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Sexta-feira, 21/9/2007
(Santo) Ofício da Palavra
Ana Elisa Ribeiro

Francisco de Morais Mendes, escritor mineiro, que me dê licença para nomear este post. O encontro com ele e com vários outros escreventes na última quarta-feira rendeu bons "causos". O que disparou essa "festa" foi mais uma edição do Ofício da Palavra, evento em que se constrói a oportunidade do encontro entre escritores conhecidos e o público (leitor?).

De vezes passadas, estiveram presentes Cíntia Moscovich, Marçal Aquino, Milton Hatoum entre outros. Os mediadores costumam ser tão interessantes quanto os convidados. Para fazer o "meio de campo" entre autor e platéia, escolhe-se um outro escritor ou alguém que se divida entre esta tarefa e a de acadêmico. Foram mediadores Maria Esther Maciel, Sérgio Fantini, Letícia Malard e, desta vez, para estimular o diálogo, esteve Antônio Barreto. No linha de frente, o escritor paranaense Domingos Pellegrini. Na companhia deles e na regência do Ofício, todas as vezes, o jornalista e escritor José Eduardo Gonçalves, que muitas vezes é quem dá o tom da conversa.

Pellegrini falou de literatura, claro, mas também falou de política, o que parece ser traço peculiar ao escritor e à obra. Barreto levantou questões empolgadas e o público pôde perguntar, ao final da discussão. As questões da platéia giraram em torno do esperado: processo de criação, relação com os livros, indicação para o vestibular e novos escritores. Pellegrini respondeu com veemência. O processo de criação está, para ele, próximo daquele velho conhecido discurso do "dom", mas também é trabalho árduo. A indicação para o vestibular pode ser uma emboscada, mas ajuda a vender, claro. E a polêmica mesmo se deu quando o autor curitibano "falou mal" de Machado de Assis. A reação da platéia (formada por professores, principalmente) foi imediata. Um misto de mal-estar e de laivos vingativos. O "que o autor queria dizer" era que Machado não é exatamente a leitura mais branda para iniciar um jovem no mundo da literatura. Era isso. Mas a saraivada de adjetivos "curiosos" tornou a questão uma ofensa. "Coisa mais chata da literatura brasileira", "palavroso" e "entediante" foram só os meios-tons. O escritor Carlos Fialho, de passagem por BH, disse logo: "Machado de Assis deve ter dado três duplo twist carpados no túmulo". José Eduardo Gonçalves deu nova orientação para a conversa quando lavou a alma do público ao fazer a pergunta que todos queriam fazer: Mas para se ter um bom livro é necessário que os personagens tenham "bons" valores morais? Pellegrini havia condenado obras com personagens "ruins". Isso dá pano para manga. Quem se interessa por "mocinhos"? Só se forem todos o Fábio Assunção.

Os encontros com autores são ações louváveis. Os formatos não variam: o escritor e um mediador. No caso do Ofício da Palavra, um jornalista como regente e ritmista. Boa sacada.

A platéia comparece entusiasmada. As cadeiras todas ocupadas, num belíssimo cenário, que é a antiga Praça da Estação, que hoje abriga o Museu de Artes e Ofícios. Para quem freqüenta esse tipo de acontecimento, as questões da platéia ficam óbvias. As respostas dos artistas, também. Sugeri, a certa altura, a Pilar Fazito, que fizéssemos um banner com as Frequent Asked Questions (FAQ), para facilitar. Mas é tudo brincadeira. Bom mesmo é que o público (leitor, aspirante a escritor, curioso, vestibulando ou qualquer outra coisa) vá ao Ofício. Não é esta a discussão sobre acesso à informação, ao conhecimento e ao lazer?

Ana Elisa Ribeiro
21/9/2007 às 10h44

 

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