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Sexta-feira, 23/6/2006
Blog
Redação
 
Às Cinco da Tarde

Às Cinco da Tarde (Panj é asr, 2003), terceiro longa-metragem da iraniana Samira Makhmalbaf, coloca cada plano cinematográfico a serviço de uma arte engajada e poética. Ela escolheu o Afeganistão para rodar uma história política, mas com um viés extremamente humano e delicado. O país que ela capta foi destruído sucessivamente pelo regime Talibã e por bombardeios americanos após o 11 de Setembro.

É no meio desse processo que Noqreh (Agheleh Rezaie), uma mulher que só pode ir à escola escondida do pai, entra em contato durante as aulas com a idéia de se tornar candidata à presidente. O filme se constrói sobre impasses entre novo e velho, arcaico e moderno, sagrado e profano, e o que teria tudo para se tornar um clichê insuportável de 105 minutos se mostra um panorama cheio de nuances sobre a as dificuldades de transição do regime no Afeganistão. Noqreh não se revolta contra a tradição. Tenta respeitar seu pai, embora isso lhe custe mutilar os próprios sonhos. Não é possível mudar tão profunda e radicalmente um país em uma geração.

As paisagens são secas, poeirentas. E desfiam-se devagar diante da câmera. Enquadramentos cuidadosos, pausas e silêncios ajudam a construir o interior dos personagens. O Afeganistão de Samira é árido, mas, ao mesmo tempo, colorido. Há longos campos vazios e estradas que parecem lentamente levar do nada a lugar nenhum.

O Afeganistão tem quase nenhuma história no cinema. Foram rodados até hoje cerca de 40 filmes lá. Essa falta de tradição fez com que Samira trabalhasse com atores amadores. O roteiro foi construído em cima de situações reais, retiradas do cotidiano que a diretora vivenciou em visita ao país. A naturalidade do resultado impressiona. Ao colocar personagens isolados no meio da tela, enquadrados por umbrais de pedra, insulados em palácios destruídos e às vezes perseguidos por movimentos rápidos e precisos de câmera, a diretora nos lembra de que se trata de arte. Não tenta impingir uma realidade postiça, e acaba chegando a uma impressão do real de que a mídia, apesar da intensa cobertura jornalística no período dos bombardeiros americanos ao Afeganistão, sequer se aproximou.

Essa visão da arte como ponto de reflexão fica clara na cena em que a família de Noqreh tem de dividir a casa com desabrigados, e um refugiado, hóspede forçado, quer ouvir música em volume alto. O pai de Noqreh abandona a casa para fugir da música, que acredita ser pecado. O refugiado se mantém firme na convicção de continuar ouvindo seu rádio, mas não mais apenas pelos sons. Não à toa, um poeta é o único personagem que a incentiva a querer ser presidente do Afeganistão. O mesmo papel que música e poesia recebem dentro da história é dado por Samira ao fazer cinema. A arte se torna uma forma profunda de revelar a realidade e intervir na História.

De todos a quem pergunta sobre presidentes de países pelo mundo, ao longo do filme, Noqreh ouve respostas evasivas e confusas. Em comum, a idéia de que política é coisa de alto escalão, de que nada tem a ver com o povo. Essa alienação é o dilema de Noqreh, que junto da família se esconde atrás da burca e precisa antes de tudo sobreviver em meio à destruição, mas quando só ou no ambiente da escola, troca as alpargatas por sapatos brancos de salto alto e descobre o rosto, aspirando a uma vida política e social.

A metáfora dos sapatos lembra o conto de Cinderela. Dentro de casa, ajudando a cuidar do bebê da cunhada, imersa na religiosidade fanática do pai e inexistente para o resto do mundo, Noqreh precisa escondê-los. Como a personagem infantil, ao calçá-los, ganha individualidade, participa da sociedade e se torna senhora da própria vida. Mas não; tanto quanto a vida, Às Cinco da Tarde não é um conto de fadas.

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Postado por Verônica Mambrini
23/6/2006 às 09h57

 
Blog Corporativo, o livro

Vivemos em uma nova era. Uma nova era em que o mercado e as pessoas passaram a gostar de interagir, opinar, participar e ajudar. Uma nova era de constante formação de opinião, reforçada pelo lançamento de websites que potencializam ainda mais a voz das pessoas. A era dos blogs. Nessa nova era, onde se situará a sua empresa ou seus negócios? No grupo das que blogam ou no grupo das que ignoram a blogosfera?

