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Sexta-feira,
11/8/2006
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Redação
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FLIP 2006 II
Escrevo da sala de imprensa, esperando que a luz não caia como ontem. O Daniel Piza acaba de sair daqui depois de dividir comigo suas opiniões sobre o número zero da Revista Piauí - o projeto secreto de João Moreira Salles, para tentar dominar o mundo, imitando, claro, a New Yorker. O site em construção não diz nada. A mim me parece (vou ser bem pessoal agora), uma derivação do No Mínimo, com direito a Paulo Roberto Pires, o eterno darling da Flip, mais geração 00: Galera, Antonia Pellegrino (que eu sempre combino de encontrar mas nunca encontro), Antonio Prata... O resto deixo com a imaginação de vocês. Ah, eu sabia um outro segredo sobre o Ivan Lessa, que também está lá, mas não vou contar. (Daqui a pouco nem é mais segredo...)
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Ontem fiquei impressionado com a multidão de mulheres, na verdade, senhoras de meia-idade pra cima, que resolveram "se liberar", vindo a um evento em que os maridos nunca iriam acompanhá-las: a Flip. Algumas separadas, outras viúvas - geralmente bem resolvidas na parte financeira, de repente podem até adotar um escritor falido desses da Geração 90... Alguém se habilita? Ontem, enquanto eu tomava uma cerveja e olhava o rio, entre uma mesa e outra, entre duas passadas do Milton Hatoum (eu ainda o cumprimento pelo novo Jabuti!), uma mulher de uns quarenta anos dividia seu espanto com outra, desconhecida, que logo chegou: "Mas esse povo todo por conta de um evento de li-te-ra-tu-ra? Eu nunca pensei... Mas... literatura?" - ela se beliscava depois de ter conhecido um médico no almoço.
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A mesa em homenagem a Jorge Amado, a terceira, de ontem ainda, me surpreendeu. A Zélia não pôde vir, disseram que iam trazer o João Jorge, mas não deve ter sido ontem... Enfim: o embaixador (respeito, agora) Alberto da Costa e Silva foi muito divertido, com uma barba à la República Velha, defendendo Jorge Amado das acusações de exotismo: "Exótico, pra nós, é esquiar na neve!". Contou de vários parentes dele que são verdadeiros personagens de Jorge Amado: um tio que gostaria de ter entrado para a marinha, mas que não conseguiu e que, na sua obsessão, montou um barco inteiro na garagem de casa. Depois, não satisfeito, montou uma casa em forma de barco; que existe até hoje. Depois, ainda, contou de um primo que tinha uma relação de inimizade "pessoal" com Deus. Fazia versos fesceninos, mostrava a todos os religiosos que aportavam em sua cidade e nomeou uma fazenda sua de "Inferno" e outra de "Purgatório".
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O Eduardo de Assis Duarte fez um discurso emocionado sobre o deputado comunista cuja maior contribuição para a constituição federal (da época) foi instituir a liberdade de culto religioso. Jorge Amado. Fez um paralelo entre o romancista baiano e seu personagem Quincas Berro D'Água: também morreu para a elite européia (usou a expressão "elite branca", de um certo governador...), e para o marxismo, a fim de renascer para a cultura afro e para o feminismo. Terminou sua preleção - estou lendo a biografia de Machado de Assis pelo Daniel Piza - com um trecho de Capitães da Areia, em que o "Professor" fazia mágicas com suas histórias e seus livros, construindo uma casa de volumes e não de tijolos. A Myriam Fraga falou do feminismo de novo, de Tereza Batista, embora esteja já um pouco esquecida, confundindo nomes... Depois dos elogios de Oswald de Andrade ("uma Ilíada negra"), Albert Camus (em francês, of course) e Antônio Cândido - embora todos nutrissem simpatias (interessadas) mais à esquerda -, fiquei com vontade de ler Jubiabá.
