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Quinta-feira, 14/11/2002
Sem nada para ler
Julio Daio Borges

Sinto um misto de revolta e inveja quando ouço alguém dizer que está sem nada para ler. Com a cabeceira entulhada de livros que só terminarei de ler com 217 anos, se a luz for suficientemente forte, e já convencido de que nunca cumprirei meu modesto projeto de vida, que é saber tudo sobre tudo, sinto-me ofendido com a queixa insensata. Da próxima vez que um folgado me pedir uma sugestão de leitura, pretendo produzir uma fita bobinada com os títulos de mil livros que ainda não li, de A de Amis a Z de Zweig, e atirar na sua cabeça. O tempo para ler, como a renda, deveria ser melhor distribuído no mundo.

A revolta é a mesma com as pessoas despreocupadas. Aqueles inconscientes que, quando você pergunta como vai a vida, respondem "Maravilha!". Como, "Maravilha!"?! Nem banqueiro brasileiro tem o direito de dizer "Maravilha". Se o que falta a esses contentes inexplicáveis é preocupações, eu tenho várias para fornecer. Ninguém diga na minha frente que está sem nada para se preocupar.

Luis Fernando Verissimo em "Preocupações"

Julio Daio Borges
14/11/2002 às 10h36

 

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