Fábio Cipriani, que finalmente lançou um livro sobre o assunto, no Brasil.

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Postado por Julio Daio Borges
23/6/2006 às 08h30

 
As mulheres e o futebol

Sinceramente, nunca entendi direito para que servem os números que os homens inventam para o futebol. Durante o último jogo, os locutores comentavam assim, dando muita importância ao fato: o jogador Cafu completa 24 horas jogando pela seleção brasileira. Tive vontade de rir, juro, mas estava num local público, com pessoas desconhecidas e fanáticas por futebol. Não me atrevi, é claro.

Esse número "tão importante" me fez lembrar a época em que trabalhava nas redações dos jornais O Estado de S. Paulo e Folha. Várias vezes meu computador ficava ao lado dos "meninos" do caderno de esportes (que na minha opinião deveria chamar caderno de futebol, porque para eles é isso mesmo que importa, não que eu concorde, mas o resto da população brasileira, sim).

Eu... lá no meu canto, teclando alguma matéria de cultura, escutava números que para mim soavam inúteis, mas para aqueles moços eram cifras de riqueza absoluta. Números de gols de cobrança de falta que o jogador tal tinha marcado durante sua carreia. E por aí seguiam os importantes dados.

Os números em si não me despertavam o menor interesse, mas sempre quis saber qual a utilidade deles. Bem, no caso de um repórter que cobre futebol ajuda a não ter que ficar consultando o banco de dados do jornal. Mas para advogados, pedreiros, engenherios, DJs, administradores, publicitários, faxineiros... de que servem esses números? Cheguei à conclusão de que o grande amor na vida de um homem é a matemática!

A Cris, em Ah!!! Tá... tudo bem..., que por e-mail acaba de chegar.

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Postado por Julio Daio Borges
22/6/2006 às 09h39

 
Em Cena: Em Fuga

O segundo filme da trilogia criada pelo belga Lucas Belvaux sai da comédia romântica de erros que foi Um Casal Admirável para o thriller. O protagonista é Bruno, ex-militante que foge da prisão e decide se vingar dos antigos comparsas que o delataram. O enredo foca nas idas e vindas de Bruno, vivido pelo próprio Belvaux, e na sua relação com duas mulheres: Jeanne, que foi sua parceira (e aparentemente um antigo amor); e Agnès, viciada em heroína e que lhe dá abrigo.

Em Fuga
Em Fuga: segunda parte da trilogia de Belvaux

É este, aliás, o ponto de diálogo de Em Fuga com os outros filmes da trilogia: o chalé onde Bruno se refugia pertence a Cécile, personagem principal do longa anterior; e o fugitivo cruza algumas vezes com o policial Pascal, marido de Agnés e foco central do terceiro filme, o drama Acordo Quebrado. Bruno transitará nesse meio, buscando formas de desaparecer, mas não sem antes deixar uma marca sangrenta em quem ele assume como inimigo. O final irônico e patético de sua trajetória apenas reforça a frieza (literal, no caso) de seu discurso, sua utopia e seus atos.

Porém, vendo em perspectiva Um Casal Admirável e Em Fuga, sente-se que é o policial Pascal o centro nervoso da trilogia de Belvaux. Ele e a esposa aparecem com razoável destaque nas três obras, sendo os principais do último filme. E não por menos: Pascal e Agnès realmente protagonizam a mais complexa das tramas. Este homem da lei está envolvido em tudo: investiga um foragido, ajuda a amiga a achar uma possível amante do marido e convive com as dificuldades da esposa viciada.

Gilbert Melki
Gilbert Melki: centro da trilogia

O olhar quase sempre apático do ator Gilbert Melki, que faz Pascal, ora representa um interesse intrínseco de seu personagem pela cliente (a bela Ornella Muti), ora a necessidade de cumprir seu dever ao saber informações importantes a respeito de Bruno. Falta assistir ao fecho da história para saber o que mais o olhar de Melki vai refletir. Provavelmente, piedade e sofrimento pela dor da mulher.

Para ir além
Leia também "Um Casal Admirável".

