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Terça-feira,
27/6/2006
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Redação
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A crônica e o futebol
"Nosso futebol é muito melhor que nossa crônica. Só ganhamos títulos quando a crônica não leva fé, diz a lenda. A crônica esportiva brasileira sofre de um mal, perdoe, crônico: é platônica. O futebol que ela imagina para nossa seleção nunca existiu, não existe e nunca existirá. Ela imagina um jogo em que o Brasil vence de 90 a zero, com 45 gols de bicicleta e o adversário não vê a bola uma vez sequer. Um jogo fácil e sem graça. Um tédio ideal."
Léo Jaime, em Nominimo, porque, como dizia Nélson Rodrigues, só os profetas enxergam o óbvio.
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Fabio Silvestre Cardoso
27/6/2006 às 09h20
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Starbucks no Brasil
A Starbucks é a maior cadeia de cafeteria dos EUA, com lucro anual de US$ 6,4 bilhões (R$ 13,6 bilhões) e 10.500 pontos de estabelecimento no mundo. Este ano estará no Brasil.
O impressionante é uma empresa do ramo de café ser maior que toda a cafeicultura brasileira. O Brasil é o maior produtor e o segundo maior consumidor mundial de café.
O hábito de tomar café, além de convidativo para debates civilizados, lembra-nos de um setor da economia, dos mais importantes para o nosso enriquecimento. Cerca de 10 milhões de pessoas trabalham direta e indiretamente nesse ramo de atividade.
A vinda da Starbucks irá acirrar a competitividade do setor. Mas evidentemente, trará a depuração do nosso padrão de qualidade. Podemos aprender bastante observando a atuação do McCafé em nosso país. E apostar no crescimento da cultura de apreciação de cafés especiais entre nós.
Rodrigo Xavier, no Vôo subterrâneo, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
27/6/2006 às 09h02
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The Indispensable Man
"Frankly I'm not an engineer."
David Sifry, contando a história do Technorati,
no Venture Voice (uma dica do Edu Carvalho...)
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Julio Daio Borges
26/6/2006 às 08h22
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Criei, tive como
Primeiro dia de iSummit 2006, evento organizado pelo iCommons no Rio de Janeiro, evento by gringos, for gringos. As idéias são quase todas novas para mim e precisam ser digeridas e assentadas, coisa que a agitação do evento não necessariamente permite. Algumas rapidinhas:
Na abertura do evento o mestre de cerimônias nacional, Ronaldo Lemos da FGV, pediu a cada palestrante que falasse só por 15 minutos, para não atrasar a agenda. Larry Lessig reclamou do tempo escasso mas falou tudo (e falou bonito) em 18 minutos. Joi Ito falou em menos de 15 minutos, segundo ele, para compensar Lessig. Paulina Urrutia, Ministra da Cultura do Chile falou em espanhol e ninguém entendeu. Quando Gilberto Gil falou (em inglês) os gringos adoraram, nós que já conhecemos a peça achamos graça e, de tanto que ele falou, a sessão de perguntas-e-respostas foi cancelada.
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O pessoal sentado atrás de mim vibrou quando Paulina "protestou contra o gringuismo" falando em espalhol mas também vibrou quando Gil contou como misturou a guitarra do rock com os ritmos brasileiros para criar a Tropicália (enquanto era vaiado por universitários revoltados com tal heresia contra a pureza nacional). Contraditório, não?
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Enquanto em uma sala rolava o debate filosófico-legal sobre as licenças CC passei no workshop mãos-na-massa. O único grupo brasileiro a mostrar seus trabalhos, o Estudio Livre, quis aparecer durante a palestra de Martha Nalebuff da Microsoft. Enquanto a visitante mostrava o plugin que permite anexar licenças Creative Commons a documentos do MS Office seus membros vestiram narizes de palhaço, vaiavam e uma menina mais animada jogava bolinhas de papel. Momento de constrangimento na platéia até a palestrante mostrar rebolado ao pedir um nariz vermelho para si. No fim, a chairwoman do iCommons Heather Ford deu um discreto pito na arremessadora de papel e voltamos à paz. Ignoremos o fato de que o Sony Vaio do pessoal do Estúdio rodava Windows XP e sua demostração só abria em Internet Explorer.
