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Quarta-feira,
11/9/2002
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Redação
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Foices, martelos e suásticas
Lamentável a prisão do jornaleiro que vendia adesivos com a cruz suástica em sua banca.
Soou estranha a frase? Pois é. Mas eu não sou fascista não. Só acho que se for assim, Lula, o MST, a CUT e mais meio mundo têm que ser presos, por ostentarem o martelo e a foice comunistas em suas bandeiras e cartazes espalhados por suas sedes por esse Brasil afora, já que só o comunismo soviético matou mais de 30 milhões de almas, fichinha para Hitler. Além disso, deveriam prender outros jornaleiros que vendem CDs e camisetas do Che Guevara também, já que ele era um assassino, ainda que conservasse a ternura!
Aliás, vamos prender logo todo mundo, pois, com esse tipo de raciocínio da mídia esquerdista brasileira, tenho certeza de que não seria difícil encontrar um motivo para prender qualquer cidadão desse país. Não tenho mais nada a declarar sobre esse assunto. Quem quiser conferir um ótimo texto sobre ele, pode clicar aqui. O texto se chama "O jornalismo paranóico da mídia esquerdista brasileira: agora, a culpa é do jornaleiro".
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Evandro Ferreira
11/9/2002 às 21h27
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Osama Bin Reagge
Um conhecido meu passou três dias preso, na semana passada, dividindo cela com aquele assassino do cinema, com o da menina Tainá e com um padre pedófilo - e corre o risco de passar ainda mais. Seu crime? A banca da qual ele é dono vendia adesivos com a suástica estampada. Não importou que os adesivos fossem pequenos e que viessem em uma cartela junto com vários outros símbolos. Um rabino passou na frente e o denunciou. A dúvida pode ser, agora: a que pena condenar milhares de skinheads que carregam o emblema nazista tatuado próprio corpo?
Mas eu tenho uma pergunta muito melhor: se a pena precisa ser proporcional ao crime, quantos anos enjaulados merecem os alunos de História de USP, que estão organizando uma festa que elogia o atentado terrorista de Osama Bin Laden? Ou o título da festa, Osama Bin Reagge, não é prova suficiente de insensibilidade doentia e apologia ao crime, em um momento em que milhares de famílias inocentes lamentam suas perdas?
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Eduardo Carvalho
11/9/2002 às 11h07
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Conscientização
Sabe qual é o problema que prende o Brasil à latrina? Essa história de "conscientização". Todo mundo fica achando que, para resolver a situação, é preciso conscientizar as pessoas de como é a pobreza. Então, estamos cheios de burocratas incompetentes conscientizados, economistas estatistas keynesianos conscientizados, militantes xiitas ignorantes conscientizados, filósofos niilistas conscientizados, jornalistas esquerdistas conscientizados. E, no topo da pirâmide, se tudo der "certo", teremos um Presidente da República que mal fala português, conscientizado.
Acorde, Lucas. O país não vai sair do buraco com essa "conscientização". E o que você chama de burguesia não é sustentada pelos pobres. Ela é o sustentáculo do Estado dinossauro que está doidinho para ver o fim das eleições para dar mais uma crescidinha (seja com que candidato for) e fazer mais idiotices para "ajudar os pobres", como sempre.
E enquanto isso, inocentes cidadãos saem das seções de Cidade de Deus e vão correndo engrossar as fileiras das ONGs e partidos socialistas, para lutar contra os malvados "neoliberais", classe de composição randômica formada por quaisquer indivíduos que não compartilhem da estreitíssima ideologia PT-Farc-MST.
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Evandro Ferreira
9/9/2002 às 23h38
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Latrina real - Cidade de Deus
Eduardo, concordo com sua posição de ser contra ou não concordar com um cinema de recursos fáceis voltados a chocar o espectador. Mas isso é um artifício válido e que, em partes, colhe um resultado. Se for o esperado pelos idealizadores, nunca se sabe. As cabeças são muitas e as interpretações, individuais. Não acho q Cidade de Deus seja um excelente filme. O livro o é, mas tb senti uma certa opção por recursos q facilitem a digestão de tanta violência e, principlamente, q favoreçam a venda no filme no exterior. Algum crítico já definiu como violência para exportação. Concordo parcialmente com ele e com o q tu disses nesse espaço. Mas fechar os olhos pra isso não é a melhor solução. Esse tipo de cinema existe, faz sucesso com o público q freqüenta as salas. E a tal realidade ali mostrada tb importa a nós. Os Zé Pequenos da vida são resultado direto da nossa sociedade. Eles sustentam nossa vida de classe média burguesa. Enquanto discutimos a violência teoricamente, eles estão discutindo na prática!! E isso é muito cruel!! Não podemos fugir desse embate e simplesmente dizer q não nos interessa. Não interessa até estar aquilo tudo embaixo de nossa sacada, com um revólver disparando rumo a algum familiar ou a um papelote de cocaína encontrado no bolso de nossos filhos ou irmãos... Tu não és obrigado a aturar nada, mas para ser um verdadeiro cidadão é preciso estar consciente da situação do país. E a de Cidade de Deus é uma realidade q virou rotina em certos pontos do Brasil. Ainda não nos atingiu, mas estamos à mercê de qquer bandido ou traficante q anda pelas ruas. Precisamos lutar com nossas armas, e não digo q seja conhecer o mundo cão em q vivem literalmente. Fazemos parte de uma elite voltada a pensar soluções e alternativas, exigir de quem pode mudar significativamente. Aqueles da favela não têm voz suficiente para q os ouçam; nós temos e é a isso q devemos nos apegar.
