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Quinta-feira, 11/10/2007 Contos inteligentes para rir Daniel Lopes Quando se começa a ler O homem dentro de um cão (2007, Terceiro Nome, 157 págs.), de Fernando Portela, tem-se a impressão de que, até o fim, o livro apresentará contos engraçados mas com um humor que, curiosamente, parece pedir desculpas por entrar em cena, porque na verdade ele presta-se a mostrar a condição humana em seu lado mais desesperançoso. Essa impressão, passada por textos como "Duçuras", em que uma jovem de vinte e quatro anos encontra um senhor que é seu amante numa mesa de restaurante barato, é logo dissipada por contos com um humor mais escrachado, que são a maioria dos vinte e seis que compõem a obra. Nesse campo, é difícil não constatar em "Gerência participativa - treinamento sênior", ou em "Tímidos conceitos sobre eugenia", o gênio de Fernando, que parece escrever com uma facilidade incrível. "Maldita terra estrangeira", outro conto que é pura diversão, começa assim: "Não acredito em terapia. Já fiz umas quatro vezes. E olha como estou, cada vez mais pirado. Pelo menos é isso o que os terapeutas dizem. Comecei com o tal do psicodrama, nos anos setenta, eu ainda era muito menino. Vinte e poucos anos, queria comer o mundo, e o comia, em parte." Num tempo em que nomes de peso da literatura nacional lançam livros de conto insossos (veja o caso de Ela e outras mulheres, de Rubem Fonseca), O homem dentro de um cão acaba sendo uma das melhores pedidas. Daniel Lopes |
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