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Depois do almoço do mais alto garbo (um oferecimento do Fábio do Gerador Zero, que gentilmente me forneceu seu voucher sob licença Attribution Share-alike), as cabeças foram espalhadas em grupos. Enquanto uns foram entender o que é uma Freedom Toaster, outros foram ajudar o pessoal do ONG em caixinha a pensar em conteúdo global e outros foram colocar conteúdo cc-remixado no Second Life, fui tentar dar uma mãozinha na tradução dos cctools. Eu sou um tipo tão empolgado que depois de um dia de iSummit já queria chegar em casa, formatar meu computador e botar um Ubuntu. Mas o mestre Jon Philips confirmou minha suspeita de que ajudar a traduzir software (junto com procurar por bugs) é a maneira mais simples de entrar no mundo da colaboração livre, sem precisar investir uma enorme quantidade de tempo.
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A conexão wi-fi custava assombrosos R$ 45 por dia (ou R$ 100 pelos três dias). Hacker ao resgate: Jean-Baptiste Soufron mostra como ele e Cory Doctorow compartilharam o acesso para todo mundo que estiver no seu raio de ação. E você nem precisa ficar ouvindo a música esquisita do vídeo-tutorial.
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O título deste texto veio da apresentação do Estudio Livre. Não sei qual a licença da frase, mas vou usando aqui.
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Celular TIM e nada, no subsolo do Marriot, é a mesma coisa.
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Sábado, tem mais: Science Commons, Enterprise Commons, Revver e o que mais pintar.
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Veja mais: no Technorati (tags: isummit, isummit06), no meu Flickr, no Flickr de todo mundo.
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Cristiano Dias
23/6/2006 às 22h56
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Às Cinco da Tarde
Às Cinco da Tarde (Panj é asr, 2003), terceiro longa-metragem da iraniana Samira Makhmalbaf, coloca cada plano cinematográfico a serviço de uma arte engajada e poética. Ela escolheu o Afeganistão para rodar uma história política, mas com um viés extremamente humano e delicado. O país que ela capta foi destruído sucessivamente pelo regime Talibã e por bombardeios americanos após o 11 de Setembro.
É no meio desse processo que Noqreh (Agheleh Rezaie), uma mulher que só pode ir à escola escondida do pai, entra em contato durante as aulas com a idéia de se tornar candidata à presidente. O filme se constrói sobre impasses entre novo e velho, arcaico e moderno, sagrado e profano, e o que teria tudo para se tornar um clichê insuportável de 105 minutos se mostra um panorama cheio de nuances sobre a as dificuldades de transição do regime no Afeganistão. Noqreh não se revolta contra a tradição. Tenta respeitar seu pai, embora isso lhe custe mutilar os próprios sonhos. Não é possível mudar tão profunda e radicalmente um país em uma geração.
As paisagens são secas, poeirentas. E desfiam-se devagar diante da câmera. Enquadramentos cuidadosos, pausas e silêncios ajudam a construir o interior dos personagens. O Afeganistão de Samira é árido, mas, ao mesmo tempo, colorido. Há longos campos vazios e estradas que parecem lentamente levar do nada a lugar nenhum.
O Afeganistão tem quase nenhuma história no cinema. Foram rodados até hoje cerca de 40 filmes lá. Essa falta de tradição fez com que Samira trabalhasse com atores amadores. O roteiro foi construído em cima de situações reais, retiradas do cotidiano que a diretora vivenciou em visita ao país. A naturalidade do resultado impressiona. Ao colocar personagens isolados no meio da tela, enquadrados por umbrais de pedra, insulados em palácios destruídos e às vezes perseguidos por movimentos rápidos e precisos de câmera, a diretora nos lembra de que se trata de arte. Não tenta impingir uma realidade postiça, e acaba chegando a uma impressão do real de que a mídia, apesar da intensa cobertura jornalística no período dos bombardeiros americanos ao Afeganistão, sequer se aproximou.
