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Domingo, 24/11/2002 Contra o Brasil Eduardo Carvalho Minha opinião sobre Diogo Mainardi sempre foi vacilante. Eu acho que ele escreve, de vez em quando, colunas brilhantes. E que, vez ou outra, escorrega quase para a criancice. Mas concluí, recentemente, que mesmo essa sua eventual babaquice é divertida - e que, no fim das contas, é exatamente assim que é preciso escrever para uma revista como a Veja. Ou então sua coluna seria confundida com outros textos da revista, que são séria e involuntariamente cômicos. É engraçado imaginar o ódio que, com aquele estilo fácil, Diogo desperta nos idiotas, sempre preparados para repetir xingamentos nervosos. Enquanto ele, tranqüilo e discreto, de seu apartamento em Veneza, planeja o ataque certeiro da próxima semana. Acho, porém, agora, enquanto leio Contra o Brasil, emprestado pelo Julio, que o que Diogo escreve de melhor talvez não seja sua coluna. Mas provavelmente seus livros. Pimenta Bueno, o protagonista de Contra o Brasil, acumulou uma extraordinária coleção de insultos ao país - decoradas, o que é bacana, de páginas de escritores e ilustres que visitaram o país: entre outros, Darwin, Camus, Kipling, Lévi-Strauss, Eça de Queiroz. Pimenta Bueno: O Brasil é um terreno estéril! Aqui não brotam idéias! O Brasil murcha a imaginação, resseca o estímulo intelectual, definha o raciocínio! O país inteiro vale menos do que o Estudo número 3, opus 10, de Chopin!" E mais adiante: Pimenta Bueno: Pode haver chatice mais degradante que a nossa? Azor: Chatice? Pimenta Bueno: Chatice! Apesar de permanecer apenas duas semanas no Brasil, perdido num vilarejo na fronteira com a Guiana, Evelyn Waugh traçou a mais perfeita síntese da sociedade brasileira... Quer saber qual é? Azor: Não. Pimenta Bueno: "Chatice degradante; conversas insuportáveis e nada para ler." Evelyn Waugh não conheceu Diogo Mainardi. Eduardo Carvalho |
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