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Quinta-feira, 19/4/2007
Para conhecer São Paulo
Julio Daio Borges

Aos pacientes cuja queixa era a de não saberem que rumo imprimir às respectivas existências, um conhecido analista paulistano aconselhava comprar uma bússola, ir à Praça da Sé e conferir os pontos cardeais da cidade. Quase sempre, uma ação exterior seria capaz de mobilizar grande energia interna. E, depois, arrematava ele: como é possível o conhecimento interior se, para começar, ignoramos a cidade em que vivemos?

Não vem ao caso se a teoria funciona. O importante é que chegou uma grande oportunidade de conhecer melhor a cidade de São Paulo e sua história. O Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGBSP) programou para os próximos meses uma série de cursos entre os quais se destaca aquele intitulado "São Paulo na História do Brasil".

Além das conferências a serem ministradas pelos membros do IHGSP, todas as terças-feiras, a partir de abril, destacam-se na programação do curso os passeios guiados pelo centro antigo da cidade, que terão lugar no segundo sábado de cada mês. Neles, através tanto de um olhar nada apressado como da narrativa de histórias deixadas há muito de lado, será possível recuperar um pouco do prazer de viver nesta cidade.

Em O Sol se põe em São Paulo, Bernardo Carvalho escreve o seguinte: só fui entender que São Paulo era uma cidade de monumentos - mas onde os monumentos não existiam; eram por assim invisíveis - no dia em que sonhei que dirigia um carro, de monumento em monumento, pelas ruas vazias de uma tarde de domingo, no inverno, uma estação que aqui também não existe. Eram monumentos que eu nunca tinha visto antes, que só existiam no meu sonho[...].

São Paulo tem seus encantos, ou seu cachet, como diriam os franceses. Talvez não monumentais como aqueles do sonho do narrador de Carvalho, mas que estão lá, esperando só por um pouco de atenção: o conjunto no Largo de São Francisco formado pela Faculdade de Direito - famosa por suas contribuições à vida literária e política do país - e pela igreja e convento dos Franciscanos; a linda fachada de um prédio na Benjamin Constant, à altura do número 151, onde a força de dois titãs sustenta as colunas que sobem ladeando um frontão que retrata, em baixo relevo, a colheita do café; a catedral da Sé, com seu neogótico absolutamente fora de lugar; a Rua XV de Novembro, antiga Lombard Street (a rua londrina dos bancos) tapuia, hoje substituída pelo circuito Paulista-Berrini, desaguando no Largo de São Bento, com a igreja e convento de mesmo nome, depois de cruzar o Pátio do Colégio e passar na vizinhança da casa da escandalosa Marquesa de Santos...

O IHGSP foi fundado em 1894, para fomentar estudos sobre história e geografia no Município e Estado de São Paulo e preservar a memória local. É congênere, com algumas décadas de atraso, do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil que, fundado em 1838, ainda durante a Regência, teve papel seminal na formação da idéia de brasilidade, habilmente explorada durante o Segundo Reinado, como destacado por Lilia Moritz Schwarcz, em As barbas do Imperador - Dom Pedro II um monarca nos trópicos (Cia. das Letras). Associação de direito privado, o IHGSP financia-se por meio dos cursos que promove e pelas doações de seus membros. Entre estes se encontram representantes das mais diversas formações, nas ciências humanas e exatas, que desempenham funções variadas, como professores universitários, escritores e jornalistas. Destacam-se, por exemplo, Jorge Caldeira - o cientista social e historiador, autor de sucessos como Mauá, o empresário do Império (Cia. das Letras) e O banqueiro do sertão (Mameluco) - e o maestro Samuel Kerr, incluídos no rol de palestrantes do curso "São Paulo na História do Brasil".

O curso terá a duração de dois semestres, e teve início no último dia 17. Será sempre às terças-feiras, das 18 às 21 horas, com exceção dos passeios pela cidade, que irão acontecer, como já adiantado, nas manhãs do segundo sábado de cada mês. O custo é uma taxa de matrícula de R$ 200,00, seguida de nove mensalidades de idêntico valor. O IHGSP localiza-se à Rua Quintino Bocaiúva, 158, 7o andar (fone: 11 3242-8064). Há mais informações no site do Instituto, inclusive sobre todo o programa de cursos oferecidos, que inclui outros mais curtos, sobre fotografia digital, história das comunicações e genealogia.

Eugenia Zerbini, que nos envia este recado por e-mail.

Julio Daio Borges
19/4/2007 às 10h02

 

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