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BLOG

Quinta-feira, 10/8/2006
Blog
Redação
 
FLIP 2006 I

Quarta (ontem). Tentei sair mais cedo do escritório do Digestivo. Quando digo "cedo", digo antes do horário do rush. Colunas, Digestivos, Ensaios, Newsletters - não consegui. Saí às 18h30, mais ou menos. Eu sei: saí no pior horário possível e imaginário para uma cidade como São Paulo. Mas eu não agüentava mais: queria ir embora. Fui.

* * *

Deu 20 horas, eu estava no posto BR em que costumo parar com a Carol (quando vamos para Angra). Tomei um café de caminhoneiro (no copo), comi um pedaço de pizza e um bauru. Comprei a Istoé Dinheiro. Algumas matérias sobre internet; o "ocaso" de Jack Welsh (é assim?)... (Isso me interessa? Desde que eu comecei a colaborar com a GV-executivo, e comecei a encarar a Web como business me interessa, oras.) Mas estou perdendo o foco.

* * *

Por alguma razão que agora me escapa, estão dando uma "geral" na estrada perto de Taubaté, onde eu sempre desço a serra. Rodovia Oswaldo Cruz (não sei se é com "v" ou com "w" agora). Estava previsto para eu descer, em direção a Ubatuba, lá pelas 22 horas, mas o caminho me pareceu tão diferente que eu não reconheci as placas e voltei (!). Até o posto Aster (a Carol vai reconhecer essa referência). Na brincadeira, perdi entre 15 minutos e meia-hora. Cheguei a Parati à meia-noite.

* * *

Para chegar na pousada, que era do outro lado do rio, tive de pegar a "beira-rio" conforme o garçom vesgo e disléxico do "Porta Fortuna" (agora em outro estabelecimento) me indicou. Não sei se é porque eu estava cansado, mas as vagas me pareceram apertadas, não achei cabide, nem cadeira, nem lugar para deixar as roupas... Para completar, a pia do banheiro entupia um pouco, eu ouvia o barulho do outro quarto, fui deitar com a cabeça girando, tomei uma aspirina e dormi.

* * *

No dia seguinte, hoje de manhã, a pousada continuou com alguns defeitos. A porta do banheiro foi mal colocada ("colocador" bom de porta é coisa difícil, meus parentes arquitetos, e engenheiros, me ensinaram...), assim eu tentava fechar e ela abria sozinha. Fora isso, a porta do quarto estava com a maçaneta torta, pois o trinco não encaixava direito no buraco feito para isso, então todo mundo que deve ter tentado fechar antes de mim, puxava mais um pouco entortando sempre (mais) a maçaneta.

* * *

Mas vamos à Flip. No café da manhã (o café da manhã é bom, o que deve compensar as falhas da pousada, acho), duas senhoras, do Rio, reclamaram do corre-corre com relação à compra dos ingressos que, parece, neste ano, se repetiu. Outra senhora, ao meu lado durante a primeira mesa a que assisti, foi simplesmente a primeira da fila quando abriu a Fnac (quando abriram a venda dos ingressos). A Flip, me parece, é o único evento em que ir pessoalmente ao guichê pode resultar mais eficaz do que tentar comprar pela internet...

* * *

A primeira mesa, Invenções do Interior, foi, por ordem de entrada, de André Laurentino, Maria Valéria Rezende e Juliano Garcia Pessanha. Mas o que me espantou, às 10 da manhã, foi a aparição do Marcelino Freire como mediador. Tudo bem que ele ganhou o Jabuti na categoria conto, então, depois disso, nada mais me espanta. Mesmo assim, me espantou porque ele esteve na Flip de 2004, não esteve na de 2005, se "revoltou" e ajudou a criar a Flap!, que, segundo os criadores (ele incluido), é uma resposta à Flip, contra esse evento de "elite" em Parati. Aí, então, abre a Flip, e quem está logo na primeira mesa? Marcelino Freire!