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Agora, no iPod, estou ouvindo Dorival Caymmi. Para quem - no meu texto - sempre me pergunta "pra quê tanta música?", aí está a resposta. Quando você ia lembrar de trazer sua caixa Caymmi Amor e Mar para a Flip? Nunca! Pois com o iPod, aí está... Ontem tocava muito a Família Caymmi na praça da Matriz. Também na Tenda dos Autores. Principalmente Nana e algum Danilo. Mas eu também fiquei com vontade depois de ver o Jorge com aquele seu "olhar de picardia", conforme a expresão do Caymmi Pai, na exposição que a Folha de S. Paulo preparou na Tenda da Matriz. O Jorge também forra as paredes da Livraria da Vila com as capas de seus livros e, em forma de poster (não sei se é "pôster"), "benze" os autores que vão dar autógrafos. Não vi o show da Maria Bethânia, que foi bem falado na quarta, mas lembrei mesmo foi da Terça Insana (sei que a Grace G. assina a nossa Newsletter), da "Maria Botânica", porque, no site da Flip, seus cabelos estavam verdes...!
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Já ganhei dois livros de autores que estão "lançando" (ou "se lançando") aqui na Flip. Ia dizer que já sofri dois atentados poéticos, porque é farta a distribuição de livros aqui, se você bobear... Principalmente se os autores souberem que é você quem faz as resenhas. Na minha primeira Flip, a de 2004, uma moça muito simpática da revista Simples tirou da bolsa tão rápido o seu volume que eu não tive como recusar. A Carol se comoveu com o gesto, mas, na hora de ler, também não leu. E por falar em livros, ontem, à noite, lançavam um especial da Bravo! com 100 livros que se deve ler na Literatura Brasileira (coloquei em maiúsculas, gostou?). Era no Café Margarida, mas eu estava tão cansado que não fui. Encontrei o Michel Laub, ex-Bravo!, hoje de manhã mas esqueci de perguntar como é que foi... A Bravo! também preparou um bom especial, em formato jornal, sobre a Flip em si. Li ontem.
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Outra mesa muito boa ontem foi a quarta, De onde vem as palavras, com David Toscana e Mário de Carvalho. A mediação, muito bem escolhida pela Ruth, foi do Agnaldo Farias, que é conhecido por sua crítica de artes plásticas. Eu não sei se, pessoalmente, concordo com os seus pontos de vista muito de "vanguarda" (muito "Tunga"), mas admiro-o por seus óculos. Ontem, verdes. Sem brincadeira agora: ele se preparou, leu os livros e fez perguntas pertinentes. Chamou, no fim, os escritores de artistas... Aproveito para elogiar a escolha da mediação deste ano que, ao contrário da do ano passado (que parecia improvisada na última hora), foi coerente - muitos jornalistas. Hoje, a Beatriz Resende (não sei se, agora, é Rezende com "z"), por exemplo: ela fez praticamente uma palestra sobre cada autor; outra palestra sobre o tema. Se alongou um pouco, mas foi muito feliz no todo. E nas intervenções.
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O David Toscana, que é mexicano, veio cheio de graça, "falando português", de um curso que fez antes de chegar, e fez questão de ler seus livros (para o público) em edições brasileiras. Quando fizeram perguntas cabeludas, no entanto, confessou: "Meu português só dá pra pedir feijoada. Para responder a essas perguntas, eu precisaria fazê-lo em espanhol". E o fez muito bem. (Tô elogiando muito? Tô, né. É que eu gostei de verdade dessas duas mesas... À última nem assisti para não estragar.) Já o Mário Carvalho começou muito circunspecto. Até que não se controlou - eu adoro quando as pessoas perdem o controle na Flip - e emendou um discurso contra o comércio, a economia, as finanças... que não tem nada a ver com os livros, disse, com a literatura. Eu até anotei, veja só: "[Os livros, a literatura...] são uma construção antropológica que supera, em muito, a realidade do comércio". Quero ler Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde e Santa Maria do Circo
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Eu sei que vocês não vão acreditar mas o Christopher Hitchens acaba de se sentar aqui do meu lado de novo. (Não tenho nem mais assunto com ele... Ontem falamos mal de Deus - seu novo livro se chama God is not Great - até umas horas...!) "E aí, perdeu mesmo seu artigo (de ontem)?", perguntei. "Não, eu não tinha nem começado, na verdade...". Aconselhei então: "Você precisa usar o Gmail, ele grava as mensagens enquanto você digita, aí você não perde". "É, eu sei. Muita gente me fala que o Gmail é bem melhor...". Para quem acha que eu estou mentindo, o e-mail dele, na AOL, é chitch8003. (Teste, depois me fale...) Bem, falta quinze minutos para a próxima mesa. (Estive à beira de perder todo este Post, então vou postar, tá?) Depois completo com links, imagens, essas coisas todas.
