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Quarta-feira, 18/4/2007
Um adeus pra Vonnegut Jr
Guga Schultze

Não sou fã, muito menos fanático, por cinema. Gosto, assim como quem gosta de fuscas: você vê que ali tem certos problemas, aparentemente insolúveis. Mas, de uma maneira meio sentimental, gosta assim mesmo. Na verdade o problema não é o cinema, são os filmes. Vai uma diferença aí.

Mas de vez em quando a gente vê cenas que não se esquece mais. Nunca mais:

... durante a segunda guerra, um grupo de ciganos europeus está sentado sobre algumas ruínas de um recente bombardeio. São prisioneiros e estão calmamente sentados, fumando e conversando entre si. Soldados alemães passeiam por ali, vigiando os prisioneiros e empunhando sub-metralhadoras. Um soldado qualquer, no mais típico estilo nazista de brutalidade, começa a ameaçar os ciganos. Grita ordens em alemão: é proibido fumar. Os ciganos se entreolham, não respondem. Talvez não entendam o alemão, mas compreendem muito bem o teor furioso da mensagem. Eles se levantam calmamente e encaram o alemão, soltando baforadas tranqüilas. Não há diálogo possível. São todos fuzilados, claro.

O filme é Matadouro 5 (Slaughterhouse Five, 1972), do livro homônimo de Kurt Vonnegut Jr. Que também morreu, há poucos dias, ainda dando suas baforadas, aos 84 anos de idade. Esse, que foi seu melhor livro, é também baseado em suas próprias memórias da guerra. Só que Vonnegut vai muito além da simples reminiscência, como sempre.

Quis registrar meu adeus ao velho escritor. "Velho", aqui, é só uma forma carinhosa. Como todo escritor (mesmo), Vonnegut não tem idade.

Guga Schultze
18/4/2007 às 17h56

 

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