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Postado por Marcelo Miranda
22/6/2006 às 08h06

 
O Brasil não ganha a Copa

[Ô Juca, o Brasil ganha a Copa?] Acho que não. Se o Brasil ganhar pela sexta vez a Copa do Mundo, será pela segunda fez campeão na Europa, coisa que nunca aconteceu. Nunca um não-europeu ganhou na Europa, a não ser o próprio Brasil, em 1958, porque aí surpreendeu todo mundo, ninguém esperava. A Copa depois desta, que seria a do hepta, será na África do Sul. Todas as vezes que jogou a Copa do Mundo num país sem tradição em futebol o Brasil ganhou. Foi assim em 58 na Suécia, em 62 no Chile, em 70 no México, em 94 nos Estados Unidos, em 2002 no Japão. Então, a possibilidade de ser heptacampeão seria enorme na África do Sul. A outra Copa, ao que tudo indica, será aqui. O Brasil não vai perder duas aqui, já perdeu uma. Seria octa. E ia ficar monótono. Neguinho vai falar: "Pô entrega logo a Copa pra eles".(...) O Renatão me perguntou aqui da manipulação. Você tem alguma dúvida? Tem alguma dúvida? O Brasil, para ser hexacampeão, terá de ganhar de adversários fortes e da arbitragem.

Juca Kfouri, na Caros Amigos de junho, nas bancas.

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Postado por Julio Daio Borges
21/6/2006 às 08h13

 
Perdemos Bussunda

A Copa do Mundo ficou mais triste para nós brasileiros, logo nós, o povo mais sorridente de todas as nações. Manhã de 17 de junho, sábado, véspera do jogo da seleção brasileira contra a Austrália, morre em Parsdorf, a 16 quilômetros de Munique, Alemanha, o humorista Claudio Besserman Vianna, o Bussunda, fundador do programa global, Casseta e Planeta, a oito dias de completar 44 anos. A sua morte foi totalmente inesperada e um choque para todos nós, que ficamos órfãos do riso, pois perdemos um dos mais geniais humoristas da atualidade. Perdemos, para um ataque cardíaco fulminante, o motivo nosso de sorrir de cada terça-feira.

Ronaldo Fofucho, Lula, Baleíssima, Marrentinho Carioca... foram tantas caracterizações inesquecíveis. Isso só para citar as mais recentes. O brutamontes Montanha, grandalhão, com pinta de roqueiro heavy metal, parceiro de Massaranduba, que ia dar porrada. Jeca Camargo, que satirizava o repórter do Fantástico, Zeca Camargo. São tantos e incontáveis personagens que farão falta. O piadista genial, caçula dos Casseta, era também o redator, o criador da maioria das piadas tão inteligentes que nos faziam rolar de rir no programa semanal Casseta & Planeta.

O programa vai acabar? O que vai acontecer agora? Quem vai imitar o presidente Lula e o Ronaldinho? Ou é o Ronaldo Fenômeno que vai imitar o Bussunda (que maldade)? São tantas as perguntas que vieram à tona, mas fica o mistério. Pode até parecer insignificante para alguns, mas a perda de Bussunda vai deixar um vazio enorme nos corações dos brasileiros, e também no humor nacional. Haverá alguém do seu calibre, do seu talento? Quem nos fará rir agora? Poxa, Bussunda, por que você nos abandonou tão cedo? O povo brasileiro também dependia de suas piadas para entender a situação do país. Muitas vezes fiquei sabendo de notícias atuais através do programa Casseta & Planeta. Bussunda era nosso tradutor, porque só rindo mesmo para suportar tanta injustiça num país lindo e cheio de potencial como o Brasil.

O Fantástico, programa da mesma emissora de Bussunda, mostrou nesse domingo o enterro de Claudio, os familiares presentes, os amigos anônimos, famosos, e os parceiros de trabalho, os Cassetas Reinaldo, Claudio Manoel, Beto Silva, Marcelo Madureira, Hélio de La Peña, Hubert e Maria Paula, todos chorando, tristes e inconsoláveis. A Rede Globo exibiu, em quadros rápidos no meio do programa, algumas das performances do humorista ao longo dos mais de dez anos do programa semanal. Até ai tudo bem, até porque isso é jornalismo. Entretanto, foi seco, frio e distante. Nem parecia se tratar de um colega da emissora.