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Julio Daio Borges
11/8/2006 às 16h40
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FLIP 2006 I
Quarta (ontem). Tentei sair mais cedo do escritório do Digestivo. Quando digo "cedo", digo antes do horário do rush. Colunas, Digestivos, Ensaios, Newsletters - não consegui. Saí às 18h30, mais ou menos. Eu sei: saí no pior horário possível e imaginário para uma cidade como São Paulo. Mas eu não agüentava mais: queria ir embora. Fui.
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Deu 20 horas, eu estava no posto BR em que costumo parar com a Carol (quando vamos para Angra). Tomei um café de caminhoneiro (no copo), comi um pedaço de pizza e um bauru. Comprei a Istoé Dinheiro. Algumas matérias sobre internet; o "ocaso" de Jack Welsh (é assim?)... (Isso me interessa? Desde que eu comecei a colaborar com a GV-executivo, e comecei a encarar a Web como business me interessa, oras.) Mas estou perdendo o foco.
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Por alguma razão que agora me escapa, estão dando uma "geral" na estrada perto de Taubaté, onde eu sempre desço a serra. Rodovia Oswaldo Cruz (não sei se é com "v" ou com "w" agora). Estava previsto para eu descer, em direção a Ubatuba, lá pelas 22 horas, mas o caminho me pareceu tão diferente que eu não reconheci as placas e voltei (!). Até o posto Aster (a Carol vai reconhecer essa referência). Na brincadeira, perdi entre 15 minutos e meia-hora. Cheguei a Parati à meia-noite.
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Para chegar na pousada, que era do outro lado do rio, tive de pegar a "beira-rio" conforme o garçom vesgo e disléxico do "Porta Fortuna" (agora em outro estabelecimento) me indicou. Não sei se é porque eu estava cansado, mas as vagas me pareceram apertadas, não achei cabide, nem cadeira, nem lugar para deixar as roupas... Para completar, a pia do banheiro entupia um pouco, eu ouvia o barulho do outro quarto, fui deitar com a cabeça girando, tomei uma aspirina e dormi.
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No dia seguinte, hoje de manhã, a pousada continuou com alguns defeitos. A porta do banheiro foi mal colocada ("colocador" bom de porta é coisa difícil, meus parentes arquitetos, e engenheiros, me ensinaram...), assim eu tentava fechar e ela abria sozinha. Fora isso, a porta do quarto estava com a maçaneta torta, pois o trinco não encaixava direito no buraco feito para isso, então todo mundo que deve ter tentado fechar antes de mim, puxava mais um pouco entortando sempre (mais) a maçaneta.
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Mas vamos à Flip. No café da manhã (o café da manhã é bom, o que deve compensar as falhas da pousada, acho), duas senhoras, do Rio, reclamaram do corre-corre com relação à compra dos ingressos que, parece, neste ano, se repetiu. Outra senhora, ao meu lado durante a primeira mesa a que assisti, foi simplesmente a primeira da fila quando abriu a Fnac (quando abriram a venda dos ingressos). A Flip, me parece, é o único evento em que ir pessoalmente ao guichê pode resultar mais eficaz do que tentar comprar pela internet...