Essa visão da arte como ponto de reflexão fica clara na cena em que a família de Noqreh tem de dividir a casa com desabrigados, e um refugiado, hóspede forçado, quer ouvir música em volume alto. O pai de Noqreh abandona a casa para fugir da música, que acredita ser pecado. O refugiado se mantém firme na convicção de continuar ouvindo seu rádio, mas não mais apenas pelos sons. Não à toa, um poeta é o único personagem que a incentiva a querer ser presidente do Afeganistão. O mesmo papel que música e poesia recebem dentro da história é dado por Samira ao fazer cinema. A arte se torna uma forma profunda de revelar a realidade e intervir na História.
De todos a quem pergunta sobre presidentes de países pelo mundo, ao longo do filme, Noqreh ouve respostas evasivas e confusas. Em comum, a idéia de que política é coisa de alto escalão, de que nada tem a ver com o povo. Essa alienação é o dilema de Noqreh, que junto da família se esconde atrás da burca e precisa antes de tudo sobreviver em meio à destruição, mas quando só ou no ambiente da escola, troca as alpargatas por sapatos brancos de salto alto e descobre o rosto, aspirando a uma vida política e social.
A metáfora dos sapatos lembra o conto de Cinderela. Dentro de casa, ajudando a cuidar do bebê da cunhada, imersa na religiosidade fanática do pai e inexistente para o resto do mundo, Noqreh precisa escondê-los. Como a personagem infantil, ao calçá-los, ganha individualidade, participa da sociedade e se torna senhora da própria vida. Mas não; tanto quanto a vida, Às Cinco da Tarde não é um conto de fadas.
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Verônica Mambrini
23/6/2006 às 09h57
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Blog Corporativo, o livro
Vivemos em uma nova era. Uma nova era em que o mercado e as pessoas passaram a gostar de interagir, opinar, participar e ajudar. Uma nova era de constante formação de opinião, reforçada pelo lançamento de websites que potencializam ainda mais a voz das pessoas. A era dos blogs. Nessa nova era, onde se situará a sua empresa ou seus negócios? No grupo das que blogam ou no grupo das que ignoram a blogosfera?
Fábio Cipriani, que finalmente lançou um livro sobre o assunto, no Brasil.
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Julio Daio Borges
23/6/2006 às 08h30
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As mulheres e o futebol
Sinceramente, nunca entendi direito para que servem os números que os homens inventam para o futebol. Durante o último jogo, os locutores comentavam assim, dando muita importância ao fato: o jogador Cafu completa 24 horas jogando pela seleção brasileira. Tive vontade de rir, juro, mas estava num local público, com pessoas desconhecidas e fanáticas por futebol. Não me atrevi, é claro.
Esse número "tão importante" me fez lembrar a época em que trabalhava nas redações dos jornais O Estado de S. Paulo e Folha. Várias vezes meu computador ficava ao lado dos "meninos" do caderno de esportes (que na minha opinião deveria chamar caderno de futebol, porque para eles é isso mesmo que importa, não que eu concorde, mas o resto da população brasileira, sim).
Eu... lá no meu canto, teclando alguma matéria de cultura, escutava números que para mim soavam inúteis, mas para aqueles moços eram cifras de riqueza absoluta. Números de gols de cobrança de falta que o jogador tal tinha marcado durante sua carreia. E por aí seguiam os importantes dados.
Os números em si não me despertavam o menor interesse, mas sempre quis saber qual a utilidade deles. Bem, no caso de um repórter que cobre futebol ajuda a não ter que ficar consultando o banco de dados do jornal. Mas para advogados, pedreiros, engenherios, DJs, administradores, publicitários, faxineiros... de que servem esses números? Cheguei à conclusão de que o grande amor na vida de um homem é a matemática!
A Cris, em Ah!!! Tá... tudo bem..., que por e-mail acaba de chegar.
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Julio Daio Borges
22/6/2006 às 09h39
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Em Cena: Em Fuga
O segundo filme da trilogia criada pelo belga Lucas Belvaux sai da comédia romântica de erros que foi Um Casal Admirável para o thriller. O protagonista é Bruno, ex-militante que foge da prisão e decide se vingar dos antigos comparsas que o delataram. O enredo foca nas idas e vindas de Bruno, vivido pelo próprio Belvaux, e na sua relação com duas mulheres: Jeanne, que foi sua parceira (e aparentemente um antigo amor); e Agnès, viciada em heroína e que lhe dá abrigo.