* * *

O André Laurentino é um cara legal. Foi meu colega de Milton Hatoum na Casa do Saber. Depois, na mesa, contou que fez a oficina com ele na Flip 2004, conheceu o Paulo Roberto Pires, que quis editar o seu livro, teve um trecho do mesmo analisado na Flip 2005 e agora, para coroar o processo, foi autor convidado da Flip 2006. Confesso que folheei A paixão de Amâncio Amaro, quando recebi, mas não me interessou. Foi para alguém do Digestivo. Enfim, ele falou razoavelmente bem das três personagens do livro, com muito conhecimento de causa (técnica, psicanálise, essas coisas).

* * *

Depois veio a Maria Valéria Rezende. Uma freira simpática, falou pouco de religião, parece ter um trabalho bonito em educação (mesmo) e detesta a expressão "pessoas carentes"... Mas quem me surpreendeu, por incrível que pareça, e ao público também, foi o Juliano Garcia Pessanha. Não sei se se fingindo de bêbado, não sei se no meio de uma ressaca mesmo, quando ele falou, eclipsou todos os outros. A moça ao meu lado comentou: "Acho que ele tá meio alterado...". O que sai do script é sempre o melhor da Flip.

* * *

Anotei algumas pérolas do Juliano: "Quando convidam você para a Flip, tem uns que dizem: eu vou; outros que dizem: ah, eu não vou. Eu disse: eu vou, mas eu não sei, não... Então, quando a Ruthinha me convidou [Ruth Lanna, organizadora da Flip], eu trouxe um plano A, um plano B e um plano C. Se o plano C não funcionar, eu uso o plano D: eu saio"; "Vou ler o que escrevi ontem [para a mesa], de corpo presente, porque a minha alma já não sei mais onde tá..."; "Me deram umas coisas para eu beber ontem. Há muitos anos que eu não bebo. Eu nem posso beber, então hoje eu tô muito estranho..."; "Estou aqui à base de corticóide(s)"; "[No meio da leitura...] Essa parte é meio chata mesmo, mas depois melhora. É que nem no colégio, quando eu ia em palestra e pensava: tudo bem, eu vou mas eu não vou prestar a menor atenção..."

* * *

O texto dele não era - realmente - bom, e eu acho que não gostaria dele como escritor. Coisas como "humanidade longe da linha de eclosão" ou "combate para encontrar um lugar no acolhimento". Ou ainda "sem olhos para ver o alastramento do sinistro", ou então "interromper o fluxo de sentimentações" (esse "sentimentações", ele confessou que pegou da Clarice - às vezes eu penso que a Clarice fez um enorme estrago nas gerações futuras...). Enfim, era um sujeito inspirado. Mas não para escrever. Talvez para viver. Um artista da vida, como dizia Oscar Wilde. E não um "artista da arte".

* * *

A segunda mesa, Vozes em Verso, foi um pouco mais desanimada, apesar da mediação do Paulo Henriques Britto. Mesmo balanço do ano passado: dois poetas de mentira e um de verdade. No ano passado, não sei se vocês se lembram, mas o poeta de verdade era o próprio Paulo Henriques Britto, que arrancou até assobios da platéia. Neste ano, era o Carlito Azevedo, que é meu colega de edição - no caso dele, das revistas Inimigo Rumor e Ficções. A Astrid Cabral vinha com coisas como "amor como tremor de terra", "nas entranhas da minha alma", "ruínas, cinza, lama" - que, convenhamos, parece poesia de colégio. Depois, o Marcos Siscar, com coisas como "o peixe é um ser mudo que desliza", "coreografia muda de espanto" e "escamas de dois gumes"... (Nem preciso comentar.)

* * *

Vê se você não acha o Carlito muito melhor: "lilases da estação passada", "curto-circuito na grama", "leões marinhos dançando ritmos agilíssimos" e "parangolés de brumas". Fora que ele falou, sabiamente, que nossos dois modelos estão mortos: a crítica e a língua. Atualizou, ainda, "Uma passante" de Baudelaire - enquanto os outros ficavam em "meu coração era do tamanho do mundo" (sub-Fernando Pessoa) e "a água doce não é tão doce, antes fosse" (sub-qualquer-coisa-muito-básica). Carlito encerrou suas leituras com a bela tradução que fez para um poema, francês, descrevendo um beijo.