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A primeira mesa, Invenções do Interior, foi, por ordem de entrada, de André Laurentino, Maria Valéria Rezende e Juliano Garcia Pessanha. Mas o que me espantou, às 10 da manhã, foi a aparição do Marcelino Freire como mediador. Tudo bem que ele ganhou o Jabuti na categoria conto, então, depois disso, nada mais me espanta. Mesmo assim, me espantou porque ele esteve na Flip de 2004, não esteve na de 2005, se "revoltou" e ajudou a criar a Flap!, que, segundo os criadores (ele incluido), é uma resposta à Flip, contra esse evento de "elite" em Parati. Aí, então, abre a Flip, e quem está logo na primeira mesa? Marcelino Freire!
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O André Laurentino é um cara legal. Foi meu colega de Milton Hatoum na Casa do Saber. Depois, na mesa, contou que fez a oficina com ele na Flip 2004, conheceu o Paulo Roberto Pires, que quis editar o seu livro, teve um trecho do mesmo analisado na Flip 2005 e agora, para coroar o processo, foi autor convidado da Flip 2006. Confesso que folheei A paixão de Amâncio Amaro, quando recebi, mas não me interessou. Foi para alguém do Digestivo. Enfim, ele falou razoavelmente bem das três personagens do livro, com muito conhecimento de causa (técnica, psicanálise, essas coisas).
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Depois veio a Maria Valéria Rezende. Uma freira simpática, falou pouco de religião, parece ter um trabalho bonito em educação (mesmo) e detesta a expressão "pessoas carentes"... Mas quem me surpreendeu, por incrível que pareça, e ao público também, foi o Juliano Garcia Pessanha. Não sei se se fingindo de bêbado, não sei se no meio de uma ressaca mesmo, quando ele falou, eclipsou todos os outros. A moça ao meu lado comentou: "Acho que ele tá meio alterado...". O que sai do script é sempre o melhor da Flip.
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Anotei algumas pérolas do Juliano: "Quando convidam você para a Flip, tem uns que dizem: eu vou; outros que dizem: ah, eu não vou. Eu disse: eu vou, mas eu não sei, não... Então, quando a Ruthinha me convidou [Ruth Lanna, organizadora da Flip], eu trouxe um plano A, um plano B e um plano C. Se o plano C não funcionar, eu uso o plano D: eu saio"; "Vou ler o que escrevi ontem [para a mesa], de corpo presente, porque a minha alma já não sei mais onde tá..."; "Me deram umas coisas para eu beber ontem. Há muitos anos que eu não bebo. Eu nem posso beber, então hoje eu tô muito estranho..."; "Estou aqui à base de corticóide(s)"; "[No meio da leitura...] Essa parte é meio chata mesmo, mas depois melhora. É que nem no colégio, quando eu ia em palestra e pensava: tudo bem, eu vou mas eu não vou prestar a menor atenção..."
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O texto dele não era - realmente - bom, e eu acho que não gostaria dele como escritor. Coisas como "humanidade longe da linha de eclosão" ou "combate para encontrar um lugar no acolhimento". Ou ainda "sem olhos para ver o alastramento do sinistro", ou então "interromper o fluxo de sentimentações" (esse "sentimentações", ele confessou que pegou da Clarice - às vezes eu penso que a Clarice fez um enorme estrago nas gerações futuras...). Enfim, era um sujeito inspirado. Mas não para escrever. Talvez para viver. Um artista da vida, como dizia Oscar Wilde. E não um "artista da arte".
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A segunda mesa, Vozes em Verso, foi um pouco mais desanimada, apesar da mediação do Paulo Henriques Britto. Mesmo balanço do ano passado: dois poetas de mentira e um de verdade. No ano passado, não sei se vocês se lembram, mas o poeta de verdade era o próprio Paulo Henriques Britto, que arrancou até assobios da platéia. Neste ano, era o Carlito Azevedo, que é meu colega de edição - no caso dele, das revistas Inimigo Rumor e Ficções. A Astrid Cabral vinha com coisas como "amor como tremor de terra", "nas entranhas da minha alma", "ruínas, cinza, lama" - que, convenhamos, parece poesia de colégio. Depois, o Marcos Siscar, com coisas como "o peixe é um ser mudo que desliza", "coreografia muda de espanto" e "escamas de dois gumes"... (Nem preciso comentar.)
