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Quarta-feira, 25/9/2002
Claro como as trevas
Eduardo Carvalho

New Yorker

Desculpem-me pelo atraso: é que o meu exemplar da revista leva umas duas semanas, de Manhattan aos Jardins. A leitura, porém, dificilmente fica datada. As idéias demoram muito mais do que isso.

Na revista New Yorker de 16 de setembro, Louis Menand, vencedor do Pulitzer em História neste ano, resenhou os livros sobre os ataques de 11 de setembro lançados nos EUA. Começa com os best-sellers Noam Chomsky ("9-11") e Gore Vidal ("Perpetual War for Perpetual Peace: How We Got to Be So Hated"), que, sinceramente, todo mundo sabe qual é o discurso, imutável há décadas. (Curioso que os livros mais vendidos nos Estados Unidos sejam de autores tão admirados e repetidos pela esquerda brasileira, que, por sua vez, insiste em dizer que americanos estão "alienados" e alheios à postura internacional adotada pelo seu governo.)

Passa pelo francês Jean Baudrillard ("The Spirit of Terrorism and Requiem for the Twin Towers") e pelo esloveno Slajov Zizek ("Wellcome to the Desert of the Real!"), dos quais ninguém, que eu saiba, falou por aqui. Tem também o politicamente incorreto Dinesh D'Souza's ("What's so Great About America"; assim, sem interrogação mesmo), que, se anda fazendo um barulhão nos Estados Unidos, continua praticamente anônimo no Brasil.

Menand conclui que, no final das contas, os discursos são quase sempre definitivos e simplistas - quando não, como no caso de Vidal, apenas aproveitamento da ocasião para vender livros. E fecha o balanço negativo com uma afirmação sensata:

"One reason it is so hard to describe the "character" that September 11th revealed is that it involves us in paradox. There was spontaneous patriotism-the flags, the "United We Stand" posters, the widespread support for the war in Afghanistan. There was spontaneous compassion-the flowers around firehouses, the donations of money and blood, the concern for the victims as individuals. If you try to link these responses in a formula, you get something like: Americans are willing to fight, and even to die, for the belief that no one should be made to die for a belief. And: Americans hold it to be a transcendent truth that it is possible to live a good life without loyalty to a transcendent cause. The formulations are fuzzy because "a way of life" has many aspects. There is no perfect clarity. Let us be clear about that."

Eduardo Carvalho
25/9/2002 às 22h09

 

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