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Quinta-feira, 9/10/2008
calcinha
Julio Daio Borges

Que as novidades me perdoem, mas as calcinhas têm de ser pequenas. Vejo por aí mulheres a mostrar panos enormes, que saltam das calças jeans delinqüindo o quê feminino das jovens. As calcinhas, percebam, não por acaso são chamadas por um diminutivo pirracento, provocador. É uma parte do processo de transição que tem como seu auge a nudez. A calcinha é o símbolo da quase-nudez.

Diferentemente das cuecas, que possuem função óbvia e legitimada, a calcinha é um objeto indispensavelmente inútil, conforme manda o espírito feminino. A cueca é pragmática, objetiva, é a coerção aos sacolejos incômodos ao homem. A calcinha é um luxo. Dizer que ela serve para esconder é absurdo — esconder o escondido. Em verdade, ela é uma metáfora do sexo escondido (eis aí toda sua infâmia!).

Quão belo não é o pudorzinho das mulheres ao esconder a calcinha à mostra. O aviso arisco da amiga que percebe a gafe. "menina... sua calcinha está aparecendo!". É como se escondesse um diamante dum ladrão, o pão dos esfomeados. A calcinha a aparecer é uma corrupção imperdoável para as mulheres.

As vermelhas são clássicas, mas as brancas, pretas e rosas não são desagradáveis. Rendadas ou de algodão, mais ou menos transparentes, o modelo alinhar-se-á com as intenções, com o volume do desejo por um atalho para o nu.

A calcinha, tal qual os demais objetos pessoais comuns à mulher, tem o papel de vangloriar sua dona, mas, diferente dos outros, tem um quê de sagrado (talvez por ter muito de profano). Esta mítica só é desfeita quando ela é despojada do corpo feminino, este sim, absolutamente sagrado. A calcinha, quando sobre um sapato masculino, misturada às meias num chão dum quarto de motel já não impressiona tanto assim.

Dom, num blog que eu acabei de descobrir.

Julio Daio Borges
9/10/2008 à 00h59

 

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