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Vê se você não acha o Carlito muito melhor: "lilases da estação passada", "curto-circuito na grama", "leões marinhos dançando ritmos agilíssimos" e "parangolés de brumas". Fora que ele falou, sabiamente, que nossos dois modelos estão mortos: a crítica e a língua. Atualizou, ainda, "Uma passante" de Baudelaire - enquanto os outros ficavam em "meu coração era do tamanho do mundo" (sub-Fernando Pessoa) e "a água doce não é tão doce, antes fosse" (sub-qualquer-coisa-muito-básica). Carlito encerrou suas leituras com a bela tradução que fez para um poema, francês, descrevendo um beijo.
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Acho que está bom para o primeiro dia. Senão, vocês não agüentam ler. Amanhã repercuto mais algumas coisas de hoje, OK? Vou tentar colocar agora algumas imagens, mas não garanto. Nem links... Tudo muito precário aqui. A luz, na sala de imprensa, acabou algumas vezes. Se eu não estivesse no Gmail, tinha perdido tudo. Como o Christopher Hitchens, do meu lado, no Hotmail (quem mandou?), acha que perdeu... O pior é que ele tinha de mandar hoje para um paper (jornal) em London (Londres). E agora? O Jonathan Safran Foer estava lá fora quando saimos. Estava escuro. Eu e Chris quase trombamos nele. Sério! Na Flip, é assim.
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Julio Daio Borges
10/8/2006 às 20h00
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Salão do Livro de BH
Começa dia 10 o Salão do Livro de Belo Horizonte, que acontece na Serraria Souza Pinto e traz, além dos estandes de livrarias, oficinas, mesas-redondas e noites de autógrafos. O tema deste ano é a literatura no Mercosul. A série de entrevistas "Encontro Marcado" também está de volta e trará Luís Fernando Veríssimo, Bartolomeu Campos de Queirós, João Gilberto Noll, entre outros. Vale a pena conferir a oficina da Memória Gráfica e entrar nas mesas para discutir. Não é tão badalado quanto outras festinhas literárias, mas é bacana.
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Ana Elisa Ribeiro
9/8/2006 às 23h57
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4 anos da Revista Coyote
Por que a comemoração após quatro anos de vida? Há sempre que se comemorar a teimosia e a insistência de uma revista literária, num país em que a maioria das publicações não passa do segundo ou do terceiro número. Acho que contribuímos com a formação de jovens autores publicando textos radicais, com uma abordagem radical, do Brasil e de outros países. E abrindo espaço para autores que ainda não alcançaram repercussão com seu trabalho. Mas não estamos muito preocupados com a "formação" de jovens autores. Estamos preocupados em fazer uma revista que gostaríamos de ler. Acho que é essa a razão do sucesso da Coyote. Porque há mais pessoas que gostam de ler os autores que publicamos. Costumo dizer que a Coyote é uma revista autoral. Os editores funcionam como maestros, regendo uma orquestra de autores e textos que consideramos importantes dar voz e vez.
Ademir Assunção, escritor e editor da revista de poesias Coyote, após uma noitada no ABC regada a álcool, música e muita, mas muita, poesia.
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Marília Almeida
9/8/2006 à 01h01
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Mais um na multidão
Olá! Eu não sei como começar. Nunca escrevi um blog. Jamais mexi em um template. Nem sabia o que era PHP. Mas após trocar idéias com algumas pessoas fiquei com essa vontade de escrever sobre tecnologia. Wordpress, hospedagem, registro de domínio... Fui descobrindo aos poucos. Agora até tenho uma noção de PHP!
