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Quinta-feira, 19/2/2009 A morte de Gilberto Dupas Fabio Silvestre Cardoso Talvez porque a mídia brasileira esteja preocupada demais com o curioso caso de Paula Oliveira. Ou, mais provável, talvez seja a proximidade do Carnaval e, por isso, a agenda do noticiário esteja batendo em retirada da cobertura mais analítica. Fato é que o intelectual Gilberto Dupas morreu dia 17 de fevereiro e poucos parecem ter se dado conta disso. Mesmo os jornais, onde Dupas desempenhava um papel de interlocutor constante, dedicaram-lhe poucas linhas, o que não está à altura de sua contribuição no campo das ideias e da discussão dos problemas brasileiros e das contradições da globalização. Em 2004, no longo ensaio Tensões contemporâneas entre o público e o privado, lembro-me de ter lido uma análise elementar no que se refere à lógica perversa das desigualdades em nosso tempo. Mesmo para quem comungava de certas ideias liberais e da mão invisível do mercado, aquele texto explicitava os impasses de uma sociedade que buscava o status da aparência, uma espécie de triunfo do ideário da sociedade do espetáculo, em detrimento dos direitos sociais e das conquistas da cidadania. Dupas era um pensador agudo e arguto desses temas, mas não se deixava levar pelo espetáculo midiático ― logo, não era o queridinho dos talk shows e dos programas de entrevista na infame TV aberta. Além de Tensões Contemporâneas..., Gilberto Dupas foi autor de outros livros, entre os quais destacam-se O mito do progresso, lançado em 2006, Ética e poder na sociedade da informação, publicado em 2001. Embora tivesse como ênfase a análise da conjuntura econômica e mundial, o texto de Dupas primava pela clareza de ideias e pela sedução das palavras, elementos que atestavam uma prosa rica de imaginação. A propósito, ler os escritos de Gilberto Dupas neste momento é uma forma inteligente de sair do marasmo e do pessimismo gerados pela crise. Fabio Silvestre Cardoso |
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