* * *

Acho que está bom para o primeiro dia. Senão, vocês não agüentam ler. Amanhã repercuto mais algumas coisas de hoje, OK? Vou tentar colocar agora algumas imagens, mas não garanto. Nem links... Tudo muito precário aqui. A luz, na sala de imprensa, acabou algumas vezes. Se eu não estivesse no Gmail, tinha perdido tudo. Como o Christopher Hitchens, do meu lado, no Hotmail (quem mandou?), acha que perdeu... O pior é que ele tinha de mandar hoje para um paper (jornal) em London (Londres). E agora? O Jonathan Safran Foer estava lá fora quando saimos. Estava escuro. Eu e Chris quase trombamos nele. Sério! Na Flip, é assim.

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Postado por Julio Daio Borges
10/8/2006 às 20h00

 
Salão do Livro de BH

Começa dia 10 o Salão do Livro de Belo Horizonte, que acontece na Serraria Souza Pinto e traz, além dos estandes de livrarias, oficinas, mesas-redondas e noites de autógrafos. O tema deste ano é a literatura no Mercosul. A série de entrevistas "Encontro Marcado" também está de volta e trará Luís Fernando Veríssimo, Bartolomeu Campos de Queirós, João Gilberto Noll, entre outros. Vale a pena conferir a oficina da Memória Gráfica e entrar nas mesas para discutir. Não é tão badalado quanto outras festinhas literárias, mas é bacana.

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Postado por Ana Elisa Ribeiro
9/8/2006 às 23h57

 
4 anos da Revista Coyote

Por que a comemoração após quatro anos de vida? Há sempre que se comemorar a teimosia e a insistência de uma revista literária, num país em que a maioria das publicações não passa do segundo ou do terceiro número. Acho que contribuímos com a formação de jovens autores publicando textos radicais, com uma abordagem radical, do Brasil e de outros países. E abrindo espaço para autores que ainda não alcançaram repercussão com seu trabalho. Mas não estamos muito preocupados com a "formação" de jovens autores. Estamos preocupados em fazer uma revista que gostaríamos de ler. Acho que é essa a razão do sucesso da Coyote. Porque há mais pessoas que gostam de ler os autores que publicamos. Costumo dizer que a Coyote é uma revista autoral. Os editores funcionam como maestros, regendo uma orquestra de autores e textos que consideramos importantes dar voz e vez.

Ademir Assunção, escritor e editor da revista de poesias Coyote, após uma noitada no ABC regada a álcool, música e muita, mas muita, poesia.

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Postado por Marília Almeida
9/8/2006 à 01h01

 
Mais um na multidão

Olá! Eu não sei como começar. Nunca escrevi um blog. Jamais mexi em um template. Nem sabia o que era PHP. Mas após trocar idéias com algumas pessoas fiquei com essa vontade de escrever sobre tecnologia. Wordpress, hospedagem, registro de domínio... Fui descobrindo aos poucos. Agora até tenho uma noção de PHP!

Escrevi o primeiro post. Submeti à avaliação de uma amiga jornalista. "Muito grande! Dê um toque mais pessoal!", sugeriu. "Isso parece texto de jornal!", finalizou! Hehe! Valiosas dicas! Era isso que eu precisava! Mas mesmo assim eu não sei por onde começar. Por isso resolvi escrever esse texto. O pontapé inicial, o quebra-gelo, a grande estréia... O resto é conseqüência!

Alexandre Fugita, que pretende escrever sobre tecnologia. [E que linca pra nós!]

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Postado por Julio Daio Borges
9/8/2006 à 00h36

 
Prêt-à-Porter 8

Depois de temporada no SESC Ipiranga, o recente Prêt-à-Porter 8, coordenado pelo diretor Antunes Filho, agora sobe ao palco da sala do CPT, no SESC Consolação. Praxe do projeto, nascido em 1997, o espetáculo é formado por três cenas nascidas em exercícios de interpretação que passam por progressivas elaborações.