Para falar em Bussunda isso era muito pouco. Eis que aqueles rapazes debochados, que começaram no rádio e que foram para a televisão, que comem o pão que o diabo amassou para entrar nos lugares em que a Globo tem fácil acesso, que nitidamente se inspiraram no programa Casseta & Planeta, reconhecem e reverenciam o valor daquele humorista que lhes ensinou muito.

Bussunda pertencia à Rede Globo, mas quem fez uma belíssima homenagem foi o programa Pânico na TV. Que vontade de chorar ao ver a última entrevista do humorista do Casseta & Planeta ao Vinicius Vieira, que faz o Gluglu, Mano Quietinho, Alexandre Broca e, na ocasião, o Casagrande do programa Pânico. O repórter da Rede TV! insistia incansavelmente em falar com o humorista horas antes de sua morte. Bussunda estava sentado dentro de uma van e esperava o seu colega Hélio de La Peña finalizar a entrevista ao programa da outra emissora, quando Vinícius pergunta: "Cadê o Bussunda? Quero falar com ele!". Sempre bem humorado e disposto, Bussunda disse que se sentia cansado, mas "Casagrande" insistiu, como se soubesse que aquelas seriam as últimas palavras de Claudio Besserman Vianna num microfone, instrumento que segurou tantas vezes ao longo da brilhante carreira. Mesmo demonstrando o cansaço, Bussunda sorriu, brincou e deu seu show de sempre na última entrevista da vida. As lágrimas vieram aos meus olhos e segurei o choro. Isso sim era uma homenagem, simples e honesta. Parabéns ao Pânico na TV, que são muitas vezes injustiçados, mas que sabem ser autênticos.

No jornalismo não se deve usar adjetivos, entretanto Bussunda, dentuço e obeso, era divertido, inteligente, politizado, culto, carismático e "lindo", de tão feio que era. Não sei mais o que serão das minhas terças-feiras, sei que darei menos risadas, entretanto o legado que ele perpetuou a nós é riquíssimo. Ele nos deixou sorrindo e fazendo rir. Bussunda deixará saudades.

Nota do Editor
Leia também "Por que votar em Bussunda?"

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Postado por Tatiana Cavalcanti
20/6/2006 às 09h13

 
Deus, Diabo e carnaval baiano

No final do ano passado, o diretor Fernando Guerreiro tomou conhecimento do projeto de montagem de um musical sobre a Bahia, que seria produzido para comemorar os trinta anos da Fundação Cultural do Estado. Com o pesado apoio da Lei de Incentivo do Ministério da Cultura e da Petrobrás, tornou-o real na peça Vixe Maria Deus e o Diabo na Bahia, em temporada paulista no teatro Fecomercio até o dia 6 de agosto, após dois anos de uma bem-sucedida temporada em Salvador, onde foi vista por mais de 125 mil pessoas.

Fernando Guerreiro é um dos fundadores da Companhia Baiana da Patifaria e produtor da comédia A Bofetada, que está em cartaz há mais de 15 anos e já foi vista por 500 mil espectadores. O encenador tem como característica o ecletismo quanto aos autores que servem de base para suas montagens, na maioria das vezes comédias, e já trabalhou até mesmo com um texto do cineasta espanhol Pedro Almodóvar. Trabalhou também com atores globais como Raul Gazolla e Caco Ciocler além de Danton Mello e Marcos Mion na filmagem e refilmagem de sua peça Cacilda Baker.

Inspirada no conto "A igreja do Diabo", de Machado de Assis, Vixe Maria Deus e o Diabo na Bahia foi escrita por Cacilda Póvoas, Cláudio Simões e Gil Vicente Tavares, que resolveram buscar inspiração no popular teatro de revista, misturando o trash e o teatro de cordel, tão presente na cultura regional. O resultado é uma peça escrachada, que não somente faz referências ao Carnaval do Estado e ao espírito festeiro de seu povo, mas também a outros traços de sua cultura como a religião com forte influência africana e manifestações populares e cotidianas, entrevendo características sociais.

