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Segunda-feira, 5/11/2007
De Villa-Lobos a Chico Buarque
Tais Laporta


Nelson Ayres, pianista, compositor e maestro brasileiro.

A temporada Clássicos Personnalité está cumprindo o que prometeu. Em diálogo amistoso, eruditos e populares compuseram a noite dedicada à MPB. Desta vez, o encontro foi entre Brahms, Heitor Villa-Lobos, Tom Jobim, Luiz Gonzaga e os popularíssimos Gilberto Gil e Chico Buarque. Para prestigiar tantos mestres, Nelson Ayres dividiu o piano com o grego Janis Vakarelis, na companhia indispensável dos Solistas Personalité.

Embora exaltasse a universalização, o repertório das composições esteve fortemente enraizado em influências regionais. Até o erudito Brahms, em seu quarteto para piano e cordas, buscou inspiração na música popular cigana. O compositor alemão Kurt Weill, por sua vez, aproveitou canções de cabaré para criar "Youkali" para piano e solo.

Na música brasileira, também repleta de regionalismos, restou a diversidade. Devemos a Villa-Lobos, por exemplo, a introdução da música nordestina e sulista nas escolas musicais de todo o país. Esse conhecimento de um Brasil imensurável ganhou um novo semblante através de sua influência. No repertório, as famosíssimas "Bachianas", de Villa-Lobos, tiveram inspiração direta em Johann Sebastian Bach.

Adiante, na cronologia da MPB, Tom Jobim herdaria de Villa-Lobos o que ajudou a criar a Bossa Nova. "O próprio Jobim dizia que o autor das 'Bachianas' foi sua maior fonte de inspiração", comenta o violoncelista Roberto Ring antes de executar "Saudades do Brasil", uma peça atípica, composta por Jobim para orquestra sinfônica, e que, para o concerto, ganhou um arranjo inédito de Nelson Ayres.

Em seguida, para reafirmar o ecletismo do concerto, um forró de Luiz Gonzaga, "Qui nem jiló". "Ele ainda não teve seu mérito devidamente reconhecido, apesar ser um tremendo instrumentista e compositor. Poucos se dão conta de que ele foi o primeiro a trazer a música do interior para a cidade", ressalta Ayres, referindo-se ao tempo em que a MPB era dominada pelos ritmos exclusivamente carioca e paulista - entre os quais, o choro e o samba-canção.

O próprio Ayres, admirador da música nordestina, é compositor de "Só xote", executado no concerto. Para fechar a noite, um frevo de Gilberto Gil e uma das composições que desmentiu, com o conjunto da obra, a lenda de que Chico Buarque seria um bom letrista, porém um compositor mediano. Trata-se da complexa "Deus lhe pague", prova documental, segundo Ayres, de sua genialidade.

Tais Laporta
5/11/2007 às 14h24

 

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