Esta oitava incursão do projeto tem uma tônica algo diferente das anteriores. "Ponto sem retorno", com os experientes em PPT Emerson Danesi e Marcelo Szpektor, é tocante e profundo. Mostra um reecontro de dois ex-colegas de turma, relembrando passagens e discutindo seus antigos anseios e a realidade da vida. Os silêncios pesam tanto quanto as palavras, em meio a sugestões e gestos sutis.

"Exiladas", com Marília Simões e Aline Filócomo, traz à cena duas solitárias amigas em uma noite de natal. Seus diálogos aparentemente inusitados provocam risos, mas com um quê de constrangimento. Somos levados aos poucos à essência daquelas personagens, que se mostram complexas e cheias de sentimentos.

Por fim, e talvez na cena que mais destoe da trajetória do CPT, "Velejando na beirada" é uma hilariante conversa entre dois amigos, em um cemitério. O tema: a morte. Marcelo Szpektor e Pedro Abhull arrancam gargalhadas da platéia, com notável domínio de palco e um ótimo texto.

Um espetáculo intimista, aparentemente despretensioso, que lembra uma aquarela ou um quarteto de cordas. Interessante para ver um belo trabalho de ator, baseado em uma longa esteira de pesquisa em interpretação e dramaturgia.

Para ir além
Prêt-à-Porter 8 - Espaço CPT - SESC Anchieta, 7º andar - R. Dr. Vila Nova, 245 - Vila Buarque - Tel. (11) 3234-3000 - Reservas no tel. (11) 9413-0967, com Geraldinho - R$ 10,00 - Até 16/12

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Postado por Guilherme Conte
8/8/2006 às 15h16

 
Um Paraíso para Moacir Santos

Da Folha:

"O brasileiro Moacir Santos, que fez carreira dentro e fora do país como saxofonista, compositor, arranjador e maestro, morreu no domingo (6) aos 80 anos na Califórnia (EUA), onde morava há cerca de 40 anos. Ele estava internado desde a última sexta-feira em conseqüência de um derrame."

Felizmente Moacir Santos teve tempo para se ver reconhecido em seu próprio país - ainda que tardiamente - com o lançamento dos ótimos Coisas (de 1965, relançado em 2004), Ouro Negro (CD, de 2001 e DVD, de 2005) e Choros & Alegrias (2005). Foi aclamado por público e crítica, deu entrevistas, apareceu na mídia. Há expectativa de que sejam relançados aqui no Brasil seus discos Maestro (1972) e Saudade (1974) (lançados originalmente pelo antológico selo Blue Note).

Moacir foi exímio compositor, arranjador e maestro - suas orquestrações são de tirar o fôlego; costurava como ninguém brasilidades, influências jazzísticas e clássicas. É uma figura obrigatória na música brasileira - sua audição é imprescindível. Para pinçar algumas poucas canções de tantas boas fiquemos com "Paraíso" (do disco Choros & Alegrias), "Maracatu, Nação do Amor" e "Bluishmen" de Ouro Negro e "Coisa no. 4" e "Coisa no. 5" do disco Coisas. (Na Rádio UOL tem pra ouvir.) Mas o repertório é brilhante - vale ouvir tudo.

E, aqui, um vídeo de Ed Motta cantando a linda "Orfeu" no DVD Ouro Negro.

Se houver uma "outra vida" que o maestro esteja agora num "Paraíso" tão sublime quanto a canção que escreveu.

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Postado por Rafael Fernandes
8/8/2006 às 13h32

 
YouTube e aberturas de novelas

Mais uma do Inagaki. Lembro de Final Feliz, de Champagne e muito de Transas e Caretas. Na categoria pitorescas, eu colocaria Sem Lenço, Sem Documento, Feijão Maravilha (da qual eu também me lembro no Vale a pena ver de novo) e Brilhante (apesar da música do Tom Jobim...). E as que me surpreenderam (para bem): Dancin' Days, Pecado Capital (com música do grande Paulinho da Viola) e Kananga do Japão (por incrível que pareça...). Tieta só se for pela nudez da Isadora Ribeiro (a trilha sonora, aliás, dá uma idéia de como viemos decaindo...). A nostalgia da TV é o início do fim da TV. E viva o YouTube!

