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Sexta-feira, 18/5/2007 Elgar e seus enigmas Fábio Scrivano Ele não tem 1% do prestígio de nomes como Bach, Mozart e Beethoven, cuja obra somada, me arrisco a confessar, não me emociona tanto quanto um de seus concertos ou sinfonias. Suas composições transbordam de sentimentos profundos e universais, mas ele é ainda visto por muitos como mero porta-voz de um Império. No próximo dia 2 de junho, completam-se 150 anos de nascimento desse gênio da música orquestral, mas é improvável que fora de seu país natal a data inspire alguma homenagem. Estou falando de Sir Edward Elgar (1857-1934), compositor romântico inglês que preencheu uma enorme lacuna deixada por Henry Purcell (1659-1695), e abriu caminho para Ralph Vaughan Williams (1872-1958) e Benjamin Britten (1913-1976), seus aclamados sucessores. Auto-didata, Elgar cresceu na loja de música do pai, organista da cidade de Worcester. Trabalhou inicialmente como instrumentista e maestro da região, chegando até a reger no hospício local, provavelmente uma das experiências pioneiras em musicoterapia. Suas primeiras composições relevantes, Salut d'Amour (1888) e a Serenata para Cordas (1893) foram dedicadas à esposa e já revelam seu fantástico dom melódico. Porém, somente com as famosas Variações Enigma (1899) é que Elgar começou a chamar atenção internacional. São catorze variações, dedicadas secretamente a um parente ou amigo - a melodia sobre a qual ele desenvolve cada variação também não foi revelada. O tema intitulado Nimrod, posteriormente identificado como o colega editor August Jaeger, é comovente. Em 1901, compôs o estimado oratório Sonho de Gerontius e a primeira das cinco marchas da série Pompa e Circunstância. Orgulhoso desta criação, o compositor declarou que uma melodia como aquela surgia apenas uma vez na vida. Entretanto, por sugestão do rei Eduardo VII, ganhou uma letra ufanista (Terra de Esperança e Glória), que acabou criando uma forte e prejudicial associação entre Elgar e o Império Britânico. Para piorar, viria a ser adotada como hino oficial de cerimônias de formatura, criando um vínculo irreversível com eventos cafonas. Ainda no mesmo ano, Elgar escreveu sua primeira sinfonia, um trabalho magnífico, quintessência da "melancolia heróica" de seu estilo. Ele vivia num estado de espírito que oscilava entre a nostalgia e o idealismo, e esse temperamento bipolar é evidente em suas composições. Igualmente satisfatórias são as exuberantes aberturas In London Town (1901) e In the South (1904). Outro trabalho indispensável, passaporte incontestável para a imortalidade de qualquer compositor é o Concerto para Violoncelo (1919), uma das mais lembradas interpretações da violoncelista inglesa Jacqueline du Pré. Para o biógrafo Michael Kennedy, sua tristeza desoladora é resultado de alguém "cansado do mundo, encontrando consolo na beleza da música". Edward Elgar faleceu em fevereiro de 1934. Adepto de melodias fortes, sentimentais e acessíveis, conduzidas por orquestrações grandiloqüentes, nunca impressionou cínicos, insensíveis e elitistas. Apesar da admiração de figuras do porte do dramaturgo George Bernard Shaw, do maestro Hans Richter e do compositor de cinema John Williams - a marcha da seqüência final de Guerra nas estrelas é puro Elgar - é geralmente classificado como coadjuvante no romantismo europeu da segunda metade do século XIX. É um dos grande enigmas da história da música, o pouco reconhecimento de um artista que, nas certeiras palavras do compatriota e também músico Hubert Parry, sabia alcançar o coração das pessoas. Fábio Scrivano |
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