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Terça-feira, 24/4/2007 Cemitério de Automóveis Guilherme Conte O Cemitério de Automóveis está comemorando seus 25 anos com uma mostra. Ela segue até domingo no Espaço Cênico Ademar Guerra ("o porão", para os íntimos) do Centro Cultural São Paulo. E essa última semana guarda algumas das jóias raras da produção do grupo. Fundado em 1982 na cidade de Londrina pelo dramaturgo, ator e diretor Mário Bortolotto, o Cemitério escreveu seu nome na história do teatro brasileiro recente. A constante escassez de recursos e a falta de patrocínio não impediram que o grupo mantivesse uma produção constante e brigasse por seu espaço. O resultado pode ser visto nas quatro peças que serão apresentadas até domingo, todas com textos assinados por Bortolotto. Hoje é o dia de Efeito Urtigão, em que Mário e o ator Paulo de Tharso dividem o palco para mostrar o encontro entre um brilhante jornalista que decidiu se isolar do mundo e um colega medíocre que vem tentar conseguir, por vias não lá muito lícitas, uma reportagem com ele. A rapidez e aspereza dos diálogos, marcas registradas do autor, brotam de interpretações afinadas. Amanhã é a vez de Felizes para sempre, que reúne três histórias de casais. "O tipo de casal condenado irremediavelmente a uma espécie de felicidade que poucos almejam, mas que é a única que eu acredito que possa existir", define Mário. O elenco reúne, além dele, Fernanda D'Umbra, Bárbara Paz, Nelson Peres, Chris Couto e Marcos Cesana. E, para fechar a mostra em grande estilo, duas das grandes montagens do grupo. Quinta e sexta acontecem apresentações de A frente fria que a chuva traz. Belíssimo texto em montagem irrepreensível. É a história de um grupo de jovens endinheirados que alugam uma laje na periferia para fazer suas festinhas. A escrita de Bortolotto atinge aqui um de seus pontos altos. A peça é uma grande armadilha: seu humor nos desarma e aí o golpe vem muito mais duro. Difícil não chorar com o desempenho brilhante de Fernanda D'Umbra no papel da junkie Amsterdã ou com o final, construído com maestria pela direção de Bortolotto. Uma poesia fina e comovente revela-se aos poucos. Por fim, no sábado e no domingo o grupo mostra Chapa Quente, uma adaptação feita por Bortolotto dos quadrinhos do cartunista paulistano André Kitagawa. Pequenos flagrantes urbanos de vagabundos, viciados e anônimos em geral. A grande sacada da montagem está na mistura das projeções dos quadrinhos com a ação dos atores no palco. O efeito é único e mostra toda a força do grupo. Daqueles espetáculos para não esquecer nunca. Para ir além IV Mostra Cemitério de Automóveis - Centro Cultural São Paulo - Espaço Cênico Ademar Guerra - Rua Vergueiro, 1.000 - Tel. (11) 3277-1435 - Paraíso - Terça a sábado, 21h; domingo, 20h - R$ 15 - Até 29/04. Guilherme Conte |
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