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Postado por Julio Daio Borges
8/8/2006 às 09h14

 
Gênios da vida real II

Fiquei emocionada com a mensagem da sua leitora. Parecia minha história. Também fui superdotada em criança, também fiz teste de QI por sugestão de psicólogos (escrevia ao contrário, montava quebra-cabeças de cabeça para baixo, porque do jeito comum achava muito fácil) e estourei todos os limites do teste para crianças, fui ao máximo, que era 18 anos, algo assim, pelo que conta minha mãe, eu não lembro. Sofri muito a vida inteira me sentindo uma E.T.: entendia tudo mais rápido do que os outros e achava a escola um saco. A faculdade idem. Entrei e sai de várias e me formei em jornalismo mas nunca exerci. Tinha fama de gênio excêntrico e muita gente me temia um pouco apesar de nunca ter sido agressiva, só diferente. Cobrei demais de mim e acabei não realizando o que pretendia. Nunca tentei suicidio, mas vivi em psiquiatras por causa de angústias, fobias, delírios pessoais. Casei, descasei, tive muitos amores mas não consigo me relacionar bem com ninguém, sou diferente demais para isto. Desisti. Fui artista plástica anos e cheguei a ter algum sucesso, matéria em jornais, participei de salões famosos e de uma bienal. Larguei tudo para ser escritora, sou conhecida em um nicho na Web, tenho um blog literário e me sinto feliz escrevendo - me acalma. Pretendo publicar um livro, já tenho vários prontos. Meu problema é paciência para realizar. Sou "mental" demais para o real. Paz é coisa rara para mim. Adoro resolver problemas de lógica dedutiva e romances policias de dedução. Isto também me acalma. Tenho uma filha que amo e que consegue se relacionar com esta figura complicada. Enfim, eu concordo plenamente com a leitora. A inteligência me fez sentir orgulho algumas vezes, o que não significou felicidade alguma e me fez sempre diferente, alguém que muitas vezes escreve coisas simples que os outros não entendem. Desisti de tentar ser entendida. Os que me amam, eu amo. Os outros são de outro planeta. Algum dia construo um foguete e chego lá. Ou, não. Não quero ser identificada, enviei a mensagem apenas porque parecia a minha vida.

De outra Leitora, que também prefere ficar anônima.

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Postado por Julio Daio Borges
7/8/2006 às 09h52

 
A foto original de Che Guevara

Qual é a história por trás de uma foto? Ainda mais uma que virou ícone de uma geração, estampada exaustivamente em camisetas? Um foco rápido e acidental com uma câmera de 35mm, durante um ato de comemoração a vítimas de uma explosão, que conseguiu capturar o olhar distante de Che Guevara, considerado o herói da Revolução Cubana. Esta aura, aliás, foi perfeitamente captada pela foto O Guerrilheiro Heróico, que o fotógrafo publicitário e retratista de Havana Alberto Díaz, o Korda, tirou em 1960. Bom, nem tanto, já que descobrimos que a famosa foto foi cortada e endireitada em um ângulo mais certeiro.

É sua original que pode ser visualizada na exposição fotográfica A épica revolucionária cubana, na Galeria Senac Lapa Scipião, em São Paulo, até o dia 18. É a primeira realizada pelo Instituto de Mídia e Artes (IMEA), pólo de pesquisa em mídia criado em 2005, em parceria com a Fototeca de Cuba. Sua curadoria, aliás, é de Nelson Ramirez de Arellano, fotógrafo e curador-chefe da Fototeca.

Ela é apenas o começo de um intercâmbio artístico e cultural entre Cuba e Brasil. O grupo pretende levar a exposição para galerias no Rio Grande do Sul e trazer, em 2007, uma mostra sobre fotógrafos cubanos contemporâneos, além de selecionar trabalhos de fotógrafos brasileiros para uma exposição coletiva em Havana.

