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Sexta-feira, 4/7/2008 Caminho de hamster Julio Daio Borges Fedendo a cigarro e a mim mesmo cruzo uma avenida ao anoitecer sirenes, carros vozes abafadas avenida larga e áspera numa rua transversal o cadáver de um cachorro atropelado rodas metálicas em ritmo lento fedendo a esgotos e a mim mesmo a um pouco de fogo, do isqueiro fedendo como aquela maçã podre fedendo a música estúpida desses tempos e a mim mesmo o lixo recolhido exala um cheiro nítido na calçada fedendo a sapatos e a mim mesmo a ratos, ao suor dos néons a cadeiras e a mim mesmo a notícias inúteis e a mim mesmo fedendo sob a lua narinas entupidas de gás carbônico o som do motor do ônibus fedendo as mesmas camisas fedendo a miopia e a mim mesmo fedendo a esquinas exalando cheiros fedendo a expectativas que no entanto acabam na próxima linha O grande Régis Bonvicino, "fedendo a si mesmo", em as escolhas afectivas. Julio Daio Borges |
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