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Domingo, 24/11/2002 Lulalogias Julio Daio Borges Não faz nem um mês que Lula foi eleito e até agora houve pouca novidade, mas o período está sendo um prato Fome Zero para a análise simbólica. Na verdade, desde a campanha já se podia ter discutido o assunto, porque ali ficou muito claro o que o PT e Duda Mendonça pretendiam. Está certo que as alternativas ajudaram: Roseana teve de renunciar, Ciro morreu pela boca, Serra pareceu não conseguir empolgar nem a si mesmo. Mas Lula conseguiu romper com seu tradicional índice de rejeição e ir além do desempenho do próprio PT, apesar do crescimento do partido no Congresso. E isso não pode ser tido como obra simples da moderação política, ainda que nossos articulistas insistam em ler resultados eleitorais como processos estritamente racionais. O que acho que Lula sempre teve - o que dá base ao seu carisma, assim chamado - é a superposição de indignação e ternura. Ele parece ser um sujeito realmente preocupado com a justiça social e ao mesmo tempo é informal, amistoso, boa praça; tem a barba e a voz grossa do ativista, mas o jeito naïf do homem cordial; o discurso clama por mudança, mas o olhar pede "uma chance". A maturidade não só tem lhe ajudado a ser mais responsável, mas também lhe acrescentou cabelos grisalhos que chamam consideração: o radicalismo, dizem esses fios brancos, é coisa do passado, e isto aumenta a dignidade desse passado. O que antes parecia rebeldia agora parece encarnar o tal grito dos excluídos, misturado ao alarme da classe média. O que antes parecia afetuosidade da pessoa agora parece um recurso do político, a batuta negociadora, apaziguadora. Para um país envergonhado de sua realidade e orgulhoso de sua sentimentalidade, que nos últimos anos tem falado mais e mais sobre as urgências solidárias, nada poderia soar mais adequado. Daniel Piza em "Lulalogias" Julio Daio Borges |
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