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Segunda-feira, 21/4/2008
Jornalismo: trabalho em equipe
Rafael Rodrigues

Tenho blog e sou repórter de Geral em impresso, e penso que a briga não é entre papel ou bits, mas sim entre métodos de trabalho. Jornalismo de qualidade, com apuração, repórteres em campo, busca de fontes etc., requer uma logística enorme: transporte, telefone, gente preparada, com fontes. Trabalho em equipe, coordenado e que dá grandes dores de cabeça, normalmente (porque envolve denúncia etc.). Um blogueiro sozinho não consegue fazer isso. É humanamente impossível. Se fizer, vai ser num ritmo muito mais lento, porque uma redação tem toda uma linha de apuração montada (ou pelo menos deveria ter — hoje, estão enxugando cada vez mais). Blogueiros, por outro lado, podem ser aquelas fontes primárias, aqueles que dão start num problema, numa denúncia, numa apuração. Não sei se isso pode ser considerado jornalismo. É investigação e denúncia, que qualquer cidadão pode fazer.

Não me interessa tanto se vou ler uma boa reportagem, bem apurada, na tela ou no papel. Se o conteúdo é bom, eu leio na tela, sim (e outros também), assim como posso ouvir num radinho de pilha também. Pouco interessa o meio se a produção é boa — e é disso que precisamos. E é isso que estamos perdendo com maus salários, enxugamento de redações, miopia de investidores etc. Jornalismo bom é um trabalho desgastante. Uma pessoa sozinha, mesmo que seja talentosa, poderá fazer bom jornalismo num blog, mas, economicamente, será difícil de sustentá-lo. Às vezes, dedicando-se exclusivamente a um assunto, pode-se levar meses sem chegar aonde queria. Outra coisa: antes de ser bom jornalista ou bom blogueiro, se a pessoa for um bom cidadão, que cobrasse seus direitos, já faria muito mais sentido dentro da democracia (que é o que a liberdade de opinião tem o objetivo de sustentar). Vá você, levante os problemas da sua cidade, investigue, de maneira voluntária.

Não é preciso ser jornalista ou blogueiro para cobrar, lutar por direitos etc. Como, entretanto, pouca gente se mobiliza, dêem graças a Deus que ainda existem (mesmo que mal estruturadas) redações, empresas que têm o dever de fazer isso; ou mesmo um ou outro repórter corajoso, teimoso e chato que faz isso. E melhor que ele faça através de uma redação, de uma empresa, do que por conta própria, porque não teria a mesma força. Seria visto como encrenqueiro, petista, revolucionário de meia tigela, essas coisas, e viraria motivo de riso. A hora que blogueiros se organizarem para fazer esse trabalho de apuração e denúncia, melhor do que as redações tradicionais, aposto que ganharão importância. Divulgar vídeos do YouTube, "fotinhas" e textos sobre cultura pop não vai provocar, não vai mudar muita coisa na vida pública. Ou seja, não é Jornalismo e, como disse o Rafael, "não adianta espernear".

Rogério Kreidlow, comentando a coluna da Gabriela Vargas e, de quebra, citando a minha.

Rafael Rodrigues
21/4/2008 às 02h06

 

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