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Quinta-feira, 3/4/2008
Uma pintura num clique
Rodrigo Herrero

Encerra-se no próximo domingo na Caixa Cultural da avenida Paulista, em São Paulo, a exposição Magnum 60 anos, com cinqüenta fotos da agência fotográfica mais famosa e impressionante da história do jornalismo. São fotografias clássicas que assumem a postura de documentos vivos de episódios importantes do século 20 e do início do terceiro milênio, como a Guerra Civil Espanhola, a Revolução Cubana, os protestos pelo fim da Guerra no Vietnã, as manifestações de maio de 1968, na França; o massacre na praça da Paz Celestial, em 1989, na China; e o ataque ao World Trade Center, em 2001, em Nova York.

A agência foi criada em 1947, após a Guerra Mundial, pelo mítico Henri Cartier-Bresson, Robert Capa, David "Chim" Seymour e George Rodger, em forma de cooperativa de fotógrafos independentes, deixando-os livres para produzirem suas próprias pautas, além de dar o direito à posse de negativos, à edição e à assinatura dos ensaios. Além desses fatos que, por si, já são revolucionários, o caminho seguido pelos fotojornalistas também correu contra a corrente: mergulhou-se em uma outra perspectiva da imagem, atravessando o espaço puro e simples da foto e dos acontecimentos históricos, alcançando o ser humano, a vida cotidiana, os cenários, as pessoas, as guerras, as alegrias e tristezas, inerentes ao homem.

A exposição está dividida em cinco temas: "Momentos", "Outras Perspectivas", "Tradição Documental", "Fotografia Documental Contemporânea" e "Retratos". Na primeira, o cotidiano é o mote. Sendo assim, uma vila na Grécia foi pintada com um vibrante branco que refletia o sol forte. Em outra imagem, a sombra dava vivacidade ao resto do cenário, em que uma menina pulava em frente a prédios de um bairro residencial italiano. Destaque para a foto de Marc Ribaud, feita em 1965, com a visão de uma rua de Pequim de dentro de um antiquário. Cada quadradinho de uma espécie de gaiola guardou um momento de algum evento que acontecia na rua chinesa.

Em "Outras Perspectivas", por exemplo, Gueorgui Pinkhassov priorizou as cores de uma jovem garota no metrô de Tóquio, em 1996, desfocando a vista da janela embaçada pela chuva. Já na "Tradição Documental" estão os fatos históricos mais antigos, com muitas peças clássicas que poderiam ser comparadas a quadros valiosos, que, no entanto, registram situações ocorridas, sentidas, por cada ser humano. Mas vale citar a fotografia de Robert Capa, em 1936, no exato momento em que o soldado republicano Frederico Borrell Garcia caía, após um tiro durante a Guerra Civil Espanhola, em Córdoba, Espanha. O torpor daquele instante, retratado enquanto o combatente morria no campo de batalha, traz uma realidade impressionante à foto.
Os atos mais recentes ficam para a "Fotografia Documental Contemporânea", que, entre outras, possui a famosa imagem das Torres Gêmeas se esvaindo em fumaça de concreto, após os ataques dos aviões que mataram mais de 3 mil pessoas em 11 de setembro de 2001, em Manhattan, pleno coração financeiro dos Estados Unidos. Já a divisão "Retratos" possui várias raridades, como Muhammad Ali, Marilyn Monroe, James Dean, Che Guevara. Mas a que mais chama a atenção é o conhecidíssimo retrato da afegã Sharbat Gula, feito em 1984 por Steve McCurry, que foi capa de uma edição da revista National Geographic.


Sharbat Gula
São tantas fotos que mesmo as cinqüenta da exposição não cabem aqui. O trabalho do curador João Kulcsár deve ter sido hercúleo, já que ele escolheu um mero punhado das mais de um milhão de fotos existentes em seis décadas da agência. Ele preferiu as clássicas mais conhecidas do público, que são universais: todos apreendem a mensagem passada pelas expressões e cores de cada tema.

Até por isso, as imagens escolhidas para essa exposição deixam claro que a fotografia também é uma forma de arte e, mais que isso, uma estupenda expressão cultural que, mais que documentar fatos e retratar pessoas, sintetiza a vida, as alegrias e desgraças dos seres humanos em determinado período da história. É como um registro pictórico que nossos ancestrais desenhavam nas cavernas, para afirmar aos que vieram depois que eles existiram. Um sinal de fumaça que cruza o tempo e chega ao futuro, imortalizando aquele que deixou sua marca, seja num desenho, num escrito, ou por uma imagem.

Para ir além
Magnum 60 Anos ― Até 6 de abril ― Das 9 às 21hs.; no domingo, das 10 às 21hs. ― Caixa Cultural, Galeria da Paulista ― Av. Paulista, 2083 ― (11) 3321-4400.

Rodrigo Herrero
3/4/2008 às 02h17

 

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