Escrevi o primeiro post. Submeti à avaliação de uma amiga jornalista. "Muito grande! Dê um toque mais pessoal!", sugeriu. "Isso parece texto de jornal!", finalizou! Hehe! Valiosas dicas! Era isso que eu precisava! Mas mesmo assim eu não sei por onde começar. Por isso resolvi escrever esse texto. O pontapé inicial, o quebra-gelo, a grande estréia... O resto é conseqüência!
Alexandre Fugita, que pretende escrever sobre tecnologia. [E que linca pra nós!]
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Julio Daio Borges
9/8/2006 à 00h36
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Prêt-à-Porter 8
Depois de temporada no SESC Ipiranga, o recente Prêt-à-Porter 8, coordenado pelo diretor Antunes Filho, agora sobe ao palco da sala do CPT, no SESC Consolação. Praxe do projeto, nascido em 1997, o espetáculo é formado por três cenas nascidas em exercícios de interpretação que passam por progressivas elaborações.
Esta oitava incursão do projeto tem uma tônica algo diferente das anteriores. "Ponto sem retorno", com os experientes em PPT Emerson Danesi e Marcelo Szpektor, é tocante e profundo. Mostra um reecontro de dois ex-colegas de turma, relembrando passagens e discutindo seus antigos anseios e a realidade da vida. Os silêncios pesam tanto quanto as palavras, em meio a sugestões e gestos sutis.
"Exiladas", com Marília Simões e Aline Filócomo, traz à cena duas solitárias amigas em uma noite de natal. Seus diálogos aparentemente inusitados provocam risos, mas com um quê de constrangimento. Somos levados aos poucos à essência daquelas personagens, que se mostram complexas e cheias de sentimentos.
Por fim, e talvez na cena que mais destoe da trajetória do CPT, "Velejando na beirada" é uma hilariante conversa entre dois amigos, em um cemitério. O tema: a morte. Marcelo Szpektor e Pedro Abhull arrancam gargalhadas da platéia, com notável domínio de palco e um ótimo texto.
Um espetáculo intimista, aparentemente despretensioso, que lembra uma aquarela ou um quarteto de cordas. Interessante para ver um belo trabalho de ator, baseado em uma longa esteira de pesquisa em interpretação e dramaturgia.
Para ir além
Prêt-à-Porter 8 - Espaço CPT - SESC Anchieta, 7º andar - R. Dr. Vila Nova, 245 - Vila Buarque - Tel. (11) 3234-3000 - Reservas no tel. (11) 9413-0967, com Geraldinho - R$ 10,00 - Até 16/12
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Guilherme Conte
8/8/2006 às 15h16
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Um Paraíso para Moacir Santos
Da Folha:
"O brasileiro Moacir Santos, que fez carreira dentro e fora do país como saxofonista, compositor, arranjador e maestro, morreu no domingo (6) aos 80 anos na Califórnia (EUA), onde morava há cerca de 40 anos. Ele estava internado desde a última sexta-feira em conseqüência de um derrame."
Felizmente Moacir Santos teve tempo para se ver reconhecido em seu próprio país - ainda que tardiamente - com o lançamento dos ótimos Coisas (de 1965, relançado em 2004), Ouro Negro (CD, de 2001 e DVD, de 2005) e Choros & Alegrias (2005). Foi aclamado por público e crítica, deu entrevistas, apareceu na mídia. Há expectativa de que sejam relançados aqui no Brasil seus discos Maestro (1972) e Saudade (1974) (lançados originalmente pelo antológico selo Blue Note).
Moacir foi exímio compositor, arranjador e maestro - suas orquestrações são de tirar o fôlego; costurava como ninguém brasilidades, influências jazzísticas e clássicas. É uma figura obrigatória na música brasileira - sua audição é imprescindível. Para pinçar algumas poucas canções de tantas boas fiquemos com "Paraíso" (do disco Choros & Alegrias), "Maracatu, Nação do Amor" e "Bluishmen" de Ouro Negro e "Coisa no. 4" e "Coisa no. 5" do disco Coisas. (Na Rádio UOL tem pra ouvir.) Mas o repertório é brilhante - vale ouvir tudo.