No enredo, o Diabo, cansado de ser subserviente a Deus, resolve ampliar seus horizontes e arrebanhar mais seguidores. O local ideal para isto é onde os mortais cometem muitos pecados ou vivem mais proximamente inebriados por ele. Inevitavelmente, este lugar se configura no tradicional Carnaval baiano. Logo, Deus é alertado sobre o plano, mas até mesmo o todo poderoso pode cair nos encantos e feitiços do lugar.

O cenário de Euro Pires e figurino de Miguel Carvalho seguem o estilo barroco colonial e ajudam muito no processo de apresentar a cultura da região. O cenário esquemático é dividido em três para melhor visualização e dinamismo. O inferno é localizado em uma fresta aberta no palco, o céu em um andar acima, enquanto os personagens baianos passeiam pelo palco propriamente dito. Sua trilha sonora derrapa em uma mistura exagerada ao fazer releituras de músicas que marcaram carnavais baianos com ritmos como rock, ópera e até mesmo funk, ao invés de focar somente os ritmos regionais populares, que não provocariam tanto estranhamento e surpresas. Algumas até cabem nesta nova roupagem, mas outras soam distorcidas de sua origem.

O elenco é composto por 16 atores. Frank Menezes encarna bem o escárnio inerente da figura do Diabo e seu humor é irônico na maioria das vezes e, conseqüentemente, mais eficiente, bem ao gosto do autor do conto onde a peça foi baseada. Já Cristiane Mendonça, no papel de Naja, a esposa do Diabo, está impagável. Ela incorpora trejeitos de cobra a cada ação no palco e sua personagem é na medida sensual e interesseira sem nunca perder o traço de comédia em cada fala e expressão. Para completar o rol de protagonistas, Jackyson Costa, ou Deus, encarna um personagem ingênuo com tiradas de humor canastrão e Alan Miranda, um Anjo Gabriel infantil que se revela muito esperto e cômico ao longo da peça. Alguns atores secundários na trama acabam se destacando dos demais como Lázaro Machado no papel de Exu e um dos travestis e José Carlos Júnior, como o Pastor Evangélico.

No final, a peça consegue acumular muitas tiradas espirituosas e para isso se utiliza ao máximo das caricaturas do povo baiano e suas diversas facetas. Apenas encontra problemas quando as atuações ficam aquém da fina linha entre o gargalhar de si e dos outros e de seu personagem. Algumas vezes as alusões a fatos atuais soam forçadas, principalmente nas cenas finais, talvez visando arrancar o máximo de risadas do público e reforçar seu tom popular. Mas elas acabam por esvaziar o espetáculo quando este poderia ser finalizado de modo mais repentino e manter seu ritmo exagerado e frenético, com uma confusão milimetrada que dá charme e traduz fielmente o espírito regional que se propõe representar. Mas não deixa de ser uma boa representação de facetas da cultura baiana e própria para a comemoração original para a qual foi feita.

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Postado por Marília Almeida
19/6/2006 à 00h34

 
Rio das Ostras (IV)

No penúltimo dia de Festival de Jazz e Blues de Rio das Ostras, o público já começava a reparar as características que destacavam os conjuntos de jazz e de blues, respectivamente. E a maior prova disso é a diversidade de perfis dos músicos que, de certa forma, representam o estilo executado. O guitarrista solo de Eddy Clearwater, Mark Wydra, apesar de ser coadjuvante, é o instrumentista que faz a roda girar no grupo. Até porque o baixista, Shoji Nato, e o baterista, Merle Perkins, atuam como base musical. É Wydra quem traz um colorido para as apresentações, abrindo espaço para a performance inusitada de Clearwater - ele entra com cocar no palco.

Mesmo essa percepção, no entanto, tem lá suas exceções. No caso desse festival, não poderia ser diferente. Quem assistiu à apresentação do conjunto do trompetista Wallace Roney pôde conferir, para o bem e para o mal, uma nova versão do jazz tradicional. Essa nova leitura tem como destaque a inclusão de um DJ lado a lado com a bateria, sax, piano e, claro, trompete. Desse modo, foi com certo espanto que o público viu a mescla do eletrônico com o tradicional; a mixagem em meio aos longos solos de trompete e sax. Cabe destacar, aliás, que no palco o grupo tem um jogo de cena particular: o saxofonista e o trompetista só vão à frente quando têm de tocar. Nos momentos de pausa, os dois ficavam atrás do baterista, como se aguardassem o rodízio dos demais músicos.

