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Quarta-feira, 4/12/2002 Auto-resumo Julio Daio Borges As atribulações da vida contemporânea muitas vezes dificultam o acesso aos prazeres da reflexão intelectual. O tempo é escasso, as obrigações se multiplicam, e fruir sossegadamente um bom livro torna-se cada vez mais complicado. Mas a tecnologia está aí para ajudar no progresso humano: hoje, com a ferramenta do auto-resumo, qualquer computador doméstico já é capaz de condensar imensas obras, ajustando-as ao tamanho que se desejar. Com alguns cliques no menu "Ferramentas" de seu Microsoft Word, extensos romances e tratados teóricos tornam-se textos compactos que garantem a síntese perfeita do pensamento de qualquer autor. Como um espremedor de laranja, o auto-resumo conserva a essência da obra, possibilitando que o homem comum possa abastecer-se de cultura sem com isso perder o emprego ou o chope com os amigos. Para demonstrar as maravilhas desse sistema, resolvemos aplicá-lo a um dos grandes clássicos do romance brasileiro: Dom Casmurro, de Machado de Assis, escrito numa época em que a concisão ainda não era um dos valores máximos da literatura. Após um rápido download na internet, o livro de Machado foi reduzido a um conjunto de dez sentenças, o que mostra todo o poder de síntese dessa ferramenta literária. Note-se como as tensões da trama se conservam, o drama de Bentinho, a desfaçatez de Capitu, o final carregado de interrogações e suspeitas. O leitor entra em contato com os pontos fundamentais dessa obra-prima, engrandecendo o espírito e otimizando os afazeres cotidianos: - Que é? - Que é? - Que é? é que... Não? - Não! - Não! - Que é? - Que é? - De que sexo? Auto-resumo, parte integrante do caderno "menas!", da revista Ácaro Julio Daio Borges |
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