E, aqui, um vídeo de Ed Motta cantando a linda "Orfeu" no DVD Ouro Negro.
Se houver uma "outra vida" que o maestro esteja agora num "Paraíso" tão sublime quanto a canção que escreveu.
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Rafael Fernandes
8/8/2006 às 13h32
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YouTube e aberturas de novelas
Mais uma do Inagaki. Lembro de Final Feliz, de Champagne e muito de Transas e Caretas. Na categoria pitorescas, eu colocaria Sem Lenço, Sem Documento, Feijão Maravilha (da qual eu também me lembro no Vale a pena ver de novo) e Brilhante (apesar da música do Tom Jobim...). E as que me surpreenderam (para bem): Dancin' Days, Pecado Capital (com música do grande Paulinho da Viola) e Kananga do Japão (por incrível que pareça...). Tieta só se for pela nudez da Isadora Ribeiro (a trilha sonora, aliás, dá uma idéia de como viemos decaindo...). A nostalgia da TV é o início do fim da TV. E viva o YouTube!
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Julio Daio Borges
8/8/2006 às 09h14
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Gênios da vida real II
Fiquei emocionada com a mensagem da sua leitora. Parecia minha história. Também fui superdotada em criança, também fiz teste de QI por sugestão de psicólogos (escrevia ao contrário, montava quebra-cabeças de cabeça para baixo, porque do jeito comum achava muito fácil) e estourei todos os limites do teste para crianças, fui ao máximo, que era 18 anos, algo assim, pelo que conta minha mãe, eu não lembro. Sofri muito a vida inteira me sentindo uma E.T.: entendia tudo mais rápido do que os outros e achava a escola um saco. A faculdade idem. Entrei e sai de várias e me formei em jornalismo mas nunca exerci. Tinha fama de gênio excêntrico e muita gente me temia um pouco apesar de nunca ter sido agressiva, só diferente. Cobrei demais de mim e acabei não realizando o que pretendia. Nunca tentei suicidio, mas vivi em psiquiatras por causa de angústias, fobias, delírios pessoais. Casei, descasei, tive muitos amores mas não consigo me relacionar bem com ninguém, sou diferente demais para isto. Desisti. Fui artista plástica anos e cheguei a ter algum sucesso, matéria em jornais, participei de salões famosos e de uma bienal. Larguei tudo para ser escritora, sou conhecida em um nicho na Web, tenho um blog literário e me sinto feliz escrevendo - me acalma. Pretendo publicar um livro, já tenho vários prontos. Meu problema é paciência para realizar. Sou "mental" demais para o real. Paz é coisa rara para mim. Adoro resolver problemas de lógica dedutiva e romances policias de dedução. Isto também me acalma. Tenho uma filha que amo e que consegue se relacionar com esta figura complicada. Enfim, eu concordo plenamente com a leitora. A inteligência me fez sentir orgulho algumas vezes, o que não significou felicidade alguma e me fez sempre diferente, alguém que muitas vezes escreve coisas simples que os outros não entendem. Desisti de tentar ser entendida. Os que me amam, eu amo. Os outros são de outro planeta. Algum dia construo um foguete e chego lá. Ou, não. Não quero ser identificada, enviei a mensagem apenas porque parecia a minha vida.
De outra Leitora, que também prefere ficar anônima.
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Julio Daio Borges
7/8/2006 às 09h52
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A foto original de Che Guevara
Qual é a história por trás de uma foto? Ainda mais uma que virou ícone de uma geração, estampada exaustivamente em camisetas? Um foco rápido e acidental com uma câmera de 35mm, durante um ato de comemoração a vítimas de uma explosão, que conseguiu capturar o olhar distante de Che Guevara, considerado o herói da Revolução Cubana. Esta aura, aliás, foi perfeitamente captada pela foto O Guerrilheiro Heróico, que o fotógrafo publicitário e retratista de Havana Alberto Díaz, o Korda, tirou em 1960. Bom, nem tanto, já que descobrimos que a famosa foto foi cortada e endireitada em um ângulo mais certeiro.
