Segunda-feira, 15/1/2007
E-lovelados
Elisa Andrade Buzzo
Alguns meses já se passaram e vivamente se faz em mim o mundo noturno que se mantinha quando nos encontrávamos onde não sei se descia ou era aberta uma cortina pesada de veludo vinho, delimitando o começo de uma história-encenação à distância que os dedos separam uns dos outros. Confabulando ferozmente o que dizer, atento às sílabas esvoaçantes que envio num mexer de lábios, você, como um animal latente, também pressente meus movimentos, passeia ao meu redor roncando baixo, comprovante de que vivemos à nenhuma distância, pois meus ouvidos recebem sua respiração de fantasma recém-adormecido. Posso vê-lo em feitiçaria de bola de cristal onde, diluídos, nos tateamos longamente, em brincadeira surda-muda, no lugar algum, emaranhados nos fios de suor da noite, nos mantemos, bravamente acesos diante da manhã próxima, estraga-prazer. E, ao toque da tomada, altas horas - robôs que voltam à vida lata velha.
Elisa Andrade Buzzo
15/1/2007 à 00h27
|