Não consigo me imaginar ausente desse mundo, apesar de haver segregação. Moro em realidade diferente daquela, mas tenho a consciência de que a latrina de meu banheiro seria a mais suja e fétida se fechasse os olhos para essa realidade.
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Lucas Rodrigues Pires
9/9/2002 às 16h13
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Mundo negro, branco na capa
Um comentário sobre a Revista de Cinema, edição de setembro, que não fugiu à regra e colocou Cidade de Deus na capa. Essa capa traz o excelente ator Matheus Nachtergaele, que faz uma ponta no filme. Interessante notar que 99,5% nos atores de Cidade de Deus são negros e a revista colocou o único com visibilidade que é branco... O que isso quer dizer? Muitas coisas e nada também... Mas é de se estranhar que o único ator conhecido e branco do elenco receba presença exclusiva na capa de uma revista que traz uma matéria sobre um filme praticamente só composto por negros. Não querer marginalizar pela cor é uma coisa, agora "maquear" o filme é outra... Afinal de contas, a capa de uma revista expõe sua alma. E a de Cidade de Deus, definitivamente, não é branca em seu conteúdo...
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Lucas Rodrigues Pires
7/9/2002 às 15h32
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A elegância da latrina
O que acontece é que eu estou cansado de recursos fáceis e desgastados que pretendem me chocar - pobre se drogando, policial corrupto, adolescente estuprada, assassinato de criança, etc, etc. Cidade de Deus não banaliza a violência porque ela já está banalizada há muito tempo. Essa "realidade" exposta pelo filme foi mais do que explorada pelo cinema brasileiro, como se já não bastasse, para quem mora em São Paulo, a agressividade, a sujeira e a feiúra da própria cidade.
Quando eu estava na quinta série, por exemplo, fui obrigado a ler um livro chamado "Mais do que a realidade", escrito por um tal de Paulo Cohen, ex-menino de rua que, depois de uma oportunidade para se educar, integrou-se socialmente. Para a escola em que agora estudo Administração de Empresas, precisei ler, em Teoria das Organizações, o livro "Estação Carandiru", em que Drauzio Varella relata suas experiências como médico num presídio paulistano. E isso não é nada. Quem acompanha atentamente o circuito de teatro ou artes plásticas brasileiro também está saturado de experiências "conscientizadoras", em que, através de fotos, instalações, representações, precisa engolir a arrogância de supostos artistas, esses sim, segundo eles mesmos, conhecedores da realidade dos oprimidos. Pois eu acho tudo isso uma tremenda babaquice.
Eu não agüento mais o discurso repetido, desde que estou na quinta série, de que eu preciso conhecer o estilo de vida a que os marginalizados estão condenados. Eu já sei qual é. E concordo, inclusive, que Cidade de Deus é, na medida do possível, fiel a essa realidade. E daí? Minha conclusão é muito simples: essa realidade me interessa muito menos do que eu sou obrigado a aturá-la.
Reconheço que a produção do filme é competente, o que, entre filmes nacionais, é uma raridade. As atuações também são muito convincentes - mas não pelos atores terem sido escolhidos na favela (o que não é mérito nenhum), e sim porque eles são bons mesmo. Todos os detalhes do filme foram ajustados para exportação, o que não é um defeito. O que incomoda são os estereótipos reforçados, da favela e dos traficantes, preparados com cuidado para agradar júris de festivais internacionais. E eu não sou júri de festival nenhum.
Minha posição é muito tolerante mas inflexível, porque baseada em experiências pessoais, que são insubstituíveis por justificativas históricas ou sociológicas . É um absurdo, para mim, depois de crescer lendo e ouvindo sobre favelados, ler e ouvir agora, mais uma vez, que eu preciso saber como esse mundo funciona. Meu contato com esse mundo é, insisto, quase tão constante quanto o que tenho com a privada em que descarrego minhas porcarias. O significado que Cidade de Deus tem pra mim, portanto, não vai além do que uma latrina mais elegante teria.