É sua original que pode ser visualizada na exposição fotográfica A épica revolucionária cubana, na Galeria Senac Lapa Scipião, em São Paulo, até o dia 18. É a primeira realizada pelo Instituto de Mídia e Artes (IMEA), pólo de pesquisa em mídia criado em 2005, em parceria com a Fototeca de Cuba. Sua curadoria, aliás, é de Nelson Ramirez de Arellano, fotógrafo e curador-chefe da Fototeca.
Ela é apenas o começo de um intercâmbio artístico e cultural entre Cuba e Brasil. O grupo pretende levar a exposição para galerias no Rio Grande do Sul e trazer, em 2007, uma mostra sobre fotógrafos cubanos contemporâneos, além de selecionar trabalhos de fotógrafos brasileiros para uma exposição coletiva em Havana.
A mostra é uma seleção de fotos dos primeiros anos da Revolução Cubana. Em 69 obras em preto-e-branco, que abarcam o período de 1959 a 69, é possível ter uma noção do trabalho de oito fotógrafos expoentes do período: Corrales, Korda, Oswaldo Salas, Libório Noval, Perfecto Romero, Ernesto Fernández e Roberto Salas.
As fotos de Raúl Corral, o Corrales, recentemente falecido e que trabalhou para a agência de propaganda do Partido Socialista Popular de Cuba, conseguem captar as fortes expressões dos milicianos, como em La boda del miliciano, onde podemos ver, literalmente, um casamento no fogo cruzado e sentir um pouco do sentimento militante da época. Mas é Caballeria (60) sua foto de maior destaque. Apesar de parecer as antigas cavalarias napoleônicas, o contraste dos sombreiros e óculos escuros dos sorridentes cavaleiros montados em imponentes cavalos brancos não nos deixa enganar sobre qual é o tema tratado. A contradição da revolução é bela e veemente.
Libório Noval nos mostra a cara do sofrido povo cubano. Mas Perfecto Romero, assim como Alberto Díaz, o Korda, nos mostram o outro lado. É em certo sentido até uma contradição com estes rostos vermos Fidel e Che jogando golfe ou pescando. Mas aí está uma coisa curiosa: quando retratados próximos ao seu habitat ou como proletários, a aura de salvadores de uma nação, seja no olhar, no sorriso, teimam em não escapar dos retratos. Principalmente Che, que, em todas as fotos, aparece com o mesmo olhar distante da foto que o tornou um símbolo.
É a foto de Roberto Salas, La Señora e a Bandera, que é talvez a que mais marca a ousadia da luta cubana ao mostrar uma bandeira do Movimento Revolucionário de 26 de julho hasteada no alto da Estátua da Liberdade. Já Oswaldo Salas completa esta visão dando um panorama impressionante: o coletivo. Fotos como Playa de Girón (61) e Santiago de Cuba (64) exploram a eficiência dos discursos e figura de Fidel ao nos depararmos com uma praça repleta de pessoas vista de um ângulo igualmente impressionante e, na outra, Fidel ao microfone, com uma forte expressão e céu sombrio ao fundo.
Por fim, cada um dos fotógrafos destaca uma visão do que foi a revolução e conseguem se diferenciar e imprimir sua personalidade dentro da mesma temática. O que temos ao final é uma bela amostra de muitas facetas do sonho cubano perdido. O preto e branco confere um quê saudosista especial a elas. No final, nem é tanto a técnica fotográfica que vale, já que as câmeras fotográficas da época eram muito limitadas. Mas um sentimento coletivo que não se esvai em nenhuma delas.
Para ir além
Galeria Senac Lapa Scipião
Rua Scipião, nº 67
Tel.: 11 3866-2500
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Postado por
Marília Almeida
7/8/2006 às 08h25
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