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Terça-feira, 12/12/2006
Lázaro
Marília Almeida

Adaptação bastante fiel da obra-prima do escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881), Crime e Castigo (1866), a peça Lázaro, após curta temporada no Teatro Augusta em junho, está em cartaz no Centro Cultural de São Paulo (CCSP) desde setembro. Esta é sua última semana e vale a pena dar uma checada no espetáculo.

Ruy Cortez, diretor de uma peça recentemente em cartaz no SESC Santana (A Louca de Chaillot, de Jean Giraudoux, com Cleyde Yáconnis) é responsável pela adaptação e direção da peça. Resultado de um trabalho de nove meses com a Cia. de Estudo Teatral, impressiona a preparação do grupo para adentrar na obra densa do escritor russo.

A companhia iniciou a adaptação em agosto de 2005. Em dezembro, fez uma viagem à Rússia para conhecer a cidade de São Petersburgo, onde se passa a ação do livro, e realizou um curso na Academia Russa de Arte Teatral - GITIS - Moscou, onde trabalhou a obra com o russo Valentin Vassílievitch Teplyakov. O diretor centraliza sua pesquisa no método de Constantin Stanislavski, fundador do Teatro de Arte de Moscou e ex-professor da escola.

Luiz Felipe Pondé, autor do livro Crítica e Profecia - A Filosofia da Religião em Dostoiévski, explica a metáfora que dá título à peça. Segundo ele, ela tem o objetivo de deslocar a discussão para o cristianismo ortodoxo do autor. "O que está em jogo não é uma simples controvérsia entre teorias abstratas de como organizar socialmente e politicamente o mundo, mas sim uma batalha entre Deus (o Bem) e o Diabo (o Mal), cujo campo de batalha é o coração humano".

Um porão escuro dá efeitos de sombra às atuações e cria um clima de submundo. A pensão de Raskólnikov é um mosteiro, reforçando seu foco religioso. Ao fundo do cenário de Ulisses Cohn há um painel com uma sombria pintura da imagem de Cristo, que é onisciente em toda peça, como se estivesse observando cada gesto. Os personagens interagem com ela como se fosse um confessionário. Seis camas rústicas compõem o cenário e dão seu dinamismo e contextualização do tempo, completados por figurinos de época criados por Atílio Beline Vaz. A trilha sonora grave e forte é dirigida por Leonardo Costa e composta para o espetáculo.

Como uma adaptação, a peça é livre para fazer suas mudanças e de forma geral o faz poucas vezes. Mas há personagens descabidos e atuações fracas. A prostituta que descobre o crime de Raskólnikov é afetada e sua linguagem quebra a sobriedade da peça. Mas há atuações e mudanças notáveis, como a juíza investigadora que tortura Raskólnikov lentamente e a mãe tuberculosa da prostituta Sônia. Em conclusão, é uma peça com atores jovens em desenvolvimento que consegue colocar em cena, durante duas horas e meia, com considerável respeito, uma obra complexa e atemporal.

Para ir além
Lázaro - Até 17/12 - Sextas às 21h e sábados e domingos às 20h - Centro Cultural São Paulo - Avenida Vergueiro, nş 1000, Paraíso - Fone: (11) 3383-3402 - Sala: Espaço Cênico Ademar Guerra - 135 min. - 14 anos - Ingressos: R$ 10

Marília Almeida
12/12/2006 à 00h16

 

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