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Segunda-feira, 21/1/2008
Caixa Dois, sem eufemismos
Diogo Salles

Nesta boa adaptação da peça de Juca de Oliveira para o cinema (que chega agora em DVD), Bruno Barreto procura se manter fiel ao original (na medida do possível), conduz a trama com agilidade e ainda conta com um elenco competente. Destaque para a atuação de Fúlvio Stefanini como Luiz Fernando, o banqueiro corrupto. Com humor, mas sem caricaturar seu personagem, ele conduz o espetáculo e ainda dá boas deixas para Cássio Gabus Mendes e Daniel Dantas brilharem.

O tema da malandragem é latente e o "jeitinho brasileiro" fica exposto até o osso através da classe média. O personagem chave para essa discussão é o de Angelina (Zezé Polessa), uma austera professora de primário que se vê milionária de uma hora pra outra. É aí que sua honestidade é posta à prova e traz à tona a realidade brasileira de que tudo pode se dar o tal "jeitinho". O desfecho da história conduz ao nosso retrato tragicômico de celebração da malandragem, sem ser moralista, mas permitindo a discussão ética. No final, todo mundo tenta se colocar na situação do filme, buscando justificativas para poder aceitar a bolada milionária sem se sentir corrompido. São estas "justificativas" que melhor definem o jeitinho brasileiro.

Interessante lembrar que a peça data de 1994 e, 14 anos depois, ainda se mantém bastante atual, exceto pela troca da moeda, que era uma constante na época, e que teve de ser revista. A única coisa desatualizada é o nome do filme, já que o novo truque dos políticos brasileiros é o eufemismo. Em 2005, Delúbio Soares resolveu inovar e renomeou o caixa dois para "recursos não contabilizados". De lá pra cá, a política brasileira foi arrebatada por esta cínica enfermidade, mas, graças ao bom senso, o nome original foi mantido.

Diogo Salles
21/1/2008 às 11h29

 

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