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Sexta-feira, 11/5/2007 Roubada Cultural Débora Costa e Silva Ainda estou chocada com o que foi essa Virada Cultural em São Paulo. Este é o primeiro ano em que vou e ainda estou espantada com a minha ingenuidade em querer "assistir" a um show, sem nem pensar que isso tudo não viria a ocorrer... Pensando agora, era óbvio: evento gratuito, com diversidade de opções para todos os gostos, em um lugar sem estrutura nenhuma para abrigar um show? É claro que nem o Exército daria conta, nem uma tonelada de caixas de som... nada faria diferença. Essa combinação não dá certo. Pra completar, a Virada botou os Racionais MCs, um grupo de rap polêmico, pra tocar na Praça da Sé, marco zero de São Paulo. Local cercado por policiais e lotado de gente de todos os tipos: fãs, admiradores, curiosos e baderneiros. Mais uma vez, repito: essa combinação definitivamente não dá certo. Um acontecimento desse porte chama a atenção de muito mais gente, além daqueles apreciadores de cultura que batem cartão em eventos do gênero. Entretanto, um evento desse porte não poderia falhar. Mas falhou. A grande virada não foi a passagem de sábado pra domingo, mas a confusão que resultou de todos esse elementos juntos. Minha Virada Quando cheguei lá, fui direto à Praça da Sé encontrar alguns amigos para assistir ao show da Nação Zumbi, que começou pontualmente à zero hora desse domingo [6 de maio]. Bom, como já havia dito, lá não é um local apropriado para shows desse tamanho e, como a Virada Cultural acontecia em vários pontos do centro da cidade ao mesmo tempo, a "platéia" também virou ponto de encontro, e local de passagem para outros palcos montados por ali. O empurra-empurra, que já é comum em qualquer apresentação musical, ocorria de forma muito mais intensa. Pra completar, não se ouvia o som energético das guitarras e dos batuques da banda com a mesma força que costumamos ouvir nos CDs ou em outros shows: o som estava muito baixo "para um evento daquele porte". Pra não dizer que não tive momentos divertidos, cito aqui um deles que, para mim, foi praticamente histórico. Enquanto aguardávamos a banda pernambucana subir no palco, alguns meninos desafiavam uns aos outros para subir nos postes do meio da praça. Um a um foi tentando chegar ao topo, sem sucesso, enquanto a torcida aumentava e os candidatos a macacos da Virada se multiplicavam. O primeiro que conseguiu chegar lá em cima, foi ovacionado, jogado para o alto, uma festa. Depois de rodar pelo centro e ver um pouco do Cisne Negro e do Ed Motta, voltamos para aguardar os Racionais MCs. Foi aí que começou tudo... Fomos lá pra frente e tinha muita, muita gente, mal dava para se fixar em um pontinho com meu grupo de amigos. Ao nosso lado, havia uns quinze caras em cima de uma banca de jornal cantando. A fumaça de maconha, o cheiro de xixi e o bafo de pinga das pessoas que passavam por mim já estava no auge, insuportável. Daí para eu ficar com pressão baixa, claustrofóbica e com vontade de vomitar foi um pulo e acabei fazendo toda a turma ir embora, até porque o show já estava bem atrasado e era inviável continuar ali. Me senti super mal de acabar com a festa dos meninos, mas mal sabia eu que estava salvando a pele da galera... O confronto O cenário era de guerra, com "Vida Loka" como trilha sonora. Li na Folha Online que o show dos Racionais só começou às 4h30. E que depois de algumas poucas músicas, os PMs tentaram tirar o pessoal que estava em cima da banca (aquela que estava antes ao nosso lado) de lá... Aí, começou: cacetetes pra cá, garrafadas pra lá, tiros pro alto, gritaria, tumulto, confusão. O repórter Diógenes Muniz da Folha escreve: "Mano Brown ora apaziguava os ânimos, ora cutucava a polícia. 'Aí, vamos ignorar a polícia. A festa é nossa', gritou, antes de tentar prosseguir com as músicas, sem sucesso". Uns acreditam que toda a confusão gerada foi decorrente do atraso da banda, outros culpam a própria banda, além dos que defendem que a Polícia exagerou na atitude repressiva. "É só ver o histórico do Racionais. Acaba sempre assim. Mas nós já estávamos preparados para isso acontecer", afirmou o tenente da PM Jackson, responsável pela ação policial na Sé. "Nunca tinha visto a Praça da Sé tão cheia. Mas, olha, os PMs estavam mais nervosos que o público e usaram mais força do que necessário", disse o senador Eduardo Suplicy (PT), que já acompanhou a banda em outras apresentações. Não acredito que seja culpa nem da banda nem da Polícia. Como já havia dito, essa combinação não funciona. Claro, as letras das músicas da banda são polêmicas e muitos que vão a seus shows não estão 100% de acordo com a ideologia da banda. E claro, novamente, todo mundo sabe que algumas atitudes de policiais são suspeitas, existe corrupção e abusos. Show do Racionais não combina com Virada Cultural. Aliás, a Virada Cultural em si não tem sentido, pelo menos da maneira como foi realizada. O erro, para mim, foi conjunto. O triste é ver cenas como essas, que mostram vandalismo gratuito, violência sem justificativas, essa raiva que fica contida dentro de muitas pessoas, sendo externada de uma forma tão brusca... A Polícia já divulgou sua posição, ou melhor, sua versão dos fatos, no site da Secretaria de Segurança Pública: mais uma vez, como num conto de fadas, os policiais são "heróis" prendendo "vilões". O portal de esquerda Vermelho, por outro lado, saiu na defesa dos vândalos. Cada um que tire suas própria conclusões, mas para mim fica bem claro que essa "Roubada Cultural" começou e terminou muito errada! Nota do Editor Débora Costa e Silva é estudante de jornalismo e mantém o blog Vagamundo Vago, onde este texto foi originalmente publicado. Débora Costa e Silva |
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