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Sexta-feira, 18/10/2002
Solte o Timóteo
Julio Daio Borges

O nome (falso) é Ruy Goiaba, antes que eu me esqueça. Tinha-lhe escrito um prefácio elogioso, mas sofri censura prévia (uma espécie de blecaute; meu computador se apagou e coisa toda foi para o espaço). Há males que vêm para bem (dizem). Sorry, Goiabão. É certo também que seu talento dispensa comentários. Aqui vai uma lista de highlights:

fonte: uol.com.br

Solte o Timóteo
Num dos primeiros posts do puragoiaba, ameacei (esse é o termo) expor minha teoria psicanalítica do brega. No fundo, ela é simples: por mais que nossa dieta cultural consista em filosofia alemã, filmes do Bergman e sonatas do Brahms, nosso id será sempre algo terrivelmente parecido com o Agnaldo Timóteo.

Bem, em nome da "civilização", é preciso policiar o Timóteo que há em nós. O que seria da nossa vida amorosa se aquela moça culta e fã do cinema iraniano nos pegasse cantando "quem ééé que não sooofre por aaalguééém"? Fim de jogo, aos cinco minutos do primeiro tempo. Nunca mais conseguiríamos nos reproduzir, e os dias da espécie humana sobre a Terra estariam contados. Para preservar a sociedade, alguma repressão é necessária.

Na indústria cultural, contudo, não há nada parecido com um superego. Pensem comigo: gravar um CD, por exemplo, é um processo complicado e caro, que tem várias etapas. Há alguém que compõe, alguém que canta, músicos que acompanham o cantor, arranjadores (ou desarranjadores), produtores, engenheiros de som etc. -até a fábrica que prensa e embala os CDs e as lojas que vendem. É um batalhão de gente envolvida.

Será possível que, em todo esse processo, não haja ninguém que caia em si e o interrompa ("PAREM TUDO! Isso é um lixo! A humanidade NÃO DEVE tomar conhecimento dessa música!")?

Não, não há. E, pensando bem, isso é bom. Reprimir demais a cafonice tornaria o mal-estar na civilização ainda mais agudo.

Portanto, não seja um brega enrustido: solte o Timóteo. Mas certifique-se de que ninguém esteja olhando.

fonte: toscographics.com.br

Peréio é a cara do Cinema Brasileiro
Eu adoraria ter sido roteirista de filme nacional nos anos 70/80. Quem assiste ao Canal Brasil percebe: os caras só recebiam dinheiro da Embrafilme se renunciassem, no contrato, a toda pretensão de originalidade. Se alguém fizesse um estudo, constataria que 85% dos filmes dessa época têm pelo menos uma fala do tipo "eu te amo, porra!" (com o palavrão sabiamente empregado para dar um toque "transgressivo" à coisa).

Outro dia, eu e alguns amigos, zapeando, topamos com um desses filmes. Na cena, os personagens de Daniel Filho, Marieta Severo e Paulo César Peréio discutiam. Sem nunca ter visto o filme, eu previ: "Um deles vai mandar os outros à merda". Dez segundos depois, era exatamente isso o que o Daniel Filho fazia. Continuei com minhas previsões: "Agora, o Peréio vai encher a boca para dizer 'filho da puta'". Errei, mas apenas de personagem -quem fez isso foi a Marieta Severo. Para finalizar a cena, como diria o Zé Simão, só faltou mostrarem o Jofre Soares pelado.

Mas o Peréio, com aquela eterna cara de pudim de cachaça, é sensacional. Se eu fizer um filme, quero chamá-lo para uma cena só: ele olhando para a câmera e dizendo "porra". Será, em dois segundos, a síntese de cem anos de cinema nacional.

fonte: siadmd.com

Misticismo Empresarial
Faz tempo que eu penso em comentar isso: deve haver poucas coisas tão espetacularmente babacas quanto esses "seminários internacionais" para executivos. Pelo menos, é o que se depreende da leitura de seus anúncios. Hoje, os jornais de São Paulo anunciam o seminário "The New Era of Competition", em que um sujeito com cara e sobrenome de indiano promete "estratégias revolucionárias para dominar o seu setor e antecipar as necessidades dos mercados e clientes". Clichês boçais, previsões infalíveis e chutes no saco da concorrência: que coisa meiga.

Não duvido da eficiência de uma tal estratégia, mas para arrancar dinheiro de trouxas engravatados terceiro-mundistas. Aliás, todos esses eventos costumam trazer "gurus" do marketing e da administração. Está certo: são todos uma espécie de Rhalah Rikota dos executivos. Estou até pensando em largar o blog, assumir um nome carregado de misticismo -digamos, Maharishi Mahavishnu Peghanabengha- e enriquecer com meus conselhos esotérico-empresariais. Fame and fortune, here I go...

Julio Daio Borges
18/10/2002 às 12h46

 

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