Em Fuga: segunda parte da trilogia de Belvaux
É este, aliás, o ponto de diálogo de Em Fuga com os outros filmes da trilogia: o chalé onde Bruno se refugia pertence a Cécile, personagem principal do longa anterior; e o fugitivo cruza algumas vezes com o policial Pascal, marido de Agnés e foco central do terceiro filme, o drama Acordo Quebrado. Bruno transitará nesse meio, buscando formas de desaparecer, mas não sem antes deixar uma marca sangrenta em quem ele assume como inimigo. O final irônico e patético de sua trajetória apenas reforça a frieza (literal, no caso) de seu discurso, sua utopia e seus atos.
Porém, vendo em perspectiva Um Casal Admirável e Em Fuga, sente-se que é o policial Pascal o centro nervoso da trilogia de Belvaux. Ele e a esposa aparecem com razoável destaque nas três obras, sendo os principais do último filme. E não por menos: Pascal e Agnès realmente protagonizam a mais complexa das tramas. Este homem da lei está envolvido em tudo: investiga um foragido, ajuda a amiga a achar uma possível amante do marido e convive com as dificuldades da esposa viciada.
Gilbert Melki: centro da trilogia
O olhar quase sempre apático do ator Gilbert Melki, que faz Pascal, ora representa um interesse intrínseco de seu personagem pela cliente (a bela Ornella Muti), ora a necessidade de cumprir seu dever ao saber informações importantes a respeito de Bruno. Falta assistir ao fecho da história para saber o que mais o olhar de Melki vai refletir. Provavelmente, piedade e sofrimento pela dor da mulher.
Para ir além
Leia também "Um Casal Admirável".
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Marcelo Miranda
22/6/2006 às 08h06
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O Brasil não ganha a Copa
[Ô Juca, o Brasil ganha a Copa?] Acho que não. Se o Brasil ganhar pela sexta vez a Copa do Mundo, será pela segunda fez campeão na Europa, coisa que nunca aconteceu. Nunca um não-europeu ganhou na Europa, a não ser o próprio Brasil, em 1958, porque aí surpreendeu todo mundo, ninguém esperava. A Copa depois desta, que seria a do hepta, será na África do Sul. Todas as vezes que jogou a Copa do Mundo num país sem tradição em futebol o Brasil ganhou. Foi assim em 58 na Suécia, em 62 no Chile, em 70 no México, em 94 nos Estados Unidos, em 2002 no Japão. Então, a possibilidade de ser heptacampeão seria enorme na África do Sul. A outra Copa, ao que tudo indica, será aqui. O Brasil não vai perder duas aqui, já perdeu uma. Seria octa. E ia ficar monótono. Neguinho vai falar: "Pô entrega logo a Copa pra eles".(...) O Renatão me perguntou aqui da manipulação. Você tem alguma dúvida? Tem alguma dúvida? O Brasil, para ser hexacampeão, terá de ganhar de adversários fortes e da arbitragem.
Juca Kfouri, na Caros Amigos de junho, nas bancas.
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Julio Daio Borges
21/6/2006 às 08h13
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Perdemos Bussunda
A Copa do Mundo ficou mais triste para nós brasileiros, logo nós, o povo mais sorridente de todas as nações. Manhã de 17 de junho, sábado, véspera do jogo da seleção brasileira contra a Austrália, morre em Parsdorf, a 16 quilômetros de Munique, Alemanha, o humorista Claudio Besserman Vianna, o Bussunda, fundador do programa global, Casseta e Planeta, a oito dias de completar 44 anos. A sua morte foi totalmente inesperada e um choque para todos nós, que ficamos órfãos do riso, pois perdemos um dos mais geniais humoristas da atualidade. Perdemos, para um ataque cardíaco fulminante, o motivo nosso de sorrir de cada terça-feira.
