Foi a partir dessa conversa que fui apresentado aos editores Luiz Egypto e Mauro Malin, e à webmaster Andrea Baulé, responsáveis pela condução do Observatório na internet.
Depois de oito meses de trabalho, estudando pesquisas com leitores e discutindo soluções, finalizamos o novo Observatório, que chega ao seu 10º aniversário com roupa e estrutura nova.
Andre de Abreu - sim, o mesmo que já publicou aqui - sobre a reforma que promoveu no OI.
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Julio Daio Borges
3/5/2006 às 15h33
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absolutamente
"Eu sou uma perfeccionista, e como todas, frustrada."
A Lucy, do The Lucy's world, que também linca pra nós.
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Julio Daio Borges
2/5/2006 às 12h47
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Mrs. Robinson
Quando eu vejo notícias do tipo: "Professora americana acusada de ter relações com aluno de 14 anos vai a julgamento", eu me pergunto indignado: "Por que diabos isso nunca aconteceu comigo?"
Fredson Teixeira da Silva Novais, no seu if you come closer, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
1/5/2006 às 12h40
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Última sessão
Com mais duas noites, hoje e amanhã, o festival está quase no fim. Entre os longas, as atrações para esta sexta e sábado são Um crime delicado, de Beto Brant, e Quarta B, de Marcelo Galvão, além da sessão do homenageado com Uirá, um Índio em busca de Deus, de Gustavo Dahl. Já para os curtas, os destaques vão para Ímpar, Par, de Esmir Filho¸ e A morte do rei de barro, de Plínio Uchoa.
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Fabio Silvestre Cardoso
28/4/2006 às 19h00
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Cinejornal
A grande atração do quarto dia no 13º Festival de Cinema e Vídeo, que acontece aqui em Cuiabá, foi O Sol - caminhando contra o vento, documentário dirigido por Tetê Moraes e Martha Alencar. A produção se propõe a, num primeiro momento, resgatar a história do primeiro jornal da chamada imprensa alternativa e, numa plano mais abrangente, a traçar o perfil de uma geração de jovens revolucionários, suas lutas e trajetórias. A primeira etapa foi bem cumprida. A segunda, mais pretensiosa e particular, prefere a subjetividade ao factual, o que, em certa medida, compromete um pouco o resultado final. Vejamos como e por que isso acontece.
Tetê Moraes não explica claramente, mas logo no início de seu filme há uma reunião de todos aqueles que participaram da edição do jornal Sol. Minto. Não somente o staff do periódico estava presente, mas também todos aqueles que indiretamente estiveram envolvidos com o Sol. E aqui há uma relação imensa de nomes célebres, cujos principais são: Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Fernando Gabeira, Carlos Heitor Cony, Hugo Carvana. E o name-dropping continuaria, caro leitor, se esse texto fosse laudatório. Felizmente, não é. Então, seguimos.
Antes, porém, um adendo ao parágrafo anterior. Talvez você, leitor, já tenha ouvido a respeito desse jornal. Impossível? Não se você conhece um pouco da música de Caetano Veloso. Nos versos de "Alegria, Alegria", ele canta: "O sol nas bancas de revista/ Me enchem de alegria e preguiça". Caetano não confirma, mas todos os entrevistados no documentário ressaltam que a referência ao jornal é mais do que evidente.
O veículo Sol surgiu em 1967 como um produto jornalístico voltado aos estudantes; um jornal em que era possível escrever e praticar resistência política. A prática era necessária aos estudantes de comunicação "para que eles não ficassem escrevendo em veículos de mentira"; já a militância era necessária uma vez que o período era sombrio. Contra as sombras, veio a luz do Sol.
Com efeito, tanto pelos relatos como pelos colaboradores é correto afirmar que o jornal tinha virtudes em relação às publicações de hoje. Afinal de contas, o time era ilustre e realmente importante: Otto Maria Carpeaux, Nelson Rodrigues, Reynaldo Jardim, o já citado Cony, Zuenir Ventura. Nesse sentido, o documentário atinge o objetivo de mostrar ao público a importância do jornal. É quando tenta ir além que sua continuidade torna-se questionável.
Che não morreu
E onde está o problema? A obra de Tetê Moraes começa a perder o brilho justamente no momento em que passa a misturar a relevância do jornal com os ideais políticos que motivaram (e, anos depois, corromperam) toda uma geração. O primeiro indício disso está quando, em um dos depoimentos, alguém diz que "O Sol foi mais do que uma escola de jornalismo, foi uma escola de caráter". E nisso outros mais concordam. Não se engane, leitor. O caráter aqui em questão não é a moral do ponto de vista ético, mas, sim, o caráter político. Até aqui, não haveria nada de errado se, e somente se, as pessoas não acreditassem que esse caráter é o único que deve ser levado em consideração não só no que se refere à atuação política, mas, sobretudo, ao modo de fazer jornalístico.
Mas é nisso que eles acreditam. E, para o bem e para o mal, não tem receio de assumir isso diante das câmeras, sugerindo que essa geração tem mais legitimidade do que as seguintes por ser, em tese, "libertária". Prova disso é quando a ex-redatora Ana Arruda conta a repercussão da morte de Che Guevara no jornal. "Quando o Che Guevara morreu, foi como se o pai ou a mãe da gente tivesse morrido". E um outro jornalista arrematou: "Na verdade, O Sol não reconheceu a morte de Guevara".
O problema do documentário não está necessariamente na escolha e na versão dos fatos dos entrevistados. O erro está em não perceber que o documentário, à medida que se estende, torna-se enfadonho ao repetir as mesmíssimas histórias sobre o Golpe de 64, e com as imagens dos tanques nas ruas, e com os festivais da TV Record, e com a juventude engajada, e com a participação estudantil. Desnecessário dizer que é mais do mesmo, mas Tetê Moraes parece decidida em contar a história outra vez. E o que era original virou lugar-comum.
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Fabio Silvestre Cardoso
28/4/2006 às 17h30
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