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Quarta-feira, 1/11/2006
Mostra SP: EUA Contra Lennon
Marília Almeida

Os norte-americanos David Leaf e John Scheinfeld têm tradição em documentários para TV, mais especificamente em direção e produção e roteiro, respectivamente. Scheinfeld, aliás, está acostumado a escrever roteiros de filmes sobre ícones musicais. Ele já desvendou novos ângulos da música e vida de personalidades como Frank Sinatra, Bee Gees e Nat King Cole. Juntos, dirigem, são roteiristas e produzem o documentário Os EUA Contra John Lennon, que abriu a 30ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O filme seria mais um de seus produtos televisivos, mas acabou ousando e estreando no cinema.

O porquê deste fenômeno certamente não reside em sua forma, limitada para o veículo ao qual se remetia, apesar de conter uma boa fotografia e dinamismo exigido por um filme musical. No documentário, shows são entremeados por imagens de arquivo, tanto de fatos históricos como de arquivo pessoal da viúva Yoko Ono, e depoimentos de amigos e personalidades que participaram das mais diversas formas do período retratado.

É provável que o segredo de OS EUA Contra John Lennon resida em seu conteúdo, mesmo que já muito conhecido. Ele trata de um período interessante da vida de Lennon que abrange de 1966 a 76: o político pós-Beatles. As poucas cenas do músico com a banda, o desenrolar da história do enunciado que Beatles eram mais conhecidos que Deus, servem apenas para contextualizar e frisar que ele era, sem dúvida, a alma daquele fenômeno. O filme mostra seu relacionamento com ativistas políticos radicais, com Yoko, a paixão crescente pelos Estados Unidos e Nova York e a preocupação com a guerra do Vietnã até culminar na perseguição pelo FBI e obsessão de Hoover e Nixon, preocupados que estavam com figura tão influente.

Pontos altos da trama são o embate de John com jornalistas (especialmente uma do New York Times), que respondia com humor e ironia a acusações ferozes que consideravam seu Bed-In, uma lua-de-mel em 69 com Yoko tornada pública com o objetivo de pedir paz, decadente. Depoimentos como o de John Sinclair, o qual Lennon livrou da prisão ao criar uma música sobre sua história (Sinclair havia sido pego em flagrante com dois cigarros de maconha), Ron Kovic, Noam Chomsky e o historiador Gore Vidal, o único que dá nome aos bois, ilustram bem o clima da época.

O documentário é mais um, entre diversos, sobre um dos maiores ícones musicais de todos os tempos. Um deles, Imagine, é um verdadeiro compêndio da vida e discografia de Lennon, dirigido por Andrew Solt e distribuído pela Warner. A diferença é que foi produzido em 1988 e não parece tão atual como o produto de Leaf e Scheinfeld. Pode ser nostálgico e até inocente (o próprio filme mostra como John e Yoko eram manipulados pelos ativistas que defendiam), mas o flower power faz falta em meio a guerras como do Iraque e - por que não? - guerras modernas em geral. Mais do que o movimento em si, falta uma juventude apaixonada como a dos 70 e um ícone carismático e eficiente como John Lennon. Hoje, até mesmo os ditos ativistas sociais são fabricados. E a juventude, ah, a juventude...

Para ir além
Os EUA Contra John Lennon - Última sessão: 02 de novembro - Quinta-feira, 19h30 - Unibanco Arteplex 2 - Shopping Frei Caneca, 569 - 3º piso - Sala 2 - Tel. (11) 3472-2365

Confira também outro filme musical da Mostra:

Nossa, eu filmei isso! é para lembrar do que foi considerado o melhor show do Tim Festival deste ano. Realizado em 2004 no Madison Square Garden, em Nova York, o filme reproduz um show que fez uma releitura da carreira dos Beastie Boys. O grupo deu 50 câmeras para que fãs o gravassem da maneira que bem entendessem. O resultado é um filme bem costurado com uma edição tradicional.

Para ir além
Nossa, eu filmei isso! - Última sessão: 01 de novembro - Quarta-feira, 22h10 - Unibanco Arteplex 1 - Shopping Frei Caneca, 569 - 3º piso, sala 1 - Tel. (11) 3472-2365

Marília Almeida
1/11/2006 à 00h58

 

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