A mostra é uma seleção de fotos dos primeiros anos da Revolução Cubana. Em 69 obras em preto-e-branco, que abarcam o período de 1959 a 69, é possível ter uma noção do trabalho de oito fotógrafos expoentes do período: Corrales, Korda, Oswaldo Salas, Libório Noval, Perfecto Romero, Ernesto Fernández e Roberto Salas.

As fotos de Raúl Corral, o Corrales, recentemente falecido e que trabalhou para a agência de propaganda do Partido Socialista Popular de Cuba, conseguem captar as fortes expressões dos milicianos, como em La boda del miliciano, onde podemos ver, literalmente, um casamento no fogo cruzado e sentir um pouco do sentimento militante da época. Mas é Caballeria (60) sua foto de maior destaque. Apesar de parecer as antigas cavalarias napoleônicas, o contraste dos sombreiros e óculos escuros dos sorridentes cavaleiros montados em imponentes cavalos brancos não nos deixa enganar sobre qual é o tema tratado. A contradição da revolução é bela e veemente.

Libório Noval nos mostra a cara do sofrido povo cubano. Mas Perfecto Romero, assim como Alberto Díaz, o Korda, nos mostram o outro lado. É em certo sentido até uma contradição com estes rostos vermos Fidel e Che jogando golfe ou pescando. Mas aí está uma coisa curiosa: quando retratados próximos ao seu habitat ou como proletários, a aura de salvadores de uma nação, seja no olhar, no sorriso, teimam em não escapar dos retratos. Principalmente Che, que, em todas as fotos, aparece com o mesmo olhar distante da foto que o tornou um símbolo.

É a foto de Roberto Salas, La Señora e a Bandera, que é talvez a que mais marca a ousadia da luta cubana ao mostrar uma bandeira do Movimento Revolucionário de 26 de julho hasteada no alto da Estátua da Liberdade. Já Oswaldo Salas completa esta visão dando um panorama impressionante: o coletivo. Fotos como Playa de Girón (61) e Santiago de Cuba (64) exploram a eficiência dos discursos e figura de Fidel ao nos depararmos com uma praça repleta de pessoas vista de um ângulo igualmente impressionante e, na outra, Fidel ao microfone, com uma forte expressão e céu sombrio ao fundo.

Por fim, cada um dos fotógrafos destaca uma visão do que foi a revolução e conseguem se diferenciar e imprimir sua personalidade dentro da mesma temática. O que temos ao final é uma bela amostra de muitas facetas do sonho cubano perdido. O preto e branco confere um quê saudosista especial a elas. No final, nem é tanto a técnica fotográfica que vale, já que as câmeras fotográficas da época eram muito limitadas. Mas um sentimento coletivo que não se esvai em nenhuma delas.

Para ir além
Galeria Senac Lapa Scipião
Rua Scipião, nº 67
Tel.: 11 3866-2500

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Postado por Marília Almeida
7/8/2006 às 08h25

 
Gênios da vida real

Oi, Julio.

Escrevo para vc diretamente pq preferi não publicar meu comentário.

Li seu artigo sobre Glenn.

Sabe, eu fui menina-prodígio, e do tipo raro, porque dominava mais de uma linguagem criativa: cantava afinadíssima desde os três anos, decorando letras em duas línguas além do português: o italiano e o francês. Desenhava desde os dois anos figuras humanas com olhos e bocas. Aprendi a ler e a escrever sozinha dos três aos quatro anos e escrevia poemas aos seis.

Minha mãe e meu pai não sabiam o que fazer comigo, mas guardaram os registros: tenho fita gravada da minha voz, primeiros desenhos, poemas. Fiz um teste de QI aos cinco anos mas nunca me disseram o resultado exato, mas sei que foi bem acima da curva de Gauss. A pedagoga, segundo minha mãe, sugeriu que eu levasse uma vida tão normal quanto possível, estudando num colégio normal, etc, etc.

