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Quinta-feira, 16/8/2007
Candidato Aloprado
Diogo Salles


Não, não é o churrasqueiro do Lula. Pelo nome que o filme recebeu no Brasil, pode-se imaginar tudo, menos que seja bom. Candidato Aloprado (Man of the Year, 2006) aparenta ser mais um grande besteirol digno de "Sessão da Tarde" e a figura de Robin Williams como protagonista ajuda ainda mais a reforçar essas impressões. Ao final do filme percebe-se que o erro está na forma como o filme foi vendido e divulgado no Brasil. Não se trata de uma comédia pastelão e sim de um drama-comédia em uma pesada crítica ao sistema político norte-americano.

Embora não primoroso, o filme agrada no resultado final. O diretor Barry Levinson - que já havia experimentado a crítica política em Mera Coincidência (Wag the Dog, 1997) - desta vez conta a história de Tom Dobbs, um comediante que, devido à sua alta popularidade, se lança como candidato alternativo à presidência dos EUA e vence por obra do acaso. Com avalanches de piadas despejadas em ritmo frenético, a escolha de Robin Williams para o papel principal mostrou-se correta e as atuações de Laura Linney e Christopher Walken (sempre um excelente coadjuvante) ajudam muito. O problema está no roteiro que, embora ágil, possui furos. O mais grave deles é - paradoxalmente - imprescindível para que o filme "aconteça": um estúpido bug no software que faz a contagem dos votos acaba dando a vitória a Dobbs.

Porém, se você não estiver muito exigente, conseguirá passar pelos deslizes do roteiro (também assinado por Levinson) e apreciar a crítica cáustica que o diretor faz ao cenário político. E se engana quem acha que só a política americana se encaixa no contexto do filme. O alvo é o processo eleitoral como um todo: os altos gastos nas campanhas, a hipocrisia dos candidatos, as ligações com lobistas e o jogo de interesses de empresas privadas no jogo político. Nisso, percebe-se que os vícios políticos são universais e o diretor traz à tona todas as mazelas que estamos cansados de saber, mas que insistimos em ignorar. Quem quiser transportar este cenário para um Brasil mais atual sem recorrer a metáforas, basta olhar para Renan Calheiros, com todos os seus lobistas e laranjas. O filme encerra com um emblemático punchline: "Políticos são como fraldas. De tempos em tempos precisamos trocá-las, sempre pelo mesmo motivo".

Diogo Salles
16/8/2007 às 11h09

 

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