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Sexta-feira, 8/6/2007
Rio das Ostras Jazz&Blues II
Marília Almeida

O 1º dia do Rio das Ostras Jazz & Blues agradou todos os gostos. Foram dois shows de blues, dois de jazz e um bem brasileiro.

A música começou às 14h, na Lagoa do Iriry, rodeada por restinga que barrou um córrego e permitiu sua formação ao lado do mar. A Big Gilson Blues Band incendiou um público heterogêneo, após dois meses de turnê pela Europa, sob um sol forte, mas sem aquele calor abafado. Em uma arena, a platéia se acomodou na arquibancada, trouxe suas próprias cadeiras de praia ou simplesmente ficou em pé no meio ou bem perto do pequeno palco, dançando ao som do blues.

O ritmo começou crescente com a agitada "Big Mama´s House", composição do novo CD de Gilson, Chrysalis, gravado com sua banda Rio Dynamite e com participação do cantor inglês The Wolf, que faleceu no ano passado logo após a turnê do grupo pelos EUA. Na seqüência, o grupo engatou "Tell me baby", do mestre B.B. King, para depois partir para uma guitarra chorosa, pontuada pelo resto da banda até que estoura com todo o acompanhamento. O gaitista Jefferson Gonçalves, que está no novo CD, participou do show.

A banda ainda tocou mais duas músicas do novo CD, uma delas com backing vocal feminino, cujo estilo Gilson batiza de neo-country, uma fusão de blues, country, southern rock e rockabilly. Um violão elétrico de metal ajudou a produzir um som cortante. O resultado? Uma música para dançar que contagia.

Big pediu coro do público com uma postura cool. Aplaudido na passagem de som, soltou um "olha que nem começamos" e sua figura largada, típica dos blueseiros, despertou simpatia. Por fim, após clássicos como "Hoochie Coochie Man", Gilson soltou um boogie woogie e decretou: essa música não dá para ficar parado. Foi a deixa para a platéia levantar e curtir "Sweet Home Chicago", cantada em coro.

Após show do Stefon Harris Quartet, o blues continuou à noite no grande palco Costazul, cuja infra-estrutura possui lojas de CDs e praça de alimentação e apresenta três shows por noite. A guitarra do norte-americano Michael Hill abriu com uma melodia agitada, acompanhado pelo baixo enérgico de Michael Griot. A interação com o país aconteceu durante todo show, seja com uma bateria que, por segundos, reproduziu o som de uma bateria de escola de samba, a brincadeira no vocal que mencionou Rio das Ostras e o rápido dedilhado de uma composição nacional.



A improvisação, aliás, foi característica do show, que teve mesclas como de "Hoadhouse Blues" e "King of the highway", de Norton Buffalo, que levantou, literalmente, a platéia. Além da interação com o Brasil, com declarações como "beautiful country" sem parecer falso, pelo contrário, com carisma e animação, Michael não deixou as mensagens políticas de lado em "Black Gold" e em "By George", onde critica o presidente norte-americano George Bush e a polícia, ambas do CD Black Gold & Goddesses Bold!.

Mas a grande surpresa foi a participação do guitarrista Junior Aguiar e o vocalista Ricardo Villas, ambos da banda carioca BASE, que executou "Minha alma", do Rappa, no ritmo do blues. Logo, o grupo emendou "I feel good", de James Brown, e um solo vocal de "Canário do reino". A parte romântica ficou com "Fever", música que ganhou um estilo novo na voz forte de Hill, perfeita na canja de Jimi Hendrix, grande inspiração do guitarrista. O que era um bis acabou se tornando a deixa para Michael continuar animado no palco e até errar o time do espetáculo.

O resto da noite foi, infelizmente, decrescente. Culpa do atraso de instrumentos, que fez com que Michael Hill abrisse a noite, ao invés de fechá-la. Hamilton de Holanda, o "Príncipe do Bandolim", continuou na sequência com um show instrumental que começou em ritmo eletrizante. Posteriormente, o show deu espaço a músicas mais lentas e momentos mais intimistas, onde Hamilton até sentou à beira do palco. Os grandes solos de toda a banda arrancaram gritos da platéia, principalmente o da bateria de Marcio Bahia. Porém, sem grandes interações, o show ficou um pouco cansativo para a grande estrutura na qual estava inserido. O bis ficou por conta de uma música de Hermeto Pascoal.

Por fim, no aguardado show do pianista Dom Salvador, que começou aproximadamente 1h da manhã, o cansaço tomava conta da platéia, que, visivelmente, não estava preparada para ouvir um jazz técnico e cerebral, com a aglutinação dos instrumentos no centro do palco e a concentração imperturbável de Dom enquanto suas mãos deslizavam sobre o piano. Até a iluminação do show era minimalista. Porém, em duo com o saxofone ou a flauta, Dom ainda arrancou elogios.

Aguarde mais notícias amanhã. E não esqueça: hoje, às 17h, na Praia Tartaruga, o entardecer será ao som de Ravi Coltrane.

Marília Almeida
8/6/2007 às 14h02

 

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