Ronaldo Fofucho, Lula, Baleíssima, Marrentinho Carioca... foram tantas caracterizações inesquecíveis. Isso só para citar as mais recentes. O brutamontes Montanha, grandalhão, com pinta de roqueiro heavy metal, parceiro de Massaranduba, que ia dar porrada. Jeca Camargo, que satirizava o repórter do Fantástico, Zeca Camargo. São tantos e incontáveis personagens que farão falta. O piadista genial, caçula dos Casseta, era também o redator, o criador da maioria das piadas tão inteligentes que nos faziam rolar de rir no programa semanal Casseta & Planeta.
O programa vai acabar? O que vai acontecer agora? Quem vai imitar o presidente Lula e o Ronaldinho? Ou é o Ronaldo Fenômeno que vai imitar o Bussunda (que maldade)? São tantas as perguntas que vieram à tona, mas fica o mistério. Pode até parecer insignificante para alguns, mas a perda de Bussunda vai deixar um vazio enorme nos corações dos brasileiros, e também no humor nacional. Haverá alguém do seu calibre, do seu talento? Quem nos fará rir agora? Poxa, Bussunda, por que você nos abandonou tão cedo? O povo brasileiro também dependia de suas piadas para entender a situação do país. Muitas vezes fiquei sabendo de notícias atuais através do programa Casseta & Planeta. Bussunda era nosso tradutor, porque só rindo mesmo para suportar tanta injustiça num país lindo e cheio de potencial como o Brasil.
O Fantástico, programa da mesma emissora de Bussunda, mostrou nesse domingo o enterro de Claudio, os familiares presentes, os amigos anônimos, famosos, e os parceiros de trabalho, os Cassetas Reinaldo, Claudio Manoel, Beto Silva, Marcelo Madureira, Hélio de La Peña, Hubert e Maria Paula, todos chorando, tristes e inconsoláveis. A Rede Globo exibiu, em quadros rápidos no meio do programa, algumas das performances do humorista ao longo dos mais de dez anos do programa semanal. Até ai tudo bem, até porque isso é jornalismo. Entretanto, foi seco, frio e distante. Nem parecia se tratar de um colega da emissora.
Para falar em Bussunda isso era muito pouco. Eis que aqueles rapazes debochados, que começaram no rádio e que foram para a televisão, que comem o pão que o diabo amassou para entrar nos lugares em que a Globo tem fácil acesso, que nitidamente se inspiraram no programa Casseta & Planeta, reconhecem e reverenciam o valor daquele humorista que lhes ensinou muito.
Bussunda pertencia à Rede Globo, mas quem fez uma belíssima homenagem foi o programa Pânico na TV. Que vontade de chorar ao ver a última entrevista do humorista do Casseta & Planeta ao Vinicius Vieira, que faz o Gluglu, Mano Quietinho, Alexandre Broca e, na ocasião, o Casagrande do programa Pânico. O repórter da Rede TV! insistia incansavelmente em falar com o humorista horas antes de sua morte. Bussunda estava sentado dentro de uma van e esperava o seu colega Hélio de La Peña finalizar a entrevista ao programa da outra emissora, quando Vinícius pergunta: "Cadê o Bussunda? Quero falar com ele!". Sempre bem humorado e disposto, Bussunda disse que se sentia cansado, mas "Casagrande" insistiu, como se soubesse que aquelas seriam as últimas palavras de Claudio Besserman Vianna num microfone, instrumento que segurou tantas vezes ao longo da brilhante carreira. Mesmo demonstrando o cansaço, Bussunda sorriu, brincou e deu seu show de sempre na última entrevista da vida. As lágrimas vieram aos meus olhos e segurei o choro. Isso sim era uma homenagem, simples e honesta. Parabéns ao Pânico na TV, que são muitas vezes injustiçados, mas que sabem ser autênticos.
No jornalismo não se deve usar adjetivos, entretanto Bussunda, dentuço e obeso, era divertido, inteligente, politizado, culto, carismático e "lindo", de tão feio que era. Não sei mais o que serão das minhas terças-feiras, sei que darei menos risadas, entretanto o legado que ele perpetuou a nós é riquíssimo. Ele nos deixou sorrindo e fazendo rir. Bussunda deixará saudades.
Nota do Editor
Leia também "Por que votar em Bussunda?"
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Postado por
Tatiana Cavalcanti
20/6/2006 às 09h13
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