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Quarta-feira, 19/12/2007 Jazz caricato Débora Costa e Silva Caricatura da banda, por Paulo Caruso Quando nos deparamos com uma crônica ou uma charge política nos jornais, não é difícil imaginar que seu autor aproveite o espírito sarcástico em outros momentos do cotidiano. O que nem todos sabem é que alguns vão além e aproveitam as piadas, trocadilhos, sátiras e críticas para criar arte. No caso dos irmãos Chico e Paulo Caruso, a arte em questão é música, mais especificamente o jazz. Junto com o escritor Luis Fernando Verissimo, formam a banda Conjunto Nacional, que se apresentou na última terça-feira no Bourbon Street. O show fez parte do programa Sala do Professor Buchananīs, recém premiado pela APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) como melhor programa musical, apresentado por Daniel Daibem na Rádio Eldorado FM. O Conjunto Nacional é formado por Fernando Barros (baixo), Pedro Barros (bateria), Sérgio Gama (guitarra), Paulo Caruso (piano e voz), Luis Fernando Verissimo (sax alto) e Chico Caruso (voz). A banda, que já gravou dois CDs, começou em 1985, no Salão de Humor de Piracicaba, onde vários artistas e humoristas se reuniram para fazer música. O nome que usaram no evento foi inspirado no slogan de Tancredo Neves, que havia falecido pouco tempo antes deste primeiro encontro. "Muda Brasil, Tancredo já!" se tornou "Muda Brasil Tancredo Jazz Band", título de uma das músicas do repertório. Verissimo também integra o Jazz Seis, grupo com quem já gravou quatro álbuns. Fica claro que a banda não é daquelas que ensaiam muito. É a base instrumental sincronizada que segura a onda quando Chico Caruso esquece a letra ou pula alguma parte ― o que dá um toque ainda mais cômico à apresentação. Outro fator que diferencia o grupo de um conjunto de jazz tradicional é a performance cômica dos cartunistas. Ora se vestem de Bush e Bin Laden, ora colocam abacaxis na cabeça e cantam um samba, e por aí vai. "Muitas pessoas perguntam: por que você não faz música séria? E eu explico que já tem muito compositor romântico e sério. Acho que eu posso me divertir no processo, fazer algo diferente e juntar as duas artes, que é o desenho e a música", justifica Paulo Caruso. A primeira parte da apresentação foi comandada por Daibem, que entre uma música e outra fazia perguntas, dava dicas sobre jazz e trocava informações com os músicos. "Aqui no Sala a gente tenta desvendar o universo do jazz, esse ritmo que nasceu da simplicidade do povo negro, depois ficou mais elitizado. Queremos tirar o jazz do gueto", explica Daibem, que também é músico (guitarrista) e até deu uma canja em uma das músicas apresentadas no show. Um dos números que mais arrancou risadas da platéia foi a canção "Bom é ser presidente", que, de refrão em refrão, Chico Caruso imitava um presidente do Brasil e, com um pente, ia mudando o penteado para ficar mais parecido com o político que satirizava. Com essas performances eles conseguem sintetizar na música todo o humor e a criatividade das charges com a postura crítica necessária para tratar de um assunto sério, que é a política. As letras, todas muito criativas, relatam episódios ou ajudam a caracterizar o personagem que estão destacando. O clima alegre e divertido das canções e performances dos irmãos Caruso casou muito bem com o perfil do programa da Eldorado. O apresentador, que normalmente já cria uma atmosfera mais descontraída em um ambiente cada vez mais sisudo (e até frio), quebrando as barreiras entre os músicos e o público de jazz, não precisou se esforçar muito para que isso ocorresse no último Sala. "O jazz é uma linguagem sedutora, basta você se dispor a ouvir", afirma Paulo Caruso. A missão foi cumprida e bem sucedida: além de ouvir, quem estava no Bourbon na última terça também aprendeu um pouco mais sobre o ritmo e ainda pôde se divertir. Débora Costa e Silva |
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