Nesse sentido, é possível afirmar que o show de Rooney, se não era popular como o blues de Clearwater, definitivamente era inovador, impressionando o público pelo longo tempo dos solos assim como das músicas.

Se o festival começou com o jazz da Banda Mantiqueira, o seu final, tanto no sábado, dia 17, como no domingo, dia 18 (após o jogo do Brasil), foi com o blues do gaitista Charlie Musselwhite - considerado por Carlos Santana como uma fonte de referência no gênero. Nos dois dias, a apresentação dele foi breve, porém não poderia ser mais eficiente no que se refere à interação com os presentes da Costazul e do palco improvisado no Shopping Village. E no que se refere ao show, Musselwhite soube dosar com experiência o blues com outros ritmos musicais, ora flertando com o rock, ora sucumbindo à latinidade, essa graças à participação do também gaitista Flávio Guimarães.

Encerramento
Os quatro dias de Festival de Jazz e Blues de Rio das Ostras provam que o evento já está sedimentado naquela região dos lagos do Rio de Janeiro. Para tanto, se é bem verdade que o apoio institucional é de peso, também é verdade que o público comparece. E não é uma platéia somente de Rio das Ostras. Paulistas, mineiros e cariocas também freqüentaram o Festival, fazendo com que um dos organizadores já dissesse: "até o ano que vem".

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Postado por Fabio Silvestre Cardoso
18/6/2006 às 19h00

 
Rio das Ostras (III)

Os shows do terceiro dia do Festival de Jazz e Blues de Rio das Ostras, a princípio, teriam como destaque apenas as atrações da noite, em Costazul, posto em que à tarde estavam marcadas as reapresentações de dois concertos do dia anterior. Correto? Ledo e Ivo engano. E a performance do James Carter trio mostrou que uma segunda audição do mesmo espetáculo pode provocar ainda mais encantamento.

A apresentação foi na Lagoa do Iriry, às 14h, numa tarde em que o sol trouxe outra perspectiva para o desempenho do conjunto, além do fato de o palco proporcionar outra visão do espetáculo para o público. E as grandes mudanças se restringiram ao plano do ambiente. Isso porque no quesito musical a segunda apresentação do grupo apenas reforçou o sentimento de parte da platéia, assim como da imprensa presente, de que o grupo era a grande atração do festival.

Nesse sentido, um dos detalhes que mais chamaram a atenção foi a unidade do trio. No universo do jazz, não é difícil encontrar músicos de talento e capacidade de formar um conjunto de virtuoses. O que é mais difícil, no entanto, é fazer com que a genialidade de cada instrumentista seja convertida num objetivo musical comum, algo que não fique somente no plano do improviso, mas que seja organizado o bastante para que cada músico saiba encontrar o seu espaço. É exatemente isso que acontece com James Carter, Gerrard Gibbs e Leonard King, saxofonista, tecladista e baterista, respectivamente.

Cabe, aliás, destacar Gerrard Gibbs, que consegue como poucos fazer as vezes de teclado e baixo, em uma articulação que nem de longe dá a impressão de que ele possa estar sobrecarregado. Pelo contrário. A expressão do instrumentista é das mais alegres e vibrantes, sem deixar de ser centrado quando é preciso fazer a retaguarda para os solos de Carter no sax, por exemplo. Por outro lado, durante os solos de Gerrard ao teclado, tem-se a sensação de que o instrumentista criou um novo movimento a partir do órgão. Este repórter arrisca "variações sobre o Hammond", rapidez, agilidade, sem deixar de lado o sentimento em cada nota executada.

A Pianista
Quem vê Helen Sung junto com o sexteto de T.S. Monk não imagina que ela é um dos destaques do conjunto. Talvez seja por sua timidez, ou pelo fato de parecer anódino uma oriental executar o instrumento que consagrou Thelonius Monk. Pouco importa. As impressões que valem são adquiridas durante o concerto. E o público soube perceber a consistência do talento de Sung que, de certa forma, representa o conjunto de T.S. Monk. Explicação: a crítica especializada definiu esta apresentação como conservadora e até previsível, uma vez que o sexteto optou por uma performance mais acadêmica. A avaliação não está errada. Na verdade, esta foi a grande virtude do concerto, pois se a tônica do festival tem sido o estilo mais livre, é ótimo que um conjunto mantenha a tradição. Faz a diferença.

