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Quarta-feira, 15/11/2006
internet jornalismo revolução
Julio Daio Borges

Qual o futuro do jornalismo? A internet vai acabar com tudo? E com o jornalista, o que acontece? Você é contra? Você é a favor? - são perguntas que também sempre voltam. Não tenho, obviamente, uma resposta definitiva para cada uma dessas questões. Mas decidi responder aqui de uma vez por todas. Quando alguém me perguntar, de novo, aí está o link. Agradeço à Jamille Callai, por ter ido mais longe do que o normal, e por ter me dado essa chance de mais ou menos encerrar o assunto... - JDB

1. Você acredita que estamos passando por uma revolução tecnológica?
Sim, não resta dúvida. Muitos já falam que a internet é uma revolução equivalente à invenção da prensa por Gutenberg.

2. Quais os benefícios que a nova mídia - a internet - trouxe para os jornalistas?
A publicação/ difusão em tempo real. O custo quase zero dessa mesma publicação/ difusão. Um espaço para armazenamento (e transmissão) de dados quase infinito. Uma capacidade de interação, com o leitor/ espectador, como nunca antes houve. Além da redução das distâncias geográficas, na internet caíram as barreiras sociais/ profissionais. Porque, como dizem os teóricos da comunicação, a internet é a única mídia "de muitos para muitos" (e não "de um, ou alguns, para muitos" - como as mídias anteriores). As vantagens para os jornalistas, em resumo, são tantas que até gente comum está ingressando na prática do jornalismo: a internet é um convite quase irrecusável ao jornalista-cidadão (ou ao cidadão jornalista).

3. O que já mudou no jornalismo com a internet? E o que você acredita que ainda vai mudar?
O jornalismo ficou, logo de início, mais ágil. Numa segunda etapa, mais rico - com a capacidade multimídia da internet. E, num terceiro momento, ficou mais diversificado - porque surgiram novos atores em cena, justo quando o jornalismo tradicional dava sinais de esgotamento. Por último, minha previsão: ou o jornalismo convencional migra para (se funde com) o jornalismo on-line ou acaba.

4. Alguns analistas sugerem que a definição de jornalismo tenha sido diluída pela tecnologia, de forma que qualquer coisa hoje é tida como jornalismo. Qual a sua posição em relação a isso?
Quando o jornalismo pode ser praticado por qualquer pessoa com acesso à internet, é natural que o conceito de "jornalismo" se amplie e se dilua. Muitos jornalistas "das antigas", como dizem os jovens, reclamam porque perderam seu status e até uma certa "reserva de mercado". Essa discussão tende a morrer junto com os mesmos jornalistas que defendem esse ponto de vista. É questão de tempo, portanto. O próximo passo, a meu ver, é a triagem entre o que é "bom jornalismo" e o que é "mau jornalismo". E penso que quem vai fazer isso é o internauta/ leitor. Analogamente ao que já acontece com o ranking de buscas do Google.

5. Você acredita em uma futura concorrência dos jornalistas com os chamados cidadãos-repórteres, que publicam em seus blogs e/ou sites notícias?
Não sei se a palavra é "concorrência". Na internet, talvez você concorra apenas pelo tempo do internauta. Usando uma metáfora do Windows, na Web você pode ter várias janelas simultâneas: é como se o assinante do jornal A assinasse, também, o jornal B (coisa que, normalmente, não acontece fora da internet). Uma vez que os jornalistas profissionais estejam na WWW, junto com os repórteres-cidadãos, como você chama, uns podem ter uma função de complementariedade em relação a outros. E o Google vai dizer quem é mais relevante. Dentro da Web, eu acredito bastante no princípio da "sabedoria das multidões".

6. Qual o diferencial que o jornalista precisará ter para que não ocorra essa concorrência?
O jornalista da velha guarda tem de ser humilde para conviver, de igual pra igual, com o repórter-cidadão. Muitos ainda estão entrando na internet de salto alto (uma postura que não combina com a Rede Mundial de Computadores). Penso que o jornalista pode, ainda, assumir o papel de catalisador da informação relevante "postada" na Web. Uma vez que ele tem, supostamente, o critério e a técnica para exercer também o papel de editor (além do de repórter).

7. Você acredita numa falência dos meios impressos por causa da internet ou acha que ambos terão espaço?
Alguns autores já falam em "extinção" do meio impresso. Particularmente, não acredito na extinção, mas, sim, numa redução drástica. E não é "preconceito" por parte de quem consome outra mídia, é o simples fato de que a internet é economicamente mais interessante (para quem produz e para quem consome); é ubíqua (está em todo lugar); é socialmente/ politicamente mais democrática (qualquer um pode participar dela - ao contrário do que ocorre no papel). O fim, ou a crise, do suporte papel não tem tanto a ver com o jornalismo (e com os jornalistas), tem mais a ver com as transformações que a internet impôs à sociedade.

8. O que ainda se observa em muitos sites é uma simples transposição do conteúdo impresso para o on-line, não aproveitando as possibilidades que a nova mídia oferece. Você poderia apontar alguma solução para isso?
A solução é produzir conteúdo exclusivo para a internet. É também "dialogar" com a internet, fazer parte da "grande conversação" (os blogs, como os americanos dizem). Na Espanha, estão chamando isso tudo de "jornalismo 3.0". A maior parte das empresas jornalísticas, no Brasil, ainda está no 1.0, que é isso que você falou: despejando apenas o impresso no on-line.

9. Qual o principal desafio para o jornalismo on-line?
Ser tão rentável quanto o impresso. Ter estrutura para se desenvolver, como jornalismo, e cumprir as promessas com que a tecnologia hoje acena. Dar um futuro não só para os novos jornalistas, mas para qualquer um que queira praticar bom jornalismo. Pois em termos jornalísticos, a internet já é tão importante para a sociedade quanto o resto da mídia off-line.

10. A excessiva preocupação com a "obrigação" de veicular uma notícia a cada segundo na internet opõe-se ao bom e velho conceito do jornalismo de apuração das informações. Como dar informações com credibilidade na internet?
O Google encontrou um caminho. O Google não faz a checagem que o jornalismo tradicional faz, mas, por meio de seu algoritmo, conseguiu organizar um "ranking da informação" por palavra-chave. Acredito que a Wikipedia, também, está conseguindo (apesar dos eventuais danos). Outros projetos, como o Newsvine, podem ser um caminho ainda para o jornalismo. Ninguém vai checar os quase 100 milhões de blogs hoje: a internet vai "se checar" sozinha (como já está acontecendo). O jornalismo do futuro deve partir dessa premissa.

11. Você acha que a internet está criando a sua própria linguagem?
Sim. Como disse o Pedro Doria, o blog é o primeiro formato 100% oriundo da internet. É, portanto, a linguagem do blog que predomina. E, no âmbito da comunicação pessoal, é a linguagem do e-mail, do MSN (dos mensageiros instantâneos) e até do Orkut (das redes de relacionamento). Não sou teórico da linguagem para traduzir isso em conceitos, mas, por esses exemplos, você já tem uma idéia.

12. Como você definiria os profissionais da nova mídia?
Hoje, ainda existe um híbrido do profissional que veio da (ou que se formou na) velha mídia e que trabalha com a nova. Profissional da nova mídia será, verdadeiramente, aquele que surgir da geração "milenial" - a que cresceu com a internet, desde que ela surgiu comercialmente, de 1995 pra cá. Quando essa geração estiver praticando jornalismo, aí sim, teremos o profissional da nova mídia. Por enquanto, vale estudar os "millennials" em seus hábitos...

Julio Daio Borges
15/11/2006 às 11h39

 

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