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Eduardo Carvalho
6/9/2002 às 18h25
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Re: Intestino Descarregado
Alguém, enfim, falando mal de Cidade de Deus... Isso é muito bom para o debate sobre a violência, questão central do filme, e também sobre o próprio cinema brasileiro. Que meu colega EC não tenha gostado do filme é aceitável, mas inaceitável é que venha blogar e despejar uma comparação sem nehuma argumentação... O filme falseia a realiadade? Não creio. É moderno e simpático demais na forma que trata o assunto? Sim, em partes apresenta uam estética q~ue não se costuma ver frequentemente por aí. Compararam Meirelles a Tarantino. Depois de ver Cidade de Deus revi Pulp Fiction. Não tem nada a ver um com o outro. A violência pode estar nos dois, mas são mostradas de formar distintas, apesar de ambos a banalizarem, e aqui não utilizo o termo no sentido negativo que adquiriu com a televisão. Mas a acusação de ser falso, mesmo cheirando mal, não cola. Se assim for, todo e qualquer filme seria o tal pinico cheio de m. querendo se passar por arte. Exagerou na dose, amigo, porque cinema é a arte da encenação mesmo. Em Cidade de Deus, se você perceber bem, o único ator desconfortável (ou menos "dentro" do papel) é o Matheus Nachtergaele. A realidade dele é oposta à retratada no filme. Dos demais atores, quase todos negros recrutados nas favelas, vc só consegue sentir familaridade com aquilo que vivem. Eles não eram bandidos, mas conviviam com aquele cotidiano que desumaniza o homem. Esse é o ponto de maior ousadia do diretor - contratar esses garotos dos morros - e maior grandeza de Cidade de Deus. A história do Paulo Lins é fantástica, mas só poderia existir em imagens se fosse possível certa "realidade" de personagens. VC quer melhor Zé Pequeno que o Leandro Firmino? E o Bené então, não passa a dualidade de seu personagem do livro?
O debate é bom, me proponho a fazer isso com quem quiser entrar na roda. Estão todos convidados! Não só o companheiro Eduardo, mas os demais que acham que Cidade de Deus é um pinico "cagado" vendido como arte (desculpem-me o termo, mas o Eduardo começou com isso; mas prometo não reutilizá-lo mais...) vendido como porcelana e também aqueles que o vêem como obra-prima divisora de águas (o caso de Arnaldo Jabor, que, às vezes, tem acessos de lucidez em seus artigos no Estadão.
Enfim, os críticos todos devem viver com prisão de ventre. Inclusive eu. Abraço.
PS: Quem ainda não viu Cidade de Deus, deve ver. Vale a pena.
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Lucas Rodrigues Pires
6/9/2002 às 14h15
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Who hates America
Só para constar: este trecho vem do editorial da revista "The New Republic" de 24 de setembro de 2001. É a revista mais direta e lúcida do mundo - e política é a sua especialidade. Claro: não está disponível em nenhuma banca brasileira, mas isso não faz diferença. Internet é pra isso mesmo. Olha só:
"The spectacle of American happiness provoked opposite reactions in the suffering regions of the world. Briefly, it provoked a love of America and a hatred of America. There were many who wanted an American happiness for themselves and their children, and they did what they could do to gain it. But there were many who chose to condemn what they could not attain--whose envy of America curdled into resentment, and whose resentment curdled into an analysis that made America responsible for the non-American conditions of their lives, and whose analysis curdled into ideologies of "resistance" against the symbols and the interests and the allies of the United States.
Anybody who hates modernity hates America. Anybody who hates freedom hates America. Anybody who hates privacy hates America. Anybody who hates human rights hates America. Anybody who hates ballots and bookshops and newspapers and televisions and computers and theaters and bars and the sight of a woman smiling at a man hates America."
Perfeito - principalmente a última frase. Parece até que eles frequentam nossas universidades. Mas só pra completar, de minha parte:
Anybody who hates shower hates America.
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Eduardo Carvalho
6/9/2002 às 13h20
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Intestino descarregado
Esse filme Cidade de Deus está para o cinema assim como um pinico entupido de merda está para as artes plásticas. Um pinico pode mesmo ser construído com cuidado e decorado com carinho. E a merda, se for falsa, pode ter a cor, a consistência e o aroma exatamente iguais ao de uma bosta verdadeira - e isso pode até ser, para algumas pessoas, impressionante. Mas continua sendo tão impressionante quanto um penico recheado de titica. Cidade de Deus só pode produzir algum efeito em quem sofre de prisão de ventre.
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Eduardo Carvalho
6/9/2002 às 13h20
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Cidade de Deus na BRAVO!
Estava tentando escrever alguma coisa sobre "Cidade de Deus" para minha coluna de quinta-feira. Desisti depois que li a matéria sobre o filme na revista BRAVO! de setembro, cuja capa aborda o complexo mundo da transposição às telas da fragmentada narrativa de Paulo Lins. Com todo o apoio da Globo na divulgação de sua estréia, a obra de Meirelles é assunto obrigatório entre a classe média mais consciente. Ficará feio dizer que não assistiu Cidade de Deus, que vem sendo tratado como obra-prima. O filme é bom, levanta diversas questões e "lineariza" o livro. Está acima da média, principalmente pela atuação do elenco, todo recrutado em favelas cariocas. Quem puder, além de ler a revista, leia também o livro e terá uma visão mais ampla e cruel do que "Cidade de Deus", o filme, mostra da própria Cidade de Deus, a favela...
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Lucas Rodrigues Pires
4/9/2002 às 14h36
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