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Quinta-feira, 11/1/2007 Cinema em Atibaia I Tais Laporta Os melhores curtas-metragens de 2006 encontraram um destino que promete ser o novo endereço do cinema brasileiro: Atibaia, no interior de São Paulo. O segundo ano do Festival de Atibaia Internacional Audiovisual mantém clima de expectativa e salas de projeção cheias. Até ontem, o terceiro dia do evento, a cidade mostrou um vigoroso interesse pelos projetos mais premiados nas principais mostras do país, entre elas o Anima Mundi e É Tudo Verdade. Até o dia 14 de janeiro, o festival exibirá 27 projetos dentro da mostra competitiva de curtas brasileiros. Já entre os filmes não competitivos, sete curtas franceses, seis alemães e quatro afro-brasileiros ganharão projeção. O mesmo acontecerá com a seleção de longas brasileiros que tiveram boa recepção em 2006, programados para serem exibidos em praça pública nos próximos dias. O grande homenageado desta edição é o cineasta e ator Anselmo Duarte, que completa 87 anos de vida e 65 de carreira em 2007. Consagrado pela conquista da Palma de Ouro do Festival de Cannes pelo filme O pagador de promessas (1962), Duarte desfruta, hoje, de grande prestígio na Europa. É considerado, por muitos, o melhor diretor brasileiro de todos os tempos. Os destaques da mostra em 35mm são Alguma coisa assim (Esmir Filho), Eletrodoméstica (Kleber Mendonça Filho), Deu no jornal (Yanko del Pino), O Som da luz do trovão (Petrônio Lorena e Tiago Scorza), O maior espetáculo da Terra (Marcos Pimentel), No princípio era o verbo (Virgínia Jorge) e De restos e das solidões (Petrus Cariry). Já entre os vídeos, Arquitetos do mar (Marcelo Abreu Góis), Lectures (Consuelo Lins), A resistência do vinil (Eduardo Castro), O fim do mundo (Alan Langdon) e Canto de cicatriz (Laís Chaffe) despertam as maiores expectativas. Aos moldes de 2006, como mostrou Marcelo Miranda aqui no Digestivo, o festival pretende premiar "o melhor entre os melhores" curtas brasileiros nas categorias 35mm e vídeo, a fim de receber, definitivamente, o título de "festival dos festivais". Para tanto, procurou cortar as falhas da edição anterior. A organização reduziu pela metade o número de filmes por sessão este ano, contabilizando uma média de sete trabalhos. Isso levou as projeções de "quase três horas ininterruptas", nas palavras de Miranda em 2006, para pouco mais de uma hora. De fato, a mudança ajudou a segurar o público até o final das sessões. A programação de ontem trouxe uma delicada seleção de curtas franceses anteriormente exibidos no Festival de Contis (que este ano fechou parceria com a organização do Festival de Atibaia). Dos sete trabalhos apresentados, o que mais surpreendeu foi Veneno de Abril, cuja temática é a desconfiança - para reafirmar a típica sensibilidade francesa para conflitos essencialmente humanos. Com roteiro inteligente e sarcástico, o curta recebeu os maiores aplausos do dia. Quanto à temática, a infância foi o grande alvo da mostra francesa. Seja para traduzir a subjetividade de uma pintura aos olhos de uma criança (Olhares Livres), seja para encarnar o menino que planeja a morte do irmão bebê, por ciúmes (Um nascimento). O personagem deste curta, aliás, foi inspirado na história de ninguém menos que o cineasta sueco Ingmar Bergman. A crítica social também retorna à infância na pele do garoto Ousmane, habilidoso em pedir esmolas pelas ruas do Senegal (Deweneti). Em comparação aos curtas brasileiros exibidos ontem, os franceses estiveram bem à frente, tanto na forma quanto no conteúdo. O segundo dia da mostra competitiva não convenceu, com exceção de poucos trabalhos. O público demonstrou evidente preferência pela seleção do primeiro dia. Mas o que mais prejudicou a exibição dos curtas foi a má qualidade do áudio. Embora num volume altíssimo, as trilhas e diálogos mal puderam ser compreendidos. O documentário Maior espetáculo da Terra, de Marcos Pimentel, captou imagens sensíveis e inimagináveis ao acompanhar a turnê de um circo em um vilarejo subdesenvolvido no interior do Brasil. Outro filme que merece atenção é O Homem-livro, de Anna Azevedo. Acompanha a rotina de um senhor que possui 42 mil livros aglomerados em sua pequena casa. A edição conseguiu transmitir aspectos curiosos do personagem. Já a ficção Balada das duas mocinhas de Botafogo, de João Caetano Feyer e Fernando Valle, embora apresente belas trilhas e planos sequências, não acrescenta supresas no roteiro. A abordagem sobre a vida marginalizada é exaustiva. Pode-se dizer que, na mostra do dia, prevaleceram abordagens interessantes, porém com um certo abuso de cenas longas e repetitivas, o que tornou muitos dos filmes pouco convidativos. As exibições de ontem só deixam uma certeza: os próximos dias devem trazer uma leva melhor. Acompanhe a programação completa para o resto da semana. Amanhã volto com novidades, aqui no Digestivo. Até lá. Tais Laporta |
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