Para este sábado, T.S. Monk repete a apresentação na Praia da Tartaruga (às 17h). No palco da Costazul (às 20h), os destaques são, pela ordem, o gaitista Charlie Musselwhite e o trompetista Wallace Rooney. A cobertura segue daqui.

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Postado por Fabio Silvestre Cardoso
17/6/2006 às 14h30

 
Rio das Ostras (II)

Estava tudo pronto para o show. Na Praia da Tartaruga, um público bastante razoável já aguardava a apresentação do baixista camaronês Richard Bona, mas até as 17h15 só os outros músicos do grupo se encontravam presentes. Bona (pronuncia-se Boná) esperava o término da passagem de som, imaginem vocês, ouvindo música com uma vista privilegiada: da extremidade do palco, contemplando o choque das águas com as rochas. De certa forma, também o seu público ficaria assim, mas por um período muito maior.

Às 17h26, com uma jazz ouverture, Bona e seu grupo começaram de vez a apresentação. Desde o início, cabe destacar que o contrabaixo do camaronês logo se transformou no destaque do espetáculo. Desse modo, a música instrumental foi o grande eixo de todo o show, mesmo levando em consideração as músicas cantadas no dialeto africano. Notava-se, aliás, uma preferência dele, Bona, por essas faixas, enquanto o público se mostrava um tanto reticente. Entretanto, o baixista de tempos em tempos improvisava e, com isso, dava novo fôlego à empolgação do público, que reagia muito bem à performance tal como aconteceu no fim da apresentação. Nesse momento, o grupo enveredou para outro ritmo, numa espécie de citação à música cubana (mais tarde, este repórter viria saber que o baterista do conjunto é cubano). Dos teclados à percussão, tudo remontava às músicas de Ibrahim Ferrer e companhia. E o sol se pôs, pela primeira vez neste Festival, com trilha sonora.

Se os leitores estão lembrados do último post, há uma menção, lá no final, que diz respeito às minhas apostas para a noite de apresentações de ontem. Além de Richard Bona, outro destaque era o James Carter trio. Pois o conjunto não decepcionou. Muito pelo contrário. Executando um jazz de altíssima qualidade no palco de Costazul, sem dúvida o de melhor estrutura desse Festival. Ao longo da apresentação, o público pôde conferir os limites do improviso com alto rigor técnico. Assim, o virtuosismo do trio não se tornou chato; antes, estilisticamente bem elaborado, de modo a conquistar o público a cada frase musical. Com repertório bem escolhido, Carter justificou a escolha dos críticos com uma apresentação simples no formato (jazz trio, sem artifícios eletrônicos), mas contundente na performance - era comum, por exemplo, a seqüência de uma música a outra com intervalos preenchidos por solos de sax (alto, tenor), bateria (por Leonard King) e teclado (por Gerard Gibbs).

O outro destaque da noite foi a presença de Eddy (the chief) Clearwater. Vale a pena ressaltar que, antes de sua entrada no palco, o seu conjunto formado por Mark Wydra (guitarra), Shoji Naito (baixo) e Merle Perkins (bateria) já arrebatava o público com o Twelve-bar-blues tradicional. Era, contudo, apenas uma introdução. Quando Clearwater subiu ao palco deu não somente voz, mas uma outra feição ao conjunto, que foi, a partir de daí, liderado por ele. A contraprova: a brisa do mar já havia se transformado em frio às 23h45 e o público, festivo, não arredava pé. Para tanto, o Clearwater não fez apenas o tradicional, mas trouxe um cardápio variado - do blues de Alabama ao blues de Chicago, passando pelo rockabilly. Ao final do espetáculo, Eddy the chief deu canja com guitarra nas costas. Um grand finale para uma grande apresentação.

Programação de hoje
O Festival continua hoje com as reprises de James Carter na Lagoa do Iriry (14h); Eddy Clearwater (17h); e com a esperada apresentação de T.S. Monk em Costazul (20h).

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Postado por Fabio Silvestre Cardoso
16/6/2006 às 13h30

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