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Segunda-feira, 9/4/2007
Antes da filosofia
Tais Laporta

Neste semestre, a Casa do Saber deu início ao curso "Os Pensadores", um dos mais tradicionais do espaço. A grade percorre em 15 aulas o pensamento dos maiores filósofos ocidentais, dos pré-socráticos aos contemporâneos. Para tanto, um time de filósofos reveza a cadeira de professor: Roberto Bolzani Filho, Maurício Pagotto Marsola, Júlio Pompeu e Jorge Grespan.

A primeira aula de um curso de filosofia é, talvez, a mais complexa. Isso porque os alunos chegam com um apetite de saber insaciável. Cabe ao professor sintetizar questões universais e responder a dúvidas nada simples: "O que é filosofia?". Passado o aperto, as informações ficam mais leves: é o famoso exercício de esquecer o trânsito e abrir a mente para o abstrato.

Bolzani Filho foi o encarregado desse pontapé inicial. Não podia começar por outro contexto, senão pela Grécia Antiga, um dos berços do pensamento ocidental. Para entender o surgimento da filosofia, Bolzani voltou séculos antes dos primeiros pensadores. As civilizações gregas eram, ainda, regidas pelas crenças mitológicas. Encaravam o politeísmo - culto a vários deuses - como princípio básico da realidade.

As crenças mitológicas tinham sustento em uma forte tradição oral. Ainda não havia, entre os gregos, o hábito da leitura. Bolzani lembra que todas as grandes epopéias que chegaram aos dias de hoje foram, primeiro, histórias passadas de boca a boca, através da declamação poética.

No período, tinham destaque os decoradores profissionais, conhecidos como "rapsodos". Dotados de uma memória ímpar, levavam a novas terras a cultura dos deuses. Na verdade, anunciavam, através de longas histórias, o destino humano regido pelo humor divino.

Duas obras essenciais do período chegaram até nós: Ilíada e Odisséia, ambas assinadas por Homero. Embora fossem apenas uma reprodução escrita de epopéias declamadas em praça pública, Bolzani acentua que são documentos preciosos sobre a cultura da antigüidade. Desconfia-se que Homero nunca tenha existido, ou que, talvez, tenha sido apenas um dos grandes rapsodos profissionais.

À primeira vista, mitologia nada tem a ver com filosofia. Mas dessa cultura brotou a insatisfação dos primeiros pensadores gregos, que precisavam encontrar um novo sentido para a existência não nos deuses, mas em alguma verdade mais palpável. Tales de Mileto foi o primeiro a romper com as antigas crenças. Formulou, assim, a base do pensamento filosófico.

A partir daí, nasceriam nomes imortais. Cada qual influenciaria, de alguma forma, o pensamento posterior. O mundo dos deuses daria lugar, pela primeira vez, ao império da razão. E os precursores dessa ruptura foram os pré-socráticos. Voltamos a falar deles.

Enquanto isso, a Casa do Saber abre novos cursos. Alguns dos destaques são "Retratos do Desejo", com Clóvis de Barros Filho e "História da Inquisição", com Leandro Karnal e Reuven Faingold. A programação completa está no site da Casa.

Tais Laporta
9/4/2007 às 12h34

 

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