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Segunda-feira, 6/11/2006 Corrente de umbiguismo Julio Daio Borges Fiquei chocada da primeira vez que me disseram que as pessoas têm medo de mim. Eu falo alto e sou cheia de opiniões, mas não imaginei que pudesse meter medo. É fato. Hoje me acostumei a essa idéia e nem acho tão ruim, mas quem me conhece de verdade deve saber como isso é esquisito. Meu raciocínio é hipertextual. Tenho uma imensa dificuldade para pensar em alguma coisa, qualquer coisa, de forma linear. Talvez isso explique por que eu prefira editar a fazer longas reportagens. E porque eu raramente leia só um livro de cada vez. Sou uma otimista incurável, mas sofro de sérias crises de pessimismo. Com a maioria das dúvidas da minha vida, tenho aquela certeza, bem lá no fundo, de que tudo vai dar certo. Na maioria das vezes, elas realmente dão. Cresci sendo muito amada pelos meus pais e a minha irmã. Embora isso tenha me dado uma segurança muito grande, também faz com que eu me sinta insuportavelmente exigente. Tenho a certeza absoluta de que sou realmente adorável (...). Às vezes me espanto com o conhecimento que acumulei sobre alguns assuntos sem sentir. Tenho certeza de que não sei o suficiente a respeito de nada, mas acho que a média harmônica até que é bem razoável. Escrevo com poucos erros de gramática e, quero crer, nenhum de ortografia. Não sei nenhuma regra de cor - de pontuação, de acentuação, de nada. Quando me perguntam o que não tenho certeza, recorro ao Aurélio e ao Houaiss, mas quase sempre estava certa intuitivamente. No meu mundo ideal, as pessoas aceitariam as repostas "porque sim" e "porque não" em explicações sobre português. Desde que virei jornalista, minha rotina esqueceu o que são feriados. Isso me incomoda até hoje, por mais que eu tente dizer que não. Gosto de comer. Sempre gostei. Mas cada vez mais tenho gostado de ler sobre comida. Descobri que engorda bem menos, e a imaginação faz belas refeições. Cássia Zanon, no seu O dia se espatifa, que linca pra nós. Julio Daio Borges |
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