Contudo, quando a gente é mesmo muito diferente, não adianta: a gente sofre muito. Não tô fazendo apologia do sofrimento de artista não, é sério. Fiz tentativa de suicídio duas vezes. Fiz psicoterapia (o que me salvou e ainda me salva quando estou no limite) muito tempo. Tiro um transtorno bipolar grau 4 de letra.

Tô te confidenciando isso pq o artigo me tocou muito. Ninguém consegue ficar perto de gente anormal (acima da média do anormal, quero dizer, pq de perto...) muito tempo. É horrível. Na escola, na faculdade, vc tem sempre a sensação de estar absolutamente só, ser sempre o discordante, de não ter um grupo com o qual se identifique, e quando se tem um temperamento agressivo e se fala muito, como é o meu caso, consegue discutir e se dar muito mal na maioria das vezes, por mais bem intencionado que vc seja.

A maldiçao do prodígio, resumindo, é essa: ser um Edward Scissorhands.

Este é o principal motivo pelo qual eu sou abençoadamente casada até hoje com o mesmo cara - que eu conheci há 26 anos. Ele foi o único até hoje que topou encarar diariamente uma aberração. Só a morte nos separa, se depender de mim, claro.

Mais do que o parceiro do gênio, sofre o gênio, posso garantir. Que de gênio tem mais mesmo é o que idealizam dele, pq no fundo a maioria parece ser muito burra ou imatura (todo mundo se preocupa mais em desenvolver os potenciais do gênio do que o seu amor-próprio, ou auto-estima, e o resultado é que o gênio pode ficar infantilóide ou irresponsável) para lidar com suas emoções, e com a vida, de um modo geral. Gênios, meu caro, nunca estão em paz consigo, a morte está sempre presente, super concreta, eles brincam com ela desde a hora em que acordam pela manhã até a hora de dormir. Bom, comigo foi assim muito tempo. Não, às vezes ainda é assim. Também não sei se continuo sendo gênio, porque nunca mais fiz teste algum (e, em alguns casos, a prodigalidade é um surto que desaparece quando não estimulado.) Continuo cantando bem (mas não decoro mais letras como antes), e nas outras áreas, vc sabe alguma coisa. Não sei se o meu trabalho é genial, também não sei se quero saber. Houve algumas ocasiões em que me apareceram boas oportunidades para sair daqui dessa m... que é o Brasil e melhorar as condições para desenvolver potencial. Eu não quis, tive medo (era emocionalmente imatura?). E foi por isso que não segui adiante nas artes, nem na música. Optei por investir no meu emocional, o que significou para mim casamento, escrever livros, gravidez e, por conseqüência, uma filha. Até já plantei uma árvore, certa vez, mas ela morreu. Violetas deram mais certo, e agora tenho um bonsai - será que mini-árvore serve?

Bom, se eu sou mesmo um gênio, não sou máquina de produção. Uma coisa é certa, um gênio precisa, segundo Howard Gardner, de afeto e segurança emocional - muita paciência e - por quê não? - compaixão, por parte daqueles que se aproximam.

Na minha concepção de inteligência, também, não adianta nada brilhar sozinha, fazendo feliz o próprio ego. Por isso me dedico especialmente a gurizada e trabalho nas periferias. Depois que eu coloquei meus talentos não só a meu serviço, mas em benefício de outros, eu parei com a mórbida obsessão de lidar com os limites da morte.

Vê, tudo isso seu artigo suscitou. É um assunto que me incomoda ainda.

Mas vou dar uma resposta a pergunta que vc propõe: sobrevive ao gênio não o "outro gênio", mas a pessoa que, independente da inteligência, tiver capacidade de afeto genial.

Apesar de tudo, também não quero passar a impressão de que me odeio, ou de alguém que sofre dores metafísicas ou existenciais 24 horas. Gosto muito de me sentir lúcida. Ou de ter visões, dependendo do ponto de vista.

Beijo e obrigada por ler este desabafo (que muito poucos ouviram) até o fim.


De uma Leitora, que preferiu ficar anônima, por e-mail.

[12 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
4/8/2006 às 09h53

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