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Sexta-feira, 27/9/2002 Rasgos de memória Julio Daio Borges Foi assim que João Barone classificou a nova fase mental de Herbert Vianna, em que mistura os atuais lapsos a momentos de lucidez súbita, como nos trechos seguem abaixo (tirados de uma entrevista concedida a Jotabê Medeiros, no Caderno2 do Estadão): Estado - Você compôs uma música chamada 300 Picaretas, que foi inspirada numa declaração do Lula. Como você vê a eleição atual? Herbert Vianna - Tenho sentido muito claramente o desejo de ir a um programa do Lula. Não preciso falar nada, só levar um violãozinho e cantar e levar um tamborzinho e pedir para ele tocar. Dá a impressão, pelo menos para a gente que está torcendo tanto por ele, pela mudança que ele pode representar, que ele pode ganhar no primeiro turno. Estado - Muitas das músicas novas parecem se referir a seu drama. Você faz a conexão entre o momento que as compôs para o atual? Herbert - Por enquanto não. Acho que, por uma questão operacional do cérebro, não está acontecendo. Pelo contrário. Tenho um desejo de ter a seqüência do disco decupada na minha cabeça. Estado - Como vocês se situam na numeração dos CDs, que foi defendida pelo Lobão? Herbert - O Lobão já ofendeu a gente de tudo e a gente sempre teve uma visão positiva dele. Ele xinga e não obtém nenhuma ofensa de volta. A gente não precisa. Estado - Sentem mágoa dele? Herbert - Mágoa não. Mas me causou bastante perplexidade que ele visse no que a gente faz - e faz com tanto coração -, coisas de propósito para irritar ele. De vez em quando, a gente via o xingamento, o vômito dele. Estado - Esse disco é um pouco mais soturno que os outros dos Paralamas. Isso foi deliberado? Nos discos dos Paralamas sempre tinha alguma coisa mais dançante, mais festiva. Herbert - Quando você fala de coisas mais dançantes, eu me lembro de O Beco. O ritmo é dançante, mas se você ouvir a letra recitada, vai ver que não tem nada de festiva. Estado - Herbert, você fez três discos-solo muito elogiados. Pretende continuar a fazê-los? Herbert - Posso retomar no momento em que restabelecer o meu quadro mental antigo. Quando comecei a fazer isso, foi fruto de minha obsessão por equipamentos caseiros. Quando já havia a tecnologia para aquilo ter mais qualidade, eu experimentava. Tinha um pouco da vontade também de mostrar que era possível, que para fazer discos não precisa entrar numa gravadora, apertar a mão de ninguém, assinar contratos. Julio Daio Borges |
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